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Capítulo 33

Após retornar ao ducado de Icarus, Lorcan se trancou no escritório com Njal e Katlyn para os informar do resultado produtivo da reunião. Enquanto o vilão fazia suas jogadas, decido ir ao estábulo matar minha saudade da Polar. A égua trotou em minha direção com ânimo, pedindo carinho ao empurrar o focinho largo contra a palma da mão. Ela era tão dócil comigo como se tivéssemos estabelecido uma conexão inquebrável.

— Eu também senti sua falta. — murmuro acariciando sua crina macia. — Tanta coisa aconteceu comigo. Às vezes, penso que o Christian é egoísta e só pensa em seus próprios problemas. Mas ele é o protagonista e isso não devia acontecer, certo? Digo, protagonistas são perfeitos. Ao menos, eu o criei para ser...

Polar olhava no fundo dos meus olhos e, por um instante, sinto que está me aconselhando silenciosamente. Sorrio em resposta e espero um dos funcionários do celeiro ajustar os equipamentos para, enfim, poder montá-la.

A sensação de cavalgar pelo vasto campo gramado da mansão é revigorante. Polar trotava em círculos mantendo um ritmo constante. A brisa batia em meu rosto, jogando algumas mechas para trás. Então, quando ninguém está vendo, arrisco-me a aumentar um pouco a velocidade e começo a rir com as cócegas do vento contra meu corpo. Queria continuar apreciando essa sensação de pureza, como se fosse uma ninfa da floresta em contato com a natureza.

Porém, lembro daquele dia onde o maldito senhor Rudson passou a mão em meu corpo.

Instantaneamente, puxo as rédeas e Polar parava de maneira brusca soltando um relincho como resmungo. O meu corpo tremia e a respiração estava desregulava. A sensação repulsiva das suas mãos em cada parte de mim me causava calafrios e reviravoltas no estômago. Então, virei o rosto para o lado vomitando o meu café da manhã.

Pensei que havia esquecido daquele episódio, mas a minha mente apenas esteve ocupada demais para pensar no ocorrido.

Desci às pressas da Polar a entregando para o primeiro empregado à vista. Em seguida, corri em direção ao meu quarto aos tropeços enquanto as lágrimas atrapalhavam a visão. Só queria sumir para sempre e apagar essas lembranças. Sem querer, acabo esbarrando em alguém recuando alguns passos. Não consegui pedir desculpas por causa do nervosismo e a tremedeira.

— Inspire profundamente. — dizia a voz masculina e firme do outro lado. Não soube identificar se era uma ordem ou um conselho, mas obedeci. — Isso. Continue assim. Agora, me diga, quantos anéis Flinch tinha em seus dedos?

Que diabos de pergunta é essa?

O meu olhar permanece focado no chão, apesar de estar prestando atenção nas suas instruções. Em minha mente, revivia as lembranças da reunião com o rei Barton e o seu conselheiro. Forcei a memória ao máximo visualizando a imagem das mãos dele sobre a mesa, batucando os dedos com inquietude.

— Seis anéis...

— Correto. Sua memória é invejável, Diane.

Ergo a cabeça para o semblante neutro de Lorcan. A minha respiração já havia voltado ao normal sem ter percebido. Talvez seja um efeito do seu exercício de concentração ou a sua voz cause essa sensação inexplicável de paz. As lágrimas ainda rolavam por minha face, mas não estava sendo engolida pela angústia daquelas memórias traumatizantes. Tudo girou entorno dos olhos azuis do duque e como eles conseguiam me prender, arrastando-me para longe da realidade.

— Eu... Eu estava...

— Não tenho interesse em saber o que se passava em sua mente. — respondia com rispidez, erguendo o queixo em sinal de indiferença. Mas pude jurar ver um brilho de alívio em seu olhar. — Apenas a controle. Dome o monstro que a destrói e o torne o seu maior aliado.

Seco as lágrimas com as costas da mão. Lorcan permanece com a postura imponente e inquebrável de sempre.

— Não é tão fácil assim...

— Sim, não é. E por não ser fácil, poucos conseguem domar a própria mente. Quantos mais rara você for, mais valor terá.

— Assim todos irão me valorizar?

Ele negava com a cabeça.

— Mais valor para si mesma, Diane. As pessoas não valorizam as outras, elas apenas querem te usar para atingir seus objetivos. Se não encontrar o valor dentro de si, ninguém o fará em seu lugar.

Suas palavras eram como pedras atingindo-me em cheio. Pedras cortantes que me faziam sangrar, mas talvez essa seja a sua forma de ajudar. Através das feridas abertas, posso curá-las, desta vez, como eu desejo. E pela forma como me olhava, repleto de confiança, tinha fé de que conseguiria lidar com isso sozinha.

Um empregado passava pelo corredor e o duque desvia o olhar para ele:

— Prepare o meu cavalo para a viagem.

O homem franzino acena com a cabeça, apressando os passos em direção ao estábulo. Viro o rosto para Lorcan com confusão no olhar.

— Para onde vai?

— Não devo expl...

— Explicações para mim, eu sei. Mas... — inspiro umedecendo os lábios. — Só estou curiosa.

Ele suspira em sinal de desistência.

— Esqueceu das reuniões mensais com o rei Christian?

Um misto de sensações dançou em meu peito. Não sabia se andava de um lado para outro no corredor ou se apenas pedia para retornar à capital. Não, a verdade é que não quero voltar para lá. Não agora.

— O senhor ameaçou o Christian!

— E...?

— Ainda assim, vai agir como se nada tivesse acontecido?

— Mas nada aconteceu. Ele agiu como um mimado egoísta naquele dia, algo extremamente normal e previsível.

Desta vez, não defendi o rei porque, sinceramente, estava sem ânimo para pontuar as características positivas do homem que amo e sequer procurou por mim enquanto quase morria em um cela imunda.

— Ele pode tentar algo.

Ouço uma risada de escárnio como resposta.

— Christian teve um mês para tomar uma atitude decente, mas tivemos algum ataque surpresa? Não. Algum espião invadiu meu ducado? Não. Ele retrucou a ameaça de guerra? Não. Por isso, tenho plena certeza de que seu comodismo não mudou.

Realmente discutir com Lorcan era inútil. Além de ser bom nos argumentos, ele possuía uma maneira única de fazer qualquer um acreditar em suas palavras, como se fossem uma verdade universal. Às vezes, esquecia que ele é um homem mentiroso e manipulador.

— O senhor está certo.

— Sempre estou.

Ele iniciava uma caminhada em direção à saída e viro o corpo o acompanhando com o olhar.

— Mas o senhor disse que é errado subestimar o inimigo.

Lorcan mantém o olhar focado no horizonte, de costas para mim, enquanto profere:

— Não estou subestimando quando sei que sou o mais forte.

A sua silhueta sumia na escuridão do fim do corredor. Em contrapartida, permaneço parada com uma expressão surpresa. Conhecer a história de Velorum pelo outro lado está sendo emocionante e assustador, pois Lorcan é totalmente imprevisível.

E eu gostava disso.

***

Após três dias estudando os manuais de luta e fazendo anotações, decidi treinar com a Polar. Era a única forma de descansar os dedos doloridos das inúmeras páginas que escrevi com anotações úteis. Conforme descrevia os pontos principais do livro, recordava-me da reunião do duque com o rei de Cartelli e como podia usar a manipulação para atingir os meus objetivos. Nunca usarei isso, mas é sempre bom aprender coisas novas. A companhia de Isaac era reconfortante mas o jovem não podia passar muito tempo comigo, pois tinha seus afazeres rotineiros. Arvid é um garoto de poucas palavras, geralmente optava por algumas reclamações sobre a forma como andava de cabeça baixa.

Então, só restou treinar a equitação. Além de melhorar no controle da Polar, estar perto dela me fazia bem. A nossa conexão era agradável e o tempo passava sem que eu notasse.

— Ela realmente gostou de você. — comenta uma empregada parando próximo ao estábulo, segurando uma cesta de roupas. — Eu nunca a vi tão receptiva.

Desvio a atenção para a senhora de cabelos grisalhos e sorrio. Polar já havia retornado para seu cantinho no estábulo e apreciava o carinho que fazia em sua cabeça.

— Lorcan comentou que ela foi treinada para permitir que apenas uma pessoa a montasse.

A empregada assentia com a cabeça, um pouco surpresa e logo descubro o porquê. A droga da minha língua grande era o meu maior carma. Sem querer, acabei chamando o duque por seu primeiro nome, o que era um ato muito íntimo naquela época.

— Não sabia que você e o senhor De'Ath eram próximos.

Engulo seco enquanto um filete de suor escorre por minha testa.

— Por favor, não pense que sou concubina dele. — imploro. — Eu só esqueci que não pod-...

— Por que pensaria isso? Se a senhorita possui uma relação próxima ao meu senhor, isso não me diz respeito.

Pisco os olhos, incrédula. Depois de sofrer todo tipo de humilhação por conversar com o Christian, esperava ser apedrejada no ducado de Icarus. Em passos lentos, aproximo-me da gentil senhora que continuava a esboçar um sorriso terno.

— Foi ameaçada pelo Lorcan?

Ela ria ao mesmo tempo que negava com a cabeça.

— Não, pelo menos eu não. Eu conheço o meu senhor desde que era uma criança e ele nunca conseguiu se aproximar de alguém. Sempre foi um garotinho que vivia trancado em seu quarto ou fazendo as treinamentos árduos que o senhor Sirius o obrigava. Conforme o tempo passava, pensei que o veria morrer sozinho. Mas a senhorita está aqui para mudar isso. Obrigada.

A empregada fazia uma breve reverência, retomando sua caminhada logo em seguida. Dei um passo em sua direção, pronta para contar que não estava no ducado para mudar nada. Não tinha a intenção de afetar a trama de maneira tão radical, pois os acontecimentos podiam sair do meu controle. Porém, as palavras ficaram presas na garganta e só pude ficar em silêncio.

Não era capaz de mudar o vilão ou estar ao seu lado. Alene com toda a sua gentileza e poder do amor não conseguiu. Eu apenas seria uma pedra no sapato dele.

***

Ao final da tarde, tentei sair do ducado para uma caminhada perto do rio mas um dos soldados dos portões lançou um "não" bem rude. Ninguém podia sair ou entrar de Icarus sem a permissão do seu duque. As pessoas daqui não se importavam de viverem presas, mas queria liberdade. Por isso, entrei em uma carroça de um mercador escondendo-me entre os caixotes. Para a minha sorte, o homem tinha a permissão para sair da muralha e, com isso, tive a minha liberdade provisória.

Agradeci ao gentil mercador que me aconselhou a não ir muito longe e seguiu caminho pela estrada.

O vasto rio que se estendia pelas terras era estreito e o volume de água baixo, provavelmente pela falta de chuvas. Mas as nuvens cinzas se formando acima da minha cabeça eram o sinal de que logo esse fato mudaria. O solo infértil oferecia apenas plantas daninhas e árvores secas com troncos retorcidos. As poucas casas na beira da estrada são de estrutura precária e madeira antiga.

Naquele momento, percebi que Velorum era mais do que um reino cheio de danças alegres e um vasto jardim. Velorum também era um reino com guerras, um ambiente mórbido, pessoas repleta de defeitos e um vilão... Compreensível. Conforme avançava em direção à vasta floresta do outro lado da estrada, analisava cada detalhe dos pinheiros e dos galhos secos no chão. A ponta dos dedos tocando tudo o que encontrava no caminho.

Era como estar dentro de um sonho. Às vezes, esquecia que já havia se passado sete meses em que estava dentro desse mundo.

Quem diria que uma estrela podia fazer isso.

E ao recordar do pedido, imagino o que Christian estaria fazendo nesse momento. Ele é a minha alma gêmea. A parte que me completa. Ao mesmo tempo que queria estar ao seu lado, também queria manter distância para organizar os meus pensamentos. A capital deixou de ser o meu lar depois de ter sido torturada naquele lugar horrível. Ainda podia recordar do cheiro pútrido da maldita cela e ouvir os sussurros grotescos dos guardas.

Christia podia ter feito mais por mim, mas não fez. E eu queria entender o motivo. A minha criação mais perfeita não podia ter falhado desse jeito.

Estava tão perdida em pensamentos que não notei quando as primeiras gotas caíram em minha face. Gradativamente, a chuva tornou-se mais intensa e busquei um lugar para me esconder. Quando analisei o ambiente ao meu redor, percebi estar completamente perdida na floresta.

— Droga! Por que isso sempre tem que acontecer comigo?

A roupa já estava completamente molhada e colada ao corpo. Correr com a calça de couro naquele estado era inútil e a camisa branca se tornou transparente. Antes de pegar um resfriado, procurei o primeiro abrigo possível. Por sorte, encontrei um tronco oco com um buraco mediano e entrei na caverna improvisada. Abracei as minhas pernas com força, tremendo sem parar.

Um clarão cortou o céu seguido por um estrondo assustador. Que maravilha. Agora tenho que lidar com raios e trovões também.

A temperatura caiu drasticamente e não sabia por quanto tempo poderia aguentar daquela forma. O corpo tremia sem parar, estando à beira de uma hipotermia. Mesmo não se incomodando com os trovões altos, era arriscado estar em uma árvore quando havia tantos raios no céu. Mas não havia nada a ser feito. Era tudo culpa da minha curiosidade e do lado impulsivo. Por isso, só me restou se encolher e torcer que o pior não acontecesse.

Quando fechei os olhos, tentei afastar qualquer pensamento negativo. E naquele momento, lembrei de um trecho peculiar do livro, onde retratava a infância do vilão.

O clarão fazia o garotinho de cinco anos arregalar os olhos, totalmente assustado. O quarto escuro tornava-se iluminado de uma maneira incômoda para o menor. O som consecutivo o fazia crer que toda a estrutura da mansão iria desabar, como se o chão tremesse sentindo medo junto com a criança. Ele correu para debaixo da cama, encolhendo-se deitado de lado e apoiando ambas as mãos nos ouvidos.

— Mamãe... Me ajude...

Mas não conseguia ouvir nada além do som estridente dos trovões. A cada raio, o seu corpo estremecia enquanto lágrimas rolavam por sua face. Quando a porta foi aberta, dando a visão de um par de botas marrons, pensou que tudo melhoraria.

Infelizmente, nunca esteve tão enganado.

— Onde aquele inútil se meteu? — comenta Sirius andando de um lado para o outro do quarto, até se ajoelhar encontrando o seu filho debaixo da cama. — O que faz aqui?

O pequeno fungava antes de comentar com a voz trêmula:

— A l-luz malvada... Ela quer me pegar...

Sirius franze o cenho confuso.

— Luz malvada?

— Sim... E o amigo dela também... Ele... — a fala do menor é interrompida por outro raio, rendendo um grito assustado dele. Lorcan soluçava baixinho tremendo mais ainda ao escutar o trovão. — Estou com medo, papai.

O homem estala a língua no céu da boca, segurando a perna do garotinho e o puxando brutalmente para fora da cama forçando-o a ficar de pé logo em seguida. Antes que a criança pudesse questionar, recebia um forte tapa no rosto caindo de joelhos. Ele sentia o gosto metálico em sua boca. A visão estava embaçada por causa das lágrimas se acumulando em seus olhos, mas segurava o choro à todo custo, pois sabia que seria punido se chorasse.

— Medo de tempestades? Isso só pode ser um castigo dos deuses para mim! O que eu fiz para merecer um filho tão inútil?

— M-Mas eles me assustam...

O olhar gélido do duque fez o corpo do menor tremer por completo.

— Como ousa me responder? E que jeito repugnante de falar é esse?! Um De'Ath nunca vacila em seu tom de voz. — gritava girando a bengala dourada antes de golpear no rosto do seu filho, ouvindo o gemido de dor. — Acha os raios e trovões assustadores? Lide com a droga do seu medo! E eu sei muito bem a forma como iremos resolver esse problema.

Sirius segurava o braço do filho com força, cravando a marca dos cinco dedos sobre a pele dele. Lorcan se debatia tentando sair do aperto doloroso, mas era inútil. Ele continuava a ser arrastado para fora do quarto, ouvindo as palavras ríspidas do seu pai.

— Irá dormir no estábulo, assim vai superar o seu medo.

— Não, papai! Não! Por favor!

O mais velho o olha com escárnio.

— É o preço que se paga por ser defeituoso.

Tudo podia ser evitado se o pai soubesse que a Síndrome de Asperger tornava o indivíduo sensível à sons e luzes intensas. Mas algo me diz que isso não mudaria nada. Sirius continuaria sendo escroto com o próprio filho. Devo ter pensado muito sobre o assunto, pois juro ter ouvido a voz do duque. A voz aumentava gradativamente lutando contra os trovões, como se fosse capaz de desafiar o próprio céu.

— Diane!

Abri os olhos surpreendendo-me com a silhueta à minha frente. Lorcan encontrava-se totalmente molhado, algumas mechas grudadas no rosto e as roupas coladas ao corpo. Ele estava ofegante e, em passos lentos, encurtou a distância entre a gente.

— O que diabos faz aqui? Por que fugiu?

Ignoro os seus gritos e gestos inquietos para analisar a situação. Eu descrevi o duque para sentir medo de tempestades, mas ele estava diante dos meus olhos mesmo com a chuva intensa. Quando o relâmpago surge no céu, noto os ombros de Lorcan se encolherem por uma fração de segundos. Ele fechava as mãos ao lado do corpo com força, respirando mais rápido do que o normal.

Espera... Ele está com medo.

Era óbvio que estaria. O método bruto de Sirius nunca fez o filho superar os seus medos, apenas os guardar para si a fim de evitar outra humilhação do seu pai.

— Você ficou maluca, só pode! Saía dessa árvore e vamos voltar para o ducado antes que a chuva piore! — berrava apontando para o céu. — Rápido, droga!

O trovão ressoou por toda a floresta e, em resposta, Lorcan apoiou ambas as mãos nos ouvidos fechando fortemente os olhos. Nem sempre a sua máscara de indiferença podia ser mantida, então era compreensível que reagisse assim. Dentro de toda a frieza, havia um garotinho assustado debaixo da cama que chorava sem parar.

Corri em sua direção e o abracei tão forte que caímos sentados entre os galhos secos. Lorcan arregalou brevemente os olhos quando meus braços contornaram o seu pescoço, afundando o rosto na curva de seu ombro. O mundo estava desabando e o vilão enfrentou um dos seus piores medos para vir atrás de mim.

— Desculpa, desculpa, desculpa... — murmuro o apertando mais forte. — Eu não quis fugir. Só queria conhecer mais das suas terras.

Por longos segundos, o corpo do homem permaneceu inerte até que suas mãos se apoiaram em minha cintura. Um arrepio junto com um calor inexplicável percorreu o meu corpo quando seus dedos apertaram a região com firmeza.

Sei que não é o momento mas que pegada divina!

— É assim que se abraça? — ele sussurra e posso sentir o receio em seu tom de voz. — Essa droga é mais complicada do que parece.

Solto uma risada anasalada em resposta e assinto com a cabeça. Lorcan ainda estava aprendendo como abraçar já que esse era o segundo abraço que recebeu em toda a sua vida — e me sinto orgulhosa de ter sido a responsável pelo primeiro também. E naquele momento, sequer me importei de estar no meio de uma tempestade na floresta.

Até espirrar, é claro.

Lorcan afastou o rosto encarando-me com a sobrancelha arqueada e entendi o recado, saindo de seus braços e ficando de pé. Ao se erguer, o duque ajeitava as roupas e abria a boca, fazendo menção a comentar algo. Porém, seu corpo tem um leve espasmo quando outro raio clareia o céu inteiro. Então, ele se limitou a dizer:

— Da próxima vez que sair sem minha permissão, eu juro que quebrarei suas pernas.

Pisco os olhos, incrédula.

— Sério?

Ele estala a língua no céu da boca, iniciando uma caminhada.

— Não, mas ficará sem sobremesa depois do jantar.

***

Após um banho quente, vesti uma camisola longa de tonalidade roxa feita de seda. Sem um secador, demorei mais do que o normal para enxugar o cabelo. O meu estado estava deplorável, afinal pegar um resfriado piorava a minha aparência natural. Inspirei profundamente depois de um espirro nada discreto. A ponta do meu nariz encontrava-se levemente avermelhada e meus olhos estavam um pouco inchados.

Tentei dormir mas o meu corpo tremia sem parar. Que momento péssimo para adoecer, mas eu mereci por ter ficado no meio de uma tempestade.

Depois de se revirar na cama inúmeras vezes, analisei a chuva que caía do lado de fora. Os raios e trovões haviam cessado, mas a água descia em uma intensidade imensa do céu. Então, decidi ir para a cozinha preparar um chá para resolver o meu pequeno "problema" com a gripe. Porém, todo o meu corpo trava ao encontrar o duque na cozinha depositando o bule no fogão à lenha.

Lorcan trajava uma calça mais folgada do que normalmente usava. Os coturnos pretos e a camisa branca de manga comprida com metade os botões abertos, expondo o peitoral musculoso. Graças ao candelabro aceso ao lado, pude ver com clareza as cicatrizes marcando sua pele. Mas confesso que meu maior foco era no abdômen definido. Uma parte do cabelo preso em um coque enquanto a outra escorregava por seus ombros.

— Não é hora para estar acordada.

Tomo um susto quando sua voz corta o silêncio. Lorcan não olhou para mim em um momento sequer, ele continuava focado nas chamas crepitando à sua frente.

— Como...

— Eu soube que estava aí? Um guerreiro nunca abaixa a sua guarda.

— Mesmo estando em seu lar?

Ele virava o rosto em minha direção. A luz precária do ambiente realçando o azul celeste do seu olhar intenso.

— Eu não tenho um lar.

De forma instantânea, senti um desconforto interno. O duque falava com naturalidade algo que, definitivamente, machucava a sua alma. Por um momento, analisei a enorme cozinha e o corredor vasto que se estendia para a sala de luxo. Mesmo em uma mansão gigante, não havia nenhum sentimento caloroso nesse lugar para que ele pudesse chamar de "lar".

— Por que? — questiono ousando me aproximar.

Porém, Lorcan não responde voltando a atenção para o fogão. Então, resolvo apoiar as costas no balcão de braços cruzados o analisando com curiosidade. Diferente da primeira vez que nos encontramos, não sentia mais medo ao estar perto dele.

Respiro fundo, buscando outra pergunta em minha mente.

— Quando matou aqueles ladrões de estrada, o senhor falou que a dívida estava paga. Que dívida é essa?

Infelizmente, o silêncio é a única resposta que recebo. Pelo visto, o vilão não é do tipo que dá para ter um diálogo normal.

O duque retirava o bule do fogão o depositando no balcão, parando ao meu lado. Ainda assim, não olhava para mim. Ele colocava algumas folhas na água fervente, fazendo um aroma extremamente refrescante pairar na cozinha.

Mordi o lábio desviando o olhar para a janela, onde a forte chuva caía do outro lado.

— Todos o evitam nos corredores do palácio. As pessoas na cidade também não olham diretamente em seus olhos e não é por causa do título de nobreza que o senhor carrega. Eu sei que não. — comento soltando um longo suspiro. — Da mesma forma que o senhor não acreditou nos boatos sobre mim, eu também não acredito nos seus boatos. O que eu disse naquele dia é o que acredito com todas as minhas forças. O senhor não é um monstro.

Porque se fosse não teria se sacrificado tanto por mim. Lorcan tinha medo de tempestades e, ainda assim, enfrentou raios e trovões em uma floresta densa para me encontrar. Tenho certeza que ele odeia celas por causa dos dias trancados em uma, quando era apenas uma criança. E mesmo sob esse trauma angustiante, ele me resgatou do calabouço sem pensar duas vezes.

— Devia acreditar nos boatos, menina burra. Ter um coração tolo que vê bondade em todo lugar é uma maldição. Você não sobreviverá um dia nesse mundo se continuar pensando dessa forma.

— Talvez tenha razão, mas esse coração tolo sussurra a verdade para mim. No fundo, há bondade dentro do senhor.

Ele inspirava profundamente, enchendo uma xícara com o chá e a depositando no balcão com força. Surpreendo-me pela resistência da porcelana em não ter se quebrado em mil pedaços.

— E o que a faz acreditar nisso? — questiona virando o rosto em minha direção. A respiração pesada e as mãos apertando com força o balcão. Os músculos se tencionando contra o tecido fino da camisa. É uma assunto delicado mas preciso me arriscar. Afinal, estou cansada de sempre manter a cabeça abaixada. — Por que acha que há algo bom em mim?!

Em passos lentos, encurtei a nossa distância até poucos centímetros nos separarem. O seu olhar focado no meu, tão concentrado que sequer se incomodou com a aproximação. A respiração dele tornou-se mais suave e os seus olhos se mantiveram fixos em mim. Lentamente, estico a mão pegando a xícara e a trazendo para perto sem quebrar o contato visual. Ele inspirava solvendo o aroma do ambiente, uma mistura do chá com o meu perfume.

— Porque o senhor não estaria fazendo chá de hortelã, recomendável para pessoas resfriadas, no meio da madrugada se fosse uma pessoa ruim.

Posso ter sido presunçosa nesse ponto, mas era o que gostaria de acreditar. O silêncio de Lorcan serviu como uma confirmação para as minhas palavras. Em resposta, abri um fraco sorriso sem mostrar os dentes.

— Obrigada pelo chá, senhor.

Então, começo a me afastar do duque indo em direção à saída até ouvir a sua voz:

— Sem "senhor". É uma droga ouvir isso de você.

Franzo o cenho confusa o olhando por cima dos ombros.

— Por que?

— Porque isso a faz parecer distante. Não é uma empregada do desgraçado do Christian. E não estamos no campo de treinamento, então dispense as formalidades.

Dou uma breve aceno com a cabeça.

— Como desejar. Tenha uma boa noite, Lorcan.

— Boa noite, Diane.

Apesar da seriedade em seu olhar, ele emanava uma áurea aconchegante entorno de si. Eram raros os momentos onde o duque demonstrava essa energia positiva. Então, aproveitei para gravar essa imagem em minha mente antes de retornar ao quarto. 

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