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Capítulo 3

A situação era constrangedora demais e eu queria me enfiar no primeiro buraco à vista. Christian gesticulou para abaixar o tom e, com muito esforço, atendi o seu pedido. Podia ouvir os passos apressados do outro lado e batidas incessantes na porta, junto com a pergunta de um dos guardas se o príncipe estava bem. Ele respondeu que sim e depois se voltou para mim, pressionando o indicador sobre os lábios em um pedido para fazer silêncio. Ainda nervosa e vermelha, assenti com a cabeça.

Os passos se tornaram distantes até cessarem e permiti que um suspiro de alívio escapasse de meus lábios, antes de voltar a refletir sobre a situação em que nos encontrávamos.

— D-Desculpa, alteza, eu... O senhor me chamou para cá e...

— Chamei há quase uma hora para limpar o quarto. — dizia em um tom levemente repreensivo, mas seus olhos expressavam a mesma calma de antes. — Como demorou, acreditei que não vinha, fui tomar banho ciente de que não seria incomodado.

— Perdão, alteza.

— Tudo bem.

— Se me permite perguntar, por que eu?

Os olhos dele cintilavam em sinal de divertimento e um sorriso se desenhou em seus lábios.

— Porque eu gostei de conversar com você, Diane.

— Você lembrou do meu nome!

Claro, sua idiota. Você criou um puta príncipe gostoso e não um cara com amnésia!

A risada de Christian ecoou pelo quarto e não pude deixar de admirar a naturalidade de seus gestos. Mesmo apenas de toalha com uma mera empregada, ele parecia bem à vontade e confortável.

— Por que não lembraria?

— De fato... Perdão por insinuar que Vossa Alteza tinha uma memória ruim.

— Não precisa se desculpar tanto. — comenta caminhando até o guarda roupa e pegando algumas peças. — Eu sou tão assustador assim?

Eu neguei com a cabeça tantas vezes que meu pescoço doeu. O loiro soltou outra gargalhada e, sem ao menos perceber, estava sorrindo feito uma boba. A presença dele era calma e reconfortante. Christian ocupava o segundo mais alto cargo — atrás apenas do próprio pai — e ainda conseguia demonstrar uma humildade surpreendente. O povo de Velorum é sortudo em tê-lo como futuro governante ao lado de Alene.

Sinto uma pontada incômoda no coração diante desse pensamento.

Então, lembro que não a vi desde que cheguei no reino, o que constata as minhas suspeitas. Pela forma que a trama está decorrendo, sem expor todos os personagens de uma vez, o livro ainda está em seu início onde a protagonista narra os seus dias na aldeia que vive antes de ser convocada para servir no palácio. Provavelmente, eu precisarei ficar afastada para não atrapalhar diretamente no romance dos dois.

Retornei à realidade antes que o rapaz notasse o meu devaneio.

— De forma alguma, alteza. Eu arrisco a dizer que sua presença é reconfortante até demais.

Mais uma vez a droga da minha língua solta se manifesta. Enquanto escrevia sobre Christian, perdia a noção de tempo narrando cada detalhe sobre ele. Quando nos dedicamos a uma obra, sempre há um personagem que rouba parte do nosso coração. Pois bem, eu poderia dizer que Christian o roubou por completo.

O sorriso dele faz com que borboletas surjam em minha barriga. Malditas borboletas.

O príncipe possui sutis covinhas em suas bochechas — bem mais discretas que as de Bryan — e os dentes brancos perfeitamente alinhados. O seu rosto é simetricamente perfeito e as bochechas levemente ruborizadas dão um certo charme, acentuando a benevolência de sua áurea.

— Eu fico feliz que pense assim, Diane. As empregadas... Não, todos ao meu redor parecem tensos diante da minha presença. Eu recebo vários elogios, é claro, mas tenho medo de que não sejam sinceros. — comenta aproximando-se de mim em passos lentos e não sei se foco em seus belos olhos verdes ou no tanquinho molhado. É uma droga que eu tenha dois olhos mas ambos só possam se concentrar em uma das maravilhas de cada vez. — Estranhamente, sinto sinceridade em você como se me conhecesse muito bem.

Ah, se você soubesse. Eu conheço mais do seu passado e da sua personalidade do que você mesmo.

Apenas sorrio sem graça, desviando o olhar para os meus pés. Ao menos, eles me trariam um pouco de razão diferente desse corpo sarado e molhado à minha frente.

— Impressão sua, alteza...

— Eu gostaria que me acompanhasse em uma das minhas viagens para minha residência em Altair, esse final de semana.

— O que?! — exclamo voltando o olhar para sua face, totalmente incrédula. — Eu sou apenas uma empregada, alteza.

— Eu preciso de uma na minha outra mansão. É um direito do príncipe levar um servente de confiança e não consigo pensar em uma pessoa melhor.

Ainda estou estática diante da proposta e, por mais que seja lógico recusar para não se envolver demais com os personagens, a minha língua solta decide tomar a decisão sozinha.

— Como quiser, alteza.

— Ótimo. A governanta irá passar as instruções necessárias. — dizia passando por mim, indo para o banheiro e lançando um olhar terno por cima dos ombros. — Agora irei deixar que limpe o quarto.

O príncipe sequer espera uma resposta, pois fechava a porta do banheiro deixando uma certa empregada surpresa no meio do quarto.

***

Em um dos momentos de "folga", fui para os fundos do palácio lavar o rosto na fonte existente entre a bela grama verde. Eu esfreguei com tanta força os meus olhos que contive um gemido de dor por causa da ardência. Logo, sentei no chão abraçando as pernas e deixando que um longo suspiro saísse dos meus pulmões. Não podia ficar presa nesse lugar, eu tenho uma vida em Londres — por mais deprimente que seja. Precisava ser uma namorada melhor para o Bryan, uma escritora reconhecida e alguém que não carregasse arrependimentos. Infelizmente, parece que o destino tinha planos maquiavélicos para mim.

Pense positivo, Natasha! Você vai dar um jeito.

Às vezes, é difícil acreditar no subconsciente mas ele era o meu único companheiro nessa nova realidade. Se há algo sobrenatural envolvido com essa "viagem" estranha, talvez haja um método semelhante para retornar para casa. Enquanto não encontro nenhuma pista, preciso continuar fingindo ser Diane, uma empregada atrapalhada e esquecida pelo própria autora. Lembro-me de ter narrado um ou dois trechos de uma serviçal entregando chá ou arrumando os cômodos do palácio. Provavelmente, ela é Diane e eu acabei ocupando o seu papel que possui importância zero para a trama. Ainda assim, acabei conversando três vezes com o príncipe mas sei que mudará com a chegada de Alene.

Afinal, tudo gira entorno da protagonista.

Cherly aproximou-se do gramado gesticulando para retornarmos aos afazeres. À contragosto, eu a segui com uma expressão de poucos amigos mas entendia que a jovem apenas estava preocupada comigo, já que a governanta nutria um singelo ódio por Diane.

— Você tem sorte que a senhorita Hopkins não te mandou para as masmorras, Diane. Eu aconselho ser mais útil para o palácio.

O meu olhar surpreso recai sobre a empregada. As masmorras foram criadas para conter os piores criminosos ou aqueles que se rebelavam contra o rei. Elas se localizavam na área mais isolada de Velorum e apenas pessoas autorizadas pela realeza tinham o direito de se aventurar por essas terras. No livro, há boatos de que torturas ocorrem com frequência naquele lugar.

— Ela me levaria até lá apenas por isso?!

Cherly acaba rindo do meu desespero e dou um leve tapinha em seu braço.

— Claro que não. Eu estou apenas brincando, mas é realmente admirável que ela não tenha a mandado para a casa de algum nobre imundo junto com uma carta de recomendação.

Sinto um calafrio percorrer meu corpo com essa hipótese. Os nobres, em sua maioria, eram arrogantes e prepotentes como Lorcan. E eu havia descrito que alguns abusavam das próprias empregadas e depois a dispensavam quando engravidavam, deixando-as à deriva da sorte.

Droga! Por que eu não fiz uma obra com menos filhos da puta?

— Acho que foi sorte. — comento com uma risada forçada.

— Ou porque a sua mãe, antes de morrer, mandou uma carta diretamente para o rei pedindo que a mantivesse no palácio.

— A mãe da Dian... A minha mãe fez isso?

Ela estreita os olhos em minha direção, como se fosse me internar à qualquer momento. Contudo, decide deixar as suspeitas de lado e dar continuidade ao assunto.

— É claro. Você mesma me contou na segunda semana que veio para cá. A sua família tem um histórico de servidão com a realeza, até há boatos que dizem sobre a sua mãe ter sido a única empregada que o rei verdadeiramente confiava.

Eu não sabia dessa. Pelo visto, Diane, mesmo sendo uma secundária, possui uma relação com a trama. Uma relação bem mais profunda do que eu posso imaginar.

— Que sorte a minha.

— Mas não sabemos até quando. — Cherly comenta olhando-me por cima dos ombros. — A senhorita Hopkins está em busca de uma brecha para te mandar para longe. Vamos torcer para que isso não aconteça e, se acontecer, que seja para um nobre menos deplorável.

Assinto com a cabeça, apertando os punhos ao lado do corpo. Eu não poderia permitir que um nobre nojento encoste em meu corpo, mesmo que seja apenas em outra realidade. Eu tenho certeza que Diane pensaria igual.

— Sabe, Cherly, o príncipe me convocou para acompanha-lo em sua mansão em Altair.

Instantaneamente, a jovem virava-se em minha direção com os olhos arregalados.

— Desde quando você é a concubina dele, Diane? E por que diabos não me contou? — exclama segurando meus ombros e me balançando sem delicadeza. — Pensei que fôssemos amigas!

— Ei, ei! Eu não sou concubina de ninguém! — digo me desvencilhando do seu aperto. — Ele só precisa de uma empregada para acompanha-lo nessa viagem e, pelo visto, não tive tanta sorte.

— Como ousa dizer isso? Quem me dera ter sido escolhida. Eu daria qualquer coisa para poder admirar aquele rosto lindo por mais tempo. — murmura com um sorriso bobo. — E aquele corpo? Nossa! Será que os músculos são reais mesmo?

Se ela soubesse que eu tive o prazer de vê-los pessoalmente, iria surtar comigo. Então, apenas dou nos ombros e continuo a minha caminhada em direção ao salão principal, onde o balde e o esfregão me esperavam.

***

Não houve uma única alma disposta a me ajudar na hora de colocar as malas na carruagem. Tudo bem que eu era a empregada, mas um pouco de cavalheirismo não mata ninguém. O cocheiro sequer olhou para mim e os guardas mantinham o olhar fixo no horizonte, mantendo a fileira à espera do príncipe. O mais humilhante, na verdade, era cruzar essas terras usando a droga da roupa de serviçal.

No dia anterior, a governanta me passou todas as instruções necessárias para ajudar as outras empregadas na residência dele em Altair. Aquela velha ficou meia hora dando sermões sobre a minha falta de habilidade e chamando-me de inútil a cada cinco minutos. Com toda certeza, ela espera que eu falhe nessa viagem pois seria o pretexto perfeito para se livrar de mim.

E, para piorar, ainda me obrigou a passar a noite em claro arrumando todos os suprimentos da cozinha. Os meus olhos ardiam e eu só queria deitar em qualquer lugar para tirar um cochilo, mas não podia. Não quando a minha permanência na mansão dependia do meu desempenho nessa viagem.

Christian surgiu na entrada do palácio e, de forma instantânea, os guardas enrijeceram a postura. Jonnathan o seguia como um cachorrinho adestrado, querendo atenção do seu dono. Ele segurava alguns papéis e explicava com ânimo sobre a programação do príncipe durante a semana que ficaria fora da capital. O loiro acenava com a cabeça para o seu conselheiro, como um pedido para que deixasse essa conversa para depois. Pelo visto, ele também teve uma péssima noite de sono.

Antes de entrar na carruagem, Christian me olhou de relance e assentiu como um cumprimento breve. Eu retribui o gesto sem perceber que havia um sorriso em meus lábios, um sorriso tão natural que havia esquecido da última vez que o fizera. Quando fui dar o primeiro passo em direção ao interior da única carruagem presente, um dos guardas segurou o meu braço com força.

— Nada disso, mocinha. Apenas o príncipe e o seu conselheiro podem entrar.

— Mas onde eu irei?

Em resposta, ele apontou para o assento ao lado do cocheiro. Eu contive a minha vontade de fazer um gesto nada amistoso com o dedo e tomei o meu lugar, por mais desconfortável que fosse. É claro que uma parte de mim sabia que uma simples empregada nunca andaria tão próximo à alguém de uma classe superior. Contudo, a outra parte sentiu uma pontada de decepção por essa triste realidade.

A viagem inteira foi um completo silêncio e arrisco-me a dizer que o cocheiro reclamou umas cinco vezes por levar uma "mera empregada" junto com o príncipe. Eu tenho certeza que essas foram as três horas mais longas da minha vida. O meu corpo pedia por um descanso urgente, mas era impossível dormir naquele banco duro enquanto a carruagem balançava mais do que uma montanha russa.

Ao chegar na segunda residência real, arregalo os olhos surpresa. A enorme mansão de três andares possuía um vasto jardim na entrada, além de um chafariz em formato de cupido. Christian desceu primeiro sendo acompanhado por Jonnathan e diversos guardas que o aguardavam no portão. O cocheiro praticamente me empurrou do assento e caí de joelhos, resmungando baixinho pela dor. Com certa dificuldade, fiquei de pé e comecei a pegar as malas recebendo o auxílio de uma empregada franzina daquela mansão. A mulher sequer olhou para mim ou me cumprimentou como se minha existência fosse insignificante.

— Vida de secundário é uma merda. — resmungo comigo mesma enquanto arrastava uma enorme mala, provavelmente do príncipe, até o interior da residência. Então, encontro o salão principal tão grande quanto o do castelo e possuidor de um belo piano no centro. Uma lareira acessa estava localizada no canto direito, perto de dois sofás beges. — Puta que pariu, que enorme!

Um dos guardas que passava ao lado ouviu minha exclamação, olhando-me incrédulo. Porém, estava sonolenta demais para dar importância. Eu só queria afundar o meu rosto em uma das almofadas brancas e macia dispostas nos sofás. Infelizmente, a empregada de antes envolveu os dedos finos em meu braço e me puxou para longe daquele local de conforto.

— Deixe as malas nos aposentos da Vossa Alteza e depois venha para a cozinha, quero que informe o cozinheiro qual será o cardápio dessa noite.

Apenas assinto com a cabeça e sigo para a fileira de degraus que me levará para o segundo andar. O meu corpo latejava pedindo por um minuto de descanso, mas ignoro suas reclamações indo para o vasto corredor bem iluminado. Ao parar diante de uma porta com detalhes dourados, dou leves batidas e escuto aquela voz gentil confirmando. Então, entro no quarto do príncipe ao mesmo tempo que abaixo o olhar, fazendo uma reverência como cumprimento.

— Irei deixar sua mala aqui, alteza.

— Claro. Então, o que achou da viagem, Diane?

Nesse momento, não resisto e ouso erguer o olhar encontrando Christian apoiando uma mão sobre a janela enquanto o rosto está virado em minha direção. A brisa invadia o cômodo, brincando com as mechas loiras de seu cabelo.

A viagem? Eu achei uma droga. Preferia ir sentada em um cacto para a Lua do que repetir a dose.

Um sorriso gentil se forma em meus lábios.

— Eu gostei. Velorum é realmente um reino belo.

— Ora, você não é daqui?

Mordo a língua diante do meu comentário impulsivo. Diane faz parte de Velorum, por isso não posso fugir do papel da personagem.

— Sou sim. É que... Às vezes, esqueço que vivemos nesse mundo rodeado de belezas.

— Eu entendo muito bem como é essa sensação. — ele diz com complacência, abrindo um fraco sorriso. — O trabalho como futuro rei consome muito do meu tempo. Eu sei que é egoísta da minha parte mas há momentos onde desejo esquecer essas responsabilidades e...

— ... Viver uma vida de liberdade, sem estar preso à nada ou à ninguém.

Christian demonstra uma singela surpresa com o meu comentário. A verdade é que eu compreendia essa sensação de sufoco. No começo, escrever era algo bom que trazia liberdade para mim mas, com a fama e a cobrança das editoras, a situação mudou drasticamente. Agora, escrever um livro não se tratava mais de retratar sobre mim, apenas sobre os anseios alheios. Eu deixei de expressar da forma como me agradava para escrever o que os leitores queriam.

— É bom saber que encontro alguém na mesma situação. Bem, não que seja algo bom mas acho que entendeu o que eu quis dizer. — Christian comenta deixando uma risada descontraída escapar dos seus lábios enquanto se aproximava. O clima torna-se mais ameno, como o esperado. — Seria pedir demais que guardasse esse meu desejo egoísta como um segredo?

O príncipe parava alguns centímetros na minha frente e posso ver os seus olhos esverdeados cintilarem em uma sincera preocupação. O meu sorriso continua nos lábios enquanto nego com a cabeça, ousando fitá-lo de forma direta.

— Não se preocupe, alteza. O senhor está guardando um segredo meu, nada mais justo do que fazer o mesmo.

Ele ria abertamente recordando do momento onde, sem querer, eu o chamei pelo nome. Logo, qualquer sinal de preocupação havia sumido de sua face.

— Céus! Não me chame de "senhor", eu me sinto um velho.

Nesse momento, sou eu quem estou rindo de forma descontraída.

— Seria desrespeitoso chamá-lo informalmente e eu duvido muito que minhas costas aguentem trinta chicotadas como punição por tamanha ousadia.

A risada do príncipe ecoa novamente pelo cômodo até que, gradativamente, some. Então, a sua expressão relaxada muda para algo sério enquanto os olhos amenos me fitam com uma gentileza avassaladora.

— Eu iria te proteger, Diane. Não deixaria que tocassem um dedo em você.

O meu rosto adquire uma tonalidade rosada e encontro-me sem palavras diante do seu comentário. O calafrio que sinto em meu corpo não é por causa da brisa noturna e sim por essa sensação estranha em meu peito. Christian, o meu personagem favorito, está diante dos meus olhos dizendo algo tão gentil e reconfortante.

— Eu...

— Alteza, está ocupado? — pergunta uma voz masculina do outro lado da porta e reconheço como sendo de seu conselheiro. — Há notícias urgentes que precisam de sua atenção.

O loiro suspira pesadamente, deixando claro como não gostou de ter sua conversa interrompida. Então, ele segura a minha mão guiando-me para a enorme cortina bege na janela. O toque de sua mão era quente e aconchegante. Por um momento, esqueço da situação em que nos encontramos para aproveitar a oportunidade. Logo, Christian me escondia atrás da cortina e sussurra no curto espaço que nos separava.

— Por favor, não faça nenhum barulho.

Assinto com a cabeça e, então, o príncipe concede a entrada do seu conselheiro enquanto se dirige para a sua escrivaninha, sentando-se de costas para o homem. Jonnathan chega no quarto com uma expressão de pura preocupação e sequer se dá ao trabalho de notar minha presença.

Ele faz uma reverência antes de começar a falar.

— O duque de Icarus está planejando ultrapassar seu poder, Vossa Alteza.

— Sabe que isso é impossível, Jonnathan. A realeza está em um nível diferente da nobreza.

— Um nível diferente mas não tão distante. O ducado dele está aumentando consideravelmente o seu poder militar e abrindo espaço por fronteiras arriscadas. Nós dois sabemos como o senhor De'Ath não simpatiza com Vossa Alteza. A inveja o consome e temo por seu reinado.

O avanço das tropas de Lorcan, apesar de ser um acontecimento previsto em minha obra, me surpreendeu como uma notícia inédita. Ele é ardiloso e cruel. O seu objetivo é dar um golpe para derrubar a monarquia e assumir o poder de Velorum. No final das contas, roubar Alene para si era apenas um pretexto para o seu plano, uma birra pessoal com o príncipe. O confronto entre ambos era intenso e Christian sofrerá muito por causa das maldades do duque.

— Nós estaremos preparados para atacar caso o improvável aconteça. — comenta Christian com uma paz surpreendente. — Enquanto isso, mande espiões do nosso exército para se infiltrar nas forças dele e obter informações. É necessário saber todos os passos do Lorcan antes de deduzir qual seja a sua real intenção.

— Como quiser, Vossa Alteza.

— Onde está concentrada a base militar mais forte dele?

— No norte.

— Ótimo. Prepare as nossas tropas da região para qualquer ataque.

Jonnathan assente e, em seguida, o príncipe gesticula com a mão o dispensando. Ele fez uma breve reverência antes de se retirar do quarto. Quando escuto o som da porta se fechando, solto o ar dos meus pulmões em um longo suspiro.

— Pode sair, Diane. Ele já foi embora.

Quando saio do meu esconderijo improvisado, encontro o príncipe com um semblante tenso. As mãos fechadas em cima da escrivaninha e o olhar sem expressar o mesmo brilho descontraído de antes. Como o esperado, Christian guarda toda a preocupação para si pois quer demonstrar força e confiança para aqueles que o seguem.

— Eu agradeceria se não contasse à ninguém sobre o que ouviu. — ele diz passando a mão entre as mechas loiras do seu cabelo. Os fios brilhavam mais ainda ao serem agraciados pela luz azulada da Lua. — Eu gostaria que meu reino continuasse sob esse véu de paz.

— Eu não ousaria contar, alteza. Mas o senhor está bem? Eu não consigo me imaginar com tamanha pressão sobre os ombros e, ainda assim, estar tão calmo.

— Eu preciso estar calmo. Afinal, sou o pilar de Velorum.

— À custa da sua saúde mental? — questiono conseguindo, finalmente, a atenção daqueles olhos verdes apenas para mim. — Eu sei que o senhor precisa representar a força desse reino, mas não há problema nenhum demonstrar essa "fragilidade". Na verdade, eu não vejo como sinal de fraqueza. Eu reconheço a sua força e sei que o seu povo também reconhece.

O sorriso nos lábios dele acalma o meu coração. Christian levanta-se caminhando em minha direção e, mais uma vez, encurtando a distância entre nós dois. Os seus olhos procuravam os meus à todo custo, mas só consigo encarar os próprios pés tomada pela vergonha da sua aproximação. Então, sinto os dedos quentes dele — agora sem as luvas — tocarem meu queixo erguendo minha cabeça e, assim, encontro aquelas safiras fitando-me com ternura. As minhas bochechas estão quentes e a minha respiração desregulada.

A beleza desse homem devia ser um patrimônio cultural!

Eu sou grato por essa fé que tens em mim, Diane. Mas como consegue falar tais gentilezas com tamanha confiança? Como pode me conhecer tanto assim?

Eu queria gritar: "porque eu te criei!" mas isso não iria adiantar nada. Christian apenas ficaria confuso e me acharia uma louca. Então, ousadamente, seguro sua mão sem quebrar o contato visual e dou um passo em sua direção. Nossos corpos estão colados e as respirações sincronizadas.

— Porque eu posso ver através do seu olhar toda a força que carrega dentro de si, bem como posso ver também as inseguranças. Mas as duas podem andar lado à lado e, ainda sim, fazer parte de você.

Christian sorria mais abertamente com um brilho único no olhar. Por um instante, nenhuma palavra saiu de seus lábios enquanto nos encarávamos de forma intensa. O toque quente de seus dedos deixou de agraciar minha pele. O príncipe recuou alguns passos até retornar para a sua escrivaninha.

— Você é sábia em suas palavras, Diane. Creio que teremos ótimas conversas pela frente.

Em resposta, apenas sorrio com sinceridade.

— Eu ficarei de olho nos movimentos do Lorcan e...

— Eu posso te ajudar. — digo por mero impulso, rendendo uma exclamação surpresa do loiro. — Digamos que eu entendo um pouco sobre guerras...

— O que uma empregada poderia saber?

A pergunta dele não possuía arrogância, era uma singela confusão.

— Eu estudei sobre isso. — menti. — Se o duque de Icarus quer tomar o seu poder, ele procurará alianças. Por isso, o senhor deveria ficar de olho na confiabilidade dos seus aliados. Algum deles pode traí-lo.

Eu sabia que Lorcan buscaria membros insatisfeitos com a realeza para se unir à sua causa egoísta. Outros duques também estariam envolvidos nessa tentativa de revolução, mas tal acontecimento iria demorar um pouco. Primeiramente, eu apresentei o universo de Velorum e depois a relação entre os personagens. Então, tenho tempo o suficiente para impedir que sangue inocente seja derramado.

O príncipe parecia surpreso com minha dedução e seus olhos brilham em ânimo.

— Estaria disposta a me ajudar, Diane?

Respiro fundo refletindo sobre a minha próxima decisão. Eu não deveria interferir diretamente nos acontecimentos da obra mas, como estou presa em Velorum, não posso arriscar o meu pescoço na guerra que se aproxima. Afinal, agora eu também sou uma personagem e não apenas a criadora desse universo. Se eu puder alterar alguns fatos, garantirei minha vida aqui e, assim, terei tempo o suficiente para procurar uma maneira de sair desse lugar.

— Sim. Eu irei te ajudar a derrotar Lorcan. 

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