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Capítulo 24

Lorcan odiava contato físico à todo custo. Ele foi criado para se sentir desconfortável com o toque alheio, tanto por causa do seu autismo leve quanto pelo trauma na infância. Para um guerreiro, o corpo era um templo intocável. Contudo, no caso do duque, seu corpo já havia sido violado pela tortura de anos atrás. Mas ele ignorou todo o desconforto para me tocar.

Enquanto ia em direção ao escritório do rei, encaro a própria mão com um olhar distante. Por mais que doa admitir, senti um pouco de empatia pelo vilão. Na verdade, nem sempre ele parecia alguém capaz de dizimar exércitos e matar inocentes.

Ao abrir a porta, Christian ergue o olhar indo em minha direção em questão de segundos. O seu abraço é apertado e reconfortante. Por um instante, esqueço do meu questionamento anterior sobre o duque e foco unicamente em nossos corpos colados.

— Ele não te machucou, certo? — questiona ao se afastar.

Pondero se os ferimentos do treinamento contam como machucados mas, no final, nego com a cabeça ouvindo o seu suspiro de alívio.

— Então, como é o ducado dele?

De uma forma incompreensível, sentia-me desconfortável em delatar Lorcan. Mesmo que seja a única medida cabível para impedir as suas atrocidades, as pessoas em Icarus pareciam tão felizes dentro da enorme muralha. Elas estavam protegidas do mundo exterior, apesar de que esse sentimento de proteção vinha com o preço das vidas inocentes ceifadas pelo vilão e o seu exército. Então, para impedir que mais mortes aconteçam, abafo qualquer desconforto e começo a falar:

— O senhor De'Ath negocia os produtos com outros reinos, mas nem todo acordo é sobre a compra de alimentos. Ele está disfarçando o seu real objetivo quando, na verdade, faz acordos ilícitos com outros monarcas.

Christian pisca os olhos incrédulo e gesticula para que eu prosseguisse.

— Eu suspeito que o reino Aryan e Valfem estejam envolvidos, pois encontrei um acordo suspeito em seu escritório. Durante essas duas semanas, também analisei a forma como as pessoas em Icarus vivem e elas não são assustadoras como o restante de Velorum pensa.

O loiro senta no sofá e o acompanho sentando na poltrona do outro lado.

— Eles são reservados e, na maior do tempo, sérios. — dizia Christian apoiando o cotovelo no braço do sofá, repousando a bochecha na palma da mão. — É óbvio que não é motivo para tais boatos, mas aconselho não abaixar a guarda perto deles. Nunca se sabe quando podem atacar.

Contenho a vontade de contar sobre pessoas como Isaac e Arvid que possuem corações puros. Eles não passam de crianças que já sofreram muito por causa do antigo rei de Velorum, vulgo o pai de Christian. Contudo, o silêncio é o melhor a se fazer em momentos como esse, afinal não adiantaria nada ir contra ele.

— Lorcan deseja aumentar o seu exército pois, segundo ele, não possui uma quantidade necessária para cumprir o seu objetivo.

— E qual seria?

— Eu não sei mas tudo indica que seja um futuro golpe. Ele quer ser o rei de Velorum.

Christian deixa escapar uma risada melodiosa dos seus lábios, negando a cabeça como se fosse impossível essa opção. Em partes, a sua reação é compreensível porque ele e o duque eram amigos de infância. E é sempre difícil aceitar que uma pessoa de confiança irá nos trair. Mas Christian, como rei, não pode subestimar o vilão.

— Christian... — murmuro em um tom repreensivo. — O duque não é um tolo. Não deveria dar as costas para esse homem.

— Eu sei, Diane. Mas Lorcan nunca demonstrou interesse pela coroa. E francamente, ele sequer saberia como administrar um reino. Para isso, precisaria ser amado pelo povo e bem... Infelizmente, nós dois sabemos que isso não é possível.

— Você acha que é impossível amarem o senhor De'Ath?

O olhar penoso do rei foi a resposta para a minha pergunta. Christian estava certo. Lorcan não foi criado para receber ou distribuir amor. Ele é uma casca vazia em todos os sentidos. O seu único objetivo é derrubar a família real e tomar Velorum para si, onde iniciaria uma era de horrores.

— De qualquer forma, eu tomarei cuidado. Agradeço a sua preocupação, Diane. Mandarei imediatamente os meus melhores espiões para se infiltrarem no ducado de Icarus e encontrar essas provas do seu suposto golpe.

Ele adotou uma postura séria, diminuindo parte da minha preocupação. Christian continuou a fazer perguntas referentes ao ducado mas, também, analisava o meu rosto com um sorriso terno. Era nítida a alegria que sentia ao me ver bem e, particularmente, sentia falta da sua gentileza acolhedora.

***

Cherly ajudava-me a limpar a enorme sala de visitas. Martha estava do outro lado do cômodo, ajeitando a madeira da lareira. Há quatro dias atrás, quando retornei para a capital, elas me encheram de perguntas para saber que tipo de crueldades eu presenciei. Para a surpresa de ambas, não relatei nada além do meu treino básico.

Enquanto conversávamos sobre qualquer assunto aleatório, uma empregada surge na sala e comenta:

— Vocês ficaram sabendo da viagem repentina do rei?

Eu e as outras lançamos olhares confusos entre si. Cherly aproximava-se da jovem com a curiosidade evidente em sua face.

— Não. Que viagem é essa?

— Pelo visto, a mãe da Alene estava doente há muito tempo e a sua doença, recentemente, piorou.

Contenho minha língua afiada para não comentar de que esse fato não era novidade para mim. A empregada nos analisava brevemente antes de continuar a falar.

— Ela entrou em desespero ao receber uma carta notificando a piora do seu estado. Não sei como mas isso chegou aos ouvidos do rei. E vocês não vão acreditar no que ele fez. — comenta esperando algum comentário, mas estamos curiosas demais para pensar em algo. — O rei decidiu acompanhá-la na viagem e boatos dizem que ele se ofereceu para pagar um tratamento para a mãe dela.

Eu estava partida em pedaços. Christian oferecera à Alene mais do que tentou fazer por mim. Não, não. No meu caso, fui enviada diretamente para a morte sem pensar duas vezes. Eu fui tratada como o sacrifício necessário para Velorum. Por outro lado, a protagonista, como o esperado, receberia toda a gentileza e o apoio de Christian.

Em passos lentos, recuei até que minhas costas se chocassem contra um vaso de porcelana que se partiu em pedaços ao entrar em contato com o chão. As minhas amigas vieram ao meu encontro para perguntar se eu havia me machucado, mas as vozes delas estavam tão distantes. Quando a governanta apareceu na sala de visitas, o seu olhar gélido recaiu sobre mim.

Os golpes consecutivos com uma vara fizeram a minha mão sangrar. Propositadamente, a senhorita Hopkins me golpeou na cicatriz feita pela adaga. Para não preocupar Martha e Cherly, cuidei dos ferimentos longe do alcance delas. Mordia o lábio com força à medida em que colocava uma pomada no corte, sentindo a região arder. Infelizmente, o machucado continuava a latejar mesmo após enfaixar com precisão.

Mas era a ferida em meu coração que sangrava sem parar.

***

A visita de Christian para a casa de uma simples camponesa causou repercussão por todos no castelo. Um monarca não deveria ter contato tão direto com o povo, por isso suspeitavam de um envolvimento amoroso. A única vantagem é que os boatos se direcionaram para Alene e o rei. Por um momento, esqueceram da minha existência insignificante. A desvantagem é que Christian também esqueceu.

Um longo suspiro de cansaço escapa dos meus lábios enquanto rego as flores, abaixada entre os arbustos. Ao ouvir passos, ergo o olhar para a figura imponente do duque a alguns metros de distância. Ele estava sentado em uma cadeira no centro do jardim enquanto Alene se aproximava, depositando a bandeja com chá e biscoitos em cima da mesa.

— O dia está belo, Vossa Graça.

Alene tentava ser educada, mas Lorcan simplesmente ignorava a sua presença.

— Gostaria de acrescentar mel em seu chá? — questiona e ele assente. Quando a jovem inclina o corpo aproximando-se da xícara, o seu olhar recai sobre os trajes sombrios do duque. — O senhor gosta muito da cor preta, não é?

— Agora que confirmou a eficácia dos seus olhos, já pode se retirar. — ele rebate de forma seca.

Estou fazendo careta em uma tentativa de conter a risada. Na obra, Alene consegue quebrar uma parte do coração de pedra dele, mas Lorcan confunde a sua possessão com amor e a sequestra.

A ruiva ria de forma descontraída. Ela não parecia ofendida pelo jeito nada delicado do vilão.

— O senhor é engraçado, Vossa Graça.

Lorcan erguia a cabeça a encarando nos olhos pela primeira vez. Os dois possuíam um contraste perfeito e, no fundo, desejei vê-los juntos. Talvez seja a única forma de deixar o caminho para Christian livre.

Enquanto retornava ao foco direcionado para o nada, o olhar rígido do duque recai sobre mim. Alene continuava a elogiar os trajes do homem e a forma como as luvas davam um certo charme. Mas Lorcan a trata como um mero mosquito perto do seu ouvido. Eu e ele nos encaramos por longos segundos que pareciam horas. Diferente das outras vezes, o seu olhar intenso não me deixou desconfortável.

E eu não temi ao encará-lo de forma tão direta. Era como se estivéssemos no mesmo altar, sem nenhuma classe social para atrapalhar.

Ao perceber que não recebia a atenção desejada, Alene esticou o braço em direção ao ombro do duque. Contudo, Lorcan segurou o seu pulso com tamanha força que a ruiva gemeu de dor. Ela tentou se afastar mas era em vão. A força de um dos maiores guerreiros de Velorum era assustadora.

— Nunca. Me. Toque. Sua empregada imunda.

O medo estava expresso no semblante da ruiva. Antes que Alene pudesse comentar algo, uma voz estridente ecoou pelo jardim:

— Deixe-a em paz, Lorcan!

O duque estalou a língua no céu da boca e soltou o pulso da jovem que o acariciou, recuando alguns passos.

— Você não tem o direito de machucá-la. — dizia Christian de maneira firme enquanto se aproximava de ambos. — Na verdade, não tem o direito de machucar ninguém do meu reino.

Lorcan lançou um olhar de total indiferença para o monarca.

— Não fui eu quem iniciei essa provocação, majestade. Eu pensei que o seu senso de justiça não seria afetado, mas vejo que está tão danificado quanto a sua capacidade de raciocínio.

Christian trinca os dentes em sinal de desagrado. O duque virava o rosto em direção à Alene que, rapidamente, se esconde atrás do loiro. Ela parecia um coelhinho assustado, buscando apoio em um enorme leão. Mas era a raposa sagaz que prendeu minha total atenção.

— Eu não permitirei que a acuse. — Christian o repreende, envolvendo a mão na cintura de Alene em um gesto protetor. — Nós dois sabemos quem possui o histórico de brigas aqui.

Lorcan franzia o cenho em desagrado. A sua mão repousa no cabo da espada que carregava consigo, presa em sua cintura. De fato, o pavio curto do duque era uma das suas características marcantes. Mas não nesse momento. Por mero impulso, erguia o corpo saindo do meu "esconderijo" entre os arbustos e vociferei:

— Não foi o duque, majestade. Ele realmente não fez nada.

Os olhares se focam inteiramente em mim e vi Lorcan arquear a sobrancelha, claramente confuso com a minha atitude. E para ser sincera, nem eu mesma pude compreender porque o defendi.

— Diane, ele estava a machucando. — comenta Christian.

Você também. Você está me machucando desde que começou a ignorar minha existência para estar perto de Alene.

Mordi a língua com força sentindo o gosto metálico em minha boca. Alene piscava os olhos surpresa e dizia:

— Ela está certa. Eu o toquei sem a sua permissão.

O monarca custa-se a acreditar em nossas palavras, olhando para a ruiva com uma evidente preocupação que faz o meu estômago se revirar. Por fim, ele suspira em sinal de desistência e assente com a cabeça.

— Se vocês duas estão dizendo, eu acredito.

— Que louvável. — debocha Lorcan.

Christian o fuzila com o olhar antes de segurar o pulso de Alene, analisando a marca vermelha com cuidado. Não, não. Por favor, não ajam como um casal apaixonado. Não destruam mais o meu coração.

— Vamos cuidar disso. — ele murmura antes de focar sua atenção no vilão. — Creio que não se importe em esperar alguns minutos para nossa reunião.

O outro apenas deu nos ombros, bebericando o chá com total indiferença.

Por instinto, dei um passo para frente mas os dois já haviam sumido do jardim de mãos dadas. O rosto corado de Alene e o sorriso protetor de Christian foram as últimas imagens que visualizei. Em seguida, desviei o olhar para o duque que encarava a palma da mão com um semblante distante. E eu imaginei o quão desconfortável deve ter se sentido em tocar alguém. Mas por que ele segurou a minha mão naquele dia?

***

No final da tarde, encontrei o olhar curioso do vilão direcionado à mim. Após um longo dia, tudo o que precisava era um bom banho e um descanso merecido, mas queria treinar. Na verdade, precisava treinar pois descobri que bater em algo ou alguém ajudava a lidar com sensações ruins. E nesse momento, era necessário uma boa sequência de golpes para esquecer a cena de Christian e Alene. Por isso, apareci na frente do escritório real quando o duque saiu da reunião com o rei.

— Eu quero treinar.

Lorcan se manteve em silêncio sem expressar nada além da rotineira neutralidade.

— Por favor.

Creio que ele tenha percebido o motivo do treino, pois o divertimento lampejou em seu olhar. Esse homem gosta de ver o sofrimento alheio.

O duque iniciou uma caminhada pelo corredor e entendi o seu pedido silencioso para acompanhá-lo. Quando estávamos no final do extenso tapete vermelho, a porta do escritório é aberta e Christian saía lançando um olhar confuso em nossa direção.

— Diane? O que está fazendo com ele?

O incômodo evidente no tom de voz do rei quase pareceu ciúmes, mas deve ter sido impressão minha. Abri a boca para respondê-lo mas Lorcan foi mais rápido.

— Você a mandou para ser uma soldada de Icarus, Christian. Agora, ela me pertence.

O meu rosto ferveu estando dividida entre a vergonha e a vontade de rir da boca aberta de Christian.

— Nem ouse, Lorcan... — ele o ameaça com o olhar sério, dando alguns passos em nossa direção.

— Arrependido da sua decisão, majestade? — questiona sarcasticamente. Os olhos azuis reluzindo pela tocha na parede ao lado. — É difícil tentar agradar à todos e continuar sendo patético, não é?

Pude jurar que à qualquer momento o rosto do duque conheceria o punho de Christian.

— Não tão difícil quanto não agradar ninguém e nunca saber como é ser aceito.— o rei rebate e, imediatamente, os ombros do vilão ficam rígidos. Okay, ele tocou em uma ferida profunda.

— Vamos treinar, senhor De'Ath. — pedi para encerrar uma discussão nada agradável entre ambos. — Por favor.

A fúria em seu olhar foi contida diante das minhas palavras. A sua postura ficou menos tensa e o homem nada disse antes de retomar a caminhada. Lancei um olhar suplicante em direção à Christian para que não nos seguisse e, assim, acompanhei o vilão até os fundos do estábulo onde havia um pequeno campo gramado.

Após fazer o alongamento, adoto uma postura de ataque e já começo a desferir os socos no ar seguidos de chutes. Lorcan dava uma bronca nada delicada sempre que errava algum golpe. Aos poucos, comecei a me acostumar com esse jeito e os comentários ríspidos serviam como um combustível para continuar treinando.

— A sua adaga... — comento enquanto dava um gancho de direita no vácuo. — Eu irei pegá-la quando terminar o treino.

— Ela é sua.

Pisco os olhos, incrédula.

— Mas...

— Ela. É. Sua.

Apenas assenti com medo de irritá-lo e continuei a sequência de golpes até que meus músculos doessem.

Quando menos esperava, recebi uma rasteira do duque caindo sentada.

— Nunca abaixe a guarda.

Suspirei de frustração e fiquei de pé, dando leves tapinhas no longo vestido. Era um saco treinar com essa roupa, mas o meu uniforme ficou no ducado de Icarus.

— Continue treinando todos os dias. — adverte Lorcan. — Da próxima vez que eu vir, trarei dois livros sobre autodefesa. Eles serão úteis.

— Obrigada. — sorri com sinceridade. — Mas ainda acho que sou um caso perdido.

O olhar afiado do duque causou um arrepio por toda a minha espinha.

— Se ouvir novamente algo do tipo, cortarei a sua língua.

Ergui as mãos em sinal de rendição e voltei a treinar. Lorcan não lutou comigo, apenas corrigiu a execução dos golpes e me levava ao chão com uma rasteira sempre que abaixava a guarda. O meu corpo latejava de dor mas, ao menos, havia esquecido momentaneamente daquilo que machucava o meu coração.

— Como estão Isaac e Arvid? — questiono ao me erguer da décima rasteira.

— Bem.

— Sinto falta deles. E da Polar também.

Lorcan repousava as costas em uma árvore, apoiando o pé no tronco. Os músculos de seus braços ficavam evidentes quando estavam cruzados, sendo pressionados contra o tecido do sobretudo.

— Poderá vê-los quando retornar ao treinamento no ducado.

Mas eu não voltaria para Icarus. Não depois de trair o seu povo dando informações para Christian. O peso em meu coração não me permitiria pisar naquelas terras. Lorcan analisou a minha expressão de culpa com o olhar intenso e, por impulso, encolhi os ombros. Ele tinha um olhar capaz de despir a alma da pessoa.

Para a minha sorte, o duque nada disse e continuou dando instruções até a sua carruagem parar na frente do castelo, saindo apressadamente sem se despedir.

Na mesma noite, Christian apareceu na porta do meu quarto e sequer esperou ouvir um "boa noite" pois me puxou em direção ao seu quarto. Tentei acompanhar seus passos tropeçando nos próprios pés. Ao chegar no cômodo iluminado por algumas velas, ele se posiciona ao lado da janela cruzando os braços. A sua expressão está séria e o olhar distante.

Abri a boca para perguntar o motivo, mas ele se antecipou.

— Às vezes, quero socar a cara do Lorcan.

Você e todos os leitores de Velorum, Christian. Não se preocupe.

— Por que está tão irritado com ele? — pergunto com um fio de voz, temendo que a resposta fosse uma certa ruiva de sorriso caloroso.

— Ele a levou para treinar como se fosse dono desse castelo. Como se fosse o seu dono!

O meu coração enche-se de esperança diante de suas palavras. Não é por ciúmes de Alene que Christian está irritado. É por minha causa. No fundo de seus olhos, vejo a sombra de um sentimento se desabrochar.

— Sabe que ele gosta de provocar. Não deveria levar à sério as suas palavras. — comento tocando sutilmente o seu braço, recebendo a atenção de seus belos olhos. As borboletas no estômago fazem uma festa interna. — E fui eu quem pedi para treinar.

O loiro franze o cenho quase juntando a sobrancelhas.

— Por que? Você não precisa treinar. Não mais. Aquilo era um disfarce para se infiltrar em Icarus.

— Eu gostaria de ser forte, Christian. Não quero depender de você, principalmente agora que se encontra tão ocupado com o reino.

Ele virava inteiramente o corpo e segura o meu rosto com suas mãos quentes. Os nossos olhares se encontram em um mar indecifrável de sentimentos. Por um lado, o amor está expresso em minhas íris, do outro... Do outro estava a confusão de Christian. Mas tomei para mim aquela confusão como algo positivo, um avanço na nossa relação.

— Você já é forte, Diane.

Eu não me sentia forte. Toda a vulnerabilidade emanava de cada parte de mim. Mesmo que o seu olhar terno expressasse proteção, não queria esse sentimento. Pelo menos, não nesse momento quando sofria na mão de boa parte das pessoas no castelo. Eu queria ser forte o suficiente para revidar todas as ofensas ou, pelo menos, não me sentir um lixo diante delas. E ele precisava saber como eu me sentia.

— Christian, eu...

— Gostaria de ir ao baile comigo?

A minha fala morre de forma instantânea. Custo-me a acreditar em suas palavras e permaneço em silêncio por longos segundos, até dizer:

— Está falando sério?

— Sim, eu estou. Quero ir com você ao baile, Diane. E quero uma dança pública no enorme salão.

O meu coração iria sair pela boca nesse ritmo. Os meus lábios trêmulos murmuraram um desajeitado "sim" antes de sentir o seu carinhoso beijo na testa. E qualquer preocupação sumiu como o sopro em uma vela apagando sua efêmera chama.

***

As três semanas seguintes foram horríveis. As empregadas continuavam com piadas desconfortáveis e a governanta fazia vista grossa. Cherly e Martha conseguiram abafar parte dos boatos cruéis com olhares nada amistosos. As duas, como verdadeiras amigas, faziam o possível para evitar que eu me sentisse mal. Infelizmente, nem sempre poderia contar com a presença delas. Quando me encontrava sozinha, treinava os golpes ensinados pelo duque. Mesmo que meu corpo doesse e pedisse por um descanso, eu não parava. Lembrar de todas as ofensas era um combustível para continuar lutando.

No começo, Christian reclamou dos treinos pois temia me ver machucada. Ele disse que eu era como uma bela pétala frágil que precisava de seus cuidados. As suas palavras eram quentes e protetoras, mas precisei ignorar. No final das contas, optei por treinar longe do seu alcance e torcia para que, quando descobrisse, fosse compreensível.

A euforia do baile de verão deixou todo o palácio inquieto. Dentre os quatro bailes anuais, esse era o segundo mais esperado — ficando atrás, somente, do baile de inverno. Aos fundos do castelo, os jardineiros cuidavam do enorme labirinto feito de arbustos. Certo dia, Christian me alertou a não entrar nele sem alguém experiente no local, pois muitas pessoas se perderam por vários dias na vastidão daquele verde.

— A feira entre reinos será em três dias. — exclama Martha, animada. Nós duas carregávamos cestas com roupas para levar para outras empregadas. — Tirarei meu dia de folga para comprar alguns legumes. Muitos viajantes de outros reinos virão para comercializar os seus produtos. Eu fico feliz que o rei Christian tinha reaberto esse evento.

Assinto silenciosamente a ouvindo com atenção. Martha parecia entender a minha falta de conhecimento sobre a cultura em Velorum e explicava com calma.

— Diante da última crise, o antigo rei decidiu fechar os portões comerciais do reino. Temporariamente, é claro.

— Quando foi essa crise?

— Há muito tempo. Eu soube que, para economizar mão de obra, o rei "contratou" funcionários de outros ducados.

Essa informação parecia valiosa, por mais que não entendesse o porquê.

— Até mesmo do ducado de Icarus? — pergunto com cautela.

— Sim. A minha mãe contou que, na época, três empregadas foram enviadas para cá mas elas passavam boa parte do tempo à serviço do rei. Creio que cuidando de seus aposentos e do seu escritório, local onde ele passava boa parte do tempo.

Mas eu duvidava muito que era apenas isso. Para mim, parecia uma fachada para a sua real intenção. Eu não queria duvidar do pai do Christian, mas não tenho opção. Se houve uma "venda" de pessoas para cá, talvez Lorcan saiba quem do seu ducado foi entregue.

— O antigo duque aceitou comercializar pessoas?

Martha assente com pesar.

— Diferente do filho, ele nunca se importou em manter o ducado completamente em segredo. É óbvio que não permitia forasteiros em suas terras, mas também tinha uma relação de confiança com o rei Erick.

E isso explica o porquê do pai de Christian defender Sirius com tanto afinco.

— Entendo... Como sabe tanto?

— A minha mãe foi dama da companhia da rainha Lilian. — admite rendendo uma exclamação surpresa da minha parte. — As duas eram melhores amigas e confidenciavam os seus mais profundos segredos. Mas havia segredos que não podiam ficar escondidos, por isso minha mãe, certo dia, contou à mim.

— Por que?

Conforme nos aproximávamos das empregadas no fundo dos castelo, sabia que nossa conversa estava no fim. Esse era um assunto delicado e Martha tinha ciência disso, tanto que lançou um olhar cauteloso em minha direção. E ela respondeu da forma mais curta possível.

— Porque todos que sabiam estavam condenados.

A atenção de Martha voltou-se para as demais empregadas e ela acenou apressando os passos. Enquanto isso, refleti sobre suas palavras formulando perguntas para a próxima conversa particular que teremos. Até lembrar de um detalhe. A feira entre reinos ocorre no mesmo dia de um evento nada agradável da minha obra. E nesse momento, todo o meu corpo trava.

É nesse dia que Martha será assassinada.

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