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Capítulo 23

As vozes tornavam-se cada vez mais audíveis. Por mero impulso, puxei Isaac para o interior do escritório analisando os possíveis esconderijos. Em um canto pouco iluminado pela Lua, avistei uma poltrona de couro grande o suficiente para ocultar a visão. Então, guiei o rapaz para que possamos nos esconder atrás da poltrona. No exato momento em que nos acomodamos no piso, a porta foi aberta e os passos pesados do duque ecoaram pelo cômodo. O sangue já havia sumido da minha face tornando-a tão pálida quanto à luz natural circulando todo o ambiente.

— O rei de Aryan não quer negociar, precisamos fazer algo! — dizia uma forma feminina, possuindo uma certa arrogância embutida.

— Ele nos deve um favor por causa da última guerra. Basta cobrar da maneira correta. — o duque comenta com sua costumeira calma. — E seja rápida. A transição de rei causou certa instabilidade na capital.

— Pelo visto, os seus espiões estão fazendo um bom trabalho.

O meu corpo se retraiu ao ouvir a conversa. Lorcan estava agindo de forma mais adiantada do que imaginava. Por mais que quisesse virar a cabeça para o lado a fim de descobrir a identidade da mulher, contive a minha curiosidade. Se entregasse a nossa localidade, eu e Isaac estaríamos em apuros.

— Sem bajulações. Vá ao reino de Aryan e mande um recado. Diga ao rei que o seu maldito golpe só deu certo porque eliminei todos os conspiradores. Então, é melhor ele colaborar se não quiser que todo o esforço seja em vão.

Outra informação valiosa veio ao meu conhecimento. O duque agia como mercenário por baixo do tapete enquanto jurava lealdade apenas ao reino de Velorum. Mas, na verdade, servia à outros reis em troca de favores. Christian está enfrentando um inimigo mais influente e experiente, o que me deixa preocupada. Eu sei que ele vencerá no final mas, desde que cheguei, essa obra tem sido uma chuva de surpresas. E não duvido que tenhamos uma surpresa negativa no final.

A mulher resmungou algo inaudível mas, provavelmente, recebeu um olhar repreensivo do duque pois se calou em questão de segundos.

— Como quiser, senhor.

O barulho do sapato alto contra o piso de madeira cessou quando a porta foi fechada. Depois disso, o silêncio reinou por um bom tempo. E o único som a ecoar era o passar suave das folhas, como um sinal de que Lorcan estava analisando algum de seus inúmeros acordos com outros reinos ou apenas revisando a situação econômica do seu ducado.

Isaac lançou um olhar suplicante em minha direção e apoiei o dedo indicador nos lábios, pedindo para se manter quieto. Mesmo que ele não pudesse falar, às vezes se remexia ao meu lado e temia que fôssemos descobertos.

Mas o longo suspiro de cansaço do homem foi um alívio para os meus ouvidos. Ele se ergueu arrastando a cadeira para trás e saiu do escritório após uma hora. Essa era a oportunidade perfeita para conferir o que havia nos papéis, mas estava tão assustada de quase ter sido pega que decidi sair dali o mais rápido possível. Antes de adentrar no quarto, fiz uma reverência para Isaac como um pedido de desculpas. Por causa da minha curiosidade incontrolável e a missão de ser uma espiã, eu o coloquei em apuros. E nunca me perdoaria se Lorcan o machucasse.

O rapaz gesticulou com desdém e seus lábios se moveram em um "boa noite, senhorita" antes de seguir pelo corredor pouco iluminado.

***

Mentalmente, já havia amaldiçoado toda a árvore genealógica do duque enquanto desferia incontáveis golpes no ar. Como pedido na noite anterior, li o maldito livro contendo todos os comandos básicos sobre uma arte marcial que não me dei o trabalho de decorar o nome. Por ter brincado de James Bond, passei quase a madrugada inteira para fazer o relatório. O duque apenas olhou com desdém e o jogou na lareira acesa no outro dia. Ele exigiu que eu melhorasse a minha caligrafia, pois nenhum nobre aceitaria uma letra tão deplorável como aquela.

Filho da puta. Eu espero que você pereça no inferno dos personagens literários!

Quando Lorcan falou que minha capacidade seria decidida pelos três dias de resistência, não era brincadeira. Durante os três dias que se seguiram, ele não me deu um instante sequer de descanso. Pela manhã, antes mesmo do Sol surgir entre as colinas de Velorum, era obrigada a correr por todo o campo enquanto recitava frases do livro. Em seguida, recebia um café da manhã generoso para, depois, gastar todas as calorias nas incontáveis passagens de golpe. O duque afirmava que essa era a melhor forma de ativar a memória muscular.

Após o almoço, ele me ensinava algumas técnicas básicas sobre como empunhar uma adaga. A forma como Lorcan mostrava os movimentos com total precisão, fazia tudo parecer fácil mas perdi a conta de quantas vezes deixei a arma cair. Ele sempre me punia com outro livro para ler quando o dia de treino não atendia as suas expectativas. As broncas do duque eram duras, cruéis e secas. Porém, nunca eram desanimadoras. Mesmo quando falava da minha absurda falta de habilidade em lutar, o seu olhar tinha um brilho esperançoso e confiante.

E assim a primeira semana se passou mais rápido do que o previsto.

Logo pela manhã, encontrei o homem me esperando de braços cruzados e o olhar indiferente em minha direção. Ele gesticulou com a cabeça para que eu o seguisse e iniciou uma caminhada para o exterior do seu castelo. Confusa, acompanhei Lorcan até estar no estábulo onde alguns dos seus funcionários arrumavam o local. A presença do vilão foi o suficiente para que todos tomassem seus devidos postos e endurecessem a postura. Um dos empregados se aproximou segurando um belo cavalo de pelugem caramelada e uma mancha branca no centro da testa.

— Que lindo. — murmuro impressionada pela forma majestosa que o animal andava.

— Linda. — o duque me corrige segurando as rédeas dela e a guiava para um pequeno cercado. — O seu nome é Polar. Você aprenderá a montá-la.

Os meus olhos quase saltam para fora das órbitas nesse momento.

— Pensei que iria me ensinar a ser um soldado, apenas isso.

— Um soldado de verdade sabe de equitação. É necessário caso haja uma emergência.

Recuo alguns passos.

— Eu não vou conseguir...

— Eu não estou pedindo. Estou ordenando. Você irá montá-la.

O olhar rígido do duque trava completamente o meu corpo. Com Lorcan, não existe a palavra "não". Todos em seu ducado seguem cegamente as suas regras, sem o direito de questionar e, para a minha infelicidade, me encontrava nessa mesma situação.

— O que devo fazer primeiro? — pergunto receosa.

Quase vejo um sorriso vitorioso nos lábios do homem, mas ele retorna à postura rígida em uma fração de segundos.

— Primeiro, faça o animal se sentir confortável com a sua presença. Nesse caso, não terá tanta dificuldade. Polar é extremamente dócil mas segue apenas as ordens de seu dono.

— E quem seria...?

— Você. — responde secamente. — Ela foi adestrada como os demais mas nunca serviu à nenhuma luta. Polar está à espera de alguém digno para montá-la e, pois bem, cá estamos.

O meu olhar assustado analisa a égua de porte invejável e os seus adereços pretos com detalhes dourados. Em passos lentos, encurto a nossa distância e repouso a mão sobre o focinho largo de Polar. Os olhos negros dela focam-se inteiramente em mim e, por longos segundos, não faz um movimento sequer. Sem ao menos perceber, estou sorrindo com a sensação de acariciar um animal tão belo e majestoso.

E podia jurar que Lorcan estava com o olhar focado em meu sorriso.

A minha mão percorre a crina bem penteada da égua e a cabeça dela se inclina para o lado, tocando o focinho em minhas costas. Em resposta, dou um pulinho surpresa e acabo rindo da minha própria reação exagerada. O duque estreita os olhos com um semblante observador antes de proferir, gesticulando com uma mão:

— Venha.

Um dos serviçais se aproximava ficando ajoelhado, ao lado do animal, apoiando as mãos sobre o solo.

— Suba. — o vilão ordena.

— N-Não, eu...

— Suba.

Engulo seco e assinto. Realmente, não tem como ir contra aquela áurea intensa. Então, murmuro um pedido de desculpas e piso nas costas do empregado para poder subir no cavalo. Polar se movimenta um tanto inquieta e seguro as rédeas com força, já pressentindo o impacto do meu corpo contra o chão. Porém, ela se acalma quando minha mão repousa sobre seu pescoço.

— Você dará cinquenta voltas entorno do cercado. Isso será o bastante para firmar uma relação de confiança entre você e o animal. Hakon irá instruí-la com o básico da equitação. — comenta desviando o olhar para o empregado que se erguia, retirando a grama de sua calça. — Essa será a sua nova lição durante toda a semana nesse mesmo horário. Caso atrase, tenho certeza que Polar adoraria uma companhia nas noites frias.

Contenho minha vontade de fazer um gesto nada amigável em direção ao homem. Lorcan dava as instruções para o seu servente e, em seguida, saía do campo de vista em passos apressados.

Não queria admitir mas era admirável a atitude do duque em dedicar um tempo de sua rotina exaustiva para dar as instruções necessárias para mim. Ele poderia pedir à qualquer funcionário para, desde o começo, repassar seus conhecimentos. Mas optou por fazê-lo sozinho.

Como sempre, ele escolhia estar presente em meu treinamento.

***

Confesso que os dois primeiros dias foram assustadores. Mesmo sendo dócil, Polar gostava de correr e perdi a conta de quantas vezes caí na areia macia do cercado. Ao menos, no terceiro dia, peguei o jeito e comecei a guiá-la com maior segurança. O animal parecia entender a nossa conexão, pois demonstrava certa alegria ao me ver entrar no estábulo todas as manhãs.

A minha expressão era de completa surpresa ao encontrar Arvid e Isaac me esperando no portão da mansão. O mais velho acenou sorrindo timidamente enquanto o outro apenas balançou a cabeça.

— O que houve? — pergunto ao me aproximar.

— Viemos te levar à feira. O senhor De'Ath me pediu para acompanhá-la.

Pisco os olhos, claramente confusa.

— Por que?

Isaac dava nos ombros em resposta, mas o garoto ao seu lado comenta:

— É seu dia de folga do treinamento e ficar trancada no castelo não te ajudará a descansar. E como hoje temos a grande feira, poderá nos acompanhar.

No final das contas, decido segui-los enquanto ajeito a calça preta de montaria e ergo as mangas da camisa até os cotovelos. Lorcan forneceu vários modelos idênticos dessa roupa para os treinamentos diários. Enquanto prendia o cabelo acompanhando os dois, pergunto:

— O que é essa "grande feira"?

— O comércio em Icarus ocorre todos os dias, mas há um dia especial na semana em que mercadorias novas chegam. — Arvid explica. — Como não temos condições de produzir nosso próprio alimento, o senhor De'Ath negocia com outros reinos. Ele oferece o serviço do seu exército em troca de mercadorias.

— Mas por que não negocia diretamente com Velorum? Os demais nobres possuem vastas plantações.

O garoto fazia uma expressão de desagrado.

— As pessoas fora dos muros são hostis com a gente. O nosso senhor nunca negociaria com eles.

Mas ele queria negociar com o maldito nobre naquele dia. Por que mente para o seu próprio povo, Lorcan?

Pelo tom de voz usado por ele, senti que havia algo mais profundo do que a situação comercial do ducado.

— O que... O que aconteceu com vocês? Se me permite perguntar.

Arvid olhava para Isaac que balança a cabeça como uma permissão silenciosa para que prosseguisse.

— Os seus pais o rejeitaram por não poder falar. Certo dia, o pai dele cortou a sua língua proferindo baboseiras como "se não consegue ser útil falando, não precisará dela". Bem, é o que dizem por aí. Um vizinho dele saiu comentando para todos na cidade sobre as atrocidades que aquele monstro falava para o próprio filho. E os boatos em Velorum correm rápido, como pode imaginar.

Um arrepio percorre a minha espinha e desvio o olhar para Isaac que tinha uma expressão triste.

— O senhor De'Ath o encontrou na frente de sua casa, após uma das reuniões com o rei na capital. Ele trouxe Isaac para Icarus no mesmo dia, além de ter... — o garoto tinha um olhar sombrio e o tom de voz distante. —... matado todos na casa.

Do outro lado, o rapaz envolvia o braço no meu e abria um fraco sorriso. Ele não queria que o teor pesado da conversa estragasse o meu passeio. Em resposta, repouso a mão sobre o seu braço magro e nego com a cabeça em um sinal para não se preocupar. A companhia de Isaac era tão agradável que nada me faria pensar o contrário.

— No caso da minha família, nós vivíamos perto do rio principal e pagávamos impostos caros demais. — comenta Arvid. — A vida não era fácil e o antigo rei queria punir o meu pai por ter roubado um dos nobres bajuladores para nos alimentar. Nós fugimos para o único lugar que não seríamos incomodados.

— O ducado de Icarus.

— Sim. No começo, o senhor De'Ath se recusou a ajudar mas o meu pai implorou tanto que ele aceitou com a condição de que toda a minha família trabalhasse para o ducado. A minha mãe é a cozinheira chefe da mansão e o meu pai é o jardineiro. E eu espero, um dia, servir ao exército.

Era perceptível o brilho no olhar dele enquanto falava. Em contrapartida, encontro-me surpresa com as revelações sobre as atitudes nobres de Lorcan. É óbvio que há algum interesse escondido em cada ação do vilão, mas não consigo imaginar o que se passa em sua mente perturbada.

Desisti de prolongar o assunto quando chegamos no centro da cidade.

As barracas pareciam não ter fim, percorrendo toda a rua e possuindo uma variedade imensa de produtos. As ruas eram limpas e não havia uma sujeira sequer no chão, mesmo quando as mercadorias eram trocadas com tanto fervor. O chafariz no centro da cidade servia como um divertimento para as crianças que saltavam dentro, ignorando o olhar reprovador dos adultos. Os soldados faziam a patrulha, ameaçando qualquer um que ousasse sujar o chão. Os comerciantes gritavam acenando para atrair a atenção dos possíveis clientes e, diferente do que pensei, todos eram educados.

A verdade é que as pessoas em Icarus são bem receptivas.

Uma mulher vendendo rosas ofereceu uma para mim e sinalizei não ter dinheiro. Ainda assim, ela depositou a bela rosa vermelha em minha mão, dizendo:

— És nova aqui, certo? Não temos visitantes há muito tempo. É bom ver que talvez as fronteiras se abram novamente. Eu espero que esteja apreciando a estadia, mocinha.

Não sei se a sinceridade seria o melhor para esse momento. No fundo, estava gostando um pouco da estadia em Icarus mas, em resposta, apenas sorri sem mostrar os dentes.

Isaac segurou a minha mão puxando-me para o meio da multidão. Alguns casais faziam uma dança no meio da praça para arrecadar moedas. Enquanto Arvid se encarregava de fazer as compras, eu e o outro jovem girávamos em meio à música acolhedora. Mesmo com o corpo dolorido, permiti que esse calor em meu peito se extravasasse através da dança.

***

Era o penúltimo dia em Icarus e o meu corpo pedia por um descanso urgente. O Sol já começava a sumir entre as colinas e a brisa do crepúsculo batia em minha face, brincando com as mechas soltas do meu cabelo.

— Hora de colocar os seus ensinamentos em prática. — Lorcan comenta parando no meio do campo de treinamento, erguendo as mangas da camisa preta até a altura do cotovelo. — Vamos lutar.

Diante da minha incredulidade, ele acrescenta:

— Eu vou pegar leve. Ou tentar. Depende muito do meu humor.

— Quer dizer que estou ferrada, certo?

— Sim.

Suspiro com pesar e dou alguns passos em sua direção. Involuntariamente, o meu olhar percorre pela pele exposta de seus braços e noto as cicatrizes profundas na região. O duque usava luvas pretas que ocultavam os machucados dos dedos, mas era perceptível as cicatrizes em seu antebraço. Algumas eram profundas, já outras pouco notáveis por causa da distância.

Ao perceber o meu olhar sobre o local, Lorcan pigarreia e meu corpo gela. Porém, ele se limita apenas a erguer os punhos fechados ao lado da cabeça, adotando uma postura de defesa.

— Venha.

Receosa, dou alguns passos em direção à Lorcan e tento golpeá-lo com um soco. Agilmente, ele se jogava para trás como se meu golpe fosse insignificante. O seu corpo retornava à postura inicial ao mesmo tempo que lançava seu punho direcionado à minha face. E por mera sorte ou os exaustivos dias de treino, consigo desviar jogando-me para o lado. O seu punho passa à poucos centímetros da minha face.

Lorcan sequer me espera recuperar o fôlego, pois já dava um forte chute em minha barriga. A região lateja de dor e quase caio de joelhos por causa da intensidade do golpe. Ele não está para brincadeiras.

O duque iniciava uma sequência de golpes rápidos e tentei, miseravelmente, desviar mas era impossível lutar com esse homem. Ele tinha o olhar tão afiado quanto uma águia e seus movimentos eram minimamente calculados. Por mais que conseguisse desviar de alguns golpes de forma desajeitada, sempre perdia o equilíbrio antes de retornar à base. Então, Lorcan aproveitava a brecha para lançar algum chute ou soco.

Mas o que nenhum de nós dois esperávamos é que, em um dos avanços do duque, deslizei o pé sobre a areia desviando sem querer de seu soco. Então, ao retornar a postura, lanço o punho em sua direção por mero impulso e necessidade de sobrevivência. O golpe acerta o rosto de Lorcan que recua alguns passos. Por uma fração de segundos, pude ver a surpresa em sua face ao mesmo tempo que os olhos brilhavam em admiração.

Eu havia acertado o duque. Eu, Natasha, alguém fraca e vulnerável, golpeei o vilão da obra.

Antes que pudesse comemorar esse acontecimento, fui alvo de uma rasteira potente de Lorcan indo ao chão. A areia sujou meu cabelo e minhas roupas. E mesmo sem forças para se erguer, comecei a rir por mera satisfação pessoal. A derrota não apagou a alegria desse sentimento de independência. O duque parou ao meu lado de braços cruzados e um olhar curioso em minha direção.

— Você é estranha.

A sua frase serviu para que eu risse mais ainda. Eu me sentia uma tola por estar feliz pelo simples soco, mas era um grande avanço para a minha autoestima.

***

— Até que você é legal. — resmunga Arvid.

Sorrio fraco ao ver o garoto bancar o durão. Isaac depositava a minha mala na carruagem e logo corria até nós dois, dando-me um abraço apertado. Essa é a sua forma de dizer que sentirá saudades. Os meus braços envolvem o corpo esguio do rapaz e retribuo o gesto com carinho.

— Eu sentirei falta de vocês também.

Isaac se afasta com um sorriso bobo e Arvid comenta:

— Da próxima, vê se aprende a montar a Polar corretamente.

"Próxima". Eu não sei se voltaria para o ducado, principalmente quando Christian tivesse noção do que acontecia em seu interior. Talvez as fronteiras desse lugar sejam fechadas permanentemente.

As palavras fugiram da minha boca quando Lorcan caminhou até a carruagem, entrando primeiro e lançando um olhar impaciente em minha direção.

— Espera, o senhor também irá para a capital?

Ele assente com a cabeça. O meu corpo gela mas tento não demonstrar o nervosismo em estar no mesmo lugar que esse homem cruel. Isaac e Arvid se despedem com acenos enquanto entro na carruagem. Quando os dois não passam de pontinhos na paisagem, ajeito minha postura no banco enquanto repouso as mãos sobre o colo. Lorcan sequer olhava em minha direção, ele estava focado na paisagem árida do seu ducado. As roupas pretas e costumeiras combinavam com o ar de imponência. A brisa invadia a janela brincando com o cabelo dele.

O silêncio que se seguiu não era tão reconfortante quanto pensava. A verdade é que queria conversar, mas Lorcan tinha uma barreira invisível entorno de si impedindo qualquer aproximação. Ele era intocável mas houve momentos em que era difícil acreditar nisso. O homem diante dos meus olhos salvou pessoas para abriga-las em seu ducado. E particularmente, não me importava com o motivo. Eu só estava aliviada em saber que pessoas como Arvid e Isaac teriam um futuro graças à sua ação.

— Desculpa.

Lorcan virava o rosto em minha direção e, mesmo sem expressar nada, sei que está curioso com meu comentário.

— Naquela reunião com Christian, eu falei que o senhor machucou o camponês por mera birra mas acho que não era isso. Ele realmente invadiu o seu ducado com más intenções, estou certa?

Ele balança a cabeça em afirmação.

— Ele era um espião do reino vizinho. No código militar, arrancar os dentes é um recado para o inimigo: "Nós podemos calar o seu soldado da mesma forma que podemos dizimar seu exército."

Um calafrio percorre a minha espinha e, automaticamente, me encolho no banco.

— E o que significa a perna quebrada, as chicotadas nas costas e o cabelo arrancado?

— Eu estava entediado.

Okay, esse é um bom momento para desmaiar.

Lorcan notou o meu medo e o divertimento dançou em seu olhar, antes de comentar:

— Eu o fiz rastejar até a capital para que o reino inimigo pudesse culpar o rei de Velorum. Seria mais fácil não ter nenhuma relação direta com esse conflito.

— Por que?

— A imparcialidade é vantajosa para o meu exército.

É óbvio. Você e seu exército agem como mercenários pelas costas do rei.

Opto por ficar em silêncio durante o restante da viagem. O duque retornava o olhar para a paisagem que, aos poucos, parecia mais vívida. Enquanto encarava o vasto campo gramado e alguns casebres na beira da estrada, penso nas palavras do vilão. Ele teve os seus motivos para machucar aquele homem só que havia exagerado na punição. Mas eu não poderia esperar nada menos de um personagem criado para não sentir empatia.

Quando a carruagem parou diante dos portões de Velorum. O duque desceu primeiro sem se importar com qualquer norma de cavalheirismo, o que era esperado desse homem. Ao apoiar o primeiro pé no solo, alguém segura a minha mão ajudando-me a descer. A mão de Lorcan possuía um aperto firme e quase sinto o calor de sua pele através da luva de couro. Os nossos olhares se encontram e nenhuma palavra é dita. O outro braço dele estava apoiado em suas costas, o corpo levemente curvado enquanto mantinha as nossas mãos unidas. Uma pose tão cortês, como se tivesse saído de algum conto de fadas.

A minha expressão era de total surpresa. Por mais que quisesse comentar algo, Lorcan soltou minha mão e entrou na carruagem sem olhar para trás. Enquanto o duque se distanciava do meu campo de visão, permaneço parada na frente do castelo.

Eu ainda podia sentir a minha mão formigar com o toque dele. 

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