Capítulo 20
Christian afirmou que não permitiria que ninguém do castelo contestasse a sua escolha de me colocar dentro da carruagem. Infelizmente, não tive muito tempo para admirar a sua atitude nobre pois ainda estava em choque com a revelação.
Ele pediu à estrela! Ele pediu indiretamente por mim! Mas por que?
Apertei as mãos sobre o colo enquanto estou perdida em meus pensamentos. O balançar da carruagem não era tão incômodo por estar dentro dela. As paisagens passavam calmamente ao nosso lado e admirei o extenso campo gramado através da janela. Christian se manteve em silêncio por boa parte do tempo; ora admirando a beleza ao nosso redor, ora permanecendo com os olhos fechados.
Como eu sei que a rotina voltará a nos afastar quando retornamos para o palácio, pergunto:
— Não poderia encontrar um tempo livre? Sinto falta das nossas conversas.
O seu olhar terno repousa sobre mim e o loiro ajeita a postura, dando um breve balançar com a cabeça.
— Eu posso dar um jeito. A verdade é que também sinto saudades daquelas noites. — comenta e o meu rosto esquenta quando tenho lembranças indecentes sobre um momento em específico. — Mas me sinto pressionado com essa nova vida como rei. Eu tenho medo das pessoas me odiarem.
— Isso é impossível, Christian. Acredite em mim, o seu povo te admira e respeita.
Ele abre um sorriso que não alcança meus olhos, então posso imaginar que ainda esteja conflitante. Quando seguro a sua mão, Christian relaxa instantaneamente com o meu toque.
— Todos te amam. Afinal, quem não amaria o rei mais bondoso e lindo de Velorum? — brinco para aliviar o clima.
Ao ouvir sua risada melodiosa, parte da minha preocupação boba some. É normal que Christian se sinta inseguro com toda a pressão sob seus ombros mas, mesmo assim, consegue demonstrar uma força invejável para seguir em frente. E é por isso que ele merece todo o amor e a aceitação do seu povo.
"Eu gostaria de estar no lugar dele (...) sendo digno do amor."
As palavras de Lorcan surgiram de forma repentina em minha mente, deixando-me surpresa e com um certo aperto no peito. Christian falava sobre as suas obrigações no reino e como está feliz por ter o meu apoio, mas estou tão distante naquele momento. O olhar frio do duque, na conversa que tivemos ontem, possuía mais do que indiferença. Não, por um instante eu podia jurar que vi um sentimento ali. Um sentimento bem improvável pois não o criei para se sentir assim.
Para sentir tristeza.
A carruagem parava na frente do palácio e um guarda já se aproximava para a escolta do rei. Christian fechava a pequena cortina da janela e abria a porta do outro lado.
— Saía por aqui, assim ninguém irá vê-la. Tenho certeza que isso evitará mais boatos desconfortáveis para você.
Sorrio fraco em resposta.
— Obrigada.
Ele devolve o sorriso e depois segurava minha mão, depositando um terno beijo.
— Espero encontrá-la em meus aposentos hoje à noite.
Os meus olhos enchem-se de brilho ao mesmo tempo que o coração é preenchido por esperança.
— Claro, alteza.
Após se despedir de forma breve, desço da carruagem e espero Christian entrar primeiro no palácio para poder seguir meu caminho. Por um momento, podia jurar que ouvi o cocheiro murmurando uma ofensa em minha direção. Uma determinada palavra que causou embrulhos no estômago, mas decidi ignorar. Uma única ofensa não seria capaz de me atingir.
***
Contenho o espirro diante do livro empoeirado sobre a mesa. Depois de fazer minhas obrigações e aturar um surto de perguntas de Cherly, consegui um tempo após o fim do expediente para ir à biblioteca onde encontraria mais respostas sobre a minha situação. A maioria dos livros eram os mesmos do meu mundo com informações comuns sobre estrelas e o universo. Nada que pudesse ser útil em minha busca.
— "A Estrela Ponte dos Mundos, conhecida pelos astrônomos como 3P Hope 102, é o mais rápido cometa atualmente descoberto no universo. Há apenas dois relatos de sua passagem e..." — paro de ler fechando o quinto livro, soltando um longo suspiro. — Pela primeira vez em minha vida, vou dizer: o conteúdo científico não é útil nesse caso.
Então, o meu olhar repousa sobre o último livro em cima da mesa. Os outros pouco retratavam sobre lendas e posso perceber, à partir do ano na capa, como são relativamente recentes. Porém, esse último é o mais velho e não possui uma data de publicação. A sua capa é azul escuro com pontos brancos formando uma pintura perfeita de uma constelação. As folhas são amareladas por causa do tempo e o cheiro de mofo invade minhas narinas a cada página virada.
— "As estrelas se uniram para criar os planetas e transferiram sua energia cósmica para povoar a Terra. Todas as noites, algumas delas cumpriam a sua missão de observar a sua criação e acompanhar a evolução das criaturas existente no planeta." — começo a ler em voz alta a lenda a qual a xamã se referia. — "Entretanto, havia estrelas que precisavam atravessar a vastidão escura do desconhecido para conferir se algum perigo podia surgir do infinito. O Criador deu um sopro nas escolhidas e a força de seu ar impulsionou as estrelas que rasgavam os céus com suas caudas repletas de energia do cosmo."
Como uma boa escritora de romance e fantasia, a história desse mundo começa a despertar o meu lado criativo. Sem ao menos perceber, estou "devorando" o livro em um piscar de olhos.
"O Criador deu uma função para cada estrela escolhida que serviriam como guardiãs de planetas específicos. A Estrela Ponte do Mundos, nome dado aos povos mais primitivos, protegia a Terra e periodicamente passava pela região ouvindo os pedidos dos humanos. De certa forma, ela havia criado um certo vínculo com essa espécie peculiar que pensava por si mesma. A estrela aprendeu a ouvir a voz dentro de cada humano, essa voz ficou conhecida como 'desejo'. Era um fio brilhante no cerne do indivíduo que revelava o seu objetivo, o real caminho que o faria encontrar a felicidade. Infelizmente, nem todos conseguiam ouvir essa voz interior pois a ignoravam para ouvir os desejos alheios ou almejavam bens materiais. Aos poucos, esse sentimento de compreensão evoluiu para empatia e a Estrela Ponte dos Mundos sofria junto com a corrupção da humanidade. Mas, ainda assim, não perdia a esperança nas pessoas até, certo dia, ouvir um pedido sincero de um coração machucado."
Por um instante, paro a leitura para dar outro espirro nada discreto quando a poeira coça o meu nariz. Maldito livro velho.
"O homem se sentia sozinho e encontrou esperança ao olhar para o céu. Por isso, desejou com todas as forças que pudesse ter alguém para amar. A Estrela ouviu o seu pedido e, comovida, circulou todo o planeta em busca dessa pessoa. Contudo, não havia uma alma compatível com aquele solitário ser até que o cometa lembrou de um pedido semelhante vindo de um lugar muito longe. Na verdade, outra pessoa havia pedido para encontrar sua alma gêmea mas ela vivia em uma realidade distante. Então, a Estrela Ponte dos Mundos decidiu usar a sua energia cósmica para criar um portal onde ambos pudessem se conhecer. Os dois tinham a escolha de concretizar o desejo ou continuarem distantes e, desta vez, para sempre."
A tensão estava presente em meu semblante. De alguma forma, queria saber qual seria a decisão dos dois. É compreensível que queiram estar juntos pois se sentem completos um ao lado do outro, mas abandonar o seu mundo por causa do amor vale à pena? O quão longe alguém se sacrificaria por esse sentimento? Involuntariamente, acabei lembrando de uma das conversas com a minha avó.
— Nem sempre o amor será sinônimo de estar perto, Natasha.
— Como assim, vovó?
Ela bagunçava o meu cabelo antes de sentar do outro lado da mesa, enchendo a xícara com café.
— Eu acredito muito que há uma alma gêmea para cada pessoa, mas não quer dizer que as partes tenham que terminar juntas. A única certeza é que as duas precisam se encontrar em algum momento de suas vidas. É essa breve união que selará o destino de ambas.
Pisco os olhos confusa.
— Mas não tem sentido encontrar a alma gêmea e, no final, não terminarem juntos.
Ela deixa escapar uma risada fraca, seguida de uma tosse seca.
— Minha querida Natasha, o amor não segue uma lógica mas você pode lutar contra o destino e criar o seu próprio final.
Os meus olhos enchem-se com um brilho de esperança.
— Como os escritores fazem?
— Sim, eles são admiráveis por poder criar mundos inteiros e traçar um destino para cada um. Eu gosto de dizer que os escritores são o próprio Deus de seu mundo. E que a Igreja não ouça isso. — comenta rindo novamente e depois toma um longo gole do café. — As pessoas deviam valorizá-los mais. Afinal, são eles que dão esperança para o nosso mundo.
E naquela tarde, em uma conversa casual com minha avó, tinha decidido inconscientemente qual caminho seguir.
Velorum, mesmo não sendo tão espontânea quanto as outras obras, era uma parte de mim. Os personagens representam os meus desejos mais profundos e as expectativas que projeto sobre o que me cerca. Contudo, além de simples páginas preenchidas em uma sequência cronológica, era muito mais do que isso. As pessoas desse lugar são tão reais quanto o mundo o qual passei presa por anos. Cherly é tão amigável e simpática quanto Claire. Martha é uma boa amiga como qualquer outra que, eventualmente, encontraria em Londres. E Christian é o tipo de pessoa rara que encontramos em meu mundo mas, ainda assim, sei que existem mais como eles. Eu faço parte desse reino e, se quiser, posso me encaixar encontrando o meu lugar.
Então, por que continuar lutando para voltar à Londres? Agora, pensar em voltar ao meu "lar" é mais angustiante do que a ideia de estar presa em Velorum. Na verdade, não sinto que estaria presa aqui. Um sentimento tão sufocante como esse não merece ser sentido em um reino tão vasto. Sem sombra de dúvidas, a palavra "liberdade" é mais adequada.
E com esse pensamento, saí da biblioteca sentindo que precisava tomar uma decisão o quanto antes.
***
Christian guiava-me pelo vasto jardim entre as inúmeras flores até se abaixar, pegando uma bela rosa. Ele tinha a ternura costumeira em seu sorriso enquanto me entregava a flor. O meu coração acalma-se com a sua presença, mas esse momento dura pouco. Logo, estou pensando no que houve na casa daquele maldito nobre e o meu corpo trava. O rei continua a falar sobre a sua rotina exaustiva e, em contrapartida, permaneço parada no meio da grama.
— Você está bem, Diane? — questiona preocupado ao notar o meu estado.
— Eu quero que me ensine a lutar.
Por breves segundos, o loiro arregala os olhos com singela surpresa.
— Lutar? Por que?
Institivamente, desvio o olhar para meus próprios pés enquanto aperto o longo vestido que servia como pijama.
— Para que eu possa me defender.
O silêncio reina por uma curta fração de segundos e posso sentir o olhar curioso de Christian em minha direção.
— É por causa do ocorrido com o senhor Rudson, certo? — pergunta e assinto silenciosamente. Então, o rapaz me envolve em um abraço carinhoso depositando um beijo no topo da minha cabeça. — Peço perdão pelo o que houve contigo. Como Rei, o meu povo é a minha prioridade e acabei falhando. Mas não precisa aprender a lutar pois irei protegê-la adequadamente da próxima.
Diante de suas palavras, algo dentro de mim ferveu e eu o empurrei gentilmente para longe.
— Não, Christian. Eu acho que não quero depender tanto de suas palavras, e sim fazer algo à respeito. Eu sei que sou um desastre para aprender mas posso tentar, certo? Deve haver alguma coisa que consiga fazer.
Ele suspira pesadamente e apoia a mão sobre minha face a acariciando com o polegar. Sem ao menos perceber, estou mais calma diante do seu olhar apaziguador.
— Não confia em mim?
— Claro que confio, é que...
— Então, não há com o que se preocupar. Eu entendo o seu desejo mas lutas são violentas. Se entrar por esse caminho, temo que suje suas mãos de sangue como Lorcan. É um grande peso para uma dama carregar em seus ombros.
— Quando estávamos na base do duque, eu vi mulheres lutando em seu exército e elas não pareciam nem um pouco incomodadas com o fardo que carregavam. — rebato com uma aspereza surpreendente e, no mesmo instante, reprimo esse comportamento. Christian apenas está preocupado comigo e contrariar seu pedido não ajudará em nada. — Eu só quero ajudar, por favor.
O rei continuava com a mão em minha bochecha, acariciando-a como se eu fosse uma boneca de porcelana pronta a se partir em milhões de pedaços. Talvez eu realmente fosse. A fragilidade é quase palpável em meu ser. O olhar implorando para tê-lo ao meu lado para, assim, possuir um pilar sólido. Eu precisava desesperadamente dele para se sentir segura e amada.
— Se a sua intenção é ajudar, encontrarei uma forma menos perigosa. — a sombra de preocupação e medo passa por sua face mas sem afastar a gentileza de sua essência. — Eu servi ao exército por muitos anos e as coisas que presenciei... As mortes que precisei lidar... São demais para uma única pessoa, Diane. Desde então, temo por todos que eu amo. Temo pelo meu reino. Não quero que a próxima pilha de corpos seja do meu povo, por isso me vejo na obrigação de protegê-los à todo custo. Eu preciso te proteger.
Eu gostaria de saber se Christian continuaria pensando da mesma forma se soubesse que minha família pertence à Icarus, o único ducado que desobedece indiretamente as ordens do monarca. E isso me fez refletir sobre a história desconhecida de Diane e a sua mãe. Em meu interior, sinto que há muita informação oculta debaixo do tapete e alguém nesse reino deve saber.
— Eu vou ficar bem, Christian...
Desde que continue ao meu lado, completo em pensamento.
O sorriso de alívio do loiro diminuiu um pouco a tensão do momento. Ele deposita um demorado beijo no topo da minha testa e resmungo mentalmente. As atitudes de Christian são fofas e cavalheiras, mas sinto falta da troca de calor daquela noite. Sinto falta dos nossos lábios se roçando e as línguas executando a dança perfeita.
— Desculpa ser tão protetor, mas já perdi o meu pai. Não quero perder ninguém especial novamente.
Especial. Se essa era a minha colocação na vida de Christian, poderia ser considerada a mulher mais feliz do mundo. Por isso, torci para que essa tal Estrela Não-Sei-O-Quê tivesse força o suficiente para firmar os nossos pedidos. Assim, eu e ele estaríamos sempre juntos.
***
Desta vez, o caminho pela floresta não foi tão assustador. A simples cabana encontrava-se no centro da vasta mata. A xamã varria a entrada da sua humilde casa com uma vassoura velha e, ao notar a minha aproximação, abriu um sorriso sem mostrar os dentes. Sinto como se estivesse esperando pela minha visita. Ela gesticulou para que adentrasse na casa e, após a cumprimentar com um aceno tímido, segui o seu pedido.
O cheiro de natureza invadia minhas narinas ao se dirigir para a cozinha. A senhorita retirava o bule do fogão à lenha e depositava o chá em dois copos simples feitos de barro.
— Pelo visto, chegou a uma conclusão.
Assinto levemente com a cabeça.
— O Christian quem fez o pedido àquela estrela.
— A Estrela Ponte dos Mundos.
— Essa aí mesmo. Mas gostaria de saber o porquê. — comento trazendo o copo para perto e assoprando o chá. — Ele é uma das pessoas mais importantes de Velorum. Pode ter qualquer dama desse reino em um piscar de olhos.
Circe sentava na cadeira do outro lado da mesa velha de madeira. Ela beberica o seu chá com um olhar analítico em minha direção, como se ponderasse o teor de minhas palavras.
— Mesmo rodeado de pessoas, talvez ele se sinta sozinho. A solidão interior é bem mais dolorosa do que a física, pois consome a alma aos poucos.
Encontrei razão no que dizia. Claramente, Christian mascarava as suas inseguranças com um sorriso nos lábios e uma gentileza abundante. Contudo, eu sabia muito bem o quão pressionado o rei se sentia desde a sua infância. O fardo de ser o sucessor de um reinado era algo pesado demais para uma simples criança.
— Eu estarei ao lado dele. Não importa o que aconteça. — digo com uma determinação avassaladora. — Eu também pedi por alguém que me completasse. E quando o encontrei pela primeira vez nos degraus do salão principal, algo em meu interior dizia que estaríamos conectados.
A xamã repousa o copo sobre a mesa sem expressar nada além de uma neutralidade assustadora.
— Desistirá de volta para casa, Natasha?
A minha garganta seca instantaneamente e preciso dar longos golpes no chá para retornar ao normal. O olhar intenso da mulher recaía sobre mim, aguardando com ansiedade por uma resposta. Uma resposta sincera e repleta de determinação.
— Eu... Eu acho que sim. Não que o lugar de onde eu vim seja ruim, mas eu sinto que posso construir algo melhor aqui.
— Isso é bom. Você está conhecendo melhor Velorum e à si mesma. Todos merecemos encontrar um lugar onde nos encaixar.
Sorrio sem mostrar os dentes e dou um lento gole no chá. Diante do meu silêncio, a mais velha comenta com certa curiosidade:
— Eu vejo dúvida em seu coração. Por que ainda encontra receio em permanecer nesse mundo quando, finalmente, encontrou a sua alma gêmea?
Uma pancada na cabeça doeria menos. A pergunta feita por Circe ecoou em minha mente e esse era um questionamento que levava comigo desde a chuva de informações na biblioteca. Eu devo estar ao lado do Christian para ajudá-lo a derrotar Lorcan antes que pessoas inocentes saíam machucadas. Mas é tão doloroso se sentir inferior ao seu lado. O abismo entre nós dois é tão profundo e parece me consumir sempre que o encaro diretamente.
— Somos distantes... Em vários sentidos.
— Compreendo. Creio que não seja refira apenas às classes sociais.
Balanço a cabeça em concordância.
— É ele, não é? — murmuro apertando o copo com ambas as mãos. A tensão presente em meu semblante. — A minha alma gêmea desta realidade. A pessoa capaz de completar o vazio que sinto dentro de mim.
A xamã assente.
— Sim, é ele.
A alegria dançou em meu coração. Eu criei Christian para ser a cara metade de Alene, mas agora fui capaz de alterar o próprio destino. Talvez não seja tão inútil quanto pensava. O sorriso em meu rosto iluminou algo em meu interior, como se precisasse dessa confirmação de Circe para afastar todas as minhas dúvidas.
— Abençoada seja essa estrela. — comento.
***
Estava completamente revigorada, em todos os sentidos, ao retornar para o castelo. Eu podia sentir uma áurea brilhante entorno de mim, afugentando todas as energias negativas. Cherly gostaria de saber sobre os meus sentimentos em relação ao rei. Senti a necessidade de ser sincera com a minha melhor amiga e, logo, contaria à Martha também.
Ao avistar a luz no final do corredor, apressei os passos em direção ao salão principal. Contudo, as minhas pernas travaram quando vi Christian andar sobre o piso reluzente enquanto uma certa ruiva varria alguns metros próximo ao monarca. Quando notou a presença dele, Alene abriu um sorriso tímido e fez uma reverência desajeitada. Sem querer, a vassoura escorregava de suas mãos e a expressão desesperada da criada rendeu uma risada do rei.
Uma risada tão suave e incômoda aos meus ouvidos.
Ela deu o primeiro passo em direção à vassoura mas escorreu na parte lisa do piso. De forma rápida, Christian envolveu o braço entorno da sua cintura a puxando contra o seu corpo. Alene apoiou a mão sobre o peitoral do rei enquanto o encarava com uma singela surpresa. O seu rosto estava tão vermelho quanto o cabelo e os lábios trêmulos moviam-se sem emitir som algum. Christian olhava no fundo de suas íris acinzentadas sem perceber o sorriso estampado em sua face ao se aproximar lentamente do rosto dela. Por outro lado, a ruiva fazia o mesmo em um gesto instintivo.
Os dois permaneceram parados como se nada mais importasse. Como se ninguém além deles importassem. Doía admitir mas era o retrato do casal perfeito. A beleza de ambos possuía uma sincronia única como dois anjos lado à lado, emitindo uma forte luz.
O som de guardas se aproximando foi o suficiente para fazê-los se afastarem, totalmente envergonhados pelo quase beijo. Então, Christian apressou os passos em direção às escadas enquanto Alene se concentrou em varrer o chão em uma tentativa falha de ocultar a timidez. Pisquei diversas vezes os olhos para afastar a ardência das lágrimas, mas era impossível.
E a minha conversa com Lorcan surgiu de forma súbita entre o vão de meus pensamentos. Eu estava certa. Há estrelas que nasceram para ser ofuscadas pelo brilho das outras.
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