Capítulo 15
— Mas o que aconteceu com você?! — Cherly questiona com os olhos arregalados. — Por acaso, decidiu lutar contra um urso durante o passeio?
Automaticamente, encolhi os ombros e optei por ficar em silêncio. O meu estado não estava dos melhores, de fato. A minha roupa estava completamente molhada e suja de terra, o cabelo desgrenhado com algumas folhas e galhos secos. O corte na bochecha servia como a "cereja do bolo" para me tornar um ótimo personagem do Halloween.
Martha cobria a boca com a palma da mão, rindo baixinho enquanto Cherly tirava as folhas do meu cabelo.
— Ursos são mais amistosos, eu suponho. — pontua a mais velha ainda contendo a risada.
— Eu caí e acabei descendo ladeira à baixo em direção ao rio.
Eu não estava mentindo pois realmente o meu lado desastrado me levou para esse acontecimento, mas ocultei a presença do duque e o fato dele ter causado o corte em minha bochecha. Definitivamente não estava acobertando as ações de Lorcan, apenas queria me manter longe de confusão.
— Da próxima vez, tome cuidado. — aconselha Martha enquanto limpava o meu corte. — Você teve sorte que não foi nada sério.
Assinto em silêncio. Por dentro, estava verdadeiramente feliz por ter pessoas ao meu lado que se preocupavam comigo. Fora Claire — que provavelmente surtaria se eu contasse o ocorrido —, ninguém sequer ligava para mim quando eu estava doente. As pessoas tendiam a viver em seus pequenos grupos, ignorando aqueles que eram "excluídos". Bryan apenas se preocupava quando era conveniente.
— Hora do banho, sua porquinha. Vamos te ajudar.
— Não será preciso, Cherly. Eu...!
— Vamos logo!
Cherly envolve o braço no meu, puxando-me para a área de banho dos empregados. O local encontrava-se vazio, o que dava livre acesso à banheira de madeira — por mais precária que fosse. Martha preparou o banho carregando os baldes e jogando uma loção caseira, uma especiaria de família segundo ela. Enquanto isso, a outra jovem se concentrou em retirar minhas roupas e desamarrar o meu longo cabelo.
Quando entrei na banheira, vermelha pela vergonha de estar de nua na frente delas, resmunguei por causa da água fria. Porém, era reconfortante saber que a lama em meu cabelo e corpo sumiram.
— Eu soube que o rei tentará fazer uma aliança com o reino vizinho. — comenta Cherly enquanto esfregava o meu cabelo. — É verdade?
— É o que dizem pelos corredores do castelo. Eu soube que o Reino de Mandrariam possui as minas mais belas de diamantes. — dizia Martha pegando uma esponja e passando em meu corpo. Particularmente, sentia-me uma bebê sendo paparicada pelas duas e não podia negar como estava gostando de toda essa atenção. — É uma benção dos deuses pelas terras inférteis.
— Se não me engano, o ducado de Icarus também possui terras inférteis.
— É o que todos comentam, Cherly.
— O que, Martha? — questiono curiosa.
— Ora, não sabia? O ducado de Icarus também é conhecido como "A terra dos demônios". Lá não há uma planta que sobreviva, dizem que o solo foi amaldiçoado desde o início do ducado do senhor Sirius.
A história de Velorum era um enorme iceberg e, pelo visto, eu havia criado apenas a ponta visível. Sinceramente, não fazia ideia de que o pai de Lorcan tivesse uma influência tão negativa e também desconhecia dessa "maldição" sobre o solo de suas terras.
— Deve ser um lugar horrível de se viver. Vocês já visitaram o ducado de Icarus?
As duas negam com a cabeça e Cherly comenta:
— Eles são pessoas reservadas. Nunca conheci ninguém do ducado, fora o próprio senhor De'Ath. As únicas informações que possuímos vêm de viajantes que ousam invadir o ducado dele.
— Eles dizem que as leis de lá são mais rígidas e é permitido a pena de morte. Por sinal, qualquer erro, por mais insignificante que seja, pode gerar consequências desastrosas.
Franzo o cenho diante do comentário de Martha.
— É um lugar tão assustador assim?
— É o que os viajantes dizem.
— E por que um viajante iria querer invadir o ducado de Icarus com tantas histórias assustadoras?
Cherly dava nos ombros e voltava a massagear o meu couro cabelo, fazendo cada parte do meu corpo relaxar.
— A curiosidade do ser humano é um carma. Talvez eles queriam confirmar as histórias.
— Uma curiosidade alimentada por tolos. — pontua Martha. — Vocês viram o que aconteceu com o último homem que invadiu o ducado. Ele teria morrido se não fosse pela Diane.
As minhas bochechas esquentam de vergonha. Era raro ter minhas ações reconhecidas e o tom orgulhoso que minha amiga usou para contar o que ocorrido, aqueceu inexplicavelmente o meu coração.
Quando terminei o banho, vesti uma roupa emprestada de Cherly e retornamos para nossas funções diárias. Infelizmente, não pude passar muito tempo com as minhas amigas pois fui designada para levar algumas caixas para o depósito, localizado nos fundos do castelo. As caixas eram pesadas, por isso precisei andar o mais devagar possível para não derrubar os alimentos. Durante o caminho, encontrei Christian passeando pelo jardim sozinho, o que era raro já que quase sempre Jonnathan se encontrava ao seu lado.
Eu pensei em conversar com ele mas Alene se aproximava do outro lado do jardim, distraída demais regando as flores. Então, o clássico esbarrão aconteceu e o braço de Christian envolveu a cintura da ruiva a impedindo de se chocar contra o chão. Ela parecia surpresa e bem vermelha com a aproximação repentina. Os dois tiveram uma breve, mas significativa, troca de olhares junto com palavras de desculpas e agradecimentos. Quando os dois seguiram por caminhos opostos, vi o sorriso bobo da protagonista e, por uma fração de segundos, o loiro a encarou por cima dos ombros.
No fundo, tive um péssimo pressentimento sobre isso.
Mas abafei qualquer desconforto, continuando agarrada às palavras reconfortantes de Christian. Eu confiava em seus sentimentos e na esperança que iríamos passar um tempo juntos quando ele se adaptasse à nova rotina como rei. Enquanto isso, ficaria atenta à qualquer movimentação suspeita no palácio, principalmente agora que sabia que havia espiões de Lorcan debaixo dos nossos narizes.
Se alguém envenenou o rei, só pode significar que há empregados trabalhando para o duque. Eu preciso tomar cuidado em quem confiar.
***
A semana se seguiu de forma lenta. Os dias passavam como uma eternidade e já não tinha tanto contato com Christian. Eram raros os momentos em que nos víamos e Jonnathan estava sempre ao seu lado, o que impedia uma interação direta entre nós. Quando eu o encontrei no corredor, meu coração acelerou e treinei mentalmente o sorriso bem como as palavras a serem ditas. Porém, tudo o que o loiro fez foi virar o rosto para o lado comentando algo com seu conselheiro. Ele havia ignorado por completo a minha existência.
Obviamente, eu fiquei magoada mas não tinha o direito de reclamar. Christian estava apenas fazendo o seu trabalho me protegendo e evitando que boatos cruéis fossem espelhados. Era uma pena que ele não sabia que era tarde demais. A governanta começou a desconfiar e, propositadamente, designava os trabalhos mais pesados para mim, assim ficaria cansada demais e retornaria tarde para os aposentos. O plano da megera deu certo, porque a frequência a qual via o rei diminuiu cada vez mais.
Nós dois parecíamos tão distantes e o meu coração doía com essa situação.
Eu não queria ficar parada esperando tudo melhorar entre a gente. Por isso, consegui trocar de função com uma empregada e, assim, levar chá para o rei em seu escritório. Ao adentrar no cômodo, encontrei Christian assinando alguns papéis enquanto havia uma pilha ao seu lado. O seu olhar cansado o entregava, mas era evidente toda a dedicação que possuía ao executar seu trabalho.
— Dia cansativo, não é?
Ao ouvir a minha voz, ele saía de seu transe e erguia a cabeça. Um sorriso gentil se forma em seus lábios, empurrando a cadeira para trás e ficando de pé.
— Diane, eu senti a sua falta.
Não pensei duas vezes em correr para seus braços, afundando o rosto contra o seu peito. Instantaneamente, ele me envolveu em um abraço caloroso e depositou um demorado beijo no topo da minha cabeça.
— Eu ando tão ocupado com as obrigações que mal tivemos tempo para conversar. Desculpa a minha falta de atenção.
— Não, tudo bem. Eu...
— É difícil ser um rei. As responsabilidades crescem a cada dia. Hoje mesmo, eu precisei batizar dois navios e participar de uma feira de alimentos. A minha barriga parece que vai explodir. — ele comenta com uma risada descontraída, desvencilhando-se do braço e retomando o seu lugar atrás da mesa. — E amanhã tenho uma reunião chata com o senhor White. Aquele homem quer que a coroa financie a agricultura em suas terras, sob o acordo de recebermos uma quantia generosa dos lucros, mas isso seria injusto com os demais!
Fiz menção em contar sobre o meu dia exaustivo ou como os boatos começaram a me incomodar mais do que deveriam, mas optei pelo silêncio. Christian possuía uma rotina duas vezes mais exaustiva e, ainda assim, conseguia manter um sorriso no rosto sempre que nos encontrávamos. Definitivamente, não queria ser a pessoa a estragar esse breve momento entre nós.
— Sente-se, Diane. Eu aposto que está cansada depois de tanto trabalho.
Sorrio em resposta e tomo o meu lugar na cadeira do outro lado da mesa. Christian deixava os papéis de lado para experimentar um dos bolinhos da bandeja, murmurando em aprovação. Logo, sirvo o chá para o rei e aproveito para comer um pouco também. Afinal, depois de um longo dia de trabalho, que se foda as diferenças de classe.
E naquele momento, a conversa entre mim e minhas amigas surgiu em minha mente.
— Eu soube que tentará um acordo com o reino vizinho.
— Sim. O rei de Mandrariam, William Mourt, é um homem duro e conversador. Ele se dava bem com o meu pai mas Velorum passou por momentos difíceis anos atrás, então os dois acabaram rompendo por divergência de ideias.
— Com ideias, você quis dizer...
— Sim, o meu pai se uniu com o antigo duque de Icarus na época. Ninguém queria ficar perto do rei que possuía aquele homem como seu aliado. O rei William pensava como a maioria dos monarcas e rompeu laços com Velorum, mas creio que as coisas podem mudar atualmente.
Christian levava outro bolinho aos lábios e vejo como sua postura está mais relaxada ao meu lado.
— Realmente. Sem o antigo duque, creio que você será visto de forma mais amistosa.
— É o que eu planejo. Lorcan ainda tem a imagem do pai em suas costas mas, por enquanto, não tenho conhecimento de nenhuma atrocidade cometida por ele, diferente do senhor Sirius.
— Poderia se afastar do senhor De'Ath. — aconselho sem ocultar a preocupação. — Você não precisa da ajuda dele.
— Lorcan sabe treinar um exército como ninguém. Eu não duvido que ele consiga pegar um camponês e transformá-lo em um soldado em seis meses.
— Isso é impossível.
— Não duvido nada dele.
Respiro fundo e desvio o olhar, apreensiva. Eu queria contar que o duque é o vilão da obra e tentará derrubar o reinado de Christian, mas ele não acreditaria em uma palavra sequer sem provas. Então, sinto a mão do loiro em meu rosto fazendo-me focar em seus olhos ternos e seu sorriso acolhedor.
— Eu aprecio a sua preocupação, Diane, mas não há motivo para alarme. Eu me sentiria péssimo se te preocupasse com os meus problemas.
— Mas, Christian...
Ele apoia o dedo indicador em meu lábio, impedindo-me de falar.
— Você confia em mim? — questiona e assinto. — Então, confie em minha habilidade para liderar Velorum. Se eu perceber alguma atitude suspeita de Lorcan, irei agir. Por enquanto, há outros assuntos que requerem a minha atenção com urgência.
Ele estava certo. Eu estava forçando uma aceleração desnecessária do curso dos acontecimentos apenas por causa desse medo de perde-lo. Porém, preciso confiar nesse homem forte e determinado diante dos meus olhos. O antigo rei deixou Velorum em boas mãos e, no fundo, eu confiava na capacidade de Christian.
— Desculpa... Eu não queira te incomodar com minhas preocupações.
— Não tem problema, Diane. Sinto-me honrado de que se preocupe comigo.
Então, a sua mão se entrelaçava com a minha e aquele simples calor foi o suficiente para acalmar o meu coração inquieto. Christian sorria com ternura antes de beijar a palma da minha mão com tamanha cordialidade e, ao mesmo tempo, charme que mal notei quando meu rosto esquentou.
— Você é tão adorável assim.
O seu elogio não ajuda a diminuir a timidez, mas aumenta a minha autoestima. Então, ouso questionar:
— Eu sempre poderei contar com você?
Em resposta, recebo outro beijo carinhoso na palma da mão e o sorriso mais caloroso do que um dia de praia em pleno verão.
— Sim. Confie em mim.
E eu confiava. Confiava mais do que qualquer coisa em suas palavras. Elas eram mais reais do que tudo vivenciado em meu mundo.
***
Quando saí do escritório do rei, mal tive tempo de suspirar apaixonada pois uma mão forte pressionou a minha boca. Instantaneamente, o desespero percorreu cada veia do meu corpo e duas pessoas seguraram meus braços até que eu fosse golpeada na cabeça.
Ao recobrar a consciência, percebi que estava amarrada numa cadeira em alguma sala escura. As poucas velas presas na parede davam uma iluminação precária ao local. Eu tentei virar o rosto para o lado, mas o meu pescoço doía demais. Quando ergui o olhar, encontrei dois guardas de expressões neutras e posturas impecáveis lado à lado. No meio, havia uma figura irreconhecível por estar em uma parte pouco iluminada.
— Então, você finalmente acordou...
Aquela voz era familiar mas estava tonta demais para identificar o seu dono. Tudo ao meu redor girava como se eu estivesse passando pela pior ressaca da minha vida.
— Agora, vamos começar com a verdadeira diversão. Qual o seu objetivo no reino?
— Do que está falando?! Eu sou daqui!
Ele negava com a cabeça e depois brandia com força:
— Faça-a falar.
O guarda ao seu lado assente, aproximando-se em passos lentos até estar à minha frente. Um medo incontrolável percorreu cada centímetro do meu corpo. Então, recebi um forte soco no estômago e gemi de dor. O medo misturava-se com esse desconforto aterrorizante e, sem ao menos perceber, as lágrimas surgiam em meus olhos.
— P-Por favor, acredite em mim... Eu sou desse reino...
— Mentirosa! — exclama o "chefe" deles e recebo outro soco do guarda, encolhendo-me em resposta. — Para uma empregada, você possui um comportamento muito irregular. Por acaso, é uma espiã de um reino vizinho?
Arregalo os olhos diante da suposição absurda.
— O que?! Claro que não!
Outro soco atinge meu estômago e quase coloco toda a refeição para fora. Antes mesmo que conseguir falar algo, sou alvo de um golpe no rosto virando violentamente a cabeça para o lado.
— Eu investiguei sobre a sua vida, Diane Scarbrough. Filha única, vinte e dois anos, sem pais vivos. O seu pai foi morto durante a última guerra e a sua mãe trabalhou por anos como uma empregada.
Não era dessa forma que pensei descobrir a vida da minha personagem, sendo torturada para confessar algo que não havia feito. Eu não era uma espiã. Diane não podia ser um espiã, uma pessoa ruim na trama.
— Eu sei... A minha mãe sempre foi fiel à família real, vocês deviam saber disso!
Ele solta uma risada de escárnio e, mesmo oculto nas sombras, podia deduzir que havia um sorriso sádico em seus lábios. Então, cogitei a hipótese desse homem se tratar do duque, pois era do feitio dele tratar as pessoas dessa forma.
— Não se faça de inocente. A sua mãe serviu, antes, ao senhor De'Ath.
E mais uma vez, estou com uma expressão surpresa estampada em minha face.
— Hein?
— Você e ela vieram de Icarus. Deve ser por isso que as duas agem como prostitutas, as pessoas lá não possuem valores. Agora, conte-me de uma vez por todas o que deseja com a coroa!
A minha cabeça girou e, desta vez, não foi por causa do segundo soco em meu rosto. As informações novas processavam em minha mente em busca de uma resposta lógica. Era tudo confuso. Então, a minha família veio do ducado de Icarus. Se isso for verdade, por que começamos a trabalhar no castelo?
As minhas amigas não sabiam do passado de Diane e, se ela o ocultou, devia haver um motivo plausível. O guarda segurou com força o meu cabelo, forçando-me a erguer a cabeça para fitar o seu olhar rígido. O meu corpo tremeu e as lágrimas rolavam pelo rosto, soluçando baixo.
— Por favor, eu não sou nenhuma espiã. Eu sempre estive trabalhando para Vossa Majestade, nunca seria capaz de algo assim! Você precisa acreditar em mim!
— Acreditar em alguém daquele miserável ducado? Pelo amor, não somos idiotas.
Okay. Quem está fazendo isso comigo odeia o Lorcan e quer proteger o rei à todo custo.
Eu possuía uma leve suspeita de quem se tratava mas, obviamente, ficaria de boca fechada. Se ele percebe que o reconheci, seria morta aqui mesmo.
— Eu... Eu nunca machucaria o Christian. — comento entre soluços, fechando os olhos com força. — Eu não sei do que está falando. Eu juro.
— Eu acho que ela está falando a verdade. — dizia o outro guarda que, até então, estava parado de braços cruzados. — Você mesmo viu a ficha dela. Ela era apenas uma criança quando veio para cá.
O líder dele estala a língua no céu da boca em sinal de descontentamento.
— Ainda assim, ela está seduzindo o rei.
— Qual provas temos?
— Uma informante os viu conversando no meio da noite. É uma atitude suspeita.
— Não é uma prova muito confiável. — pontua o guarda, soltando o meu cabelo e abro os olhos um pouco tonta. — E seja lá o que ela e a vadia de sua mãe tentaram fazer, não deu certo.
Eles não falavam da minha mãe verdadeira e, mesmo assim, senti o meu sangue ferver. Diane era uma personagem adorável com um passado obscuro, mas possuía amigas verdadeiras e, provavelmente, cresceu em um lar repleto de amor. A mãe dela precisou suportar esses pensamentos escrotos todos os dias de sua vida? Ela também era julgada por ser próxima da família real?
— Não fale assim da minha mãe, seu miserável!
O guardava recuava um pouco assustado com minha expressão repleta de raiva. O outro ria da reação do amigo, mas se mantém em uma distância segura.
— Se ela for realmente do ducado de Icarus, é melhor pararmos por aqui. — aconselha virando o rosto em direção ao homem oculto no canto da sala. — Lembre-se do tratado de Corvus.
Ouço outro estalo com a língua vindo do líder e ele gesticula com desdém.
— Que seja. Então, tirem essa vadiazinha daqui e se certifiquem de que ela não contará nada.
— Certo.
O guarda segurava o meu rosto com força, os seus dedos se afundam em meu maxilar e sou alvo de uma dor agonizante.
— Não ouse contar sobre nossa conversa, entendeu?
— S-Sim...
— Ótimo.
Então, ele se abaixa pegando um pedaço de madeira e tento me soltar das cordas, mas inutilmente permaneço no mesmo lugar. Quando o golpe acerta em minha cabeça, vejo tudo girar antes de desmaiar.
***
Quando abri os olhos, todo o meu corpo doía como se fosse pisoteado por uma manada de búfalos. O meu rosto ardia como nunca e limpei o sangue do nariz com as costas da mão. Com muito esforço, consegui ficar sentada e percebi estar no jardim do palácio. As minhas roupas estavam intactas, o que significa que não tentaram fazer nada comigo enquanto estava desacordada. Porém, cada centímetro do meu corpo ainda sentia os golpes daquele guarda. E a minha mente, de forma traiçoeira, me fazia reviver aquela conversa nada agradável.
As lágrimas voltaram com força total e solucei, escondendo o rosto com ambas as mãos. Eu havia sido interrogada, espancada e acusada por coisas que não fazia nada. Nessa noite de verão, tudo o que desejei era os braços quentes de uma certa pessoa. Desejei de maneira egoísta ouvir suas palavras calorosas e confortantes, mas não as ouviria.
Christian não apareceu no jardim enquanto, aos poucos, eu era destruída por dentro.
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