Capítulo 1
— Tire as mãos de mim, seu miserável. — Alene gritava com o olhar rígido sobre o duque. — Monstro! Aberração! Não permitirei que o machuque!
Por um momento, ele afrouxou o aperto em seu braço mas ainda a mantinha contra o seu corpo. A sua boca se abriu pronto para despejar alguma palavra repleta de sarcasmo até que a porta foi aberta com um chute. A primeira coisa que ambos visualizaram foi a bota de couro marrom e depois o fardamento azul, padrão entre os militares do reino. As mechas loiras balançavam sutilmente e os olhos verdes possuíam uma intensidade assustadora.
— Não ouse tocar na Alene. Na minha Alene.
O duque trincou o maxilar diante da presença imponente do príncipe. Contudo, ele se recusou a atender o seu pedido e segurou o rosto dela com força, ameaçando beijá-la.
— Creio que um beijo não mate ninguém, Christian. E eu sempre quis provar o sabor desses lábios.
O príncipe sentiu o sangue ferver e, em um piscar de olhos, já puxou sua espada indo em direção ao seu inimigo. A luta de ambos foi violenta e o vermelho banhou aquele cômodo. No final, apenas um homem se encontrou de pé e o seu sorriso gentil direcionado à dama acalmou o clima existente. Alene correu para os braços de Cristian e selou seus lábios com um beijo gentil, transparecendo o quanto o amava.
Eu fechei o livro com tanta força que quase o ouvir lançar um xingamento em resposta. As minhas mãos passearam pelos longos cabelos negros, jogando-os para trás enquanto suspirava com pesar.
Uma droga. O final havia sido horrível e eu entendia muito bem o porquê meu livro se tornou alvo de críticas tão severas. Como uma escritora no início de sua carreira, era nítido como queriam me massacrar para que eu desistisse desse sonho tolo antes de falir de uma vez. O meu primeiro livro foi um completo sucesso e ganhou inúmeros concursos locais. O segundo atingiu um patamar nacional e, então, percebi que esse meu talento poderia ser monetizado. Por isso, dediquei dois longos anos a aperfeiçoar minhas técnicas até ter uma legião de fã aos meus pés.
Infelizmente, a escrita é um "dom" que anda lado à lado com a criatividade. Se uma falha, a outra definha de forma instantânea.
O meu quarto livro, Velorum, veio repleto de expectativas e eu consegui quebrá-las com o decorrer da história. Eles queriam uma história de amor que os prendesse e, por isso, criei o romance entre Alene e Christian. Um amor proibido entre uma simples camponesa e o príncipe sucessor do reino. Eu levei em conta o coração meloso de jovens adolescentes para formar esse enredo e, em minha mente, daria perfeitamente certo. O duque de Icarus, Lorcan De'Ath, ocuparia o papel de vilão. Ele tentou frustrar os planos do casal e toma-la para si por mera ambição, mas falhou tendo uma morte violenta em um combate contra Christian.
Diferente do imaginado, todos odiaram o livro. Não sei definir se era por causa do final ou do decorrer da obra. Foda-se, esse detalhe é irrelevante diante de tantas ofensas. A minha amiga, Claire, avisou que faltava algo na obra, a sua verdadeira essência. Mas a essência de um romance não seria o amor? Talvez essa maluca tenha dito tais palavras de forma aleatória, algo compreensível levando-se em conta de que tivemos essa conversa em um bar às quatro da manhã. Nenhuma de nós estava sóbria.
"— Em algo temos que concordar, o seu vilão foi muito filha da puta. — comenta Claire após descer a terceira dose de tequila. — Como pôde causar tanto tormento para o casal? Ele capturou a Alene, ameaçou matar o restante da família de Christian e ainda magoou a pobre Katlyn."
"— O Lorcan foi realmente um babaca. Mas fico feliz que o odeie, eu o criei com essa função."
"— Pois bem, nesse ponto você merece os meus sinceros parabéns. E que Lorcan queime no inferno literário."
"— Amém."
"— Eu não sei se devemos dizer 'amém' antes de foder mais o nosso fígado com essa tequila. — pondera Claire mas dava nos ombros segundos depois. — Que seja. Jesus também bebia durante as suas reuniões religiosas."
"— Com toda certeza. — respondo com um riso breve, erguendo o copo em sua direção. — Um brinde aos filhos da puta literários."
Uma risada escapa de meus lábios lembrando do nosso último encontro. Claire estava certa quanto à minha criação mais perversa, Lorcan De'Ath. Ele era um bastardo, humilhado e maltratado por sua própria família. As marcas físicas permaneceram em seu corpo, diversas cicatrizes profundas nas costas e mãos, por isso usava roupas pesadas para cobrir suas imperfeições. Mas o maior machucado estava na alma daquele ser que definhava dia após dia, pensando em uma forma de destruir todos à sua volta. Isso o tornou um vilão com suas razões mas, ainda assim, odiado por todos.
Por outro lado, Christian representava a paz e a calmaria na obra. A forma como ele valorizava Alene e a tratava como uma princesa, apesar da diferença de títulos, conquistou o coração de muitas jovens apaixonadas. Contudo, não foi o suficiente para atrair boa parte do público. Os mais velhos diziam que aquela obra era muito superficial e havia pontos não explorados. Eu reli o livro cinco vezes e não consegui encontrar nenhuma ponta solta. Todos os mistérios e conflitos foram solucionados.
Talvez tenha sido ruim porque o final foi muito genérico.
A editora deu uma segunda chance de refazer a criação antes que fosse, oficialmente, para o domínio público — aquele maldito teste na região Sul veio à calhar. O único problema é que eu não fazia ideia do que escrever. A minha caixa de ideias, dentro da minha mente, estava vazia.
— Estou atrapalhando?
Virei-me em direção à voz masculina, encontrando o sorriso terno de Bryan. As covinhas dele sempre me deixavam fascinada, bem como a forma suave que seus cachos se mexiam quando inclinava a cabeça. Eu neguei ficando de pé e peguei o sobretudo marrom, seguindo em direção à saída do apartamento.
— Eu esqueci do nosso encontro.
O meu namorado ergueu ambas as sobrancelhas, fingindo incredulidade.
— Natasha Martin esquecer de um encontro? Como isso é possível?
Em resposta, fiz um gesto nada agradável com o dedo e ele gargalhou alto antes de segurar a minha mão. Instantaneamente, relaxei a postura e me permiti sorrir mesmo com a cabeça repleta de problemas. Bryan era uma calmaria que eu o compararia com Christian, o príncipe gentil da minha obra. Na verdade, arrisco-me a dizer que meu namorado foi o referência para uma criação tão amada. Apesar da obra não ter os melhores comentários, todos amaram o Christian e isso serviu como uma dica de que esse personagem merecesse mais destaque no remake do livro.
E por falar em livro...
— Como está indo na escrita, Nat?
O meu suspiro de frustração saiu antes mesmo que eu notasse.
— Eu estou dando o meu melhor, mas não consigo pensar em nada.
— Sei que encontrará uma saída para a obra. E, se não der certo, tente fazer outra.
Eu não queria fazer outra. Velorum havia sido uma criação minha e abrir mão dela seria a mesma coisa que pedir a uma mãe atirar o seu filho em um rio, apenas por encontrar alguma parte deformada. Não, abandonar uma parte de mim estava fora de cogitação. Eu fiz menção a comentar sobre uma possível ideia, mas Bryan começou a falar sobre o quão difícil a sua prova de anatomia tinha sido. Como um estudante de medicina que vive sob a pressão de ser o filho perfeito para seus pais, ele conseguia se divertir como ninguém.
Não quis interromper as reclamações de Bryan para falar dos meus problemas. Eu não queria que os poucos momentos em que nos encontrássemos se resumisse ao meu egoísmo em busca de consolo. Por isso, estampei o meu melhor sorriso enquanto atravessávamos uma das ruas mais movimentadas de Londres.
***
Por um instante, quis tapar meus ouvidos como uma criança assustada. O barulho daquela boate incomodou meus tímpanos e creio que a música de letra precária apenas tenha piorado tudo. Bryan sorria tão abertamente que engoli todo o incômodo para apreciar o seu sorriso. Ele deu um longo gole na cerveja antes de me puxar para a pista de dança. Enquanto me espremia entre as pessoas, estava me questionando como saímos daquele restaurante pacato e paramos nesse lugar movimentado.
Eu queria estar debaixo das cobertas, bebendo um bom chocolate quente e assistindo algum filme clichê. Com toda certeza, teria mais ideias dessa forma do que balançando os quadris. Não que eu não gostasse de dançar, apenas não queria naquele momento. Contudo, o meu namorado não percebeu — ou fingiu não perceber — todos os meus pedidos silenciosos para retornar para o apartamento.
As mãos dele seguraram a minha cintura, guiando-me no ritmo sensual daquela dança. Involuntariamente, acabei sorrindo diante de seus olhos castanhos e suas covinhas fundas. Então, ouso me soltar um pouco e rebolar de acordo com a batida da música. Ao ver uma resposta positiva aos meus movimentos, Bryan girou meu corpo até que estivesse colada ao seu quadril. Eu me senti desconfortável por estar diante daquelas pessoas e virei o rosto em sua direção, quase pedindo para parar aquele toque tão íntimo. Porém, os lábios carnudos dele traçaram uma trilha de beijos por meu pescoço, fazendo-me arquejar o corpo.
— Eu sei que gosta assim, amor. — ele sussurrou contra minha pele.
Uma parte de mim concordou na mesma hora, mas outra parte falou mais alto e tomou o comando do meu corpo. Por isso, eu me desvencilhei de seus braços e o encarei com uma certa tristeza brilhando em meus olhos amendoados.
— Aqui não, Bryan. Por favor.
Uma sombra de frustração e irritação brilhou em seu olhar, mas durou tão pouco que pensei ter sido uma ilusão da minha mente. Então, ele assentiu e seguimos para fora da boate de mãos dadas como um casal apaixonado. Como o casal apaixonado que somos. Na saída, encontramos um grupo de três universitários conversando animadamente até cruzarem com a gente.
— Bry, você por aqui? — questiona um dos rapazes.
— Milagres acontecem. — brinca a mulher do grupo e o outro acena com a cabeça.
— Um encontro diferenciado com a minha namorada.
Acenei para os três amigos dele que mal me dei o trabalho de decorar seus nomes. Eles responderam com o mesmo ânimo antes de se voltarem para o meu namorado que, por instinto, soltou minha mão para dar a devida atenção para a conversa. Eu odiava quando o Bryan me deixava de lado para falar assuntos banais com seus amigos, principalmente quando a jovem ao seu lado parecia comê-lo com os olhos.
Senti reviravoltas no estômago.
— Eu vou andando para casa. — anunciei recebendo um olhar preocupado do meu namorado. — Eu vou pedir um táxi, não se preocupe.
— Tem certeza? Eu planejava passar a noite contigo assistindo alguma série.
A verdade é que eu não queria ver série alguma. Só queria tirar um tempo para mim. Sozinha.
— Que tal amanhã, amor?
Ele assentiu ainda com a preocupação estampada em sua face e alegou ir para casa assim que terminasse a conversa com os amigos. O grupo sequer olhou para mim, alheio à minha presença insignificante. Quando o táxi parou na nossa frente, Bryan deu um beijo estalado em meus lábios que, por um momento, causou uma sensação de paz. Então, entrei no carro acenando com a janela abaixada até que o meu namorado não passasse de um pequeno ponto no meio da rua.
Londres era bem iluminada pela noite e possuía um beleza única. De forma involuntária, acabei lembrando da minha obra que se passava na época medieval em uma cidade fictícia, Velorum. Às vezes, pegava-me imaginando como seria morar naquele lugar e poder compartilhar de um mundinho só meu, criado por minha mente mirabolante. Um sonho tolo mas creio que todo escritor já teve vontade de visitar a própria obra.
O meu celular vibrou, afastando-me dos meus pensamentos bobos. Eu olhei a notificação que anunciava a passagem de um cometa pela Terra. Os meus olhos encheram-se de um singelo brilho. A astronomia é a minha segunda paixão — depois da escrita — e admirar as estrelas fazia o meu coração se preencher por uma inexplicável alegria. A empolgação tomou conta do meu âmago e pedi para o táxi parar, saindo apressadamente após dar uma quantia qualquer pela corrida inacabada. Eu queria ver esse evento espacial ao lado do Bryan, pois havia sido um pedido que fizera alguns meses atrás. No começo, ele não demonstrou muita animação mas depois fez várias sugestões das coisas que faríamos depois do espetáculo. Essa foi a única forma de convencê-lo a me acompanhar.
Minhas pernas não falharam um momento sequer, nem mesmo quando tropecei em uma latinha no chão. A silhueta de Bryan se tornou visível quando dobrei a esquina e enchi meus pulmões, pronta para dar o maior grito de todos.
Mas eu me calei no mesmo segundo.
O braço dele estava envolto do ombro de sua amiga enquanto sussurrava algo em seu ouvido. O sorriso malicioso dela foi a resposta perfeita para as minhas suspeitas. Logo, eu o vi depositar um beijo em seu pescoço antes de ambos irem para o interior da boate. Diante daquela cena, dei as costas e segui o caminho para minha casa andando.
As lágrimas banharam boa parte da minha visão, mas por sorte ou obra de alguma força superior, consegui chegar no apartamento. No banho, permiti que a água expurgasse — ou tentasse — toda a minha tensão. O meu semblante apático só podia significar o quanto aquela imagem havia me afetado e, infelizmente, estaria gravada em minha mente por um bom tempo. Eu gostava do Bryan. Corrigindo, eu ainda gosto dele. Uma parte de mim me culpou por ser tão difícil e demorar para ceder às suas vontades. Eu sabia que era errado pensar dessa forma, mas a minha insuficiência falou mais alto.
Por muitos anos, vivi em um lar sem amor. A minha mãe se apaixonou perdidamente pelo meu pai e os dois eram um casal feliz até o meu nascimento. Então, o meu pai começou a se estressar com uma criança chorona e desastrada na casa. Ele evitava voltar cedo do trabalho e preferia estar com os amigos bebendo em qualquer bar. Desesperada, a minha mãe fizera de tudo para conquista-lo de volta — e isso inclui negligenciar a própria filha por anos — mas não adiantou. Ele nos abandonou para se casar com uma colega de trabalho. Naquele momento, vendo minha mãe de joelhos e implorando para não abrir mão dela, não da família mas dela, sentia como se fosse um fardo para todos. Além disso, percebi que o amor podia escapar das nossas mãos se mostrarmos muitos defeitos.
Desde então, decidi que seria a máscara da perfeição para que ninguém precisasse me abandonar. Eu sempre fiz o possível para não decepcionar as pessoas ao meu redor, mas todas se afastavam de alguma forma. Eu era falha. Imperfeita. Mas todos amavam os meus livros, amavam os meus personagens que eram uma parte de mim. Através da escrita, consegui o amor das pessoas de uma maneira indireta mas que ainda trazia conforto. Por isso, pensei que só precisaria manter o esforço até ser amada de verdade.
Infelizmente, falhei outra vez. Eu não o culparia por trocar a namorada sem sal por outra garota com ânimo e brilho no olhar. Eu não o culparia por preferir sair para boates e não ficar horas na cama, vendo-me escrever sem parar.
Talvez a culpa fosse minha mesma. Talvez eu merecesse aquela onda de comentários negativos sobre o meu livro.
O meu celular vibrou novamente. Era uma mensagem do Bryan perguntando se eu cheguei bem em casa. Não me dei o trabalho de responder, apenas joguei o aparelho contra o colchão e me dirigi para a varanda.
Ao encarar o céu estrelado, uma paz momentânea se apossou do meu ser e relaxei os ombros. Eu pensaria em alguma forma de ser uma namorada melhor no outro dia mas, naquele momento, apreciar o brilho das estrelas parecia menos melancólico do que a minha falta de amor próprio.
Um fio brilhante cortou o céu, exibindo a sua beleza fugaz para qualquer um que o admirasse. Eu encarei o cometa com um leve sorriso e meu interior mostrou-se inquieto, como se soubesse o que precisava ser feito. Um pedido. As pessoas acreditavam que estrelas cadentes pudessem conceder desejos. Eu sempre fui cética mas estava destruída por dentro naquela noite, então me agarrar em qualquer que fosse a crença não me pareceu tão patético.
Eu não era uma pessoa materialista, apesar dessa filosofia simplista não se aplicar quando se trata de livros. Não queria riqueza e muito menos fama — mesmo desejando o reconhecimento por minha obra —, então precisava de algo que realmente me fizesse se sentir completa.
Ou melhor, alguém.
— A minha alma gêmea...
Antes de sumir no horizonte, pude jurar que o cometa deu um brilho mais acentuado. Contudo, não me importei tanto quanto deveria pois estava cansada e meus olhos ardiam por causa do choro descontrolado no banho. Então, sai da varanda e ponderei me jogar na cama de qualquer maneira.
Uma força me puxou para minha escrivaninha e, em um piscar de olhos, já estava com a caneta na mão. Geralmente, escrevia no notebook mas a minha avó sempre dizia que a melhor forma de se conectar a um livro é sentir o relevo das palavras. Sentir como seus dedos podem moldar a realidade e torna-la inteiramente sua.
Por isso, eu escrevi muito naquela noite. Eu escrevi até que meus dedos doessem e meus olhos pesassem. Então, adormeci sobre a folha de papel.
***
Eu acordei com um sobressalto, resmungando baixo e me ajeitando sobre o piso gélido. O sono me atingiu em cheio ao ponto de dormir no chão e acordar ajoelhada. Eu passei a mão pelos meus longos cabelos negros mas eles estavam presos em um coque, o que era estranho pois não lembro de ter feito. Então, abaixei o olhar para o piso tão brilhante que podia ver o meu reflexo. Eu estava usando uma roupa de empregada tão longa que tocava meus calcanhares. Um contraste do tecido preto com os detalhes brancos dos babados.
A minha cabeça doía como se eu tivesse enfrentado a pior ressaca de todas e nem mesmo a tequila mais forte do mundo seria capaz de causar tal sensação. Ao erguer o olhar, o meu queixo quase caiu quando encarei o degraus dourados da escada, revestidos pelo tapete vermelho. De alguma forma, eu me encontrava no salão principal de uma mansão ou castelo, estando aos pés da escada enquanto segurava uma esponja.
Isso seria um sonho?
— Não temos tempo para devaneios, Diane.
A minha cabeça girou em direção à jovem ajoelhada alguns metros atrás de mim. Ela esfregava o piso com tanto vigor que fiquei surpresa ao seus dedos não se desgrudarem das mãos, pedindo um minuto de descanso. O cabelo castanho dela estava preso em um coque e usava roupas iguais às minhas.
— Quem? — questionei confusa.
— O que?
— Quem é Diane?
A confusão passou para a face da empregada.
— Trabalhou tanto na noite passada que esqueceu o próprio nome?
Eu não fazia ideia de que sonho era aquele, mas fingi que tudo não passou de uma brincadeira sem graça. Porém, a jovem continuou com a expressão séria e a minha risada morreu de forma instantânea antes de ser a vez dela rir de mim.
— Só para garantir, meu nome é Cherly Walker. — dizia de forma descontraída, demonstrando que interpretou bem o seu papel de empregada séria e rude. — Francamente, você trabalha aqui há anos e essa é a primeira vez que esquece o nome. Eu deveria me preocupar?
A minha mente ignorou a sua pergunta, concentrando-se unicamente em seu nome. Aquele cabelo castanho, os olhos negros e o humor descontraído. Cherly Walker era o nome de uma das empregadas da família real da obra que criei.
Definitivamente, esse é o sonho mais estranho de todos.
Eu belisquei o meu braço para retornar à realidade, mas só consegui grunhir pela dor latente. Cherly me encarou como se eu tivesse uma melancia na cabeça e a sua expressão piorou quando belisquei pela segunda vez.
Okay, não é um sonho. Talvez seja a hora perfeita para ficar preocupada.
— Está tudo bem, Diane?
— Onde... Onde nós estamos?
E mais uma vez ignorei o olhar espantado da jovem. Ela riu diante da minha pergunta como se fosse uma piada aleatória mas, ainda assim, respondeu:
— Estamos em Velorum.
Cherly resmungou algo sobre amnésia e pegou o balde, dirigindo-se para fora do salão. Eu continuei estática e ajoelhada ao lado do primeiro degrau, não ousando mover um músculo sequer por longos segundos. Se isso fosse um sonho ou não, mal tive tempo de pensar à respeito pois senti uma sombra à minha frente. Um par de botas parou um degrau acima de mim e precisei erguer a cabeça para descobrir quem era.
Olhos esverdeados me encaravam ao mesmo tempo que senti a garganta seca. Apenas uma palavra ousou escapar dos meus lábios trêmulos. Apenas um nome.
— Christian?
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