Bônus 1
O som espalhava-se pelo ambiente conforme ia mais fundo. Não sabia se ela aguentaria, principalmente por estar tão apertada. Mesmo assim, coloquei até o final enquanto olhava no fundo de seus olhos. Um leve sorriso surge em meus lábios, observando o sangue esvair do seu corpo. A faca já estava completamente dentro, mas queria cravar o cabo apenas para fazê-la pagar por ser uma má garota e não colaborar na hora da tortura.
— Ocupado?
A minha atenção volta-se para a silhueta que, timidamente, estava apoiada na porta. O longo cabelo vermelho preso em um rabo de cavalo. Tanandra trajava as roupas de treino, coladas ao seu corpo acima do peso. Cada traço dessa mulher é absurdamente lindo, como se ela fosse esculpida pelos deuses.
Pisco os olhos, retornando à realidade. Rapidamente, limpo as mãos sujas de sangue enquanto desviava o olhar para o corpo já sem vida.
— Não mais. — murmuro suspirando com pesar. O local estava uma completa bagunça, pedaços do dedo da mulher e dentes quebrados encontravam-se no chão. — O que faz aqui? Sabe que o porão é meu santuário.
A verdade é que odiava que acompanhassem minhas torturas. As pessoas me viam como um monstro — ao menos, boa parte delas — e eu odiava fingir não ouvir seus comentários ou notar seus olhares assustados.
Mas odiava mais ainda não encontrar medo nos olhos verdes de Tanandra. Ela encarava-me sem tirar o sorriso bobo dos lábios. As suas bochechas rechonchudas estavam coradas enquanto brincava com os próprios dedos.
Uma imagem fofa mesmo quando o arco preso em suas costas seja tão letal quanto minhas adagas.
— O senhor De'Ath deseja falar com você.
— Entendo. Obrigado pelo recado.
Tento transparecer minha costumeira indiferença, sorrindo descontraído. Porém, a ruiva continuava no mesmo lugar com aquele olhar intenso. Ela ignorou o corpo atrás de mim para focar unicamente em meu sorriso, causando uma estranha inquietude no estômago.
— Irá ao baile na próxima semana?
Dou nos ombros, fingindo desinteresse.
— Nunca recusei uma festa. Deve haver homens e mulheres belos para levar à cama. — comento sorrindo maliciosamente. — Será bem divertido.
Tanandra abaixa o olhar para os próprios pés e, lentamente, o seu sorriso morre.
Quero que sua esperança também morra. Quero apagar qualquer resquício da chama entre nós dois. Isso só pode ser uma atração puramente sexual, o que não seria um problema para mim se a garota não estivesse disposta a ter algo mais sério. Depois da nossa conversa na última guerra, tivemos que nos afastar e manter uma relação neutra.
Ela precisa entender que nossa relação, antes mesmo de iniciar, está fadada ao fracasso. Não sou capaz de sentir amor por ninguém. E iludir uma boa pessoa é uma tortura cruel demais, até mesmo para mim.
Mas quando passo por Tanandra, aspirando o seu aroma de morango, não deixo de sentir um incômodo no peito.
Acho que bebi demais na noite passada, é isso.
Ao chegar no escritório, entro de vez sem bater. Lorcan é inteligente o suficiente para saber quando eu viria. E eu não sou do tipo que premedita minhas aparições, é chato e sem graça.
— Por mais reconfortante que seja pensar que estava com saudades de mim, Vossa Majestade... — digo fazendo uma reverência sem tirar o sorriso brincalhão. — Creio que o motivo esteja longe de ser esse. Algo aconteceu?
Como sempre, Lorcan lança seu olhar cortante mas o ignoro sem me importar. A casca dura entorno dele é uma armadura, posso perceber. Apesar de ser indiferente com a vida alheia, tenho uma curiosidade sufocante sobre o seu passado. Que tipo de torturas Sirius aplicou em você? Será que eu posso aprender algumas delas?
O meu sorriso de excitação cresce mas a voz metódica do novo rei de Velorum corta a minha linha de raciocínio.
— Avery comprou mais armas do oriente, certo?
Confuso, assinto em silêncio.
— Recebi uma notícia do nosso informante em Velstand. Ele firmou aliança com todos os governantes da região de Zaniah. Isso é um péssimo sinal.
Enquanto Lorcan andava de um lado para outro, balanço meu corpo de maneira despreocupada. Guerras são apenas mais um derramamento de sangue e, para mim, mais diversão.
— O que aconteceu no interrogatório, Raven?
Acho engraçado a forma como Lorcan suaviza o que faço, mesmo sabendo da quantidade absurda de membros que precisei arrancar para provar o poder de Icarus. Talvez ele esteja mais "mole" após conhecer a Diane. É por isso que eu afastei a Tanandra, ela ia me deixar fraco e inútil em minhas missões.
— A soldada de Avery não disse nada. Gosto como ela resistiu mesmo quando coloquei farpas entre seus dedos. É claro que gritou muito mas cortei uma parte de sua língua quando se recusou à contar os planos do exército dele, mas não se preocupe. Eu encontrarei outro brinquedinho com informações importantes, Majestade.
Lorcan apoiava-se na mesa, cruzando os braços.
— Sabe que prefiro ser chamado como antes. Pelo menos, entre a minha equipe.
Dou passos cuidadosos em sua direção, como um felino pronto para atacar sua presa.
— Eu sei, Lorcan, mas é divertido ver como se segura para não sorrir quando é chamado de Majestade.
Ele estreita os olhos. É como se pudesse sair faíscas desse azul intenso.
— Para a sua sorte, tenho planos mais importantes do que puni-lo.
— Como pedir a Diane em casamento?
Por uma fração de segundos, ele arregala os olhos mas logo retorna à máscara de neutralidade. Exatamente do jeito que Sirius o adestrou.
— Como sabe?
— Não acho que fui chamado para ser o seu espião apenas pelo charme, mas também por minhas habilidades invejosas de observação. E arrisco-me a dizer que, pela forma apaixonada como encara a Diane, todo o reino já deve ter percebido as suas intenções.
Lorcan volta-se para a sua cadeira, erguendo alguns papéis para ocultar o rosto corado.
— Encontre outro soldado de Avery disposto a colaborar com informações. E, desta vez, quero resultados eficientes.
Respondo com outra referência, fazendo as mechas brancas acariciarem o meu rosto e a capa azul em meus ombros deslizar com graciosidade.
— Como desejar, Majestade. Eu irei imediatamente resolver esse nosso probleminha. Gostaria de algo a mais?
Ele abaixava os papéis, arqueando a sobrancelha.
— Convide a Tanandra para o baile. Fará bem aos dois.
Agora sou eu quem esbanja o rubor no rosto. O maldito ainda se atreve a abrir um sorriso de canto, inclinando-se sobre a mesa enquanto saboreia do meu silêncio.
— Você não é o único bom observador nessa sala, Raven. Lembre-se disso.
***
O baile estava tão animado quanto as festas em Icarus. As pessoas dançavam alegremente, ignorando a diferença de classes sociais, como o novo rei havia ordenado. Todos podiam aproveitar aquele momento de comemoração sem se preocupar com julgamentos. Afinal, o atual rei de Velorum vem de uma terra onde nenhum tipo de preconceito é aceito.
Tanandra dançava com um soldado de Aryan. O homem alto de pele negra era incrivelmente belo, ganhando destaque com o fardamento militar prateado do seu reino.
Não consigo tirar os olhos da cena, apertando com força as mãos até sentir a unha cortar a pele. A dor era uma válvula de escape nos momentos difíceis, por isso gostava de esconder os cortes nos pulsos. A roupa que estou trajando ajuda a ocultar todas as cicatrizes. A camisa e o colete preto estavam colados ao meu corpo musculoso. O meu longo sobretudo vermelho com as mangas pretas tinha bordados prateados na região do peito. O cinto prata ao redor da calça preta possuía o símbolo de Icarus e combinava com o par de botas pretas. O cabelo encontrava-se bagunçado fazendo as mechas brancas junto com as demais roçarem em meu rosto juvenil.
E não podia esquecer das adagas, escondidas em cada parte do meu corpo.
— Pare de ser um covarde e vá chamá-la para dançar, Raven.
Olho de canto para Katlyn. Ela tinha o seu típico sorriso malicioso nos lábios vermelhos enquanto bebericava o vinho. O seu traje era igual ao meu, exceto pelo sobretudo branco e pelas botas da mesma cor. Além de que esbanjava um colete preto com bordados dourados para combinar com o cinto.
Em comemorações, Katlyn não portava nenhuma arma mas suas técnicas de luta corporal a faziam uma espada humana. Uma espada que ninguém era digno de usá-la.
— Não tem nenhum homem ou mulher disponível para dar em cima? Acho mais conveniente do que se preocupar com meus parceiros de dança.
Katlyn ria com deboche. As nossas trocas de farpas são constantes e repletas de verdades aveludadas as quais ambos negamos em acreditar.
— Tenho alguém mente. Não preciso procurar ninguém pelo salão.
— Os seus sentimentos pelo Lorcan eram tão fracos assim? — ironizo.
Ela tomava um longo gole do vinho antes de deixar a taça vazia na bandeja de algum empregado.
— Ninguém será capaz de medir o que eu sinto. Eu tenho amor próprio, Raven, diferente da idiota da Diane que se rastejou pelo rei Christian como se ele fosse o único homem da terra. Não irei me curvar perante nenhum homem ou mulher, independente do que eu sinta. Se o Lorcan se apaixonou por uma inútil como ela, não irei alimentar qualquer sentimento por ele.
— Pode odiar a Diane por seus erros, mas não a chame de inútil. Nós dois sabemos o quanto ela é forte. Em todos os sentidos, Katlyn.
A mulher tenciona o maxilar, bem como o restante do seu corpo. Os músculos de seus braços tornam-se visíveis no sobretudo.
— Não me obrigue a admitir o que eu já sei, Raven. Isso é ridículo.
— Tão ridículo que você não consegue admitir o óbvio? — brinco apoiando as mãos nas costas, inclinando o corpo em sua direção com um sorriso malicioso. — Você também levou a fama de puta quando era do reino de Cartelli, senão me engano. Odeia a Diane porque ela encontrou alguém que ignorasse os boatos, estou certo?
Ela pegava outra taça de vinho, bebendo mais rápido do que qualquer bárbaro. Era divertido cutucar as feridas da Katlyn, até porque cedo ou tarde ela precisará ceder às suas dores. Ninguém é feito de aço, nem mesmo a arqueira mais habilidosa de toda Velorum.
— Vá incomodar a Tanandra e não à mim.
Faço biquinho fingindo estar magoado.
— Pensei que me amasse, Katlyn.
— Duvido muito que saiba o significado da palavra amor.
Maldita! Um ponto para ela.
Uma discursão com ela é inútil, então é melhor ceder às suas vontades.
— Se está tão ciente de como a Tanandra me olha, posso saber quem é a sortuda ou o sortudo que mereceu a sua atenção?
Nada disse. Ela apenas virou a cabeça em direção a uma mulher com roupas simples, detentora de olhos verdes sem nenhum brilho especial e um cabelo castanho preso em um coque mal feito. Apesar da simplicidade exalando dessa mulher, ela sorria e dançava junto com Diane como se não houvesse amanhã. E talvez o seu sorriso contagiante seja o motivo pela arqueira sequer piscar os olhos enquanto acompanhava cada movimento dela.
— Está apaixonada, Katlyn?
Ela beberica o vinho para disfarçar o sorriso.
— Tirar conclusões precipitadas não é do seu feito, Raven.
Inclino mais ainda o corpo para sussurrar em seu ouvido, ficando na ponta dos pés por causa da diferença de altura.
— Quem disse que é precipitada?
O seu riso é por mera educação, mas vejo uma singela empatia no olhar quando vira o rosto encarando-me de forma profunda.
— Somos pessoas quebradas, você sabe disso. Mas não quero viver minha vida remoendo o passado e, muito menos, vivendo presa à ele. Quero ser amada como eu mereço e você devia fazer o mesmo. Permita-se amar, Raven, porque essa vida é curta demais para lamentações.
Recuo diante de suas palavras, enrijecendo a postura. Ergo o olhar tentando intimidá-la mas essa mulher é inquebrável. Talvez ela seja de aço mesmo.
— Não é tão fácil assim.
— Não é, mas isso não significa que ficar de braços cruzados esperando o abraço da morte seja a única opção. Você pode escolher algo melhor do que isso. Lorcan fez essa escolha e está feliz.
Torço o nariz em uma careta engraçada.
— Lorcan tornou-se fraco por causa do seu amor.
Odeio o sorriso debochado nos lábios dela enquanto encarava Lorcan junto com os demais nobres. Ele ignorava a conversa com os mais poderosos de Velorum para focar em Diane que ria e saltitava com sua amiga.
— Ele sempre teve poder para derrotar Erick ou Christian, mas não tinha confiança em si mesmo. O que o fez mudar ao ponto de atingir o tão sonhado trono? Eu não acho que foi o seu exército, Raven. A razão de sua força de vontade está no meio do salão, dançando feito uma idiota. As pessoas encontram força em outras e conseguem seguir em frente, enfrentando qualquer tipo de obstáculo por essa droga de sentimento chamado amor. E o Lorcan é a prova disso.
Viro o rosto para o duque — atual rei — sorrindo feito bobo enquanto observava Diane dançando com sua amiga, a qual Katlyn não tirava os olhos. Então, a minha atenção volta-se para Tanandra que terminava a dança com o soldado de Aryan. Ele não perdia tempo em estender a mão, pedindo outra dança mas dou um passos em sua direção, arrastando a longa capa cinza com o brasão de Icarus pelo chão.
— Odeio quando está certa, Katlyn. — comento olhando-a por cima dos ombros.
O seu sorriso aumenta.
— Como se eu estivesse errada em algum momento.
Tanandra encarava o soldado com certo receio, forçando um sorriso simpático. Quando estapeio a mão do homem, consigo a atenção dos dois posicionando-me do lado da ruiva.
— Desculpa mas ela já tem um parceiro de dança.
Ele pisca os olhos, surpreso.
— Perdão, eu não havia notado.
— Poucos são capazes de notar.
— O que está fazendo, Raven? — ela sussurra em meu ouvido.
— Convidando-a para dançar. — digo virando-me de frente para Tanandra, dando as costas para o soldado que logo saía do centro do salão para aceitar a dança com um homem do exército de Cartelli. — Eu teria essa honra?
O seu olhar é focado em minha mão estendida, dando um passo vacilante para trás.
— Há outras pessoas mais belas nesse salão.
— Não há. Eu sei que não. E mesmo que haja, eu não consigo olhar para nenhuma delas que não seja você. Então, concede-me uma dança?
Ainda incrédula, ela segurava minha mão e a puxo contra meu corpo. Somos da mesma altura então quase toco seus lábios com a aproximação repentina. De perto, ela está mais bela do que antes.
Quando a banda inicia outra música, guio Tanandra pelo vasto salão em passos lentos e cuidadosos. A valsa nunca foi o meu forte, mesmo tendo aprendido alguns movimentos para não parecer desajeitado na dança. As duas mãos da ruiva estão em meus ombros enquanto a seguro firmemente pela cintura.
A música agita-se e, seguindo os demais no salão, giro Tanandra com agilidade até puxá-la novamente contra mim. Os seus seios fartos chocam-se contra meu peitoral e a chama entre nós dois aumenta mais ainda.
Quero beijá-la, por mais errado que seja. Então, começo a questionar minhas próprias atitudes. Se eu nunca me importei com os sentimentos alheios, por que estou me preocupando tanto em machucar ou não a Tanandra?
— Pensei que quisesse distância, Raven.
Os nossos passos se enceram junto com a música. Seguro o seu rosto com ambas as mãos até que nossos lábios se toquem. O beijo inicia-se lento, como se estivéssemos conhecendo o espaço um do outro mas não demora para que eu introduza a minha língua. A briga por espaço em sua boca é logo vencida, então aproveito para saborear o gosto adocicado dos seus lábios, provavelmente fruto de alguma bebida.
— Ultimamente, ando questionando demais o que eu quero e o que não quero. — murmuro ao dar fim no beijo, realocando novamente as mãos em sua cintura. — O preço por sonhar em uma vida feliz é muito alto, mas posso sonhar ao seu lado?
Noto lágrimas formando-se em seus olhos enquanto sorria abertamente.
— Não temos nada a perder, certo?
Essa é a confirmação necessária para atacar seus lábios novamente, fazendo pouco caso dos vários olhares ao nosso redor.
***
Jogo Tanandra contra a escrivaninha, erguendo-a até ficar sentada sob a madeira. As minhas mãos passeiam por suas coxas grossas, após subir o vestido turquesa que usava. Enquanto isso, ataco seus lábios com necessidade sentindo o puxão da jovem na minha nuca.
Era impossível controlar meus impulsos primitivos perto da ruiva. Nunca considerei o sexo algo importante ou romântico, tudo se tratou de uma mera junção carnal. Mas com Tanandra era diferente. Eu quero que nossa conexão se aprofunde, eu quero...
— Estar enterrado em você e fazê-la gozar chamando pelo meu nome. — murmuro ao afastar meus lábios, recuperando parte do fôlego. — Eu quero cada parte sua clamando por mim.
O sorriso dela cresce contra meus lábios e, deixando-me surpresa, Tanandra abria o vestido com uma agilidade assustadora. Ela abraçava o próprio corpo, desviando o olhar.
— Não é lindo como da maioria das mulheres, mas-...
Impeço sua fala pressionando o dedo indicador contra seus lábios. A outra mão acariciava sua face com o polegar.
— Estou diante da mulher mais bela de todas. Por que eu iria compará-la com as demais, se nenhuma atraiu a minha atenção como você?
Em seguida, ergo Tanandra a guiando até a cama do meu quarto, subindo em seu corpo quando ela tocava o colchão macio. A nossa troca de olhares é intensa e significativa. Um momento como esse requer poucas palavras, e mais demonstrações de afeto. Por isso, tiro minha roupa tendo meu ego inflado pelo olhar sedento da guerreira, passando por cada músculo definido do meu corpo.
— Seja paciente. Você o terá todo para si. — sussurro em seu ouvido.
Sorrio convencido contra sua pele macia ao notar o arrepio da jovem. Então, não tardo em descer por seu corpo em uma trilha de beijos molhados e lentos. Essa era uma forma de tortura-la, fazê-la ansiar pelo meu toque como anseia pelo ar que respira.
Mas também era punido, porque controlar minha vontade de fodê-la a noite toda não tem sido fácil.
O seu gemido gracioso ecoa pelo quarto quando ataco a região entre suas pernas. A minha língua é ágil em atingir cada ponto sensível. Ela estremece diante dos toques ousados, puxando minha nuca contra sua intimidade. Era um pedido indireto para continuar e, com muito prazer, iria acatá-lo.
Seguro firmemente suas coxas, apertando-as de maneira possessiva. Mesmo sem unhas afiadas, conseguia marcar sua pele alva com a pressão na ponta dos meus dedos. Tanandra se contorcia e implorava por mais, tremendo sempre que minha língua passava pela região mais sensível dela.
Então, a ruiva se desmancha de prazer puxando-me contra si de forma mais agressiva. Ao vê-la tão entregue ao prazer, meu corpo ferve em resposta e, por isso, não demoro para me colocar entre suas pernas.
— Pronta?
Ela abre um sorriso malicioso diante da minha pergunta. Tanandra prende minha cintura em suas pernas, puxando-me contra si. Exclamo surpreso com tamanha ousadia, o que aumenta mais ainda a chama em meu coração. Essa mulher é incrível!
— Como nunca estive em toda a minha vida, Raven.
A forma como seu nome sai dos meus lábios causa estranhos calafrios. E todo o meu autocontrole é jogado fora. Impulsiono o meu corpo entrando nela com uma selvageria necessária, afinal ambos estamos fartos de meras provocações.
Conforme avançava meu quadril, ouvia seus gemidos manhosos e súplicas para não parar. Por impulso, inicio um beijo necessitado onde minha língua buscava conforto enroscando-se com a dela.
Enquanto estávamos unidos, sentia que a conexão ultrapassava o plano carnal. Havia um fio invisível conectando nós dois a um destino. Conectando ao inevitável que muitos tentavam evitar e apenas os tolos caíam nessa teia misteriosa.
Acho que sou um tolo, então. Um tolo feliz.
***
— Vocês precisam ser mais rápidos do que isso! — grito para a tropa inteira.
A base de Icarus foi esvaziada e os soldados experientes se encontravam em Velorum. Após a notícia da guerra, tivemos que fortificar a capital do nosso império. Diane e Lorcan estavam cuidando das estratégias de guerra enquanto o restante da equipe não podia se deslocar de imediato.
A minha função era treinar os soldados inexperientes — um pequeno exército de duzentos homens e mulheres — para proteger as fronteiras de Icarus, caso algo desse errado.
Mesmo sendo jovens, a determinação desses soldados é fervorosa. As minhas ordens rigorosas foram cumpridas sem questionamentos, levando o corpo e a mente deles ao limite. Mas é necessário forjar o aço com fogo e ferro, se quisermos obter a vitória.
— Precisamos ir, Raven. — comenta Katlyn ao se aproximar, ajeitando o seu longo manto de couro.
— Estão dispensados! Sigam as instruções que eu dei e, em hipótese alguma, abandonem seus postos. Estejam preparados para o pior, porque nenhum dia de glória virá sem uma grande tempestade.
— Sim, senhor! — o exército grita em uníssono.
— Observando desse ponto, você até que parece adulto. — debocha a arqueira.
Viro-me para Katlyn com as mãos na cintura e o cenho franzido. Ela adorava tirar sarro da minha altura. A mulher possuía seus 1,79cm e eu, com meus 1,67 cm, não conseguia encará-la sem erguer a cabeça.
— Geralmente eu quem sou o bom humorado aqui. Por acaso, trepou muito com aquela amiga da Diana?
De forma gradativa, o sorriso da mulher some.
— Não ousei avançar depois do baile.
— Por que?
— A mente dela foi forjada com o preconceito de Velorum. Não posso fazer nada à respeito para mudar o que pensa.
Abro a boca para outro questionamento, mas uma mão grande e firme segura a gola da minha camisa. Pelo cheiro de cerveja e ferro, não demoro muito para descobrir de quem se trata.
— Ora! Procure outro para irritar, Njal! — exclamo balançando os pés no ar ao ser erguido como uma simples pena. — Não tem o Leofrick para aturá-lo?
— Eu já me despedi dele. Não tenho tempo para conversa fiada e muito menos você.
Mostro a língua para o ruivo antes de ser solto de vez. Como um gato, mantenho-me de pé com graciosidade e delicadeza. Katlyn seguia junto com o ruivo para seus respectivos cavalos, preparando-os para a longa viagem até a capital.
Quando saio do estábulo com meu cavalo cinza, Lesath, encontro uma cabelereira ruiva conhecida me esperando.
— Já está indo, Raven?
— Sim. O tempo de brincadeiras acabou e, agora, o jogo é sério. Sabe que nos veremos logo, não é? A sua tropa será mandada para a capital em dois dias.
Nunca vou cansar de achar fofo a forma como Tanandra brinca com os próprios dedos.
— Eu sei, mas sentirei saudades de qualquer forma. Na guerra, não vamos ter tanto tempo de conversar.
— Prometo que matarei o mais rápido possível. Assim, poderemos trocar breves flertes. — brinco.
Mas a ruiva continua séria, dando um passo em minha direção. As suas mãos seguram meu rosto, fazendo os calos de seus dedos roçarem contra minha pele.
— Não morra. É a única promessa que eu quero que faça.
O meu lado humorado morre com suas palavras.
— Eu sou uma aberração que mata por prazer. Deveria se afastar de mim.
Novamente, sinto a necessidade de cortar esse estranho laço que nos une.
— Eu não tenho medo de você.
Dou um passo para trás, fugindo do seu toque caloroso. Instantaneamente, é como se uma nevasca atingisse o meu corpo que suplicava pelo retorno do calor.
— Eu posso matá-la se quiser.
Tanadra segura meu rosto com força, apetando minhas bochechas obrigando-me a fazer um biquinho.
— Eu já disse. Eu. Não. Tenho. Medo. De. Você. — dizia pausadamente em um tom de ameaça.
Os meus olhos brilham de admiração. Então, envolvo Tanandra em um abraço apertado, repousando a cabeça na curva do seu pescoço.
— Vou concordar com você, somente porque não quero perder minha cabeça.
Ela ria afastando-se do abraço para expor seu belo sorriso.
— Prometa que ficará vivo.
— Eu prometo, mas quero que prometa a mesma coisa.
— Eu prometo ficar viva.
A despedida foi breve com um rápido selar de lábios. Então, subi no Lesath acompanhando Katlyn e Njal pela longa estrada em direção à Velorum. Enquanto os dois conversavam sobre a iminente guerra, estou com um sorriso bobo pensando na ruiva.
Pensava em seu sorriso, a forma como seus lábios carnudos se moviam proferindo o meu nome. Tanandra invadia os meus pensamentos, apossando-se de parte do meu ser. Quando nos despedimos, não houve palavras de afeto ou o clássico "eu amo você"; não é do nosso feitio. E também, como Katlyn havia dito, eu não sabia o que é esse sentimento.
Mas, intimamente, questionei: Se isso não é amor, o que seria?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro