Capítulo 5: ⛵Dezoito Primaveras🌟
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A cada aniversário uma nova espera
Um ano se despede e outro reverbera.
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20 de setembro de 1965
Os últimos três anos não foram simples para Eveli. Murat tinha ido para a faculdade e, apesar de ter dito que sempre viria nos feriados, isso nem sempre acontecia.
A faculdade tinha um ritmo puxado, às vezes ele usava os feriados para colocar os trabalhos em dia ou estudar para os períodos de prova, dessa forma, ficava na Capital.
Sentia-se tão sozinha sem ele, como se estivesse faltando uma parte do próprio corpo. Com Murat longe, era como se tivesse tido um membro seu amputado. Sentia-se deficiente, improdutivo, incompleto.
Estava sempre irritado ou muito sensível boa parte do tempo. Os pais achavam que era coisa da adolescência e tentavam ser compreensíveis.
O primeiro ano sem ele foi o mais difícil. O ano da adaptação. Principalmente, porque, antes da partida dele, passaram as férias praticamente inseparáveis. Murat acompanhou os Diannes na fazenda na Estrela, dias e mais dias na praia de Éden, na propriedade de Girassol, e assim por diante.
Foram inúmeras vezes de bicicleta até o píer da cancioneira. Apostaram corrida na areia, no píer; nadaram, pedalaram, tomaram sorvete...Viveram. Não precisei da companhia de mais ninguém para se divertirem, um era suficiente para o outro.
Durante todo o ensino médio, Murat nunca apareceu com uma garota. Eles não conversaram muito sobre isso. Era um assunto que o deixava desconfortável. Por mais que Eveli insistisse, às vezes, para saber se ele já havia beijado alguém, ele desconversava.
O fato era que Eveli ouvia muitos burburinhos pela escola. A presença de Murat foi marcante, com seus cabelos fartos e negros, olhos expressivos com escolhidos de dar inveja a qualquer mulher. Tinha uma boa estatura, em torno de um metrô e oitenta, e um porte atlético.
Com certeza ele já tinha beijado algumas meninas, mas não disse nada, era muito discreto. A questão era que agora ele era um adulto na faculdade, então o mais provável era que tivesse arrumado uma namorada.
Mas apesar de tudo isso, do recebimento que sentiu dele abandonar-la de lado caso entrasse em um relacionamento, ele sempre respondia às cartas dela sem demora e ligava regulamente. Isso dava a ela uma espécie de colapso. Ainda que não fosse suficiente, era alguma coisa.
Como nos últimos anos, Eveli foi ao píer pela manhã no dia do seu aniversário. Mas dessa vez, estava sozinho, Murat tinha prometido chegar no dia anterior, porém não foi assim.
Estava triste. Pelo visto, pela primeira vez em mais de dez anos, passaria seu aniversário longe dele. Sem pedidos, sem o seu bolinho especial. Sem apostar corrida, bem, quanto a isso, não foi intencional mesmo, já não era mais criança para ficar correndo pela rua por causa de aposta.
Saiu de casa logo após o café da manhã. Embora sob protestos dos pais, ela insistiu; e como parecia triste e chateada, os pais liberaram.
Ao longo do caminho até a orla, havia muitas árvores. Embora o vento primaveril soprasse delicado em seu rosto, e as árvores a acariciassem com uma baforada de ar fresco, ela sentia o ar faltar. A garganta estava fechada, a vista turva.
Desde o dia anterior que se esforçou para não chorar. Teve sucesso até então, mas foi cada vez mais difícil.
De repente, um vulto passou por ela com um forte sopro de corrente de ar. Era Murat. O coração errou a batida, e uma descarga de adrenalina percorreu todo o seu corpo.
Por alguns segundos, não reagiu — apesar de continuar pedalando, em uma execução automática, em uma espécie de memória motora, pois seu corpo sabia o que deveria fazer e continuar operando os movimentos devidos.
Por fim, assimilou que ele de fato estava ali após o largo sorriso que ele ofereceu ao olhar para trás. Isso serviu como um estalo para tirar o estado de suspensão.
— Vamos, tartaruguinha — provocou Murat. Ele estava caçoando dela.
Apesar de odiar quando ele se vangloriava de ser o mais rápido e a chamava de "tartaruguinha", ela brilhou muito.
— Não se esqueça da fábula da lebre e da tartaruga, meu caro — devolveu a provocação.
— Não pretendo cometer o mesmo erro da lebre, minha cara, a minha velocidade é constante.
— Nem sempre o mais rápido vence — retrucou Eveli, ainda fazendo uma referência à fábula. — Não se esqueça disso, meu querido.
— Isso não se aplica a nós dois — respondeu Murat, dando uma alta gargalhada.
Irritada, Eveli tentou acelerar para ultrapassá-lo, mas ele se distanciava cada vez mais. Quando chegaram ao píer, ambos saltaram da bicicleta numa sequência automática que já estavam habituados, pois após disputarem na bicicleta, sempre finalizavam a disputa com uma corrida no píer. Porém Eveli parou bruscamente.
— O que foi? Não vai correr? — disse Murat.
— Não somos mais crianças... já passei dessa fase de apostar corrida — respondeu a aniversariante, tentando recuperar o fôlego.
— Sim, é verdade, você está fazendo dezoito, "a adulta" — disse Murat em tom de deboche enquanto se aproximava dela.
— Posso não ser completamente adulto ainda, mas não sou mais uma criança, isso eu posso garantir.
— Bobagem. Isso é desculpa porque sabe que perderia a corrida. Está evitando a vergonha — imposta ainda mais, apertando as bochechas dela.
— Então se prepare para a visão das minhas costas — retrucou Eveli, novamente tirando a mão de Murat de sua bochecha.
Eveli disparou, e Murat, por alguns segundos, apenas admirou o corpo dela em movimento. Adorava vê-la correr. O cabelo antes preso no alto da cabeça, agora estava se movendo livremente, com os raios do sol emoldurando-o e o vento brincando com os fios.
— Vamos ver dessa vez quem vai ganhar, Murat Ilmaz — um jovem concorrente conjunto.
Murat despertou da inércia e deu a arrancada. Poucos segundos depois, já estava bem próximo ao seu adversário. Manteve o ritmo, pois não pretendia ultrapassá-la tão rápido, queria deixar-la saborear um pouco mais a esperança de vencer.
Mas assim que se aproximaram da igrejinha que ficaram na reta final do píer, ele acelerou e a ultrapassou. Eveli tentou dar uma última arrancada, mais era tarde demais. Ele venceu. Mais uma vez.
— Não foi dessa vez, tartaruguinha — disse o vencedor, virando-se.
Eveli estava um pouco envergada, com uma mão na perna e a outra na barriga. Tentava recuperar o fôlego. Olhou para ele com os olhos faiscando.
Murat retratou os punhos em sinal de vitória, estava comemorando. Ela estava brava, com as bochechas vermelhas — em parte pela corrida, em parte pelo sol, em parte por estar com raiva. Quando ela se aborrecia, o rosto queimava.
Murat a instigou a apostar corrida porque queria vê-la como ela estava naquele exato momento. Os cabelos revoltados em um lindo tom. Uma vasta cabeleira num tom avermelhado, fios longos e volumosos que ondulavam pelas costas.
Era como se a base marrom fosse, mas com nuances avermelhadas espalhadas pelos fios, que ao sol, assumiam uma cor ainda mais vibrante.
Além disso, tinha também os olhos, um tipo de cor característico dos Diannes. Âmbar ou avelã. Alguns tendiam mais para o esverdeado, outros mais para o amarelado, outros ficaram em um meio termo. Adan, o pai dela, era meio termo, às vezes os olhos dele deixam um pouco mais verdes, outras vezes mais amarelados.
Já Eveli, tende mais para o verde, com um castanho-claro ao redor da íris e pintinhas amarelas. Por causa da parte castanha, que às vezes parecia mais cor de mel, os olhos dela eram classificados como avelãs, mas isso oscilava um pouco. Como ela tinha olhos grandes, expressivos, a cor ficou muito em evidência.
Quando ela se agitava, ou estava ao sol, os olhos faiscavam, deixavam claro, assumiam uma cor verde-amarelada muito vívida, a parte castanha parecia diminuir esses momentos.
Quando pequena, os colegas chamaram de Bruxali. Isso era devido aos cabelos e aos olhos diferentes. Ela não gostava, porém, quanto mais se aborrecia, mais resíduos vermelhos e com os olhos faiscando. Mas as crianças não se intimidavam, pelo contrário, juntavam-se em coro para chamar-la de Bruxali.
Murat à defesa. Como era alguns anos mais velho e atleta da escola, todos o respeitavam. Apelidava também algumas crianças e depois ameaçava se espalhar pela escola.
Não era muito cristã essa atitude, mas ele oscilava entre a religião do lar onde vivia, que era a muçulmana; o cristianismo e o nada. Não que ele fosse atéeu, não era isso.
O que ocorreu foi que, às vezes, confuso com essas duas religiões, achou melhor não seguir nenhuma das duas.
Havia dias que se via mais cristão, outros dias tendia para algumas práticas muçulmanas. Por exemplo, a maneira como orava quando resolvia falar com Deus, ajoelhando-se sobre um tapete e observando a posição do sol, isso porque os muçulmanos rezam apresentações para Meca, que é a cidade sagrada deles.
Por muitas vezes, ele misturava as coisas, seguia a liturgia muçulmana, mas no final dizia: "Em nome de Jesus Cristo, amém". Quando recebeua bronca pelo modo como rezava, resolveu em seu íntimo que o melhor seria não ser nada, embora esquecesse disso toda vez que tinha uma necessidade que julgava que só Deus poderia resolver.
Olhando Eveli naquele exato momento, com aquela linda cabeleira revolta por conta da corrida, como chamas em volta de sua cabeça, aqueles olhos faiscando e as bochechas muito vermelhas, lembrado-se do apelido de infância.
Há muito tempo que ninguém a chamava assim, inclusive ele, pois em alguns benefícios, quando eram só os dois e ele queria provocá-la, desenterrava esse apelido.
— Por que você está me olhando desse jeito, Bruxali? — disse Murat, já está se preparando para o pior.
Ele estava certo, ela esqueceu que precisava se recuperar do esforço, grunhiu algumas palavras inteligíveis e foi como um raio para cima dele. Murat assumiu uma posição de defesa.
Ele tentou por um tempo segurar as mãos delas, mas não logrou êxito, uma vez que ria tanto que isso o deixava sem forças para conseguir imobilizá-la. Enquanto isso, ela aproveitou essa pequena vantagem para desferir alguns golpes nele.
Eveli desenvolveu bem mais nos últimos três anos, tinha quase um metro e setenta, então não ficou como uma figura tão inferior ao lado de Murat. Ela era atlética, passou a praticar no ensino médio, além de ser acostumada a pedalar e nadar.
Não fez o estilo de líder de torcida, apesar de ter beleza e preparo físico, porém, com uma personalidade forte que tinha, considerava muito banal ficar, simplesmente, torturando por alguém.
O que ela queria mesmo era ter as próprias conquistas e não ficar, meramente, de plateia. Apesar disso tudo, de todo esse preparo, Murat ainda conseguiu ganhá-la facilmente, e isso a irritou sobremaneira.
Quando Murat conseguiu controlar um pouco mais o riso, segurou firme nos dois pulsos dela. Por fim, imobilizou-a, puxando-a um pouco mais para si.
Ela bufava com algumas mechas do cabelo no rosto, o que fazia alguns fios se movimentarem com as baforadas.
Murat pôde examinar bem de perto os olhos dela com uma linda luz de um sol que anunciava a primavera.
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