PRELÚDIO | II
Eu não sabia o que fazer.
Estava - ou era - escuro, para onde quer que eu tenha ido.
Eu não sabia o que fazer.
Cheirei o chão. Eu queria voltar. Queria voltar para aquele homem que cuidava de mim. Queria voltar a ser aquele para quem ele olhava através dos meus olhos.
Eu não sabia o que fazer.
Não sabia o que era.
O que sou?
Eles, os humanos, as criaturas que andam sobre as patas traseiras e nos olham com medo, costumavam me chamar de... Eu não consigo lembrar. Eu deveria lembrar? Acho que sim.
Lembro de quando aquele homem me pegou em seus braços e chorou olhando para meus olhos, ele estava vendo alguém ali, nos meus olhos, alguém que estava sob mim, sob minha pele. Não era eu a quem ele via. Ele chamou-me... Filho.
Olhei ao meu redor. Era tudo branco. Parecia algum lugar onde eu já estivera antes. Era apertado, um cubículo extremamente luminoso - e branco.
O homem gritou um pouco comigo. Parecia assustado.
Depois disse... Volte.
Por que eu deveria voltar? E, se voltasse, para onde eu voltaria?
Ele chamou aquele lugar de... Esse é seu novo lar. Esse é seu novo lar era bonito, metade de um solto repleto de coníferas se aglomerava em um lado, a outra metade era feita de solo batido e, em alguns pontos, eu só conseguia ver uma pequena construção. Tinha um lago também, eu o vi cavar o lago e depois enchê-lo. Esse é seu novo lar. O homem repetiu. Não sabia porque ele ficava sussurrando aquilo. Esse não parecia ser o nome real daquilo. Esse é seu novo lar parece grande de mais para um cercado.
Lembro quando o homem segurou minhas orelhas e chorou. Ele disse que aquilo não se tratava de nenhuma provação. Maldição, ele grunhiu entre um choramingar e outro. Bruxaria, concluiu de modo assustador.
Maldição... O que seria uma maldição? Eu seria essa maldição? Talvez fosse.
Quando ele me deixou ir, senti algo revirando-se dentro de mim, algo quente e grudento que tentava erguer mãos e cabeça para fora de mim. Queria ver essas mãos e cabeça fora de mim. Talvez pudessem me explicar o que havia de errado comigo.
Você está livre, meu filho!, disse o homem e apontou para as árvores fora do cercado.
Olhei para ele por dois segundos, ele disse algo ininteligível, então chorou um pouco mais e acenou. Ele disse... Adeus. Talvez esse fosse meu nome e o homem estava me chamando para voltar. E eu fiquei ali, dividido, uma bifurcação se abriu em minha mente.
De pé, entre as árvores e o chão coberto por um lençol pintado em muitos tons de verde, não sabia o que ele queria. Vai meu filho. Está livre agora. Livre para sempre.
E eu fui. Livre para sempre. Um Adeus livre para sempre.
Incessante e incompreensivelmente, sinto falta daquele homem, de quando ele me chamava de Filho, de quando ele me dava comida e jogava uma bola vermelha para eu brincar.
Ele era triste. Eu me tornei isso também. É como se nada pudesse preencher o vazio que foi criado aqui. Nada, a não ser os olhos tristes daquele homem.
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