Salvando o Natal...
Acordou com as lambidas ásperas de Apolinário. Sentiu a cabeça dolorida e a visão turva, que aos poucos foi se ajustando. O gato mentor ao seu lado olhou-a com certo rancor e miou para ela:
— Eu avisei.
Escutou um gemido e um lamento profundo, levantou-se, sacudiu a neve que estava sobre seu corpo e atravessou os arbustos, deparando-se com a cena mais chocante de toda sua vida. Bem ali, na sua frente estava o lendário trenó vermelho, enorme e carregado de presentes, e também seu condutor, o bom velhinho. Érica aproximou-se e viu o Papai Noel agarrado à perna, reclamando e choramingando. Averiguou o trenó e achou estranho a ausência dos animais de tração, contornou-o e acocorou-se perto do bom senhor.
— Está tudo bem?
— Óh! Não minha pequena. Não mesmo. — Ele encostou-se ao trenó e soprou ruidosamente enquanto seus lábios tremiam. — Esse acidente vai arruinar o Natal.
Érica levantou-se de supetão e levou as mãos à cabeça, percebendo então o enorme rasgo que havia no chapéu. Retirou-o para avaliar o estrago e ficou bestificada, entristecida e envergonhada, pois, por culpa de sua rebeldia havia estragado um artefato mágico e ainda arruinado o Natal.
— Cadê as renas?
Ele cruzou os braços emburrado e a fitou de soslaio por algum tempo, depois relaxou a face e respondeu de forma penosa.
— Quando caímos elas fugiram. Sem elas, é impossível fazer as entregas, sem falar que machuquei a perna e não poderei prosseguir... O Natal está arruinado. Tantas crianças chorarão por não receberem seus presentes e passarão a desacreditar na magia... Estamos arruinados! — Assoou o nariz e encheu os olhos de lágrimas.
Érica entregou-lhe seu chapéu mágico com uma grande súplica no olhar e disse:
— Sei que é bom com essas coisas. Arruma ele pra mim que eu faço as entregas.
Apolinário tossiu engasgando-se e arregalou os olhos vítreos amarelados. Papai Noel ergueu uma sobrancelha e indagou:
— Tem certeza? É preciso muito velocidade.
— Claro! Tenho minha vassoura e... E... E só preciso achá-la.
— Seria aquela ali? — O bom velhinho apontou para um pedaço de madeira nodoso como um galho velho, que emitia faíscas e fumaça.
Érica o desenterrou da neve e assombrou-se ao ver que se tratava somente da metade de seu transporte. Ela procurou ao redor e logo encontrou a outra metade enterrada sob a neve. A vassoura havia se partido no acidente, e daquele jeito estava imprestável. Sentou-se e começou a choramingar por se dar conta de que arruinara dois artefatos mágicos que a própria Deusa lhe deu.
— Ei, dê-me aqui. Eu arrumo isso pra você, só não chore.
Ela saltitou de felicidade, mas o bom senhor disse que levaria tempo e que não havia mesmo nada a fazer para salvar o Natal. Érica caminhou em círculos por alguns minutos e percebeu as sombras das árvores se alongando por conta do por do sol. Estalou os dedos e sorriu, Apolinário suspirou enfadonho e pessimista.
Érica desenhou no chão um círculo de invocação, e fez o poderoso feitiço, o qual fora alertada diversas vezes sobre o uso irresponsável do mesmo. Em instantes, a Águia de vento estava voando ao seu redor. Ela explicou toda a situação e preocupada com as crianças e com a magia do mundo suplicou por ajuda, a águia aceitou sem hesitar. Atrelada ao trenó partiu arrastando-o pelo mundo seguindo as coordenadas gritadas por Érica, que consultava tudo num enorme caderno velho. A água de vento voava tão rápido, que a noção de tempo era quase inexistente durante o voo.
Pousaram num telhado de uma casa onde todos já estavam dormindo. Espiou pela chaminé, mas nada viu, pois estava muito escuro e além de tudo, não possuía habilidades de escalada. Ponderou durante um tempo e eis que teve outra ideia. Apolinário miava tentando desencorajá-la de usar novos feitiços, mas ela não lhe deu ouvidos. Executou mais um ritual de invocação e transportou para perto de si o Trasgo guardião.
Com um feitiço telepático ela apontou a porta da casa e pediu que o grandalhão a abrisse, e sem que houve tempo para explicar os detalhes, ele golpeou a porta com sua clava e a colocou no chão. Érica saltou para dentro da casa rapidamente e deixou os presentes aos pés da árvore iluminada com luzes coloridas. Ficou contente com a primeira entrega feita, e partiu para a próxima, depois para outra e para outra. Com a ajuda do Trasgo, o tempo de cada entrega diminuía drasticamente.
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E aí pessoas, o que estão achando do conto? rsrsrs
Espero que gostem e não esqueçam de recomendar. ^^
Beijos da Pri!!!
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