O pajé louco
Nunca vi Jacira tão preocupada comigo.
Minha capitã parecia uma mãe, eu, um filho teimoso que protestava em deitar naquela cama e ser examinado por um pajé.
Logo o pajé!
Odeio o pajé, não vou com a cara daquele homem!
Tentei sair daquela tenda, cheirando álcool e remédio, um cheiro de hospital montado provisoriamente, aos poucos, soldados feridos eram trazidos e os médicos retiravam as balas do corpo deles.
Em mim, não tinha bala no meu corpo, mas sim um borrão de metal derretido colado na minha pele.
Estava apenas com uma cueca, achei desnecessário isso, Jacira ao meu lado, batia no borrão de metal grudado no meu peito.
— Intervenção divina! Tupã deve te amar muito!
Não sabia se ria dela ou chorava pela sua ignorância, se ela soubesse que Tupã é apenas mais um ser neste imenso universo, teria me dito: Vallerryan, você que é o cara! Te amo Vallerryan!
Pajé entrou, fazendo sua pose de todo-poderoso, com uma cara de tamanduá dar nojo!
— Aetler Vallerryan, vou tirar um raio x seu e ver se os ossos estão no lugar.
Ele ligou o equipamento, mandou eu fechar os olhos, jogou uma luz no meu corpo, deixando a minha pele e carne invisível, mostrando apenas os ossos.
A luz vinha do teto, parecia uma lâmpada quadrada. Tecnologia alienígena!
É claro que é alienígena, pois, terráqueo não tinha capacidade de descobrir uma invenção dessas, eles aprenderam isso depois que Tupã deu seu passeio no Brasil.
— Está tudo no lugar pajé Tamoio? — Jacira tinha um tom de preocupada quando fez esta pergunta.
— É incrível, nenhum fratura.
Desligou a luz, abri os olhos.
— Estou liberado?
— Não. — Disse pajé, pegando uma agulha. — Vou aplicar anestesia para tirar o borrão, sua pele deve sair junto.
— Ai meu Deus! Mereço!
Jacira deu um riso nervoso. Assisti o pajé injetando anestesia no meu peito, depois, passando álcool, foi puxando o borrão de metal, revelando minha pele intacta.
— É incrível. — Disse pajé. — Jacira, Vallerryan vai ficar de quarentena, provavelmente, aquela luz foi uma arma biológica, atingido nele, ele precisa de três dias de observação.
Levantei da maca, indignado.
— Vamos parar com a palhaçada, que arma biológica? Só seu for seu nariz!
— Meu nariz está mais protegido do que você Vallerryan. — Olhou para Jacira. — Contando a partir de Jacira
— Então deixa eu dar um murro nele e vamos ver a proteção que tem.
Jacira fez uma cara, olhou para mim e disse:
— Prometo para você que vai me ter inteiramente quando ficar tudo bem.
— Sei, isso não é novidade.
— Então não quer?
Odeio dizer, mas, quando mulher sabe o ponto fraco de um soldado, não existe colete que proteja os ataques dela.
— É claro… Acha que ficaria sem você?
Ela sorriu e saiu da sala.
Pajé, com sua roupa branca, parecendo um fantasma com uma cara morena, fechou a porta, trancou, pegou uma agulha de adrenalina.
— Estávamos esperando por este momento!
— Estávamos? Como assim?
Quando enxerguei a agulha, meu coração só faltava sair pela boca.
Pensei que ele iria me matar.
Levantei da maca, mas, percebi que tinha perdido os movimentos do meu corpo.
— Aquilo não era só anestesia, né? Desgraçado!
— O escolhido da Aganipe, a arara-azul que perturbava o mundo de Tupã, alterando moléculas dos elementos, desequilibrando a natureza, fazendo os elementos da tabela periódica sair do estado sólido e ir para líquido ou gasoso, mudando as leis físicas dos elementos, apenas algo poderia ferir a Aganipe, uma flecha feita com madeira de Tupiwane, a árvore, cuja madeira pode matar os deuses, impressionante Vallerryan. — O desgraçado sentou do meu lado, mostrando a agulha em cima do meu rosto. — Sabe o que é isso? Adrenalina!
Ele virou a agulha, pegou meu braço direito, deu umas tapas forte, revelando a veia. Amarrou uma borracha, passou um álcool com algodão, injetou adrenalina, foi a seringa inteira de cinquenta miligramas.
O suficiente para matar um boi, de parada cardíaca.
Não sei o que ele fez comigo, eu não consegui me mexer, mas estava tremendo, meu coração acelerou, senti o gosto metálico na minha boca.
Comecei a ouvir um zumbido dentro da minha cabeça.
Do nada, ouvi o pajé exclamar de felicidade.
— Isso! Continua!
Olhei para o pajé, a agulha da seringa estava derretendo, caindo no chão.
Os metais estavam derretendo, ficando no estado líquido. O vidro estava vermelho e começando a trincar.
Os equipamentos eletrônicos faziam barulho, aos poucos, tudo na sala que era metal, vidro e plástico, estava derretendo.
— Não para! — O pajé parecia estar sentindo um prazer estranho em ver aquilo. — Isso, vai mais Vallerryan, continua!
O vidro que estava na parede caiu como uma água, então, todo aqueles líquidos quentes no chão, começaram a flutuar e vir na minha direção.
Pensei que estava tendo pesadelo.
Entrei em pânico.
Não tinha uma arma para matar o pajé, não tinha movimento.
Só sabia tremer.
Parecia que quanto mais tremia, mais os líquidos vinha na minha direção.
— Vallerryan, você despertou o poder da Aganipe, a morte dela tinha trancado os sete monstros lendários, um deles sabe onde foi colocado o livro código do portal da esfera armilar, apenas a Aganipe pode fazer o portal ficar aberto para sempre, nunca mais será fechado. Agora, você será usado para fazer isso.
— Maldito!
Lembrei do Tupã me dizendo que me mataria, agora faz sentido, sou uma ameaça que ele deveria ter eliminado há muito tempo.
Talvez Tupã acreditava que eu poderia fazer uma diferença.
Comecei a imaginar aquele líquido ir à direção do pajé, queimá-lo.
Aquele homem ria como doido.
O líquido de ferro, misturado com vidro e plástico, virou na direção dele.
— Ah! Vallerryan, soldado ingênuo! Antes de me matar, você vai dormir…
O líquido estava indo ao encontro dele, infelizmente não era rápido o suficiente para atingi-lo.
Ele foi recuando, até ficar contra uma parede de madeira.
Ele continuava rindo.
— Do que você está rindo seu miserável? — Fiz muito esforço para fazer esta pergunta.
Minha visão começou a escurecer.
— Isso Vallerryan, dorme!
Pensei na Jacira, gritei por ela.
Minha voz saiu rouca e baixa.
— Te dei dez miligramas de oxitocoma, um sonífero que imobiliza o paciente, até mesmo os músculos da garganto e do corpo, qualquer movimento da boca é impossível.
O líquido começou a evaporar, se eu não conseguia atacá-lo, talvez poderia fazer ele morrer intoxicado.
O pajé foi até um armário e pegou uma máscara de gás.
Senti tanta raiva.
O ferro solidificou, caindo no chão, o vidro também.
O plástico queimou, deixando o ambiente escuro e cheio de fumaça de gás carbono.
No meio daquela fumaça escura, vi o rosto do pajé bem próximo da minha cara.
— Durma passarinho! Cacique de Mines está te esperando.
Para minha felicidade, Jacira abriu a porta!
— Vallerryan! Afasta-se dele pajé!
Ela apontou uma arma para o pajé.
— Ouvi barulho de algo caindo e umas risadas, afasta-se dele agora!
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