Helheim. Terra dos mortos. Algumas horas antes.

Helheim continuava a mesma de sempre, não havia mudado em nada, seu visual assombroso com inúmeras árvores mortas, rios de água roxa, e caveiras por quase todo o lugar ainda continuavam a tornar o lugar assustador. Garn se mantinha firme e forte vigiando a entrada de Helheim, após concluir os treinos com sua deusa, o cão de Hel voltou a sua função antiga, mas claro, muitas vezes visitava o castelo dos mortos para passar o tempo.

A agora Imperatriz da Escuridão, e Deusa dos Mortos Hel, continuava com seu trabalho de governante em seu palácio. Inúmeros soldados iam e voltavam trazendo diversos relatórios sobre o fluxo de almas em seu mundo. Hel estava entediada em seu trono, fazer sempre a mesma coisa era cansativo, porém necessário para se manter a ordem no local. Hel às vezes sentia falta das aventuras, de partir rumo aos nove reinos em uma jornada, como fez quando Surtur despertou a primeira vez.

Conhecer diversos lugares, fazer novas amizades era algo de que Hel sentia falta, e também as batalhas. Lutas e mais lutas que a tornaram ainda mais forte e possibilitaram combater vários seres poderosos. Defender os outros mundos permitindo que posteriormente o seu também fosse salvo, era algo que Hel se orgulhava.

Após o ultimo dos soldados esqueleto entrar no castelo para dar seu relatório e depois sair, outro veio de encontro a Hel com uma carta mágica vinda de Asgard. A carta tinha a forma de uma ave pequena com asas roxas, ao conjurar uma magia fazendo com que a ave voltasse à forma de papel, Hel conseguiu entender a mensagem.

"Vá para Nordicia! É uma emergência. E mande lembranças a todos. - Skuld."

- Parece que as coisas vão começar a esquentar novamente. – dizia Hel sorrindo. – Reforcem a guarda do castelo! Avisem o Garn e coloquem Fenrir de prontidão! – gritou Hel dando ordens para seus soldados.

- SIM SENHORA! – gritou o soldado esqueleto indo para a saída.

Hel jogou o papel mágico ao vento e com suas chamas negras, incinerou o papel o transformando em cinzas, quando estava pronta para sair de seu castelo, pôde olhar uma figura um tanto conhecida parada em sua porta, com um cajado mágico em mãos, e de braços cruzados, sua capa roxa e pouca armadura pelo corpo.

- Saindo Hel? – perguntou Gullveig com um sorriso.

- O que faz aqui bruxa? – respondeu Hel com outra pergunta.

- Apenas dando um pequeno passeio como sempre. – respondeu a bruxa ficando ao lado de Hel.

- Sei... Usar magia proibida para se mover livremente por aqui foi experto de sua parte, eu admito. Mas... Espero que você não apronte como da última vez. – afirmava Hel.

- Eu? Eu não aprontei, apenas ajudei alguém a ir matar a saudade do que era seu somente isso. E, aliás, ele voltou não foi? – dizia Gullveig sorrindo.

- Você e aquele velho só me aprontam, será que não podem descansar como todos os outros? – questionou Hel se irritando um pouco.

- Não seja tão rude minha cara Hel, se não podemos sair daqui já que estamos mortos, pelo menos até reencarnar-mos podemos aproveitar nosso tempo de maneira divertida. – afirmava Gullveig com um sorriso malicioso.

- Vocês me cansam! Estarei fora por um tempo, Garn cuidará das coisas por aqui junto com Fenrir. Espero encontrar este lugar em ordem bruxa. – afirmou Hel começando a levitar no ar.

- Sem problemas. - Dizia Gullveig dando uma leve piscada para a deusa dos mortos.

- Espero que... – de repente Hel parou no ar com uma expressão um pouco assustada em seu rosto.

Gullveig fez uma cara séria, as duas guerreiras estavam sentindo uma forte energia mágica sendo emitida em Helheim. Uma energia que se assemelhava a de Hel, vindo das profundezas de seu mundo.

- Gullveig... – disse Hel.

- Eu sei. Eu lhe darei cobertura! – exclamava a bruxa levitando no ar também.

As duas voaram em direção as profundezas do mundo dos mortos em alta velocidade, tinham pressa em chegar a tal destino, pois era lá que as almas de poderosos inimigos estavam selados, se algo estivesse acontecendo por lá, significaria que de alguma forma, alguém estava tentando libertar tais almas, isso poderia trazer grande perigo para Helheim ou até mesmo para os nove reinos.

Após descerem os desfiladeiros de Helheim, passar por florestas e campos de árvores mortas, Gullveig e Hel chegaram a seu destino, as casas abandonadas, o pântano, tudo estava normal, porém na grande plataforma que havia no lago que dava acesso ao selo dos generais de Surtur, Gullveig avistou a silhueta de alguém tentando quebrar o selo feito por Hel, à deusa dos mortos se irritou e partiu ao encontro de seu invasor, Gullveig seguiu Hel logo em seguida.

- Então... Posso saber o que uma mosca faz no meu jardim? – questionava Hel pousando atrás do ser a sua frente, Gullveig veio logo em seguida ficando atrás de Hel.

A deusa percebeu que parte do selo mágico estava quebrado, o que a deixou um tanto espantada, sabia que seu oponente não era para brincadeira já que quebrou parte do selo.

- Deusa dos mortos... Rainha... Imperatriz... Quantos títulos. – dizia a voz de uma mulher.

- O que você faz aqui? Quem é você? – questionou Hel.

- Entendo... Não há culpo por não me conhecer, afinal este é nosso primeiro encontro. – dizia a mulher se virando.

Cabelos prateados, uma pele morena, roupas pretas com detalhes em azul e dourado e lindos olhos azuis. Ficando frente a frente com Hel, Anúbis a deusa dos mortos de Egípcia se revelava para Hel e Gullveig.

- Eu sou Anúbis, a deusa dos mortos de Egípcia. É um prazer vê-la finalmente Hel. – dizia Anúbis se apresentando.

- E o que veio fazer em meu reino? – perguntava Hel novamente.

- Eu? Eu vim para pegar algo. Porém o seu selo é poderoso demais até para eu quebrar, levarei um tempo para destruí-lo por completo, mas consegui o que queria. Ou pelo menos parte do que eu queria... – dizia Anúbis se afastando para os lados, revelando a forma congelante da rainha de gelo de Jotunheim, Skadi.

- Acha que pode invadir meu mundo, roubar meus prisioneiros e sair sem que eu percebesse? – questionou Hel irritada.

A governante de Helheim sentia que a alma de Skadi havia voltado a vida, sua alma estava completamente restaurada, assim como Urd havia ficado após Jormungand lhe corromper com a Essência do Medo e as Armas Primordiais.

- Não, eu não acho. Porém. Eu sairei mesmo assim. – afirmava Anúbis invocando uma foice com sua magia.

- Obrigada por me libertar. Deixe que eu cuido da Hel. – afirmava Skadi sacando sua espada de gelo.

- Não. Você não vai lutar, pelo menos não agora. – dizia Anúbis conjurando uma magia que tele transportou Skadi para algum lugar desconhecido.

- Gullveig, não interfira. – afirmou Hel emanando um pouco de magia em torno de seu corpo.

Gullveig não disse nada, apenas se afastou flutuando para o céu, tomou uma boa distância das duas deusas a sua frente. Hel e Anúbis se encararam por alguns minutos, quando Hel movimentou levemente sua perna direita, Anúbis partiu para cima da deusa com sua foice pronta para dar um corte cruzado.

Hel se abaixou desviando do golpe e logo desferiu um soco no estomago de Anúbis a lançando para trás, a deusa de egípcia se equilibrou e partiu novamente ao ataque, Hel conseguia desviar se movimentando rapidamente pelo espaço da plataforma que tinha um formato oval e era bastante espaçosa, Anúbis desferia golpes rápidos com sua arma, obrigando Hel a ficar na defensiva, após desviar de mais dois cortes, Hel rapidamente chutou o rosto de Anúbis com força a lançando ao chão.

A deusa caiu girando pelo solo da plataforma, se levantou aos poucos com um pouco de sangue escorrendo pelo nariz, após enxugar com sua mão, Anúbis sorriu, a deusa guardou sua lança e partiu para cima de Hel sem armas, apenas com as mãos, porém estavam banhadas em magia. Hel estava com uma expressão séria em seu rosto, com um movimento de seus dedos, a deusa dos mortos fez o mesmo que sua adversária e correu para o ataque.

Dos céus, Gullveig acompanhava tudo usando uma magia de visão ampliada, pois o movimento das duas deusas era praticamente impossível de se ver a olho nu. Seus ataques eram rápidos de mais, aos poucos, a plataforma da qual estavam começava a tremer, fazendo com que parte da água do rio subisse.

As duas deusas dos mortos desferiam golpes rápidos e precisos uma na outra, porém Hel estava com vantagem, os ataques de Anúbis não acertavam em cheio, estava dando danos mínimos em Hel que se defendia com bastante agilidade. A governante de Helheim com suas mãos banhadas em chamas negras, conseguiu desferir um golpe no rosto de Anúbis, após desviar de um soco rápido. Logo depois do impacto, Hel se movimentou rapidamente e começou a desferir socos ainda mais rápidos e intensos que jogaram a deusa de Egípcia ao chão novamente.

- Interessante... Eu não esperava que você fosse tão forte assim. – afirmava Anúbis se levantando com dificuldade e ferimentos pelo rosto.

- Já acabou? Eu tenho um lugar para ir. – dizia Hel com tédio estampado em seu rosto.

Anúbis esticou seus braços e conjurou uma rajada magica que foi em direção a Hel, a governante de Helheim fechou seus olhos se concentrando e então, uma armadura de escuridão se formou a sua volta com sua magia, quando o golpe se aproximou, Hel o parou com apenas uma de suas mãos. Logo depois, o jogou para o lado, a rajada atingiu com tudo o pântano em volta causando uma enorme explosão que derrubou árvores, afastou algumas almas de perto e criou uma enorme cratera onde a água do pântano começava a preencher.

Hel partiu para cima de Anúbis atacando com velocidade, dando poderosos socos que obrigavam sua oponente a se manter na defensiva, Anúbis estava sofrendo por não poder atacar. Porém com um movimento que Hel não esperava, Anúbis conseguiu segurar um dos braços de Hel e desferir um poderoso chute em volto com magia na governante de Helheim, que foi lançada para trás. Hel se levantou, e com tapinhas leves em sua armadura, tirou a poeira causada pelo golpe, à armadura de Hel estava intacta sem um único arranhão.

A deusa dos mortos sorriu e com um movimento de suas mãos, conjurou um poderoso Buraco Negro, a esfera de gravidade foi lançada em direção a Anúbis que conjurou o mesmo tipo de golpe, as duas esferas se atraiam com força, Gullveig teve que conjurar um escudo a sua volta para não ser sugada para a escuridão total.

Logo após alguns minutos, os golpes explodiram no centro da plataforma, Anúbis aproveitou a fumaça gerada pelo impacto e saiu da densa nuvem de fumaça atacando Hel, a governante de Helheim desviou do golpe por pouco, mas logo se pôs na defensiva, bloqueava com exatidão cada golpe de Anúbis que parecia estar mais rápida e um pouco mais forte, as duas deusas travavam uma batalha feroz, golpes rápidos ganhavam força, traços de magia das duas deusas eram lançados ao ar conforme o choque de seus punhos.

A batalha seguia um ritmo acelerado até que Hel novamente conseguiu afastar Anúbis. Hel conjurou suas Labaredas Infernais obrigando a deusa de Egípcia a recuar, o braço da deusa foi queimado pelas chamas negras de Hel que agora, planava no ar observando Anúbis, Hel tinha um pequeno arranhão no rosto, Anúbis tinha mais danos além do braço queimado, sangue escorria saindo de sua testa, além de inúmeros danos pelo corpo.

Quando Hel estava pronta para conjurar outra magia, a deusa parou, viu que ao lado de sua oponente, um portal magico se abria, revelando a figura de uma garota com um capuz branco cobrindo seu rosto até a cintura, com apenas uma abertura no rosto, revelando seus olhos amarelos. Por baixo do manto dava a perceber que a garota usava uma roupa de batalha vermelha, com detalhes em azul.

- Se você está aqui... Significa que deu tempo não é Madjed? – questionava Anúbis.

- Sim, os preparativos estão prontos, assim como a confirmação de que Skadi foi enviada para aquele local. – respondia Madjed.

- Ótimo, já não preciso mais ganhar tempo aqui... Queria pelo menos ter pegado os grandes, mas a rainha de gelo vai servir por enquanto... Vamos... – dizia Anúbis começando a entrar no portal magico de Madjed.

- Não vai escapar! – gritou Hel laçando uma rajada de chamas negras em direção as duas.

- Nos encontraremos de novo... Hel... – afirmou Anúbis enquanto desaparecia pelo portal.

As chamas negras atingiram com força o chão onde antes Anúbis se encontrava. Hel soltou um suspiro de raiva e pousou na plataforma novamente, Gullveig veio logo atrás observando enquanto Hel voltava ao normal.

- O que exatamente ela queria? Acredito que libertar Skadi não era seu único objetivo. – dizia Gullveig.

- Não importa. Isso me deixou com ainda mais raiva. Ninguém entra aqui e rouba uma alma minha. – disse Hel com muita raiva.

Hel caminhou até o selo, ao esticar sua mão direita, um circulo magico surgiu tendo inúmeras camadas, a deusa refez o selo colocando ainda mais proteção que antes. As rachaduras se fecharam, e para evitar outro assalto a seu mundo, Hel conjurou uma enorme barreira cercada com chamas negras em volta do lugar. Gullveig e Hel começaram a levitar no ar, ficando fora dos limites da barreira.

- E o que você fará? – questionou Gullveig olhando para Hel.

- Vou para Nordicia. Skuld me mandou ir para lá mais cedo, acho que de alguma forma as duas coisas podem estar ligadas. – afirmava Hel começando a se afastar. – Bruxa, vigie este lugar com Garn e Fenrir por mim.

- Sem problemas... Boa sorte em sua nova jornada. – afirmava Gullveig com um sorriso malicioso em seu rosto.

Aos poucos a deusa dos mortos e governante de Helheim começava a partir de seu mundo, rumo ao mundo humano, onde poderia encontrar respostas para suas duvidas e onde poderia saber mais sobre seu novo inimigo.