Profundezas de Helheim. Dez dias atrás.

- N-não pode ser... Você é... Mãe? – dizia Hel assustada e surpresa.

Hel estava sem acreditar. A pessoa que se revelava a sua frente era ninguém menos que sua mãe, antiga rainha dos mortos conhecida como Hella, uma bela mulher de cabelos roxos, com um uniforme de combate preto com detalhes em verde.

- É bom revê-la... Minha pequena Hel! – dizia sua mãe com um sorriso.

- O que... Como... Você... – Hel tentava dizer, mas estava surpresa demais para formar uma pergunta.

- Acalme-se. Eu vou tirar todas as suas dúvidas, primeiro, parabéns por derrotar Nidhogg. – dizia Hella abraçando sua filha.

- Então... Aquela sensação... A voz que me ajudou... Era você? - questionou Hel.

- Sim. Era eu, mesmo que por um breve momento, consegui lhe ajudar. - respondia sua mãe com um sorriso.

- Onde você estava... Todo este tempo? – dizia Hel com uma voz triste.

- Me desculpe, mas eu lhe contarei tudo, acho que agora que você veio até aqui, creio que esteja pronta para controlar aquilo. – afirmava Hella.

- Aquilo? Como assim? – questionou Hel.

- Primeiro, tente se acalmar para que eu posso lhe contar toda a verdade sobre suas dúvidas, minha pequena. – respondia Hella.

Hel se acalmou e então derramou algumas lágrimas em meio ao abraço com sua mãe, logo depois, as duas voltaram a se olhar e Hel fazia a cara de quem queria saber tudo.

- Bom, vamos começar do início, está bem Hel? – questionou Hella.

- Certo. Então vamos ao que interessa. – respondeu Hel.

Hella conjurou uma magia antiga e ao tocar na testa de Hel, Hella começou a compartilhar suas lembranças com a atual governante de Helheim. Hel se sentiu um pouco tonta, mas logo as imagens em sua cabeça começaram a ficar mais claras como o dia.

Hel se viu em um período mais antigo, Helheim era um lugar diferente, sua mãe usava o elmo com galhadas negras, visto antes dentro do castelo escondido, a atual rainha de Helheim estava no castelo dos mortos, em seu colo estava um pequeno bebe, sua filha Hel. Todos viviam tranquilamente no castelo vigiando as almas dos mortos que chegavam a Helheim, Muitos anos se passaram e a pequena criança havia crescido, Hella sentiu que a força que residia dentro de sua filha, era uma força que um dia poderia vir a supera-la de alguma forma.

Nesta mesma época, Fenrir havia sido banido por Odin a vagar por Helheim, com medo da fera causar o Ragnarok. Hella e Odin entraram em conflito por tal assunto, mas nenhum dos dois se saiu vitorioso e Hella resolveu aceitar o lobo em seu mundo. Enquanto Fenrir se acostumava com seu novo lar sob os comandos de Hella, um poderoso dragão surgiu vindo de Midgard, seu nome era Nidhogg, o dragão negro invadiu o mundo dos mortos e começou a devorar as almas que chegavam a Helheim.

Hella travou uma poderosa batalha contra o dragão, e o derrotou, porém como Nidhogg havia devorado muitas almas, seu poder havia aumentado, foi então que Hella usou sua força para bani-lo e sela-lo nas profundezas de Helheim, Hella também lançou um poderoso feitiço que impedia o dragão de comer as almas que habitavam o lugar. A atual governante de Helheim temeu que mais acidentes como este fossem acontecer novamente, e então ordenou que Garn, cuidasse da entrada de Helheim, antes o cão apenas fazia a guarda do castelo dos mortos.

Anos se passaram e Hel já estava adolescente, a filha da rainha dos mortos recebia treinamento de sua mãe, para poder aprimorar suas habilidades em combate e também como ser uma boa governante para seu mundo. Porém o poder mágico de Hel era gigantesco, sua filha estava mostrando comportamentos mais agressivos que o normal, todas as noites Hel tinha pesadelos que fazia sua magia perder o controle.

Certo dia durante o treinamento, Hel começou a perder o controle de seu poder e causou grande destruição em Helheim, sua mãe conseguiu conter o poder de sua filha usando um selo mágico temporário, o poder de Hel saiu tanto do controle, que Hella foi obrigada a tomar uma difícil decisão. A atual rainha dos mortos daquela época, levou sua filha para um castelo que antes servia como quartel general de Helheim, e lá, Hella decidiu selar o lado negro de Hel.

Hella usou uma magia proibida para sugar o lado escuro de sua filha o banindo para as profundezas do mundo dos mortos, como efeito colateral, Hel teve algumas memorias apagadas parcialmente de sua mente, sobrando fragmentos difíceis de se entender, como efeito colateral de sua magia, Hella se tornou um só ser com a escuridão de seu mundo, sendo obrigada a nunca deixar as profundezas de Helheim.

De repente, Hel e puxada para o momento presente, a deusa dos mortos deu alguns passos para traz cambaleando e suando, com muita raiva olhou para o rosto de sua mãe.

- Então foi isso... – dizia Hel se recuperando.

- Sim, eu sinto muito minha filha. Pode me julgar da maneira que quiser, porém eu fiz o que achei certo para protegê-la. Naquela época você não poderia controla-lo, mas agora... - Disse Hella.

- Sente muito... Sumir, apagar minhas memórias e conter o meu poder... Como você acha que eu fiquei todo este tempo? Nunca pensou em ir ver como sua filha estava? – questionou Hel.

- Eu não posso sair daqui. A magia que usei tinha um efeito contrario ao usuário, eu me tornaria um com este lugar, se eu deixa-lo, posso desaparecer para sempre. – respondia Hella ficando um pouco cabisbaixa.

- Como... Como eu sabia que tinha que vir aqui? – questionou Hel.

- Acredito que de alguma forma seu outro lado te guiou até aqui, e você inconscientemente se sentiu atraída pelo seu lado negro. – respondia Hella.

- E onde está minha outra metade? Onde esta meu poder? – perguntou Hel.

- Ele... Está aqui. – afirmou Hella conjurando outra magia revelando uma forma idêntica a Hel.

- E o que eu tenho que fazer para torna-lo meu? – questionou Hel novamente.

- Isto eu não direi. Essa vai ser sua função aqui. Dominar seu poder. Hel, seu poder é enorme, com ele você poderá ate mesmo usar a energia de Helheim a seu favor em qualquer lugar, poderia dominar o poder das trevas e controla-la como eu nunca consegui. Esta será sua missão aqui. Terá que dominar seu poder de alguma forma... - Dizia Hella desaparecendo.

- Então... Vamos começar. – dizia Hel olhando para si mesma.

A Hel sombria que estava do outro lado sorriu e partiu atacando Hel, a força sombria de Hel atacava sem parar com os braços, Hel ainda não havia se recuperado de sua luta contra Nidhogg, e tinha dificuldades em se defender. Os golpes de seu clone ficavam mais fortes a cada momento. Hel conjurou uma magia de chamas negras afastando seu lado negro, mas a outra lançou a mesma magia, porém mais forte.

Hel tomou o golpe em cheio sendo jogada para trás, a deusa dos mortos se levantou com dificuldades olhando para sua copia, e partiu para o ataque. As duas travavam uma longa batalha pelo espaço escuro enquanto Hella, apenas observava de longe. Os dias dentro do espaço alternativo envolto em escuridão foram se passando, Hel lutava com força total contra sua duplicada, ainda não havia encontrado uma forma de pegar o poder para si, a deusa dos mortos lutava, descansava e partia para o combate de novo.

Hel, em seus momentos de descanso pensava em como fazer para tornar o poder seu. No oitavo dia de treinamento, Hel já estava exausta, sua magia estava no limite. Sua mãe apenas observava com uma expressão séria em seu rosto, sem dizer uma única palavra desde que Hel começou a treinar.

- Você é fraca... Não merece ter este poder. – dizia seu lado negro.

- Olha... Então você fala? Achei que ficaria em silêncio para sempre. – afirmou Hel.

- Hel... Com este poder você poderia subjugar qualquer um a qualquer momento. Mas pelo visto mesmo sendo minha outra metade, você é uma grande decepção, como guerreira e como rainha. – afirmava seu lado negro sorrindo.

- Decepção? Imagino que você não me conheça. Pode ser o meu lado negro ou o que for. Se pensa que vou parar está muito enganada. Eu vou domina-la. - Dizia Hel se levantando.

A luta das duas continuava, mesmo com Hel mais fraca que o normal, a deusa dos mortos não desistia de seu objetivo que era dominar seu lado negro. Lutava com todas as forças que tinha sobrado em seu corpo. Após mais dois dias de batalhas intensas contra seu lado negro, Hel sentia que não conseguiria, mesmo utilizando todas as suas técnicas seu lado negro não parava ou demonstrava sinais de que se renderia. Hel fechou seus olhos e começou a pensar em formas, estratégias para vencer, nada veio em mente, à deusa dos mortos tomou mais alguns golpes que a fizeram cair quase desmaiando no processo.

Hel estava exausta, não fazia ideia de como vencer, mesmo sendo seu poder, não fazia ideia de como controla-lo. De todos os tipos de treinamento que passou ao longo de sua vida, este era o mais difícil de todos, nem mesmo quando Garn a ajudava a treinar, Hel nunca havia sentido tanta dificuldade assim. A deusa dos mortos tentava aos poucos recuperar o fôlego ainda caída ao chão, tentando imaginar consigo mesma, possibilidades para sair da situação a qual estava.

- Não dá... É impossível... Como eu ganho de mim mesmo? Como eu faço isso? Ela sou eu. Um eu mais forte, minha escuridão... Minha... Entendo... Então é isso... – pensou Hel consigo mesma.

A deusa dos mortos começou a se levantar bem devagar, ao ficar de pé, Hel caminhou lentamente cambaleando um pouco para os lados, a deusa esta indo em direção a seu lado negro. A sombra de Hel começou a disparar rajadas mágicas em direção a Hel que não se esquivava, alguns golpes passaram por Hel, outros acertavam atrasando os seus movimentos. A deusa continuou sua caminhada, deixando seu lado negro com uma expressão de raiva em seu rosto.

- Por que você não para? Por que continua lutando? Acha que pode dominar a escuridão? – gritava seu lado negro.

- Eu luto... Porque não sou apenas uma governante, uma deusa ou uma rainha. Há coisas que quero proteger. E eu quero proteger meu mundo. Quero proteger quem é importante para mim. Então... Eu sei o que preciso fazer. – afirmava Hel.

- Pare! Não chegue perto! – gritou seu lado negro se afastando para trás.

Hel se aproximou e começou a esticar seus braços, quando seu lado negro pensou que iria tomar uma forte rajada de energia, Hel segurou seu rosto. Seu lado negro estava com uma expressão surpresa, ao olhar para Hel viu um sorriso em seu rosto.

- Você sou eu. Eu sou você. Então basta te aceitar. Aceitar meu lado sombrio. – dizia Hel.

Aos poucos o lado sombrio de Hel foi se despedaçando, revelando o rosto de Hel que após derramar algumas lágrimas, desapareceu se tornando uma poderosa massa de energia que adentrou o corpo da deusa, a energia mágica circulou seu corpo a cobrindo por completo. Hel sentiu o poder entrando em seu corpo, e aos poucos, a deusa dos mortos se revelava com um novo visual, sua magia estava restaurada por completo e sua força, estava muito maior do que antes, seus ferimentos estavam de certa forma curados.

- Finalmente você conseguiu minha filha. – dizia Hella.

- Este poder... Sinto uma forte energia em mim. – afirmava Hel.

- Minha filha, você agora é capaz de controla-lo. Você agora é uma governante completa. Vá, salve os reinos, torna-se quem você quer ser, eu sempre estarei te observando. – dizia Hella que aos poucos estava desaparecendo junto com o local.

- Mãe... Apesar de tudo... Obrigada. – disse Hel dando um abraço em Hella.

Lágrimas escorriam pelo rosto de Hella que desapareceu por completo, Hel sentiu a escuridão em volta sumindo, de repente percebeu que se encontrava fora do espaço onde estava. A deusa dos mortos sentiu o elmo de sua mãe em sua cabeça, porém em um formato diferente. A deusa dos mortos observou sua nova roupa de batalha e começou a planar saindo calmamente do castelo por cima.

Hel observou todo o espaço abaixo e em volta de onde estava, sentiu toda a força da escuridão em seu corpo. Após alguns minutos, Hel balançou seus braços revelando um circulo mágico a sua frente, de repente, Hel invocou o esqueleto de Nidhogg como seu servo, o esqueleto do dragão derrotado há alguns dias se revelava soltando um forte rugido.

A deusa dos mortos ficou em pé sobre o crânio do dragão e juntos, levantaram voou saindo da parte baixa de Helheim, agora com seu novo poder, Hel se tornava a imperatriz da escuridão, a verdadeira governante de Helheim e deusa dos mortos, partia para o campo de batalha.