CAPÍTULO 6 ◓
— Tudo bem? — pergunta Lúcia, olhando-me com uma expressão confusa. — Estou te chamando faz tempo.
— Estou bem. Só... acho que tive uma lembrança.
— Você quer me contar como foi? — Percebo sua preocupação, então trato de esclarecer.
— Essa lembrança não foi assustadora como as outras. Muito pelo contrário! — Lúcia alivia sua postura depois de ouvir minhas palavras.
— Viu, eu disse que você também teria lembranças boas. — diz com um sorriso fraco. — Agora me conte!
Olho para ela sorrindo, antes de começar.
— Eu provavelmente era mais nova, estava sentada em uma mesa como estou agora, comendo um bolo de chocolate. Uma mulher muito parecida comigo estava na minha frente, ela perguntou se eu gostei do bolo. Me chamou de Flor, esse deve ser meu nome ou apelido, pois na lembrança que tive antes dessa, também me chamaram de Flor. Eu chamei ela de mamãe. Perguntei sobre meu pai e a reação dela foi estranha, acho que aconteceu alguma coisa com ele... Eu quero saber o que aconteceu, quero lembrar de tudo o mais rápido possível!
Fico um pouco agitada. Minha vida pode ser mais confusa do que pensava. Não entendo o porquê eu falava com tanto amor e carinho de meu pai naquela lembrança, e na outra, ele me trata de um maneira horrível e eu afirmava odiá-lo.
— Calma, não precisa ter pressa! Você lembrará de tudo aos poucos. Ficar ansiosa desse jeito não vai ajudar em nada. Pelo contrário, só vai te prejudicar.
— Tudo bem! Vou tentar ficar mais calma. E obrigada por me dar esses conselhos que sempre me ajudam. Nem sei como agradecer.
Nos abraçamos.
Os conselhos de Lúcia sempre me ajudam nos momentos em que eu mais preciso, não sei o que faria se não a estivesse ao meu lado.
○●
Termino de arrumar todos os cinco pratos á mesa enquanto Lúcia tira a lasanha do forno com muito cuidado para não se queimar.
— Mamãe! — Ouço a voz fina e delicada de Melissa.
A menina acabara de entrar pela porta da cozinha com o uniforme escolar e os cabelos presos em maria-chiquinha.
Depois de abraçar a mãe, vem ao meu encontro, me prestigiando com mais um de seus abraços.
— Você veio sozinha? — pergunto assustada, pois Melissa tem apenas cinco anos de idade.
— Claro que não né, eu sou muito pequenininha — Faz uma carinha fofa. — Eu vim com micro-ônibus da escola.
— Já chega de conversa mocinha! Vá tomar um banho e venha comer. — diz Lúcia ao se aproximar de nós duas.
Melissa foi correndo para o banheiro enquanto a porta era aberta por Roberto e Pedro, que acabaram de chegar.
Vou até a cozinha com Lúcia. Ela pega a travessa da lasanha enquanto eu pego a jarra de suco, voltando logo em seguida para buscar os copos.
Sentamos todos à mesa e antes de começarmos a comer, Lúcia faz a oração.
A comida estava maravilhosa. O almoço fluiu de um modo bem descontraído, todos conversávamos animadamente, então aproveitei a oportunidade para conhecê-los melhor.
Me espanto quando Melissa me conta que um dia já colocou pimenta no suco de seu irmão. A desculpa dela foi que ele não queria levá-la ao cinema. Todos riram enquanto me contavam, mas no dia, seus pais ficaram muito bravos e ela ganhou o castigo de não poder ver seus desenhos por três semanas.
Adorei conversar com todos. Ao contrário da primeira vez, eu estava me sentindo mais à vontade para interagir melhor.
Como ficamos sem tempo para fazer a torta de limão, Lúcia serviu o bolo que comprou como sobremesa. Não tive nenhuma lembrança como da primeira vez.
Lúcia aproveitou para contar como aquele bolo me ajudou a ter mais uma lembrança. Todos ficaram curiosos para saber como foi e pediram para conta-los, foi o que eu fiz.
— Então seu nome é Flor? — pergunta Roberto quando termino de contar a lembrança.
— Provavelmente... Mas pode ser apelido. — respondo pensativa. — Nas duas lembranças que tive, escutei me chamarem assim.
— Então eu vou ter que parar de te chamar de Nina? — indaga Melissa.
— Será bom começarmos a chamá-la de Flor, talvez isso a ajude a ter mais lembranças. — Lúcia a responde.
— Tudo bem! Nina é um nome legal, mas Flor também. E é muito bonito! Me lembra o jardim da minha amiga Loren. —Contenho a vontade de apertar suas bochechas. Melissa é uma menina tão fofa! — Em falar de jardim, por que nós não plantamos um jardim? — propõe.
— Seria uma boa ideia — diz seu irmão —, as saiba que um jardim precisa de muito cuidado.
—Eu cuido! — declara animada. — a Flor pode me ajudar. Não pode, Flor?
— Posso sim! - abro um pequeno sorriso. — Se a Lúcia deixar.
— Deixa mamãe! — dizendo isso, Melissa junta as mãozinhas implorando para que sua mãe deixe fazer um jardim em seu quintal.
— Tudo bem, mas terá que ser pequeno pois o quintal não tem muito espaço.
— Eba! — Melissa comemora fazendo uma dancinha engraçada, mesmo estando sentada em sua cadeira.
Todos presentes à mesa começaram a rir por conta da animação da menina. E depois disso, ela não parou de falar nesse jardim que ainda nem existia.
Quando todos terminam de almoçar, ajudo Lúcia com as louças e não esqueço de agradecer a ela pelo almoço delicioso.
Deixamos tudo bem arrumadinho e eu já me sentia um tanto cansada, não só pela arrumação, mas pelo dia que foi bem exaustivo.
Preciso organizar minha mente. Hoje eu saí de um hospital, fiquei mais de uma hora dentro de uma delegacia, tive uma lembrança de quando era pequena, sem contar a lembrança que tive quando estava no hospital.
Meu corpo e minha mente gritavam por descanso. E eu não estou sendo nada exagerada.
Parece que vou me lembrar de tudo pouco a pouco, por pequenas lembranças que ainda estão bem confusas, tomara que com o tempo deixem de estar.
— Flor. — Escuto a voz de Melissa me gritando da porta da cozinha. — Eu e o Pedro vamos comprar os materiais que iremos precisar para fazer o jardim. Quer ir com agente?
Estava muito cansada mas não conseguiria negar isso pra ela vendo o modo como estava animada.
Poderia descansar outra hora, então respondo afirmativamente. Mas antes que eu pudesse dar um passo para sair da cozinha, ouço a voz de Lúcia.
— A Flor não vai à lugar nenhum. Agora ela precisa descansar, se não quiser parar no hospital outra vez.
— Mas ela não parece estar cansada, mamãe. Não é Flor? — pergunta esperançosa.
— Na verdade eu estou muito cansada, mas prometo que quando estiver mais disposta, te ajudarei com o jardim. Está bem?
— Está bem. — dizendo isso, me dá um abraço rápido e sai correndo da cozinha, da mesma forma que entrou.
— Agora vá descansar, mocinha!
Obedeço sua ordem me encaminhando para o quarto onde estou dormindo frequentemente. Na verdade, o quarto é de Melissa, mas a mesma não se preocupou em me emprestar e na maioria das vezes, ela dorme junto comigo.
Chegando no quarto, me deito na cama. Ao fazer isso meu cansaço parece duplicar. Mesmo assim, não consigo dormir de primeira.
Fico alguns minutos pensando na minha vida. Em como as coisas andam acontecendo. Vem uma coisa atrás da outra que é difícil de assimilar.
Primeiro acordo em uma floresta do nada, e para piorar, sem recordar minhas memórias. Depois uma pessoa começa a correr atrás de mim, não sei quem era, mas pude ter certeza de que não era alguém confiável. Quando acordei, minha mochila havia desaparecido, tenho certeza de que nela tinham coisas para me ajudar a lembrar do meu passado. Seria A pessoa que correu atrás de mim que pegou minha mochila? A parte boa dessa história foi ser encontrada por essa família que vem me ajudando.
Fico pensando também nas lembranças que tive até agora. Seria difícil juntar todos os acontecimentos do passado, se todas as memórias viessem desse jeito. Precisava de lembranças mais concretas. Pareço estar vivendo em um tipo de quebra-cabeça.
Estava tão absorta em meus pensamentos que só percebo a presença de Lúcia quando ela pronuncia meu nome.
— Ainda não dormiu?
— Estou pensando em tudo que vem acontecendo. Eu quero recordar minhas lembranças de uma vez por todas! Essas memórias que tive até agora, não estão me ajudando em praticamente nada.
Lúcia me olha por alguns segundos. Talvez pensando no que falar.
— Entenda que tudo tem o seu tempo. Se for pra você recuperar a memória, isso acontecerá na hora certa. Como já te falei, ficando ansiosa desse jeito pode até te atrapalhar. Tente ficar mais tranquila, está bem? — Balanço a cabeça afirmativamente e ela volta a falar. — Agora tente dormir.
Lúcia sai do quarto e fico um pouco mais tranquila.
O sono começa a bater. Minhas pálpebras vão ficando pesadas. O cansaço que sentia volta mais intenso ainda, decido parar de lutar contra o sono e acabo dormindo tranquilamente.
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Capítulo sem muitas emoções, mas o próximo terá uma pequena revelação. Espero que estejam gostando e não esqueçam da estrelinha.♡
Revisado
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