3:A morte seriaa solução.
Dois meses depois...
Os dias foram passando. Havia dois meses que tinha perdido minha filha, não conseguia entender o porquê, não conseguia aceitar de forma alguma, estava completamente revoltada. Não me importava se meu marido não me queria mais, só que, perder o marido e a filha ao mesmo tempo estava sendo demais para o meu psicológico.
Marcos estava sempre em cima de mim, com medo que fizesse alguma besteira, mesmo esforçando-me ao máximo para manter minha mente saudável. Lutei meses contra isso. Quando completaram-se dois meses que perdi minha filha, estava cada vez mais afundada em minha tristeza. Não tinha saído de minha casa e nem pedido o divórcio, Marcos não tocou mais no assunto, e eu sabia que era por pena. Ele não me deixou sair de lá por medo de eu fazer alguma bobagem, porque ele não queria mais carregar culpa nas costas, apenas por isso, tenho certeza. O erro dele foi ele achar que não faria nada estando ali, pois aquela casa estava repleta de recordações de Clara e tudo aquilo me sufocava muito.
Então naquele noite de terça-feira, dia 06 de abril de 2010, assim que ele saiu para trabalhar, levantei da minha cama, indo direto para o guarda roupas da minha filha, o qual eu não tinha permitido que ninguém retirasse ou doasse suas roupas. Joguei todas as roupinhas no chão, me deitei em cima e chorei como se as lágrimas pudessem me livrar da dor, lembrando de seu rostinho, seu cheiro, minha filha era uma criança tão carinhosa. Eu sentia como se uma parte de mim houvesse sido arrancada.
A dor que sentia era descomunal, era como se minha vida houvesse acabado, parecia que não importava o quanto eu continuasse lutando por ela, o destino sempre iria fazer de tudo para me destruir. Sentindo minhas forças no limite, levantei, peguei uma caixa de remédio, uma gilete, tomei todos os comprimidos de uma vez e comecei cortar meus pulsos. Tudo que eu queria era acabar com aquela dor de uma vez, fui perdendo as forças, e a última coisa que pensei antes de perder a consciência foi que em breve iria ver minha filha e ficaria em paz.
***
Sempre achei que morreria jovem, pensava assim por ter perdido minha mãe muito nova.
Mas nunca imaginei que perderia meu anjinho tão cedo. Na minha cabeça os pais tinham que morrer antes dos filhos, para mim um pai ter que enterrar um filho era cruel demais. Acordei meio tonta e fraca, notei que estava no hospital, não tinha ninguém ali. Tentei me levantar, mas não conseguia, foi então que notei que meus pulsos estavam enfaixados e dolorido. As lembranças da minha tentativa de suicídio me vieram a mente, as lágrimas começaram a correr em minha face. Me senti perdida e sozinha. Não tinha ninguém por mim e não tinha ninguém por quem eu deveria lutar para continuar vivendo, estava completamente sem animo para viver, então xinguei mentalmente, quem me levou para o hospital e me salvou. Fiquei ali, deitada olhando para as paredes, até que as enfermeiras entraram, trazendo meus remédios verificaram minha pressão e perguntaram como me sentia. Respondi suas perguntas no automático, tudo que eu queria era sair logo dali e continuar tentando acabar com minha vida.
No período da manhã, ninguém apareceu para me ver, nem ao menos Marcos. Na parte da tarde as enfermeiras trouxeram o almoço, no qual nem toquei. Depois de tanto insistirem e não conseguirem fazer com que eu comesse, me deram um calmante e saíram do quarto, me deixando sozinha e, aos poucos, fui adormecendo. Acordei horas depois com o barulho da porta se abrindo, pude ver um homem alto e moreno, de olhos negros, porém, alguns fios grisalhos se misturavam a esses e indicavam que o homem estava na faixa dos 55 a 60 anos, mas eu sabia que ele tinha 55, seus passos eram cuidadosos em minha direção, seu olhar não desviou do meu por um minuto e pude perceber os olhos cheios de água e um misto de preocupação, o que me fez quase rir debochada, ele se aproximou de mim e disse:
-Filha, não faz mais isso com teu velho, se não eu infarto! Não sabe como estava preocupado, vim o mais rápido que pude desde que soube de Clara, e quando cheguei te encontro no hospital. Não faz mais isso comigo. - Ele estava chorando e suas lágrimas não me comoviam.
Eu o observei por um tempo, fiquei lembrando das últimas vezes que eu tinha o visto ou falado com ele e não lembrava. Meu pai nunca foi presente em minha vida, ele não tinha o direito de me cobrar nada. Ele nunca se importou de verdade.
- Desde quando você se importa?- Perguntei, com um nó na garganta.
- Não fala assim, você sabe que me importo. - Disse ele, pude sentir a dor em suas palavras, e a ignorei.
-Não, eu não sei! Mas também não quero saber, é tarde demais para o senhor querer fazer parte da minha vida. Eu não preciso de sua pena ou de sua compaixão. Sempre foi um nada em minha vida, então continue assim! - Soltava as palavras com muita raiva, com muito rancor, e foi impossível segurar as lágrimas.
Ele me olhava como se realmente estivesse preocupado, por um momento pensei ter visto arrependimento e seus olhos, mas então, lembrei que eu não deveria me preocupar se ele estava arrependido, era problema dele. Não estava afim de perdoar ninguém, afinal afeto só trás dor, já me machuquei muito e não quero mais esse tipo de dor na minha vida. Sendo assim, quero distância desse sentimento.
Meu pai saiu do quarto a pedido das enfermeiras, fiquei muito agitada e minha pressão chegou a subir. O que ele queria? Que eu o recebesse de braços abertos? Impossível! Era pedir muito para mim. Fui mais uma vez sedada, porque ficava cada vez mais agitada e, mais uma vez, fui vencida pelo sono.
Quando acordei, estava novamente sozinha e me senti bem com isso. Talvez seja exatamente o que eu preciso, me afastar de tudo e de todos. Começar uma nova vida. Isso! É disso que eu preciso. Já que tentar tirar minha vida não estava funcionando, eu pelo menos tinha direito de fugir desses problemas todos.
Os médicos não me deram alta, disseram que eu estava muito agitada ainda e não estava em condições de ficar sozinha.
Minha mãe de criação, dona Suzana, também veio me visitar, assim que soube o que tinha acontecido, por isso, fiquei sabendo que ela estava no velório de Clara, mas, eu estava tão inerte ao que acontecia ao meu redor que nem percebi que ela esteve ao meu lado Q todo momento e quando soube do que acontecia comigo, veio o mais rápido que pode. Ela não me criticou, apenas me abraçou, porém, eu não conseguia sentir nada, queria distância de afeto.
Marcos pouco ia me visitar, e quando ia, me acusava de estar querendo me vingar dele, porque ele pediu o divórcio, dizia que estava querendo deixar ele sozinho (hipócrita). Apesar da atuação dele parecer perfeita, conhecia meu marido o suficiente para saber que era tudo encenação, ele não se importava de verdade.
***
Quatro dias Depois...
Quando fez quatro dias que estava internada, o médico me deu alta, mas teria que fazer acompanhamento com um psiquiatra, estava perdida, não queria voltar para casa, mas também não tinha para aonde ir, Marcos não iria deixar eu ir para o apartamento de Araranguá. Tinha que exigir que me desse o divórcio logo e sair do país, essa seria a única solução, aqui eu iria ficar remoendo tudo, e acabaria tentando contra minha vida novamente.
Meu pai aparecia todos os dias para me ver, assim como minha mãe de criação, o que me fez pensar que se eu quisesse me livrar de Marcos, eu ia precisar de ajuda deles, e por mais que não quisesse afeto eu não iria conseguir nada sem demonstrar que estava bem.
Nesse momento, os dois estavam discutindo, ela me defendia como leoa. Então os interrompi quando eu ouvi ele dizendo para minha mãe que ela estava enganada e que ele se importava sim comigo.
- Se importa, papai? Então, mostre que se importa. - Disse ironicamente e decidida sobre o que queria.
- Como? - ele perguntou.
- Preciso sair do país, preciso refazer minha vida, não quero fica mais naquela casa, quero ir pra longe. - Vi surpresa em seus olhos e nos de minha mãe que soluçou ao ouvir que queria ficar longe de tudo e de todos.
Tinha consciência de que ela não merecia minha frieza e ausência, mas não quero mais contato afetivo com ninguém.
- Mas Lany, não adianta fugir dos problemas, você tentou se matar, como acha que vou deixa você ir assim? E seu marido? - Pergunta e isso me dá uma raiva ainda maior desse homem ele não sabia nada sobre mim, mas eu tinha que me manter calma, se eu desse um surto não me deixariam sair desse hospital muito menos para outro pais.
Contei para ele o que Marcos tinha me dito antes de perder minha princesa, ele ficou furioso, o que me surpreendeu. Decidi então que, já que ele quer bancar o pai preocupado, irei me aproveitar da situação.
Fiz ele me prometer que iria me ajudar a sair do Brasil e, como imaginei, ele aceitou logo depois de me fazer jurar que nunca mais iria fazer aquilo de novo e só viajaria depois de fazer um longo tratamento.
- Eu prometo, e quer saber? Assim que eu sair desse hospital. Vou arrumar as coisas para me divorciar e depois quero vida nova. Eu prometo a vocês dois que minha vida vai mudar. E, senhor Roberto?
- Me chame de pai, que é isso que sou seu. - Ele suspira. - Fale!
- Obrigada. - ele deu um aceno com a cabeça e um sorriso satisfeito.
Olhei para minha mãe e vi que ela me olhava também com um sorriso, e senti ali que eu podia não ter uma família perfeita, mas que a partir daquele momento eu iria poder contar com eles sempre, e mesmo que eu não quisesse demonstrar, pois tinha prometido a mim mesma que não queria mais isso em minha vida, pois sempre acabava me decepcionando, eu, lá no fundo, estava satisfeita.
***
Quando completaram-se sete dias que sai do hospital - e nesses e meus pais, não me deixaram em nenhum momento - meu pai contratou um advogado para cuidar do meu divórcio. Marcos estava dificultando e não queria assinar. Roberto tomou seu papel de pai, me tirou de minha antiga casa e bateu de frente com Marcos garantindo que o mesmo me deixasse em paz. O que foi muito bom para mim afinal,eu sempre soube que ele iria querer me enrolar para voltar depois que ele tivesse aproveitado seus dias de solteiro, no entanto, o que ele não contava é que eu nunca mais iria querer ele de volta e teria o apoio de meus pais.
Nos dias seguintes, eu vinha me esforçado muito para superar essa dor que eu sei que nunca vai passar, mas, em memória ao meu anjo, eu irei me esforçar e prometo que afeto de nenhum tipo virá a fazer parte da minha vida. Assim que tudo isso acabar, eu irei me mudar, construir uma nova história e minha filha será a última perda que tive.
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Olá meus amores, olha quem voltou.. quero saber o que estão achando da nossa Lany...Beijos da Su.
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