10.
capítulo dez.
a realidade bate à porta
O PRÉDIO DOS MENTORES ficava mais vazio e silencioso a cada dia. Quatro dias após o início dos Jogos Vorazes, mais da metade dos tributos na arena estavam mortos, e assim, seus mentores eram enviados de volta para casa. A edição daquele ano estava sendo considerada um pouco entediante para a população, embora ainda não houvesse nem uma semana desde o começo dos jogos e a maior parte dos jovens já estivesse morta; os bestantes haviam sido deixados de lado daquela vez, porque os idealizadores estavam mais focados em explorar outros tipos de tortura, como adoecer os tributos aos poucos, deixando-os perecerem aos poucos com o frio e a fome.
As mortes eram violentas quando aconteciam. Com os músculos doloridos e endurecidos pelo frio, os tributos encontravam dificuldade para entrar em combate direto, exigindo que usassem da criatividade para matar uns aos outros. A alimentação era difícil; não haviam frutos na arena, e os animais presentes eram grandes demais, em sua maioria, para que os tributos conseguissem matar. Alguns já eram acometidos por resfriados, tossiam como nunca, perdiam a voz. O frio era algo estranho; as pessoas perdiam a vontade de fazer as coisas, e a arena parecia quase vazia de tão silenciosa.
Mervyn, Sylvia e Annie estavam racionando todos os alimentos enviados por Meadow. Ter aerodeslizadores se aproximando o tempo todo entregaria a localização dos três, e a mentora não queria aquilo. Meadow já não tinha mais certeza do que aconteceria; seus tributos ficariam com Annie pelo resto dos jogos? Ela não gostava tanto da ideia. A garota do Distrito 4 era bem mais habilidosa do que suas crianças, e se precisassem lutar entre si, ela levaria a melhor. Novamente, a Capital a fazia pensar coisas das quais não se orgulhava; Meadow gostava de Annie Cresta e sabia que a ruiva era uma pessoa adorável, mas apenas uma pessoa poderia sair da arena, e ela gostaria que fosse um dos tributos de seu distrito.
Naquela noite, ela chegou ao prédio mais tarde do que o comum, junto de Hayden e Enobaria. Eles haviam ficado por último, o que era incomum; Meadow sempre ia embora o mais cedo que podia, tentando escapar do cenário violento da arena, mas naquele dia, ficou mais um pouco. A saúde de Mervyn estava cedendo ao tempo frio, e ela desejou poder fazer algo para ajudar além de mandar alimentos. Quando Mervyn e Annie dormiram, Sylvia Hazel ficou de vigia, e foi quando os mentores decidiram que podiam ir embora.
━ Descanse hoje ━ falou Hayden, enquanto os dois aguardavam o elevador. Enobaria estava procurando algo para comer, e Meadow tinha suas dúvidas se ela queria algo que já estivesse morto ou preferia algo que pudesse caçar. ━ Você não tem dormido direito.
Meadow encarou o homem, com bolsas escuras sob os olhos que deixavam claro que ele estava certo. O peso que havia ganhado no Distrito 4 já havia se perdido, deixando todo o aspecto saudável da garota para trás. Ela apertou o botão do elevador mais vezes, como se pudesse apressá-lo.
━ Pearl me deu alguns comprimidos. Eles me ajudam a dormir ━ ela respondeu, simplesmente.
━ Você não consegue dormir sem eles?
━ Quando durmo sem eles, acordo gritando no meio da noite.
Hayden assentiu, e o elevador finalmente chegou. Os dois entraram, e ele apertou o botão de seu andar.
━ Você acha que Finnick mandou Annie procurar pelos nossos tributos na arena? ━ ele perguntou, após alguns segundos, e Meadow uniu as sobrancelhas. ━ Acha que pode ser a estratégia deles? Se aliar aos mais fracos e matá-los quando todos os fortes já tiverem morrido uns pelos outros?
Meadow fechou os olhos, encostou a cabeça em uma das paredes, e suspirou. Balançou a cabeça negativamente, antes de abrir os olhos e encarar o teto.
━ Ele não faria isso.
━ É um jogo de sobrevivência, Meadow. Todos tem que fazer coisas não muito nobres e...
Ela o interrompeu.
━ Ele não faria isso comigo.
Ela sabia que os Jogos Vorazes obrigavam todos a fazer decisões, criar estratégias e armadilhas. Ela sabia que Finnick mataria todas as criancinhas da arena se precisasse para sair vivo. Sabia que ele poderia, sim, falar para Annie fazer algo do tipo, se as crianças em questão não fossem as que estavam sob sua mentoria. Meadow sabia que os outros não podiam confiar em Finnick; ele sabia ser traiçoeiro e não havia vencido os Jogos tão jovem por sorte. Mas ele era a única pessoa na qual ela podia confiar, e ela sabia que ele jamais faria algo do tipo com ela.
Hayden não respondeu, mas comprimiu os lábios em uma linha fina ao assentir, contra sua vontade, vendo que Meadow não aceitaria ter aquela conversa. Ele não insistiria; os dois já haviam discutido o suficiente e seria melhor não incomodá-la.
Quando a porta do elevador abriu, Meadow saiu sem se despedir, seguindo para o quarto de Finnick sem olhar para trás. Ela não tinha nada a dizer a Hayden, especialmente após ele insinuar coisas sobre Finnick. Ela não precisava ouvir aquilo e nem nada do que o homem tivesse a dizer sobre aquele ou qualquer assunto. Agir com civilidade quando estava com Hayden era o suficiente. Conversas além daquilo não eram do interesse de Meadow, desde o dia em que encontrou o homem bêbado.
━ Posso entrar? ━ ela perguntou, batendo na porta. ━ Finnick?
A resposta veio quando a porta foi aberta, revelando a figura de Finnick com um sorriso mínimo, dando espaço para Meadow passar.
━ Oi ━ ela cumprimentou, com a voz baixa, e se sentou em uma poltrona próxima a cama do rapaz, onde ele se acomodou. ━ Você saiu cedo hoje.
Ele concordou, enrugando o nariz.
━ Não estava muito legal de assistir. Annie ainda estava na caverna com Sylvia e Mervyn. Aconteceu alguma coisa depois que eu saí?
━ Não. Tudo na mesma, nenhuma morte hoje.
━ Isso é péssimo. Os Jogos vão se arrastar até as duas semanas de limite e quem está lá dentro vai ter o sofrimento prolongado ━ Finnick opinou, descansando a cabeça sobre as mãos. ━ Vamos ter que ficar nessa droga de lugar por mais tempo.
━ É, precisamos voltar logo. Você está perdendo o bronzeado ━ Meadow retrucou, levantando as sobrancelhas, tentando tirar um sorriso do rapaz, embora sua voz não tivesse muita emoção. ━ Isso não pode acontecer.
Uma risada baixa deixou a garganta de Finnick, que encarou Meadow. Ela brincava sobre ele estar perdendo o bronzeado, mas a verdade era que os dias na Capital não faziam bem a ninguém. Especialmente a ela.
━ Eu vou recuperar minha cor antes do nosso casamento. Não se preocupe.
━ Ah, sim. Você tem que ficar bem bonito pra sua noiva.
━ Isso é o mais fácil, Meadow. Eu não preciso me esforçar, francamente.
━ Espero que nosso filho Coriolanus Odair herde a sua humildade, sabia?
O rapaz fez uma careta, ainda que tudo não passasse de uma brincadeira.
━ De verdade, Meadow. Quando você disse isso naquela entrevista, foi a primeira vez que pensei no nosso divórcio.
Ela sorriu levemente, sem forças para rir de verdade, e mudou de posição na poltrona, cruzando as pernas.
━ Bom, esse bebê imaginário serviu para comover o público. Já foi o bastante. Ele não precisa existir, e nem vai existir ━ ela respondeu, encarando o nada. ━ Só a ideia já foi o suficiente. A ideia de tudo já serve pra que eles fiquem animados.
Finnick não teria filhos. Ele havia decidido antes mesmo de conhecer Meadow. Um filho seu acabaria na arena com toda a certeza do mundo e ele não queria ter que viver com aquela dor. As coisas não mudaram quando ele conheceu Meadow; se tivessem um filho, era possível que as regras dos jogos mudassem apenas para mandar a criança para a arena ainda mais cedo. E ter um filho em um casamento midiático era ir muito além do que os dois planejavam.
O casamento ainda era por pura conveniência. Estavam envolvidos naquilo porque não queriam mais ter os corpos usados pela Capital, e um bebê jamais seria fruto daquela união tão desesperada. Ainda era difícil para Meadow e Finnick olharem um para o outro de forma romântica, apesar do beijo que haviam compartilhado dias antes; depois de tudo o que haviam passado, a ideia de um relacionamento amoroso estava completamente distorcida e era um devaneio distante para os dois.
Se casar com Meadow era se casar com uma amiga. Era como assinar um contrato para ter uma colega de quarto pelo resto de seus anos. Era dividir experiências com alguém que confiava plenamente, alguém que o entendia e o fazia se sentir bem. Ainda era um ato desesperado, uma decisão tomada como uma forma de fugir das mãos de Capital. E Finnick pensava nisso constantemente, que Meadow era com quem queria se casar, porque ele não acreditava que os dois pudessem encontrar um casamento real algum dia, com alguém que amavam. Daquela forma, suas solidões iriam se entrelaçar e eles poderiam compartilhá-las para sempre. No fim das contas, só os dois se entendiam como ninguém mais poderia sonhar.
━ É difícil pra mim dizer isso, mas esse bebê seria feio ━ falou Finnick, após alguns segundos, encarando o teto. ━ Um bebê com esse nome não seria bonito, Meadow. Não seria culpa dos nossos genes, nós somos lindos. Mas um bebê com esse nome teria que ser feio. Muito feio.
━ Iriam falar que o filho não é seu. Nós teríamos que nos divorciar.
━ Esse bebê não existe e já está criando problemas entre nós. Nada de bom pode surgir desse nome.
Finalmente, ele conseguiu arrancar uma risada de Meadow, e Finnick sentiu o alívio tomar conta de si mesmo ao ouvir aquele som. Ela não sorria muito naqueles últimos dias, pelo menos, não de verdade, quando estava longe das câmeras. Finnick gostava daquele som raro, doce e aconchegante, e se sentia orgulhoso quando fazia ou falava algo merecedor de ouví-lo.
━ É, eu sei. Não vamos deixar que o pequeno Coriolanus fique entre nós ━ Meadow suplicou, e Finnick assentiu, com um sorriso pequeno. ━ Tem certeza que está bem? Você nunca sai de lá tão cedo.
━ Eu comi algo que não me fez muito bem. Talvez eu deva maneirar mesmo nos torrões de açúcar.
━ Comer coisas que são feitas pros cavalos não deve fazer muito bem, mesmo ━ ela respondeu, franzindo o cenho. ━ Mesmo que os cavalos comam melhor do que as pessoas comem na maior parte dos distritos, não pode ser bom pra você. Você é bem nutrido.
Finnick uniu as sobrancelhas.
━ Essa é a sua forma de dizer que eu tenho um físico escultural?
━ Você já escuta isso o suficiente ━ retrucou, dando de ombros, e sorriu minimamente ao observar Odair. ━ Sabe, eu adoro o jeito que você consegue transformar qualquer coisa que eu diga em um elogio pra você. De verdade, isso é um talento, Finnick. Sua modéstia é sua maior virtude.
Ela gostava quando os dois conseguiam ter conversas como aquelas: bobas e despretensiosas. Era difícil encontrar momentos de leveza, especialmente naquelas circunstâncias e principalmente para Meadow, que sempre estava tensa, mas Finnick tornava tudo melhor. Ele não precisava se esforçar muito. Só de vê-lo, Meadow já se sentia melhor, mais tranquila e segura. Ela sabia que podia conversar com ele sobre qualquer coisa.
Em um breve momento de silêncio, ela o admirou mais um pouco. Finnick era alto e grande. Ele tinha mesmo um corpo atlético, um físico escultural, como gostava de dizer. Mas ele ainda era tão jovem, e parecia apenas um menino naquele momento, deitado na cama, encarando o teto com os olhos levemente arregalados enquanto pensava em sabe-se lá o quê. Ele parecia quase vulnerável, por mais inacreditável que aquilo pudesse parecer. A armadura imponente que vestia para sair em público havia sido deixada de lado. Era assim que Meadow sabia que ele confiava nela. Quando ele a deixava vê-lo de verdade.
━ Eu consigo sentir você encarando.
━ Desculpe. Eu só estava pensativa.
━ Sobre o quê?
Ela sorriu levemente.
━ Sobre você.
Era tão difícil fazer Finnick se sentir envergonhado. Meadow se orgulhava sempre que conseguia. A Capital já havia tirado tanto dele, e quando ela via suas bochechas corando, ela sabia que eles não conseguiram arrancar tudo.
━ O quê sobre mim, exatamente?
━ Nada. Eu só estava pensando em você, de um modo geral.
E enquanto ela se orgulhava de vê-lo ficar tímido por meros segundos, ele ficava satisfeito a cada dia que se passava e ela se sentia confortável para se abrir mais. Eles eram bons amigos há algum tempo, mas sua conexão se fortalecia um pouco mais todos os dias, e desde o anúncio do noivado, os dois pareciam novas pessoas. A distância da Capital estava os curando pouco a pouco, até que retornaram ao local e os Jogos Vorazes os fizeram piorar mais uma vez. Ainda assim, quando estavam juntos, era como se encontrassem um ponto de equilíbrio onde nada pudesse os atingir.
Depois de algum tempo em silêncio, ela se levantou, fazendo com que Finnick a olhasse curioso e se sentasse na cama, quase num sobressalto. Meadow explicou:
━ Vou pro meu quarto. Preciso tomar banho.
Ele assentiu.
━ Ah, certo. Você vai voltar?
━ Se você quiser ━ ela disse, dando de ombros. ━ Os remédios de dormir que Pearl me deu têm me ajudado. Você não precisa mais se incomodar de ficar comigo o tempo todo.
━ Não é incômodo ━ ele uniu as sobrancelhas. ━ Nunca foi. Não demore muito pra voltar, por favor.
Meadow sabia que Finnick não gostava de ficar sozinho, mas ainda assim, temia que sua proximidade constante fosse demais às vezes. Eles passavam tempo demais juntos, e talvez ele quisesse um tempo para si mesmo, longe dela e de seus problemas.
━ Tudo bem. Não vou demorar.
E então, saiu pela porta, caminhando até o próprio quarto. Ela o destrancou em silêncio, com um pouco de dificuldade para encaixar a chave, e quando finalmente conseguiu abrir a porta, ouviu outra batendo e ouviu passos se aproximando. Olhando por cima do ombro, ela encontrou Finnick, e franziu o cenho de leve ao encará-lo.
━ Eu posso te esperar no seu quarto?
Ele parecia estar menos disposto à solidão do que nos outros dias, o que ela não entendeu muito bem, mas não julgou. Ela nunca julgava. Meadow balançou a cabeça positivamente, e Finnick entrou no quarto atrás de si, enquanto ela seguiu até o banheiro para tomar um banho após o longo dia assistindo aos jogos.
Muitos minutos se passaram com a água quente caindo sobre seu corpo e relaxando seus músculos. Estava tarde para lavar o cabelo, mas ela fez mesmo assim, porque era a única forma que conhecia para se sentir limpa, ou algo próximo àquilo, enquanto suas mãos estavam mais sujas com o sangue dos tributos na arena a cada dia. O banheiro estava coberto de vapor quando ela terminou. Era impossível ver seu reflexo no espelho embaçado, e ela preferia assim.
Meadow vestiu seu pijama, penteou o cabelo e saiu do banheiro em silêncio. Ela odiava o barulho do secador; preferia ficar com o cabelo molhado do que secá-lo e ter que lidar com aquele incômodo tão grande. Finnick a encarou com as sobrancelhas levantadas.
━ Você vai pegar um resfriado.
━ Não vou.
━ Esse é um ótimo argumento, Meadow. Você tem razão.
Ela riu pelo nariz, balançando a cabeça negativamente, e se sentou do seu lado na cama. Finnick já estava prontamente deitado em seu lugar habitual; ela não sabia quando os dois haviam decidido o lado de cada um, mas era um acordo silencioso que eles não ousavam quebrar. Meadow bebeu um pouco da água que estava na mesa de cabeceira, de costas para Finnick, e sentiu seu olhar queimando sobre sua pele.
Ele sorriu levemente ao ver as costas da garota. A exposição ao sol do Distrito 4 havia criado várias sardas em sua pele. Finnick não tinha certeza se Meadow havia percebido aquele detalhe; provavelmente não, porque ver as próprias costas era difícil e a garota nunca se olhava no espelho por tempo demais. Ainda assim, ele gostava daquele pequeno detalhe. Meadow não havia crescido como ele, mas agora, depois de tanto tempo, podia compartilhar algumas das experiências que ele havia tido durante seu crescimento. Sua própria pele contava com diversas sardas, quase imperceptíveis, também surgidas devido ao sol. Era bom finalmente ter algo em comum com Meadow que não fosse o sofrimento ao qual os dois eram expostos.
Enquanto ela ainda estava de costas, Finnick se levantou e pegou uma toalha no banheiro, voltando para a cama, e em silêncio, começou a tirar um pouco da umidade dos cabelos de Meadow com o tecido. Ela não protestou, embora tivesse se assustado com o contato repentino. Finnick se dedicou em silêncio à tarefa de fazer o possível para secar o cabelo da garota sem o auxílio do secador, até decidir que a toalha já havia feito o bastante e alcançado seu limite. Meadow o olhou por cima dos ombros.
━ Obrigada.
Ela gostaria de ter mais preocupações consigo mesma para que os outros não precisassem fazer aquilo. Gostaria de se negligenciar menos, para que Finnick, Indigo ou Cedar não precisassem cuidar dela como se fosse uma criança incapaz. Mas era difícil fingir se importar com aquele tipo de coisa, quando ela já passava a maior parte de seus dias exausta por se preocupar com outras coisas que não podia controlar.
━ Não precisa agradecer, cubo de açúcar.
Finnick se deitou novamente, com um sorriso ladino, e ela revirou os olhos, apagando as luzes do quarto e se deitando também, de barriga para cima, encarando a escuridão acima de si. Ela sentiu a mão de Finnick buscar pela sua, e entrelaçou seus dedos.
━ Finnick ━ ela chamou, com a voz baixa. ━ Tem certeza que está bem?
━ Tenho ━ ele respondeu, no mesmo tom.
━ Você me contaria se não estivesse?
Dessa vez, a resposta não veio tão rápido quanto a anterior.
━ Eu estou bem, Meadow.
A garota tinha suas dúvidas. Naquela ocasião, tudo sobre o comportamento de Finnick parecia incomum, desde sua repentina decisão de não acompanhar os jogos com os mentores até o fato de não querer passar um momento sequer sozinho. Os pensamentos começaram a circular na mente de Meadow enquanto ela teorizava sobre o que teria acontecido, apertando a mão de Finnick levemente enquanto as piores hipóteses se faziam presentes em meio ao turbilhão de imagens.
Em silêncio, ela pensou sobre tudo o que havia acontecido nos últimos dias. Tudo o que Finnick havia feito que pudesse, por algum motivo, ter despertado a fúria do presidente Snow. Não haviam muitas brechas para que ele pudesse fazer algo de verdade; eles estavam o tempo todo administrando seus tributos nos Jogos Vorazes, e até as breves entrevistas dadas eram sobre o assunto. Finnick insistia que nada havia acontecido, mas ela era pessimista demais para acreditar naquilo.
De repente, Meadow arregalou os olhos, quando um clique ocorreu em sua mente. O aerodeslizador. Finnick havia enviado o aerodeslizador que esmagou o garoto do Distrito 7 contra o tronco de uma árvore.
Ela se sentou na cama de imediato, esticando um dos braços para acender as luzes, e segurou o rosto de Finnick entre suas mãos, observando-o de perto na busca por qualquer sinal incomum. Ele franziu o cenho, confuso, e ela desceu o olhar para seu pescoço. Estranhando tudo aquilo, Finnick se sentou, afastando-se de Meadow levemente, e ajeitou a camisa em seu corpo.
━ Meadow. O que você está fazendo?
━ O que Snow fez com você? ━ ela indagou, sem enrolações. ━ O aerodeslizador. Ele se vingou, sim ou não?
Finnick uniu as sobrancelhas, sem responder, e Meadow se aproximou mais uma vez, puxando os braços do rapaz em uma busca desesperada por qualquer marca que pudesse denunciar que algo havia acontecido. Sem perceber, lágrimas já se acumulavam em seus olhos diante da possibilidade, e Finnick conseguiu desviar de suas mãos apenas para segurar a própria garota pelos ombros, mantendo-a imóvel.
━ Finnick. O que fizeram com você? ━ ela insistiu, com a respiração entrecortada, e avançou novamente em direção ao rapaz, puxando-o pelo colarinho da camisa, afastando o tecido para ver a pele de seus ombros. ━ O que eles fizeram? Por que você não me conta?!
O tom de sua voz se tornava mais e mais urgente a cada palavra, enquanto o desespero a dominava. Pensar que Finnick estava passando por qualquer tipo de abuso em silêncio a fazia querer vomitar. Por que ele não a contava? Por que não confiava nela para saber de seus segredos? A possibilidade de Finnick estar sofrendo fazia com que um calafrio subisse por todo seu corpo mais rápido do que ela podia descrever, e o sentimento de incômodo não a abandonava por um segundo sequer.
Finnick a prendeu pelas mãos, obrigando-a a se deitar, e ela comprimiu os lábios em uma linha fina.
━ Chega, Meadow ━ ele falou, com a voz baixa. ━ Você precisa se acalmar.
Ela o encarou, e aos poucos, ele a soltou, vendo-a se sentar, agora mais cuidadosamente.
━ Você precisa falar comigo, Finnick.
Finnick nunca queria preocupá-la. Meadow estava cansada daquilo. Ele sempre estava lá por ela quando ela precisava, confortando-a, dando conselhos, fazendo-a se sentir melhor mesmo que ele mesmo não estivesse tão bem. Ela queria fazer o mesmo. Queria que ele a deixasse fazer o mesmo que sempre fazia por ela. Queria que ele confiasse nela como ela confiava nele. Ela queria poder protegê-lo, fazê-lo se sentir seguro.
Talvez Meadow estivesse se precipitando. Talvez, nada tivesse acontecido. Talvez Snow não tivesse se vingado pela interferência na arena. Mas talvez ele tivesse.
━ Por que você não fala comigo?
Ele desviou o olhar de Meadow, parecendo desconfortável. Devagar, deu as costas à garota, tirando a camisa com cuidado. A cada centímetro de pele que era exposto, Meadow sentia a garganta se fechar mais um pouco, e segurou o ímpeto de se aproximar de Finnick. Ele abandonou a camisa sobre a cama, sem se virar novamente para a garota, que permaneceu estática no lugar, sem saber como reagir.
As costas de Finnick estavam cobertas por hematomas. Marcas roxas, amarelas e avermelhadas dominavam a extensão de sua pele nos locais que as roupas conseguiam tampar. Meadow pensou que ele devia estar sentindo dor, mas nunca deixou que ninguém notasse. Com cuidado, ela levou uma das mãos até uma marca próxima ao ombro do rapaz, tocando a pele quente com a ponta de seus dedos. Ele a olhou por cima do ombro, vendo-a em silêncio, quase sem reação.
Meadow se inclinou devagar para a frente, vendo hematomas também nas costelas e abdômen de Finnick. Um nó se formou em sua garganta. Enviar o aerodeslizador havia sido sua culpa, e Finnick havia pagado por aquilo. Deveria ser ela em seu lugar. Ela queria que tivesse sido.
━ Quando isso aconteceu?
━ Foi ontem.
━ Nós nos vimos depois disso ━ ela observou, sentindo o nó em sua garganta aumentar. ━ Por que não disse nada?
━ Do que adiantaria dizer? ━ ele perguntou. ━ Eu não queria preocupar você.
━ Snow não fez você... ━ ela iniciou, em tom de incerteza e cuidado.
Finnick negou com a cabeça.
━ Não. Não, apenas me bateram um pouco. Eu já aguentei coisa pior, sabe.
Ela sabia que era verdade, mas aquilo não tornava as coisas minimamente mais aceitáveis. Finnick não parecia se importar tanto naquele momento. Ele estava assustado e ela sabia, mas ele não tinha muito a dizer sobre o assunto. Ele não falava tanto sobre seus medos e não chorava com frequência. Finnick havia reprimido tudo o que sentia por tanto tempo por não querer alarmar ninguém que se acostumou a fazer aquilo, e chegou em um ponto em que ele mesmo mal se importava.
Era complicado. Ele sentia muito sobre tudo. Mas não se importava tanto consigo mesmo quanto se importava com os outros. Finnick sempre estava disposto a falar com Meadow sobre as coisas que a afligiam, mas não tinha a mesma vontade de falar dos seus próprios assuntos. Ele nunca quis que se preocupassem com ele. Especialmente, não queria preocupar Meadow.
━ Você deveria ter falado comigo ━ ela disse, quase em um sussurro, e continuou: ━ Você poderia ter falado comigo.
Ela observou os hematomas nas costas de Finnick mais um pouco, antes de tracejar um dos roxos em sua pele com cuidado e ver que as marcas se estendiam pelas costelas do rapaz. Ela sufocou um soluço, antes de pular para fora da cama e observar Finnick de frente, vendo mais marcas em seu abdômen.
━ Você está sentindo dor? Você pode ter quebrado uma costela ━ Meadow falou, e ele vestiu a camisa novamente, soltando um gemido de dor ao movimentar os braços. ━ Finnick. Me responde. Você está sentindo dor?
Ele não queria que Meadow tivesse descoberto. Não queria vê-la daquela forma, porque ele sabia que ela não tinha qualquer poder para ajudá-lo. Era um estresse que ela não precisava enfrentar para fazê-la se sentir pior.
━ Não dói ━ ele assegurou. ━ Eu não quebrei nada. Os pacificadores me levaram para um consultório, depois. Está tudo bem comigo.
Meadow não sabia o que fazer. Queria ajudar Finnick, mas não sabia como. Finnick também não parecia interessado em sua ajuda, e agia como se ela não fosse necessária. Ele falava sobre os hematomas de forma monótona, como se não fossem nada demais, e ela queria acreditar que não eram, mas era impossível se forçar a ser tão ignorante assim.
Com cuidado, ela o alcançou novamente com as mãos, em silêncio, ajeitando sua camisa no lugar. Finnick percebeu que ela mordia o lábio inferior para impedi-lo de tremer enquanto fazia tanto esforço para impedir as lágrimas de escaparem de seus olhos que seu rosto estava vermelho. Meadow passou uma das mãos por seus cabelos, colocando cada fio no lugar, e foi só quando ela passou um de seus dedos por sua bochecha que Finnick percebeu que também chorava.
Não de dor. A dor não o incomodava tanto quanto a situação em si. Não o incomodava tanto quanto a opressão. Quanto a ausência de liberdade e direitos. Quanto o sentimento de humilhação.
Por fim, ela dobrou os joelhos levemente e inclinou o torso para a frente, ficando com o rosto a altura do dele, sentado na cama, e apoiou uma das mãos em um dos ombros de Odair.
━ Me escute ━ ela pediu. ━ Quando qualquer coisa acontecer com você, eu quero que você fale comigo.
━ Meadow...
━ Cala a boca ━ ela contou, rispidamente, e continuou o encarando, unindo as sobrancelhas, angustiada. ━ Se alguém ameaçar você, fale comigo. Se alguém encostar em você, eu quero saber. Me conte até se alguém olhar pra você de cara feia, Finnick. Se eu... Se eu soubesse disso, poderia ter feito alguma coisa, inventado alguma coisa para evitarmos isso e...
━ Meadow, está tudo bem. Não se preocupe.
━ Eu quero que você esteja protegido. É pra isso que estou me casando com você. Eu quero que isso tenha o efeito que planejamos e quero ver você seguro, sem hematomas cobrindo a sua pele onde as roupas tampam ━ ela continuou, arregalando os olhos levemente, e passou uma das mãos pelo cabelo, puxando-os para trás para saírem da frente do rosto. ━ Prometa que não vai esconder essas coisas de mim.
Finnick não entendia. Ninguém nunca tentou protegê-lo de nada, além de Mags, às vezes. Ninguém nunca se preocupou com o que ele passava ou o encarou como alguém que precisava de ajuda. O tratamento que estava recebendo de Meadow era algo novo para ele, porque nunca antes alguém havia feito questão de o defender e proteger. Era ainda mais surpreendente vindo de Meadow, que mal conseguia proteger a si mesma. A urgência em sua voz mostrava o quão disposta ela estava a cumprir com suas palavras; seu tom era tão firme como uma promessa.
━ Prometa, Finnick.
Devagar, com um movimento incerto, ele balançou a cabeça para cima e para baixo.
━ Eu prometo.
Meadow suspirou, ainda com a mão sobre o ombro de Finnick, e apoiou sua testa contra a dele, fechando os olhos brevemente. Ficou daquele jeito por alguns segundos, antes de se afastar e ajeitar a postura, passando uma das mãos pelo rosto, e caminhou pelo quarto em silêncio, enchendo um copo d'água e pegando a caixa de remédios que Pearl a havia dado mais cedo naquela semana. Com um comprimido em uma mão e o copo em outra, ela voltou a se aproximar de Finnick, estendendo os dois em sua direção.
Ele não perguntou o que era. Finnick apenas aceitou e engoliu o comprimido sem a ajuda de água, mas acabou bebendo um gole depois. Meadow continuou em silêncio por mais algum tempo, apenas o observando, até finalmente dizer:
━ É um analgésico.
━ Obrigado.
━ Você vai sentir sono. É normal.
Ele assentiu. Ela continuou o olhando, quieta, sentindo o estômago revirar uma vez mais a cada segundo que se lembrava dos roxos na pele de Finnick.
━ Eu vou começar a pressionar Pearl e todos os outros agora ━ ela falou, enquanto o rapaz continuou em silêncio. ━ Quero adiantar o nosso casamento. Vamos ficar mais seguros. Nossos nomes têm mais força juntos.
━ Tem certeza que esse é o motivo?
━ Como é?
━ Tem certeza de que você só não está ansiosa demais pra se tornar a senhora Odair?
Meadow arfou, olhando para ele desacreditada. Ela estava tentando ter uma conversa séria com Finnick, mas ele não queria permitir aquilo. Ela entendia que era seu mecanismo de defesa, então sorriu minimamente.
━ Sim, Finnick, é exatamente isso.
━ Eu sabia que esse era seu plano desde o início.
━ O meu plano é ver você bem, são e salvo ━ ela disse, retomando o tom sério da conversa. ━ Eu não posso fazer nada disso sem você.
Ele a olhou.
━ Você pode, Meadow. Eu sei que você conseguiria.
A garota balançou a cabeça negativamente.
━ Eu não iria querer. Não sem você.
Finnick se importava tanto com Meadow que às vezes se esquecia de considerar o quão importante ele era para ela. Ele se sentiu um pouco culpado ao se dar conta daquilo. Meadow queria protegê-lo e não iria poupar esforços para fazer aquilo. Ela estava disposta a adiantar o evento que certamente os colocaria na posição de animais de zoológico para a Capital. Estava disposta a assinar o contrato de sua estadia permanente em um distrito longe de sua família. Talvez ele devesse ser mais honesto com ela, parar de esconder coisas como havia escondido naquela ocasião.
Ele a viu encarando a parede do quarto fixamente, com a mente distante e os braços cruzados, e riu baixo diante da cena, fazendo-a olhar para ele em dúvida. Finnick balançou a cabeça negativamente, como se não fosse nada, e ela continuou pensativa. A conclusão do rapaz foi que o motivo de sua preocupação era ele.
Não era como se ele pudesse julgá-la por se preocupar com ele; ele apenas não estava acostumado. Mas quando Finnick pensava sobre as coisas que sentia vontade de fazer quando alguém machucava Meadow de qualquer forma também não eram muito bonitas, e iam muito além do que apenas protegê-la. Ele apoiou uma das mãos sobre o ombro da garota, que se encolheu. Meadow nunca se sentiu tão impotente, vendo as pessoas que eram importantes para ela sofrendo sem poder as defender.
Como se ser obrigado a trabalhar nos bastidores dos Jogos Vorazes e reviver todos os traumas já não fosse ruim o suficiente, os mentores ainda corriam o risco de serem punidos por suas estratégias que só funcionavam por erros da própria Capital, como havia sido o caso do aerodeslizador, que não pôde encontrar Annie Cresta devidamente. E aquela ideia havia sido de Meadow; Snow provavelmente não sabia daquilo, porque apenas Finnick havia sido castigado. Por sua causa.
━ Me desculpe por ter te dado a ideia ━ ela pediu.
━ Não se desculpe. A sua ideia manteve Annie viva lá dentro.
━ E te encheu de hematomas aqui fora.
━ De verdade, Meadow, eu não quero mais falar sobre esse assunto ━ ele suspirou, recolhendo sua mão, e se deitou, esticando as pernas sobre as da garota, ainda sentada na beirada da cama. ━ Estou ficando com sono.
Meadow assentiu, fazendo menção de passar para seu habitual lugar na cama, sem sucesso. Finnick riu, fazendo força para que suas pernas pesadas não deixassem Meadow sair do lugar, e ela riu baixo. Aquele era Finnick. Ele sempre a fazia rir. Era como o rapaz lidava com seus problemas desde sempre, e ela o admirava.
━ Posso me deitar?
━ Qual é a palavrinha mágica?
━ Você é lindo.
Ele sorriu, quase triunfante, e permitiu que ela se movimentasse para chegar ao local de costume. Meadow apagou a luz e se deitou. Dessa vez, não tomou os remédios para dormir; se Finnick precisasse dela durante a noite, era melhor que ela estivesse acordada e pronta para o ajudar em qualquer ocasião, afinal, ele ainda parecia amedrontado ao se sentir sozinho.
Mais uma vez, ele entrelaçou seus dedos e guiou a junção de suas mãos até o peitoral, onde seu coração se localizava, e as descansou ali. Meadow percebeu conforme sua respiração se tornou mais tranquila, indicando que ele havia adormecido, e fechou os próprios olhos em seguida.
𓅨
Meadow acordou na manhã seguinte - após dormir pelo que pareceu ser meia hora - com o som da TV ligada. De alguma forma, mesmo medicado, Finnick havia sido capaz de acordar no horário habitual, e já estava prontamente vestido para descer para o café da manhã e então ir para a central dos mentores. Ela semicerrou os olhos, confusa, e virou o rosto para a televisão.
Na tela, Caesar Flickerman aparecia sorridente, como sempre, mas seu estúdio havia sido substituído pela imagem de uma praia e ele estava sentado em uma espreguiçadeira. No fundo, era possível ouvir algum tipo de versão exagerada da marcha que costumavam tocar em casamentos.
━ Que merda é essa?
━ Você tem andado muito com Hayden ━ Finnick retrucou, e aumentou o volume. ━ É sobre nosso lindo casamento na praia.
━ Ah. Que ótimo.
━ É uma aposta que estão fazendo. Quem acertar quantos metros de tecido Zinnia vai usar na confecção do seu vestido, ganha dois convites ━ ele explicou, e ela franziu o cenho. ━ Você sabe quantos metros são?
━ Acho que nem Zinnia deve saber ainda ━ ela respondeu, franzindo o cenho, e Finnick riu pelo nariz, desligando a TV. ━ Falaram mais alguma coisa? Teve notícias da arena?
━ Os nossos tributos estão bem, pelo menos por enquanto. Se eles não saírem logo da caverna, os idealizadores vão dar um jeito de tirar eles de lá ━ o rapaz respondeu, e a garota assentiu, preocupada. ━ E sobre nosso casamento, bom, ele só falou da aposta e dos convites.
O casamento dos dois, como se não bastasse ser cercado por câmeras, também contaria com a presença de inúmeras pessoas da Capital. Aquelas que estivessem dispostas a comprar convite, as que ganhassem em sorteios, e aquelas que os cerimonialistas decidissem convidar. Se Meadow fosse mesmo se casar, seu número de convidados não deveria passar de dez.
Ela não demorou muito tempo para se arrumar, e logo estava pronta para descer para o café da manhã. Com as mãos entrelaçadas para parecerem mais românticos agora que haviam sido acordados ouvindo sobre o casamento, Finnick e Meadow saíram do quarto e entraram no elevador, onde encontraram Haymitch, com as mesmas roupas do dia anterior.
━ Ah, o amor está no ar ━ o homem falou, com a voz arrastada enquanto ria sozinho, e abraçou Finnick. ━ Você é um homem direito agora, não é? Um homem de família! ━ ele exclamou, e ainda pendurado em Finnick, apontou para Meadow. ━ Você. Você é uma garota de sorte, sabia? Se o prêmio dos Jogos Vorazes fosse Finnick, todos os distritos e até a Capital teriam voluntários.
━ É. Ele foi o meu prêmio dos Jogos Vorazes também ━ Meadow respondeu. ━ De certa forma.
Haymitch assentiu, e deu dois tapinhas no peitoral de Finnick, não fortes o suficiente para fazê-lo sentir dor.
━ Ainda bem que você tem ela. Você também é um cara de sorte. Hayden diz que essa garota é um porre, mas aquele tonto não sabe de nada, ele só... ━ Haymitch começou a gesticular, unindo e separando os dedos próximos a orelha, como se sua mão "falante" fosse Hayden. ━ Quantos metros tem o vestido da Meadow? Meadow, o seu vestido é grande? Você diria que tem uns... Não sei, cinco metros de tecido?
Claro, Meadow pensou, Haymitch já estava bêbado. Ele estava pior desde que a garota do Distrito 12 havia sido morta por Cyrus, o tributo de Mags. E por algum motivo, Haymitch havia prestado atenção nas notícias matinais de Caesar Flickerman, o que era estranho, dada sua condição visivelmente alterada.
━ Você não precisa acertar essa aposta, Haymitch. Nós vamos convidar você ━ Finnick garantiu, e o mais velho sorriu, concordando com a cabeça, e se afastou dos dois. Quando a porta do elevador abriu novamente, os três saíram, caminhando juntos para que pudessem se alimentar, e se sentaram em uma mesa ao canto. Hayden se uniu a eles.
━ De ontem pra hoje, ninguém morreu ━ ele anunciou. ━ Precisamos tirar nossos tributos daquela caverna rápido. Vocês viram a montanha no meio da arena? Acho que pode ser um vulcão.
━ Não, eles já usaram essa estratégia e não faz tanto tempo assim. Eles não vão repetir tão cedo ━ Finnick observou. ━ Mas é verdade. Temos que tirá-los de lá.
━ Temos que tirá-los da arena, isso sim ━ Measow resmungou, passando geleia em um pedaço de pão. ━ Nós não podemos fazer nada. O que poderíamos mandar pra eles pra fazer com que entendam que tem que sair de lá?
Ninguém respondeu, pensando em soluções, sem encontrar alguma. Meadow levantou as sobrancelhas.
━ Calma, gente. Não falem todos de uma vez.
Quando Hayden e Haymitch trocaram um breve olhar, Meadow percebeu. Ela não deu muita atenção; provavelmente, era a forma que eles encontravam para falar mal dela quando ela estava por perto. Não que algum dos dois se importasse em ser discreto, mas era a única explicação que fazia sentido para a garota.
━ Talvez possamos ficar sem enviar comida por algum tempo. Eles vão ter que sair de lá ━ sugeriu Hayden, antes de perceber a falha de seu plano. ━ Mas eles voltariam pra lá depois, provavelmente. Se nós pudéssemos mandar algo, nós mesmos, para eles...
━ Não podemos ━ resmungou Haymitch. ━ Só podemos enviar o que mandam para eles.
Os jogos talvez não avançassem tanto na arena, mas para Meadow, as coisas estavam escalando rapidamente e a parte mais temida daquela jornada estava se aproximando: a parte em que ela perdia as esperanças. A parte em que água e comida deixava se ser o suficiente para Sylvia e Mervyn, mas ainda era tudo o que ela podia fazer. Com a ameaça dos idealizadores se cansando dos três na caverna, Meadow se via sem alternativas além de esperar pela morte dos tributos de seu distrito. Ela já estava de luto por eles antes de conhecê-los, mas as coisas pareciam mais reais naquele momento.
Foi como se o sentimento de perda atingisse todos ali. Haymitch nunca havia tido esperança em seus tributos, e Hayden também não, até pensar que Mervyn poderia ter uma chance ao lado de Sylvia. Meadow se forçou a acreditar por quanto tempo conseguiu, e Finnick não tinha tantas esperanças, mas torcia tanto para que Annie pudesse vencer a arena. O silêncio que os abateu era cortante como uma lâmina. Seus olhares duros de pedra pareceram perder a força enquanto percebiam o que todos já imaginavam desde antes da competição: o tributo vencedor não seria o de nenhum deles.
Meadow pensou sobre Sylvia e sobre todas suas tentativas de se sobressair. Todas as estratégias que, no fim, não valeram de nada. Pensou sobre o vestido que Sylvia disse em uma entrevista que iria desenhar. E então, pensou que Sylvia talvez não vivesse para adivinhar a metragem do tecido de seu vestido.
Foi como receber um soco no estômago. A realidade finalmente estava batendo na porta após alguns dias de esperanças que não deveriam existir.
Ela olhou para Hayden.
━ Temos que dar um jeito.
O homem concordou.
━ Eu sei. É o que estamos dizendo aqui.
Pelo resto do café da manhã, a mente de Meadow trabalhou incansavelmente, maquinando formas de ajudar suas crianças, até que foi interrompida ao ouvir um grito aterrorizante. Finnick e Hayden se levantaram de imediato, e ela se virou na cadeira em um movimento rápido e assustado.
No chão do refeitório, estava Sapphire Rendwick, mentora do Distrito 3.
Olá! Espero que tenham gostado do capítulo!
Obrigada por todos os comentários carinhosos, todos os elogios e incentivos. Vocês, que comentam ao longo dos capítulos ou deixam suas opiniões sobre o que leram no final deles, são anjos. São vocês que mantém as histórias dessa plataforma viva e os autores motivados a escrever. Obrigada por isso.
Vocês, que ficam comentando coisas como "continua" e literalmente só cobrando atualizações, não estão ajudando. Eu escrevo de graça, escrevo por prazer, e vocês tiram o meu prazer de escrever. Eu não conheço nenhum autor aqui que goste de cobrança. Eu entendo querer ler mais, ficar ansioso pra saber o que vai acontecer, mas se querem mais capítulos, comentem sobre o DESENVOLVIMENTO, e não cobranças.
Tem muitas pessoas me cobrando nos próprios capítulos, nas mensagens privadas, até em vídeos do meu TikTok. Alguns vídeos de OUTRAS fanfics que não tem nada a ver com essa. Eu já reclamei sobre isso no meu mural várias vezes. Eu odeio isso. Não me cobrem. Não tornem o meu hobby, uma coisa que eu faço porque gosto, em uma obrigação, porque vai todo mundo sair perdendo. Não é fácil escrever capítulos com uma média de 9 mil palavras, sobre personagens traumatizados e uma competição que envolve morte tão rápido quanto vocês pensam que é possível. Eu infelizmente não tiro palavras do meu cu. Eu tento escrever coisas coerentes e isso dá trabalho.
Mais uma vez, obrigada a todos que me incentivam, que me fazem querer continuar e que com certeza não precisavam ler essas reclamações. Amo vocês e amo saber o que estão achando da fanfic e dos personagens. Obrigada por me permitirem ❤️
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