07.
capítulo sete.
a entrevista dos tributos
POR MAIS DIFÍCIL QUE AS PREPARAÇÕES para os Jogos Vorazes pudessem ser para Meadow Selcouth, elas eram múltiplas vezes piores para os tributos que, de fato, estariam na arena. Ela não sabia direito como as coisas funcionariam; o período pré-jogos de Meadow em sua própria edição era quase que apenas um borrão em sua mente, e agora, como mentora, a garota percebia o quão desesperador era estar naquela posição. A maior parte de seus dias era passada no quarto, uma vez que os tributos passavam o dia no treinamento, e ela só os via quando se unia a eles no prédio para o jantar.
Sendo um tributo, ao menos, não havia muito tempo para se preocupar antes dos Jogos; os treinamentos, avaliações e entrevistas preenchiam qualquer lacuna que pudesse existir. Sendo uma mentora, havia um sentimento de impotência que incomodava Meadow profundamente; não havia nada que ela pudesse fazer enquanto Sylvia Hazel não estivesse presente. Durante os jantares, ela havia conversado e descoberto algumas coisas sobre a garota, como sua habilidade para criar ferramentas com praticamente qualquer coisa que encontrava; era aquilo que ela iria apresentar aos idealizadores dos jogos naquele dia, apenas um pouco mais de vinte e quatro horas de distância de sua entrada na arena.
━ Você tem que se acalmar ━ disse Zinnia Cliff, sentada confortavelmente em um sofá do grande apartamento dos tributos do Distrito 8. Pearl Rooney, caminhando de um lado para o outro na sala, concordou com a cabeça. ━ É só uma avaliação. Não determina muita coisa.
━ Ah, não! ━ Pearl Rooney exclamou, já se arrependendo de concordar com a estilista. ━ A nota determina muita coisa! Você acha que alguém vai querer patrocinar um tributo que tenha tirado menos de 6?!
Toda a equipe responsável pelos tributos do 8 se reunia para o jantar; aquilo incluía os mentores, estilistas e, é claro, Pearl Rooney, que permanecia ali o tempo todo, responsabilizando-se pelos jovens. Meadow achava engraçado todo o luxo fornecido pela Capital aos tributos antes de entrarem na arena, porque ela sabia que aquilo não durava muito. O prédio em que os próprios vitoriosos ficavam quando eram selecionados para serem mentores não se aproximava de ser minimamente tão luxuoso quanto aquele, porque, apesar de serem vitoriosos, ainda eram dos distritos e não mereciam nada demais.
━ Ficar perto de vocês me faz desejar que eu tivesse morrido na arena, vinte e cinco anos atrás ━ Hayden murmurou, fechando os olhos e massageando as têmporas, sentado em uma cadeira na cozinha. ━ O que vocês falarem aqui agora não vai servir de nada. Sylvia e Mervyn não estão aqui para ouvir, caso não tenham percebido. Então, só calem a porra da boca e deixem que haja paz nessa droga de apartamento por pelo menos um minuto!
Um silêncio prevaleceu no apartamento por alguns segundos, o que era mais do que Meadow estava acostumada a ver por ali, até que Pearl Rooney voltou a caminhar, com o som de seus saltos batendo contra o chão preenchendo toda a ausência de sons. Hayden bufou, acendendo um cigarro e levando até os lábios para tragar.
Meadow apenas encarava todos em silêncio, com os olhos quase arregalados e a testa levemente franzida, enquanto tentava ocupar a mente. Ela estava preocupada; embora tivessem causado uma boa impressão durante o Desfile dos Tributos, Sylvia e Mervyn eram alguns dos mais jovens daquela edição dos Jogos Vorazes. Aquilo a entristecia, porque diminuía ainda mais suas chances de sobrevivência, e ela havia se apegado às crianças. Saber que as perderia em breve era como um soco no estômago.
━ Eles estão demorando, não estão?
Hayden a olhou com desdém.
━ Não se preocupe, Meadow. Ninguém vai matar eles antes de chegarem na arena.
━ Você não está ajudando a tranquilizar ninguém ━ Pearl repreendeu, roendo as unhas.
━ Eu não estou tentando tranquilizar ninguém, Pearl Rooney. Vocês não são problema meu.
━ Pra quem gosta de mandar as pessoas calarem a boca, você raramente fica em silêncio, Hayden ━ retrucou Zinnia, passando os dedos pelo veludo do sofá. ━ Já pensou em dar o exemplo? Pregar o que fala?
A cada dia, Meadow gostava mais de Zinnia Cliff, sua estilista e agora de Sylvia. A vitoriosa tinha dificuldade para se ligar às pessoas, e encontrava obstáculos no que se tratava de fazer a jovem se sentir confortável; a estilista, por outro lado, conseguia conversar bem com Sylvia e fazê-la se sentir mais segura do que Meadow seria capaz. Ela nunca tinha dado muita atenção a Zinnia, mas naqueles últimos dias, ela estava sendo crucial não apenas para ajudar com os tributos, como também para lidar com Hayden Sage.
━ Ou o quê? Você vai me fazer um vestido?
A estilista semicerrou os olhos, antes de soltar uma risada pelo nariz, e balançou a cabeça negativamente, resolvendo deixar o mentor para lá. Não era fácil lidar com Hayden, mas eles já estavam acostumados.
━ É por isso que preferimos quando Indigo é selecionado pra ser mentor.
━ Bom, vou te contar um segredo: eu também prefiro! ━ o homem exclamou, apagando o cigarro na mesa de jantar, e Pearl Rooney arregalou os olhos e se engasgou com o próprio ar, preocupada com a madeira. ━ Você acha que eu e Meadow queríamos estar aqui? É claro que não. Ela também preferiria que Cecelia fosse a mentora, pra que ela pudesse se sentar em casa e planejar o casamento do século, depois de passar o dia inteiro brincando de casinha com Finnick no Distrito 4. Mas não tivemos escolha.
━ Não adianta descontar em quem não tem culpa de nada ━ foi a vez de Meadow se pronunciar, chamando a atenção de todos. ━ Zinnia e Amblyn são estilistas. Não são idealizadores dos jogos e também não são presidentes de Panem. Pearl também não tem culpa de nada, além de fazer barulhos irritantes a cada passo dado.
Hayden Sage havia vencido os Jogos Vorazes 25 anos antes, quando o próprio ainda tinha apenas 17, como ela tinha quando ganhou. Aquela era uma descoberta que ela havia feito há apenas alguns dias, já que, antes de realmente falar com o homem, Meadow não sabia nada a seu respeito. Ela sentia falta daquela época, em que Hayden era apenas mais um nome na lista de vencedores do Distrito 8, e não alguém com quem ela precisava conviver.
━ E o que é que te espera em casa, já que queria tanto estar lá, Hayden?
━ Não é sobre o que tem na minha casa. É sobre o que não tem.
Quando Meadow estava começando a se preocupar que o apartamento viraria a nova arena dos Jogos Vorazes e Hayden mataria cada um deles, a porta foi aberta e Sylvia e Mervyn adentraram o recinto juntos, conversando e rindo, sem se deparar com o clima tenso que ocupava o local. Meadow suspirou aliviada, recebendo um olhar de Hayden, e Mervyn uniu as sobrancelhas.
━ Tudo bem por aqui?
━ Parece até que já morremos ━ disse Sylvia, e Mervyn assentiu. Meadow sentiu o estômago revirar; não era certo que crianças tivessem que se sentir daquele jeito.
━ Não, ainda não ━ disse Hayden, levantando-se e bagunçando o cabelo das crianças ao passar por elas, fazendo-as rir. ━ A gente se estranha o tempo todo. É nossa forma de conviver.
Hayden era uma incógnita para Meadow. Com todas suas grosserias e estranheza, parecia ser uma pessoa bem-quista pelas crianças. Ela imaginava que, por ser o único que falava a verdade e não escondia nada sobre a possível morte iminente na arena, as crianças criavam certo carinho por ele; ao menos, ele não estava as enganando. Ele também não parecia odiá-las. Certamente, devia ser muito difícil se apegar a crianças todos os anos apenas para vê-las morrer, e no fim das contas, Meadow não podia julgar Hayden por ser do jeito que era. Não era como se sua vida fosse mais fácil do que a dela.
Todos se sentaram nos sofás, reunidos em frente à televisão, e ouviram as crianças narrando sobre seu dia, o treinamento e como havia sido a avaliação. Depois, quando Caesar Flickerman começou a anunciar as notas de cada tributo, todos se calaram, ansiosos pelo que viria a seguir, e Meadow sentiu Sylvia segurar sua mão. A mais velha olhou para a mais jovem despercebida, encontrando seu rosto jovem preocupado, e por um momento, temeu que a menina saísse viva da arena e enfrentasse tudo o que ela própria havia passado. Mas afastou aqueles pensamentos da cabeça, e apertou a mão de Sylvia três vezes, como Finnick fazia. A mais nova sorriu, e Meadow deitou a cabeça em seu ombro enquanto assistiam à televisão.
━ Um 8? Nada mal ━ disse Hayden, ao ver a nota de Mervyn, e todos parabenizaram o rapaz, que sorriu tímido. ━ Está melhor que muita gente.
━ 9! Parabéns, Sylvia. É uma ótima nota ━ falou Meadow, sorrindo para a garota, que também foi parabenizada pelos outros presentes. ━ Vocês dois tem boas chances. As notas estão ótimas pra conseguir patrocinadores.
O medo que os dois sentiam parecia ser disfarçado pela animação ao verem suas notas, mas Meadow sabia que, no fundo, aquelas crianças já haviam se contentado com a proximidade do fim. Mas ela acreditava que um deles poderia ser o vencedor dos jogos; ela havia vencido, e não era minimamente tão habilidosa ou corajosa quanto os outros dois.
━ Qual foi sua nota, Meadow?
Ela uniu as sobrancelhas, balançando a cabeça negativamente.
━ Eu não me lembro, na verdade. Eu não me lembro de quase nada que aconteceu nos dias que vieram depois da minha Colheita.
━ Você conseguiu um 8, depois de fazer alguma coisa parecida com uma armadilha que acabou funcionando ━ disse Hayden, chamando a atenção de todos. ━ Aspen conseguiu um 7. Woof e Indigo me contavam as coisas com detalhes.
Meadow o encarou com os olhos semicerrados, levemente confusa.
━ Não sabia que você e Indigo se falavam.
Hayden sorriu sozinho.
━ Tem muitas coisas que você não sabe.
Ela quis perguntar o que ela não sabia, mas seria uma lista longa demais, e por mais que ela se sentisse cansada de ser tratada como a garotinha idiota e ingênua, também sentia que seria melhor permanecer no escuro. A maior parte das coisas que ela sabia sobre a vida depois da arena eram coisas ruins. Ela poderia viver sem saber mais, e a ignorância poderia ser uma benção. Ainda assim, a forma com que Hayden agia a irritava; era como se ele sempre a desprezasse, de alguma forma, e ela não conseguia entender o motivo. Talvez ele apenas se sentisse muito superior a todos, mas ela não sabia dizer ao certo qual era sua motivação.
Depois do jantar, onde todos tentaram manter a cordialidade em respeito às crianças, Meadow seguiu Sylvia para o quarto da garota, onde as duas se sentaram na cama, e a mais velha viu o quão cansada a mais jovem parecia, após os dias de intenso treinamento. Ela sorriu triste, soltando um suspiro, e então se colocou a falar:
━ A próxima etapa é sua entrevista. É ainda mais importante do que a nota que você recebeu hoje, porque ela vai ser televisionada e todos vão realmente ver você. Ela pode ditar o seu futuro nos jogos ━ explicou, com calma, e Sylvia assentiu com a cabeça, demonstrando que prestava atenção. ━ Na arena, a maior parte dos tributos morre por desidratação, por frio, às vezes até por doenças. A melhor forma de evitar essas coisas é com a ajuda dos patrocinadores, que doam as coisas que podem te manter viva por mais tempo. Você sabe o que fazer pra conseguir patrocinadores?
━ Preciso fazer com que gostem de mim ━ a ruiva disse, e a mentora assentiu.
━ E você sabe qual a melhor forma de fazer isso?
━ Bom, acho que agindo com simpatia e…
━ Não ━ disse Meadow, balançando a cabeça negativamente, e Sylvia franziu o cenho. ━ Contando mentiras. Você precisa fazer com que eles sintam alguma coisa por você, e não só pensem que você é uma garotinha simpática. Precisa fazer eles sentirem pena, precisa fazer eles torcerem. Você tem que convencê-los que merece e que quer vencer.
━ Essa é a parte difícil. Fazer alguém acreditar que eu possa vencer.
━ Bom, um amigo me disse que todos gostam de um azarão ━ Meadow sorriu, repetindo as palavras de Finnick, e apertou uma das mãos de Sylvia, voltando a ficar séria. ━ Amanhã, na entrevista, você vai dizer que seu sonho é se tornar uma estilista aqui na Capital. Vai falar que se inscreveu para os Jogos Vorazes várias vezes, para ganhar tésseras e vender as tésseras pra comprar tecido. Eles vão se sentir lisonjeados porque você quer ser como eles. E você vai sorrir, vai falar sobre sua família, e no fim, vai dizer que tem um projeto que não conseguiu finalizar antes de entrar na arena.
━ Um projeto? E se me perguntarem qual é o projeto?
━ Você vai dizer que começou a fazer os rascunhos de um vestido de casamento que queria me enviar. Eles não querem saber de mais nada além disso e dos jogos, então acho que consigo muitos patrocinadores pra você se juntar as duas coisas ━ disse Meadow, concentrada em seu próprio plano, e Sylvia arregalou os olhos. ━ Eles vão querer manter você viva. Vão querer ver o seu projeto, que poderia ser o vestido que vou usar.
Aos poucos, Meadow aprendia a jogar o jogo da Capital. Era ainda mais complexo do que os Jogos Vorazes; era como um tabuleiro de xadrez, e todas as estratégias envolviam teias de mentiras e manipulação. No fim, ela estava sendo melhor naquele jogo do que havia sido na arena; jogos mentais eram melhores para Meadow do que os físicos.
Sylvia repetiu a história para si algumas vezes, tentando decorar e fazer soar natural, e ensaiou com Meadow suas falas e expressões até ficar tarde demais e a mentora dizer que ela deveria dormir, porque o dia seguinte seria cheio e ela deveria passar o tempo todo se preparando para a entrevista com seus estilistas e maquiadores, então precisaria estar descansada. Elas se despediram, e ao mesmo tempo que Meadow deixou o quarto, viu Hayden saindo do quarto de Mervyn, na porta da frente, e os dois se encararam por alguns segundos, antes da garota desviar o olhar e se colocar a caminhar pelo apartamento, com o homem atrás de si.
━ Eu pensava que você era bem boba, sabia? Mas você sabe jogar. Não do jeito comum, que todos jogam, mas sabe ━ Hayden disse, enquanto seguiam para a porta, e Meadow não respondeu. ━ Esse seu casamento veio em uma boa hora. Boa até demais, na minha opinião.
━ Quando o amor chega, não dá pra esperar ━ ela retrucou, abrindo a porta e saindo do apartamento. Hayden a seguiu e fechou a porta, agora seguindo para o elevador. ━ Mas entendo que nosso amor irrite algumas pessoas.
━ Entende, claro. Não precisa fingir nada pra mim, Meadow. Não sou eu o seu inimigo ━ ele falou, e ela tentou ignorar sua presença. ━ Só é uma pena que meu tributo não tenha todos os privilégios de poder usar o seu casamento pra se beneficiar.
Finalmente, ela o encarou, balançando a cabeça para os lados.
━ Não tente fazer eu me sentir pior do que já me sinto. Eu não queria fazer nada disso, mas só um tributo sai da arena. A mesma quantidade de tributos pela qual eu sou responsável ━ ela falou, com a voz inicialmente firme, mas que logo se tornou trêmula. ━ Você não entende. Eu acordo todos os dias e desejo que eu tivesse morrido naquela droga de arena só pra não precisar passar por nada disso. Dói em mim, de tantas formas! Mas é o que eu preciso fazer.
━ Eu te entendo, sim. Mais do que você pode imaginar. O que você sente há um ano, eu tenho sentido há quase trinta ━ o homem respondeu, e pela primeira vez, não pareceu estar com raiva dela ou tentando fazê-la se sentir mal. ━ Tenho quarenta e dois anos, Meadow. E eu me lembro de cada tributo que morreu na minha edição dos jogos, quando eu tinha dezessete. Cada um deles. Eu sei que isso já virou uma história pra maioria das pessoas. Mas eu nunca vou esquecer.
Ela se calou, sem saber o que responder, até que perguntou:
━ Melhora com o passar dos anos?
Hayden riu pelo nariz, balançando a cabeça em negação. Então, sem dizer mais nada, ele tirou a jaqueta que vestia e Meadow engoliu em seco, afastando-se do homem discretamente, ainda que não tivesse para onde fugir, cercada pelas paredes do elevador. Ao vê-lo então tirar a camisa que vestia, a garota arregalou os olhos, sentindo suor frio se formar em sua testa, e olhou diversas vezes para a porta do elevador, torcendo para que ela se abrisse rápido, enquanto as atitudes do mentor a assustavam cada vez mais.
Quando Hayden se virou para a mostrar as costas, no entanto, foi quando Meadow percebeu que ele não tinha nenhuma intenção parecida com o que ela havia imaginado. Sentindo a respiração acelerada, Meadow tentou se acalmar, enquanto lia cada um dos nomes marcados na pele do mentor dos jogos, semicerrando os olhos.
━ São os nomes de todos os tributos que perdi ao longo dos anos ━ ele explicou, olhando-a por cima do ombro, e ao ver a garota assustada, arregalou os próprios olhos. ━ Eu não quero nada com você, pelo amor de Deus! Não, não é nada disso! Você poderia ser minha filha. Só queria mostrar a lista. Não são poucos nomes. Você deve imaginar que isso não torna as coisas mais fáceis.
Ele então vestiu a camisa novamente, e foi quando a porta do elevador finalmente se abriu, revelando a figura de Finnick, que uniu as sobrancelhas ao ver o mais velho se vestindo. O mentor do Distrito 4 entrou no cubículo, posicionando-se ao lado de Meadow, e apoiou uma das mãos em seu ombro, olhando-a preocupado.
━ Tudo bem, não é nada do que você está pensando. Ele não fez nada comigo ━ ela garantiu, e Finnick relaxou um pouco, ainda sem se afastar da garota. ━ Não foi nada.
━ Eu não quero nada com sua noivinha, Odair ━ Hayden murmurou para o rapaz, antes de voltar a atenção a Meadow. ━ Me desculpe. Não pensei direito.
Não era um segredo entre os tributos as coisas que aconteciam na Capital. Embora nos Distritos ainda fosse desconhecido tudo o que acontecia nos bastidores, a verdade é que todos os esquemas do presidente Snow eram bem conhecidos por aqueles que deixavam a arena. Hayden imaginava o que Meadow havia passado, claro, apenas não se atentou o suficiente, e se arrependeu de imediato quando percebeu seu erro. Ele jamais faria algo parecido com o que as pessoas da Capital faziam. Principalmente, não após ele mesmo ter sido uma vítima por anos.
━ Tudo bem ━ Meadow repetiu, mais para si mesma do que para os outros. ━ Está tudo bem.
Depois disso, um silêncio desconfortável se instaurou no elevador, e quando finalmente chegaram ao térreo, os três seguiram para o prédio dos mentores, que não era distante dali. Felizmente, lá os mentores não precisavam dividir um apartamento com seus colegas de distrito, e cada um possuía apenas um quarto individual. Meadow imediatamente foi para o próprio quarto, sentindo-se tensa e exausta, e foi seguida de perto por Finnick, que fechou a porta atrás de si ao entrar. Ela o encarou.
━ Estamos noivos, Meadow. Ninguém vai criar caso ━ ele disse, antes de se sentar na cama ao lado da garota. ━ Tem certeza que está bem? Hayden não te fez nada?
━ Ele estava me mostrando uma tatuagem. Ele tem o nome de cada tributo que perdeu tatuado nas costas. Não foi nada do que você deve estar pensando ━ ela assegurou mais uma vez, agora rindo pelo nariz desconfortável, e Finnick assentiu. ━ Como estão as coisas com Annie?
O loiro suspirou, passando uma das mãos pelo rosto, e jogou o corpo para trás, deitando-se na cama. Meadow arredou para trás, apoiando as costas contra a cabeceira, e observou o amigo frustrado.
━ Ela não vai conseguir. Annie não machucaria uma formiga, Meadow. E ela está tão assustada que não sei se vai conseguir pensar em alguma estratégia dentro da arena ━ ele confessou, com uma das mãos cobrindo o rosto, e a garota percebeu a mudança no tom de sua voz. ━ Eu tenho patrocinadores. Posso mantê-la confortável enquanto estiver viva, mas… Isso não vai durar muito tempo.
Meadow havia conhecido Annie Cresta durante sua estadia no Distrito 4. A garota tinha sua idade, e era uma das pessoas mais doces que ela já havia tido conhecimento. Finnick a conhecia desde a infância, porque seus pais trabalhavam juntos, e eles eram bons amigos. Finnick dizia que ela era quase uma irmã para ele. Quando as primeiras lágrimas escorreram dos olhos do rapaz, quase despercebidas, Meadow entendeu seu sentimento.
Não era a primeira vez que Finnick era mentor dos Jogos Vorazes, mas era a primeira vez que corria o risco de perder uma pessoa querida na competição. Ele estava desesperado; não queria perder mais ninguém para a Capital, não depois de seu pai. A jogada do presidente Snow havia sido uma vingança fria e cruel, e Finnick não tinha grandes esperanças para a sobrevivência da amiga na arena.
━ Não pensa assim. Ela tem chances, também… Ela é mais velha que a maior parte dos tributos ━ Meadow tentou consolar, sem saber bem o que fazer, enquanto Finnick tentava se controlar. ━ Eu venci, não venci? Ninguém sabe do destino. Talvez Annie vença. Ela tem as mesmas chances que todos os outros.
━ Esse é o problema, Meadow. Eu não sei se prefiro que ela viva pra experimentar os horrores da Capital, ou se prefiro que ela morra na arena ━ ele retrucou, com a voz rouca e trêmula, sentindo-se culpado pelas próprias palavras. ━ Ela não devia ser sorteada na Colheita. Era o último ano dela. Ela estaria livre disso tudo, se não fosse pela minha ideia idiota. Eu coloquei todos nós nessa situação.
Meadow não era boa em consolar as pessoas. Geralmente, a dinâmica entre os dois funcionava ao contrário; era Finnick quem sempre estava ali por ela. E ela desejou poder retribuir, poder ajudá-lo, mas não sabia o que fazer, porque já sentia as próprias lágrimas surgindo ao ver a agonia do rapaz deitado em sua cama. Vê-lo desabar daquela forma em sua frente era doloroso, porque ela sabia que, embora Finnick passasse por situações terríveis, ele nunca costumava demonstrar sua tristeza. Para ele chorar em sua frente, ela sabia que devia estar sendo um momento especialmente difícil para o rapaz.
Com cuidado, ela se aproximou de Finnick, puxando sua mão que escondia o rosto com cuidado, e secou suas lágrimas com os dedos em um toque suave.
━ Não é culpa sua. Foi Snow quem a mandou pros Jogos, e não você. Você está fazendo de tudo pra mantê-la segura ━ ela disse, com a voz baixa, e quando afastou mais uma lágrima dos olhos de Finnick, ele percebeu que sua mão tremia. ━ Você está fazendo de tudo pra salvar todos nós. Você nos tirou da pior situação que vivemos. Não é culpa sua querer uma vida melhor. É culpa de Snow querer transformar tudo em um inferno.
Após ponderar um pouco, Meadow também se deitou, virada para o rapaz, com cuidado para não invadir o espaço de Finnick e para manter o próprio conforto. Ela engoliu em seco, vendo-o encará-la enquanto passava as costas da mão no próprio rosto, de forma quase agressiva, para secar as lágrimas. Meadow puxou sua mão com delicadeza, vendo a pele vermelha do rosto do rapaz, e mordeu o interior das próprias bochechas, incomodada.
━ Mas ele vai se arrepender ━ ela continuou, agora com raiva no olhar. ━ Vai se arrepender de transformar nossas vidas em um inferno ━ suas feições voltaram a suavizar quando ela encontrou os olhos de Finnick a olhando de volta, e ela finalizou: ━ A neve derrete quando se aproxima do fogo.
Os dois jovens ficaram ali por um tempo, em silêncio, e tudo o que se ouvia eram as fungadas de Finnick enquanto seu choro aos poucos diminuía e se tornava mais contido. Meadow ficou ali, ao seu lado, dando-lhe o espaço que precisava para desabar, mas perto o suficiente para garantir que ele poderia se reerguer. Ela secou suas lágrimas, afastou o cabelo de sua testa suada, mas não tentou interromper ou invalidar seus sentimentos. Ele precisava chorar. Precisava externalizar o que sentia e lavar a alma que acumulava angústias.
Quando o barulho de um estrondo foi ouvido, Meadow se levantou da cama em um pulo, sentindo o coração disparar. Foi até a janela e constatou que uma tempestade atingia a Capital naquela noite, e não demorou a fechar a janela e as cortinas, antes de ligar a TV em qualquer canal apenas para abafar o barulho da chuva. Ela controlou a respiração, sentando-se na cama novamente e tentando não se deixar afetar pelos sons de trovões, e enquanto Finnick limpava os rastros do que pareciam ser suas últimas lágrimas, Meadow contava silenciosamente até cinco repetidas vezes, tentando se acalmar.
Ela não gostava de chuvas, nunca gostou. Chuvas a faziam lembrar de dias terríveis no Distrito 8, quando as gotas penetravam pelo telhado de sua casa e o vento forte adentrava pelas janelas sem vidro. Ela se lembrava de todas as vezes que teve que enfrentar a chuva, a lama e a ventania para chegar em casa após um longo dia na fábrica de tecido. Era difícil acender fogo para aquecer a água para tomar um banho com todo o vento que era soprado. Ela se embrulhava com Aspen em um cobertor e eles seguravam Cedar enquanto a mãe preparava uma sopa de repolho. Eles comiam em silêncio e torciam para o pai chegar bem em casa.
━ Eu não queria encharcar seus lençóis com as minhas lágrimas. Me desculpe ━ Finnick disse, tentando soar minimamente bem-humorado, ainda com a voz baixa e rouca.
━ Não peça desculpas. Você pode fazer isso quantas vezes precisar ━ ela respondeu, com um sorriso pequeno, que sumiu ao som de mais um trovão. ━ Se eu precisar aprender a nadar pra sair do quarto, tudo bem. Você quer descer pra comer alguma coisa?
Ele negou com a cabeça.
━ Estou sem fome.
━ Isso é raro de se ver ━ pontuou Meadow, levantando levemente as sobrancelhas, e viu Finnick se levantando da cama. ━ Aonde você vai?
O rapaz uniu as sobrancelhas, encarando Meadow, e respondeu:
━ Pro meu quarto. Já está ficando tarde.
━ É, você tem razão ━ ela respondeu, após lançar um olhar para o relógio e ver as horas. ━ Boa… boa noite, então.
━ Boa noite, Meadow ━ ele disse, com um sorriso pequeno e um aceno de cabeça.
Um trovão ribombou ainda mais barulhento do que os outros, e em um movimento rápido, Meadow encolheu as pernas na cama, batendo a cabeça contra a cabeceira em que apoiava as costas após se assustar com o barulho. Ela limpou a garganta, tentando disfarçar, e Finnick a encarou em silêncio. Desconfortável e envergonhada, ela o olhou de volta, sem dizer uma palavra. O rapaz balançou a cabeça para cima e para baixo de forma quase imperceptível, e um esboço de sorriso surgiu nos lábios da garota.
Ele chutou os sapatos dos próprios pés, ficando de meias, e enquanto Meadow se levantou para pegar cobertores, ele acompanhou seus movimentos com os olhos. Quando ela voltou, Finnick puxou o edredom da cama, e Meadow jogou os cobertores por cima dos lençóis, antes de tirar os sapatos e se enfiar debaixo de uma coberta para se aquecer. Finnick fez o mesmo, do outro lado da cama, e os dois se encararam ao deitarem lado a lado.
━ Me avise quando quiser que eu vá embora ━ ele pediu, e ela assentiu, ainda envergonhada.
━ Obrigada por ficar ━ murmurou.
━ Disponha ━ o rapaz respondeu, com um sorriso breve, antes de dar as costas à Meadow, pensativo, enquanto aguardava o sono chegar. ━ Nós vamos ficar bem, Meadow. Eu sei que vamos.
Ela não respondeu. Era difícil ser otimista, e ela admirava como Finnick, em um momento de fragilidade, ainda conseguia dizer algo como aquilo. Meadow assentiu para si mesma, tentando se convencer das palavras do rapaz, e suspirou. Após encarar o teto por um tempo, ela virou a cabeça para encontrar as costas de Finnick, e se sentiu grata por tê-lo em sua vida e por ele estar ali, ajudando-a a se sentir segura na tempestade, mesmo quando ele mesmo não se sentia tão bem. Ele era uma jóia.
Com cuidado, ela se aproximou das costas do rapaz, e percebeu que ele murmurava coisas para si mesmo, de forma repetida, como um mantra. Repetia coisas para si mesmo até ele mesmo acreditar, como se suas palavras pudessem atrair coisas boas. De forma ainda mais cuidadosa, Meadow passou um dos braços por cima da silhueta de Finnick, até encontrar uma das suas mãos em frente ao torso. Ele sentiu a respiração calma da garota contra seu pescoço e se movimentou levemente, para facilitar o alcance de Meadow a uma de suas mãos, que a garota apertou três vezes.
Dormiram daquela forma, encaixados quase que perfeitamente, com Meadow praticamente abraçando o rapaz por trás e de mãos dadas. Pela primeira vez, a garota não teve pesadelos ao passar a noite na Capital. Pela primeira vez, Finnick se sentiu seguro para dormir longe da própria casa.
A vida dos dois vitoriosos era repleta de incertezas, e uma das únicas coisas que os jovens sabiam, sem ter sombra de dúvidas, era que estavam ali um pelo outro, através de tempestades e pesadelos. Eles sabiam que, dali em diante, enfrentariam todas as batalhas lado a lado. Eles sentiram que sobreviveriam. Sentiram que um dia poderiam escapar, desde que estivessem juntos, porque eram a melhor esperança um do outro. Mais importante, perceberam que não queriam escapar sem o outro.
𓅨
Na manhã seguinte, Finnick e Meadow acordaram na mesma posição, ao som do alarme que anunciava que o café da manhã dos mentores já estava sendo servido. A garota arregalou os olhos, afastando-se do rapaz, que balbuciou coisas que ela foi incapaz de compreender, antes de se sentar confuso na cama, ainda sonolento, e esfregar o rosto para tentar acordar de vez.
━ Você gosta de ser a conchinha maior, então ━ ele concluiu, bocejando. ━ Certo. Bom saber.
━ Idiota ━ Meadow resmungou, jogando um travesseiro nas costas do rapaz, que riu sozinho. ━ Bom dia pra você também, Finnick.
━ O seu bom-humor matinal é algo que me admira muito, Meadow. Não posso imaginar uma forma mais feliz de passar minhas manhãs do que acordando do seu lado todos os dias quando nos casarmos ━ Finnick provocou, encarando o nada com um sorriso, como se estivesse sonhando acordado com a cena. ━ É uma ótima coisa pra dizer ao Caesar. Que bom que estamos aumentando nosso repertório, você não acha?
Meadow o encarou com os olhos semicerrados, ainda tentando reagir após acordar abruptamente.
━ Você não cala a boca quando acorda?
━ Ah, sim, Caesar, é uma cena verdadeiramente adorável ver Meadow acordando. Ela é muito amorosa, você não imagina o quanto! Me sinto acolhido ao lado dela. Sabe, eu consigo ver o amor que ela sente por mim transparecendo em seus olhos ━ Finnick falou, encenando uma entrevista, enquanto se levantava da cama por completo e recolhia seus sapatos no chão, rindo sozinho da expressão de desgosto no rosto de Meadow. ━ É contagiante. Não há manhã ruim com ela! Ela é um doce, meu cubinho de açúcar.
Com um grunhido, a mentora do Distrito 8 rolou para fora da cama, revirando os olhos ao esbarrar no corpo de Finnick. Ele sempre acordava de bom humor, ela havia aprendido durante sua estadia no Distrito 4, mas não fazia ideia de que já ficava tão elétrico no exato momento em que saía da cama. Fazia sentido, porque ele era, sem dúvidas, uma pessoa bem mais ativa do que ela, e gostava de caminhar pela praia e nadar no mar calmo da manhã. Meadow, por outro lado, acordava ainda mais cansada do que havia ido dormir, e demorava alguns bons minutos para de fato alcançar seu estado normal.
Ela caminhou até o banheiro, esbarrando em um abajur, que conseguiu segurar antes de ir de encontro ao chão. Meadow ajeitou o abajur sobre a mesa de madeira e continuou seu trajeto, sob o olhar de divertimento de Finnick, e escovou os dentes com pressa, aguardando ouvir o som da porta se abrindo para anunciar que o rapaz havia ido embora. Após escovar os dentes, ela voltou para o quarto para pegar uma muda de roupas, e não se surpreendeu ao ver Finnick arrumando a cama cuidadosamente.
Sem questionar, ela abriu o armário onde havia ajeitado suas roupas e pegou algumas peças, após decidir que combinavam minimamente, e ao se virar para caminhar mais uma vez até o banheiro para tomar seu banho, encontrou Finnick a olhando, após ajeitar o último travesseiro sobre a cama.
━ Obrigado por me deixar passar a noite.
━ Eu imaginei que não quisesse ficar sozinho. Eu também não queria. Obrigada por ficar.
━ Eu sempre vou ficar.
━ Claro. Porque, em breve, você vai ser meu maridinho ━ ela retrucou, com desdém, e Finnick riu pelo nariz, balançando a cabeça em negação.
━ Não por isso. Nós estamos juntos nessa, Meadow. Você pode contar comigo. Sabe disso, não sabe?
━ Acho que você gostou de ser a conchinha menor ━ ela fugiu do assunto, rindo levemente, e Finnick levantou uma sobrancelha. Meadow assentiu com a cabeça. ━ Eu sei, Finnick.
Com um sorriso mínimo e um aceno de cabeça, ele se deu por satisfeito, antes de finalmente deixar o quarto e seguir para o próprio. Sem pressa, Meadow trancou a porta após a saída do rapaz e seguiu até o banheiro para se preparar para o longo dia de expectativas, desespero e ansiedade que a aguardava enquanto Sylvia Hazel estava inalcançável, passando o dia em companhia de sua equipe de preparação para a entrevista dos tributos.
Meadow torceu para que ela seguisse o plano que havia traçado na noite anterior; era, provavelmente, sua melhor chance de conseguir patrocinadores. Usar Meadow e Finnick para chamar a atenção. Não era nada de novo; as pessoas faziam aquilo o tempo todo por ali, desde Pearl Rooney que dizia que havia descoberto sobre os dois há tempos, até Caesar Flickerman, que os colocava no ar sempre que a audiência de seu programa começava a cair. Os jovens eram atrações aos olhos daquelas pessoas, e apenas isso. Não fazia mal se aproveitar do posto para conseguir benefícios, Meadow pensava.
Ao sair do quarto, ela encontrou alguns mentores pelos corredores, mas evitou os cumprimentar. Alguns a assustavam, especialmente aqueles que ela sabia que haviam sido carreiristas, e não era possível dizer que estavam exatamente felizes com o anúncio de seu casamento, que os ofuscava especialmente naquela época em que todos precisavam estar sob os holofotes. Quando chegou ao luxuoso refeitório do prédio, correu os olhos brevemente pelo local e encontrou Finnick sentado com Mags, provavelmente discutindo sobre seus tributos, e não quis interferir. Após pegar sua comida, a garota caminhou até a mesa onde Hayden Sage estava sentado, ao lado de um homem loiro que bebia algo de um cantil.
━ Bom dia ━ ela resmungou, sentando-se em frente a Hayden, e encarou o homem loiro. ━ Estou interrompendo vocês?
━ Você quer um gole? ━ indagou Hayden, apontando para o cantil do amigo. Meadow negou com a cabeça, unindo as sobrancelhas. ━ Então não está atrapalhando nada. Haymitch e eu estávamos apenas conversando.
Haymitch Abernathy, o único vitorioso do Distrito 12. Ele havia vencido um Massacre Quaternário e desde então era responsável por ser o mentor dos dois tributos de seu distrito todos os anos, uma vez que não havia com quem compartilhar a tarefa. Considerando que estavam se aproximando da septuagésima edição dos Jogos Vorazes e que Haymitch enviava dois jovens para a arena desde a quinquagésima primeira, Meadow calculou que ele já havia perdido 36 tributos para a competição. Fazia sentido que ele passasse os dias se embebedando e que ela nunca tivesse o visto em uma festa na Capital; ele queria, a todo custo, se afastar daquele dura realidade.
━ Mervyn escreveu uma carta para que eu entregasse à família dele, quando ele morrer na arena ━ contou Hayden, e Meadow mordeu o interior das bochechas. ━ Acho que você deveria dizer para Sylvia fazer o mesmo. É uma chance de se despedir.
━ Você deveria parar de agir assim. Eles podem vencer. Nós vencemos, não vencemos? ━ ela indagou. ━ Um deles pode vencer também.
━ É a sua primeira vez sendo mentora, Meadow. Você é jovem, é esperançosa… Você é uma sonhadora. Não precisou matar ninguém na arena e acho que isso te faz acreditar que ninguém deve morrer lá dentro ━ Hayden retrucou, parecendo relaxado em sua cadeira, e Meadow segurou o garfo com mais força ao ouvir suas palavras. Era claro que ela sabia que pessoas morriam na arena; foi onde perdeu seu irmão. ━ Mas vinte e três crianças vão morrer, e eu duvido que a que sairá viva seja uma das nossas. Você viu o tributo do Distrito 1? Ele tem 18 anos, passou a vida na academia se preparando para os jogos. Os do Distrito 2 têm treinamento com todas as armas possíveis. E os nossos? Bom, os nossos sabem costurar.
Após meio minuto de silêncio, Haymitch soltou uma risada preguiçosa, balançando a cabeça negativamente, e deu mais um gole em sua bebida.
━ Juntos, os meus tributos desse ano não devem pesar mais que sessenta quilos ━ ele disse, com a voz arrastada, e Meadow o encarou. ━ Você acha mesmo que eu deveria acreditar que eles tem chance?
━ Escute, Meadow. Nós não falamos por mal. Eu adoro Mervyn, eu adoraria que ele vencesse a droga dos jogos. Mas Haymitch e eu estamos fazendo isso há tantos anos e perdemos tantos tributos que chegou um ponto em que entendemos que ter esperança serve apenas para nos machucar ━ falou Hayden, apoiando os cotovelos na mesa e observando Meadow brincar com o prato de comida. ━ É difícil no começo. Fazer as pazes com a morte nunca é fácil. Nós não torcemos para que os nossos tributos morram, só aceitamos que é o que vai acontecer. Você vai comer ou só brincar com o seu café da manhã?
Ela suspirou, balançando a cabeça e empurrando a bandeja com seu prato para o vitorioso, que começou a comer, sob o olhar curioso de Haymitch, que abandonou o cantil sobre a mesa e cruzou os braços, parecendo cansado. Meadow encarou os dois homens à sua frente, pensando que talvez eles estivessem certos e aceitar a iminente morte de Sylvia e Mervyn fosse a melhor opção. Ver um final feliz para os Jogos Vorazes era algo impossível, porque em qualquer situação, ela perderia pessoas queridas — Sylvia Hazel, Mervyn Oliver e Annie Cresta jamais poderiam sair vivos da competição. Pensar no assunto a fazia sentir dor de cabeça. Era quase como ter que torcer para que dois morressem, e ela não queria fazer aquilo. Não queria torcer pela morte de ninguém, porque aquilo a tornaria parecida com as pessoas da Capital.
Era complicado. A mera existência dos Jogos Vorazes ia contra tudo o que ela acreditava, e ser obrigada a atuar como mentora de tributos era a coisa mais difícil que ela já havia feito. Meadow se sentia inútil, porque ainda era incapaz de dizer para Sylvia matar tributos na arena, ainda que aquilo fosse extremamente necessário para sua sobrevivência. Ela tentava ajudar, mas ao mesmo tempo, sentia que eram suas ações e conselhos que entregariam a garota à morte na arena. Mas, novamente, como Haymitch e Hayden diziam a ela, que chance seus tributos tinham? O que suas crianças magricelas e exaustas poderiam fazer contra os adolescentes fortes e determinados que se dedicaram à preparação para a arena durante toda a vida? Parecia um caso perdido, e provavelmente era.
Durante o resto do dia, Meadow ficou no quarto, deprimida, enquanto pensava sobre o assunto. As horas se passaram lentamente, e quando o dia virou noite, a garota não percebeu. Foi só ao ouvir o som de batidas violentas contra a porta de seu quarto que Meadow se levantou, confusa e assustada, e caminhou até a porta para abrí-la, dando de cara com Zinnia Cliff, que trazia nas mãos o vestido que ela usaria para assistir às entrevistas dos tributos da plateia. Cabeleireiros e maquiadores completavam sua equipe de preparação, e quando Meadow vestiu o vestido — que, como sempre, era de tons que variavam do roxo —, Zinnia fez algumas alterações com pressa para que ele não parecesse largo ou longo demais em determinadas áreas.
━ Sylvia está bem? Você estava com ela, não é? ━ a mentora perguntou à estilista, que enfiava alfinetes no tecido.
━ A pobrezinha estava um pouco nervosa, mas nada fora do normal. Mervyn estava a ajudando a se manter calma ━ Zinnia respondeu, concentrada no vestido de Meadow. ━ Ela estava ensaiando um discurso sobre querer ser uma estilista da Capital no futuro. Me contou que quer desenhar o seu vestido de noiva.
Meadow riu pelo nariz. Então, Sylvia já estava praticando suas mentiras; se havia enganado Zinnia, certamente não seria mais difícil fazer a Capital acreditar em suas palavras.
━ É mesmo? Você vai ter uma rival, então.
━ Tenho muitos rivais. Todos querem desenhar o vestido da noiva mais cobiçada da Capital. Mas não é assim tão fácil trocar de estilista, a menos que você peça por um novo alguém, então acho que estou bem segura ━ falou a estilista, com um sorriso ladino tomando conta de seus lábios enquanto começava a costurar um detalhe nas costas do vestido de Meadow. ━ Você vê os outros tributos. Eles estão sempre mal-vestidos ou praticamente seminus. Ninguém cuidaria tão bem de você quanto eu, a não ser… Bom, Cinna. Ele é ótimo no que faz, mas também é o único que não está ativamente tentando roubar você de mim.
Trocar de estilista realmente não era algo que Meadow desejava fazer, não porque tinha algum apego a Zinnia ou coisa parecida, mas porque não sentia a menor vontade de tirar as roupas em frente a um novo estranho para tirar suas medidas. Haviam desconfortos que ela não precisava passar novamente, e aquele era um deles; além do mais, Zinnia tinha razão quando dizia que os outros vitoriosos e tributos estavam quase sempre seminus, e ela não tinha vontade de se casar vestindo roupa de banho, por mais que a cerimônia fosse acontecer na beira do mar.
━ E você já começou a desenhar o meu vestido?
━ Tenho alguns rascunhos, sim. Mas ainda preciso analisar várias coisas e saber sua opinião. E convencer Blaize que Finnick não vai se casar de sunga.
━ Essa é a parte difícil.
Para aquela noite, a roupa de Meadow não continha nada de especial. Ela não era o foco, não daquela vez, e sim Sylvia. Era um vestido apenas espalhafatoso o suficiente para que a mentora se misturasse à plateia do programa de Caesar Flickerman, e nada mais que isso; um vestido roxo escuro, de babados, que não marcava sua cintura e ficava mais rodado quando chegava às pernas, mas não tampava além de suas coxas. Os sapatos eram altos e a plataforma dos saltos tinha o formato de borboletas, assim como a tiara que havia sido colocada em seu cabelo. Na maquiagem, muito brilho e cílios postiços enormes. Era demais para Meadow, mas muito pouco para a Capital.
Quando ficou pronta, encontrou Hayden e os dois foram levados até o estúdio de TV, onde se sentaram próximo ao palco, assim como os outros mentores. Ao ver os mentores do Distrito 8 chegando, Finnick e Mags sentaram ao lado dos dois, e sabendo que estavam sendo assistidos por todos os presentes, o jovem pegou uma das mãos de Meadow e depositou um beijo.
━ Ah, como são fofinhos ━ comentou Haymitch, passando pelos dois, e deu um tapa leve na parte de trás da cabeça de Finnick. ━ Você parece um pavão se exibindo. Nós não queremos ver sua dança do acasalamento.
━ Haymitch! ━ Mags exclamou, soltando uma risada, e o único mentor do Distrito 12 sorriu, cambaleando para abraçar a velha. Finnick riu, balançando a cabeça para os lados, e Meadow franziu o cenho, olhando para Hayden pelo canto dos olhos.
━ Não somos assim tão insuportáveis e antissociais quanto você pensa ━ o homem disse, percebendo seu olhar. ━ Se quer saber, o problema é você, que está sempre enfurnada com Finnick ou Indigo.
━ Eu não disse nada. E nunca vi você e Haymitch em festas da Capital.
━ E se visse, não falaria conosco. Eu moro no fim da mesma rua que você, Meadow ━ o homem disse, abrindo um sorriso, e balançou a cabeça negativamente. ━ Até mesmo Cedar, o seu irmão, já me visitou acompanhado de Indigo.
━ Me desculpe, se soubesse que você estava assim tão carente por uma visita minha, teria ido até sua casa levando uma cesta de café da manhã ━ ela retrucou, de forma irônica, e Hayden levantou as sobrancelhas. ━ Você não me parece o tipo amigável.
━ Eu não sou, e você também não. O que acontece é que isso não se trata apenas de amizade, garotinha ━ ele disse, abaixando o tom de voz aos poucos, até que sua voz se tornou apenas um sibilo: ━ Se trata de informações.
Mais uma vez, ela era tratada como se não soubesse de nada. E ela não sabia mesmo, mas duvidava que de fato houvesse algo significativo para ter conhecimento. Novamente, ela repetiu para si mesma, a ignorância podia ser uma bênção, e ela não deveria dar ouvidos a um bêbado.
Passados alguns minutos, as entrevistas começaram, seguindo a ordem dos Distritos, e Meadow se atentou a cada detalhe que era dito por eles sobre suas habilidades. Os carreiristas do 1 e do 2 eram brutamontes e agiam com confiança, enquanto os do 3 pareciam muito mais intelectuais do que fisicamente aptos para a arena. Finnick comentava com ela suas opiniões sobre cada um, mas quando chegou a vez do Distrito 4, ela o sentiu apertar sua mão, nervoso e sem perceber o que fazia.
Annie Cresta tinha um sorriso doce nos lábios, o mesmo que Meadow conhecia, e vestia uma saia rodada em tons brilhantes de azul marinho enquanto a parte de cima se assemelhava a conchas. Pérolas haviam sido trançadas em seus cabelos ruivos e ela estava tão bonita que arrancou suspiros da platéia, mas para quem a conhecia, era visível que estava nervosa.
━ Annie Cresta, do Distrito 4! ━ Caesar anunciou, segurando uma das mãos da garota e levantando-a, enquanto Annie usava a mão livre para acenar para o público. ━ Bem-vinda, Annie. Está gostando da Capital? É muito diferente do Distrito 4, eu imagino.
━ Bom, eu… ━ ela começou, tímida, e olhou para a platéia, engolindo em seco antes de recuperar sua deixa. ━ Eu com certeza não sinto falta do cheiro de peixe podre.
Todos caíram na gargalhada, e Meadow abriu um pequeno sorriso ao ver Finnick suspirar levemente aliviado, enquanto Mags bateu palmas. Hayden soltou uma risada breve pelo nariz, não impressionado, mas entretido com as tentativas dos tributos de agradarem a plateia.
━ Bom, você com certeza não trouxe o cheiro consigo! ━ assegurou o entrevistador, sorridente, e Annie agradeceu. ━ Agora, algo que eu sempre pergunto aos tributos quando Finnick Odair está servindo de mentor, era sobre como se sentiam sobre isso… Que azar, Annie, ter sido sorteada para passar um tempo com ele logo após ele ter ficado noivo, hein!
Meadow e Finnick sorriram para as câmeras que focaram nos dois com a menção de Caesar, e a garota puxou o rosto de Finnick para perto para dar um beijo em sua bochecha. A plateia soltou gritos animados, e Finnick piscou para a câmera, levantando a mão para evidenciar a aliança de noivado.
━ Ah, quero dizer, Finnick é uma ótima pessoa, sou mesmo sortuda de ter ele como meu mentor… E eu conheci Meadow e posso dizer que ela é um doce! ━ exclamou Annie. ━ Azar será se eu não poder comparecer ao casamento dos dois, em minha opinião!
━ Com certeza! Bom, nós vamos torcer para ver você na cerimônia, não vamos, pessoal?! ━ Caesar incentivou, e a plateia concordou, fazendo Annie sorrir, agradecida. ━ E como estão os preparativos para os jogos? Imagino que seja excelente com instrumentos pontiagudos!
━ Estou um pouco nervosa, admito. Me sinto um peixe fora d'água perto de tantos tributos fortes e decididos ━ ela brincou com o fato de ser do distrito da pesca, arrancando gargalhadas exageradas do público. ━ Mas vou dar o melhor de mim. Sei que sou habilidosa, acho que posso me virar com as armas certas.
Enquanto a entrevista se seguia, Meadow virou a cabeça discretamente para Finnick, sussurrando em um de seus ouvidos:
━ Você mandou ela falar sobre o casamento pra conseguir simpatizantes, não mandou?
━ Ei, o casamento também é meu! Eu posso usar ele pra me beneficiar, cubo de açúcar.
━ Boa jogada ━ Meadow resmungou, voltando a atenção à entrevista, que já chegava ao fim.
Annie se despediu e recebeu aplausos, e seu colega de distrito veio em seguida. As entrevistas se passaram rapidamente, afinal, eram crianças demais para entrevistar, e não havia tempo para fazer perguntas profundas demais. Logo, o segundo tributo do Distrito 7 estava indo embora do palco, e Caesar Flickerman se levantou para receber Sylvia Hazel.
━ Do Distrito 8, Sylvia Hazel! ━ ele exclamou, e a garota caminhou pelo palco com um sorriso deslumbrante, acenando para todos e apertando a mão do apresentador de forma simpática. ━ Que sorriso mais contagiante, você tem!
━ Ah, é que você não imagina o quão feliz eu estou pela oportunidade de estar aqui, vendo todas essas pessoas bonitas e bem vestidas ━ ela retrucou, observando as pessoas da plateia, parando os olhos em Meadow por alguns segundos, aguardando sua aprovação. A mentora sorriu. ━ Eu adoro moda, me desculpe se me distraí!
Como sempre, a plateia caiu no riso — eles sempre agiam como se estivessem no circo — e Meadow aproveitou esse breve momento para observar as roupas de Sylvia. A parte de cima de seu vestido era amarela e com flores bordadas, e as mangas eram longas e transparentes, enquanto a saia da garota, que ia até um pouco abaixo dos joelhos, era bufante e rodada, com um corte que se assemelhava a pétalas de uma flor. Ela estava adorável, e seu cabelo ruivo caía solto pelas costas como a lava de um vulcão.
━ É claro que adora! Seu Distrito é o 8, nós não poderíamos esperar nada de diferente! Eu imagino, então, que o que mais está gostando sobre a Capital são as roupas? ━ supôs Caesar, e Sylvia concordou animada. ━ Ah, você deve estar muito feliz de ter Meadow como sua mentora, então! Nós a chamamos de fashionista, quando ela não está olhando! E, por falar em Meadow, ela está sendo uma boa mentora para você?
━ Ah, ela é a melhor! Sei que é a primeira vez que ela faz isso, mas não parece, porque ela tem ótimas dicas e me ajuda muito. Ela é uma inspiração para todas nós no Distrito 8, as meninas da minha sala querem todas ser como ela ━ disse Sylvia, e Meadow não sabia se devia se preocupar com o fato ou rir da mentira inventada. ━ Admito que fiquei assustada ao ser sorteada na Colheita, mas ela tornou tudo mais fácil. Tive medo de que ela estivesse mais focada em planejar o casamento do que em me ajudar, mas não está acontecendo. Eu também não julgaria se ela se preocupasse mais com a cerimônia, porque bem, você já viu com quem ela vai se casar?!
Caesar gargalhou, assentindo, e Sylvia acenou discretamente para Meadow e Finnick, que riu e acenou de volta, antes de sussurrar para Meadow:
━ Você trabalhou bem mesmo toda essa questão do casamento com ela, não foi?
━ Você ainda não viu nada ━ ela sussurrou de volta, ainda sorrindo para as câmeras.
━ Aqui na Capital não se fala de outra coisa! ━ disse Caesar, sendo aplaudido pelo público, que concordava. ━ Já que estamos falando de Meadow e de como você se espelha nela, o tributo misericordioso do Distrito 8, tenho que lembrar que ela não matou ninguém durante os jogos. Você planeja seguir por esse mesmo caminho?
Sylvia limpou a garganta, sentindo seu sorriso vacilar por um momento, e então negou com a cabeça.
━ Eu vou matar quem eu precisar para vencer ━ ela assegurou. ━ Quero continuar viva. Preciso continuar viva, na verdade, para terminar o meu grande projeto…
Caesar levantou as sobrancelhas, olhando para a plateia, instigando o suspense.
━ Um grande projeto, é? E posso perguntar qual seria?
Agora fazendo o papel de garotinha tímida, Sylvia brincou com a saia do vestido, com um sorriso mínimo, antes de responder:
━ Bom, eu… Eu desejo me tornar estilista um dia, sabe? E eu sei que posso parecer um pouco audaciosa, mas veja bem, eu gostaria de desenhar um vestido para Meadow ━ a plateia iniciou um coro de “awns”, achando a atitude da garota adorável, e Sylvia continuou: ━ Um vestido de casamento, na verdade.
Finnick arregalou os olhos para Meadow, chocado com o desfecho da entrevista, e encontrou um sorriso radiante nos lábios da noiva. Do outro lado de Meadow, Hayden levantou as sobrancelhas em aprovação.
━ Você é perigosa, Selcouth ━ falou ele, com a voz baixa.
━ Você é genial ━ disse Finnick, no mesmo tom de voz.
Ela riu pelo nariz, atenta à entrevista. Meadow não era uma guerreira, não era forte ou um exemplo de coragem, mas havia aprendido a jogar com as armas que tinha. Era um talento que ela ainda estava desenvolvendo, mas por mais que não fosse algo que gostava de fazer, Meadow havia nascido para performar. Sua língua era sua maior arma e suas mentiras eram capazes de conseguir muitas coisas, mais ainda do que as armas podiam conseguir.
━ Eu deixei um rascunho com Zinnia Cliff, que é nossa estilista, para o caso de eu não sair da arena ━ a menina continuou, fazendo o público soltar murmúrios de lamentação. ━ Mas espero poder entregar pessoalmente a Meadow.
━ Todos nós esperamos! Estou mais do que curioso para ver o que você preparou, Sylvia. Quem sabe, no futuro, você não se torne uma estilista dos Jogos?! ━ ele sugeriu, e ela sorriu com a possibilidade.
A entrevista de Sylvia estava sendo um sucesso, o que era um alívio para Meadow, mas conforme o show chegava ao fim, ela começava a se preocupar cada vez mais, afinal de contas, não havia uma próxima etapa antecedendo os Jogos Vorazes. No dia seguinte, Sylvia Hazel e os outros 23 tributos seriam enviados para a arena, e Meadow não tinha certeza se sua língua de prata seria suficiente para fazê-la sair de lá com vida.
9k palavras. que custo foi escrever esse capítulo e conseguir equilibrar o desenvolvimento do romance da meadow com o finnick e a própria jornada dela como mentora! tô escrevendo esse capítulo há dias e só agora terminei, não revisei porque tô com preguiça, então se tiver algum erro, esse é o motivo.
enfim, espero que tenham gostado, e vejo vocês no próximo capítulo! o que estão achando da fanfic e dos personagens?
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