05.
capítulo cinco.
um preço a se pagar
MEADOW HAVIA PASSADO por todos os distritos de Panem durante sua Turnê da Vitória, mas nunca passou mais do que algumas horas em qualquer um além do Distrito 8, onde morava. Quando Pearl Rooney revelou a ela que o Distrito 4 seria sua nova moradia daquela noite em diante, ela não soube como reagir; Meadow não queria ou planejava se mudar, mas não podia dizer que não sabia o porquê de tudo aquilo estar acontecendo, porque sabia.
Ela estava sendo punida.
O presidente Snow não havia ficado satisfeito com o noivado entre seus dois vitoriosos mais requisitados, era claro que não. O erro de Meadow e de Finnick foi terem tido a mera esperança de escaparem impunes da festa na Capital, afinal de contas, Coriolanus Snow nunca foi reconhecido por sua misericórdia e piedade. Então, o castigo de Meadow foi aquele: ser enviada para longe de sua família sem a chance de se despedir e sem saber quando os veria de novo. Não parecia tão ruim, mas o pai e o irmão eram tudo o que havia restado a Meadow, e não poder estar em constante contato com os dois era desesperador. Como ela poderia saber que não estavam sofrendo? Como ela poderia saber que os pacificadores não haviam invadido sua casa na Vila dos Vitoriosos e os expulsado de lá?
━ Indigo não os deixaria desamparados, Meadow ━ Finnick assegurou, antes de entrarem no trem, após ouvirem as notícias. ━ E se for o caso, bom, vocês tinham uma casa antes de tudo acontecer, não tinham?
Eles tinham um teto. A palavra casa era forte demais, afinal de contas, Meadow e Aspen eram quem arcava com as despesas de casa devido a doença do pai e o desaparecimento da mãe. Dividindo o tempo entre a fábrica de tecido e a escola, não era como se pudessem ter muitos luxos, como uma casa que não estivesse caindo aos pedaços. A preferência dos dois era comprar comida, sempre. A fome doía mais do que o frio e, no caso dos dois, precisavam se alimentar para trabalhar. Se tivessem fome, não teriam mais nada. Nem mesmo um teto.
As preocupações preencheram a mente de Meadow Selcouth durante toda a viagem da Capital até o Distrito 4, que não foi muito longa; o distrito de Finnick era mais próximo da Capital do que o seu, que se encontrava no outro extremo de Panem. Ela admirou o amigo um pouco mais ao se dar conta da distância que ele percorria para visitá-la; era necessário atravessar o país para ir do Distrito 4 até o 8. Odair agia como se não fosse nada demais, mas era. O que só tornou tudo pior para ela, percebendo que aquela era a distância que teria que percorrer para ver a família novamente.
Quando desceram do trem, a primeira coisa que Meadow notou foi o azul do céu. Era diferente de seu distrito, porque o azul era coberto pela fumaça liberada pelas indústrias no Distrito 8. Mas essa não era a única diferença; tudo ali parecia ser melhor e mais desenvolvido, o que fazia sentido. Juntamente dos Distritos 11 e 12, o 8 era um dos mais pobres de Panem. Mas ela não estava impressionada; não fazia diferença para ela o que havia ali de melhor, se não podia estar com sua família para aproveitar.
Ela pensou em Cedar recebendo a notícia de que não a veria mais tão cedo. Ele, que se esforçava para cuidar dela todos os dias, mesmo quando aquela devia ser sua função. Meadow sabia que seu pai entenderia a situação, mas o pequeno Cedar talvez pensasse que ela havia os abandonado de vez. Não que ela estivesse presente antes daquilo; embora seu corpo estivesse lá, sua mente já havia se dissipado e Cedar sabia que a garota sentada no quarto não era a mesma Meadow de antes da Colheita.
━ A vingança dele não acabou ━ Meadow falou, com a voz baixa, enquanto aguardavam. ━ Isso não é tudo, Finnick. Não é.
Podia ser péssimo, e era. Mas Meadow sabia que aquilo era um castigo leve demais para Snow. Ainda mais após os dois terem feito o que haviam feito. O presidente não estava convencido de seu relacionamento, e de quebra, havia perdido seus dois vitoriosos. Desde o início, a possibilidade do noivado ser uma péssima ideia passou pela cabeça da garota, mas ela tentou se convencer do contrário em meio ao desespero. Ela não culpava Finnick por ter idealizado tudo aquilo, também; os dois só queriam escapar da rede de prostituição. Só queriam, de uma vez por todas, pertencer a si mesmos e não às mãos imundas da Capital.
━ Não vamos pensar nisso agora ━ disse Finnick, tentando passar tranquilidade, mas Meadow viu quando ele trincou a mandíbula. ━ Escuta, eu também não sabia que íamos morar juntos, certo? Não tive tempo pra me preparar pra sua chegada. Mas nós vamos dar um jeito, não precisa se preocupar.
Quando o carro de Pacificadores que os levaria até a Vila dos Vitoriosos parou em frente aos dois na estação de trem, Meadow foi empurrada por Finnick para dentro, porque não saiu do lugar. Ele achou melhor fazê-la entrar antes que um dos pacificadores decidisse tentar; eles não eram tão delicados e pacientes quanto ele.
Poucas pessoas eram pacientes com Meadow, na verdade. Finnick e Cedar. As outras pessoas apenas desistiam ou se exaltavam o tempo todo, mas ninguém podia os julgar. Era difícil se relacionar com Meadow e não era como se tivessem todo o tempo do mundo para se esforçar. As pessoas no Distrito 8 eram moldadas de forma bruta. Precisavam daquilo para lidar com todo o trabalho duro nas indústrias.
Era difícil se relacionar com qualquer um dos Vitoriosos. Todos eles carregavam traumas demais e eram afetados de diferentes formas pelos Jogos Vorazes. Em sua arena, Finnick havia sido sanguinário. O campeão mais jovem da história, aos 14 anos. Matou diversos adversários com um tridente após os prender em sua rede de pesca. Era de um distrito carreirista. De certa forma, era possível dizer que ele já estava pronto para os jogos antes mesmo de ir para a arena. Ele nunca quis matar, é claro que não, mas cresceu lidando bem com o fato de que talvez, um dia, seria necessário matar para viver. E Finnick carregava o peso da culpa nos ombros, mas era a vida após os jogos que tornava tudo pior: ser tratado como um vencedor por fazer coisas horríveis e ser desejado pelo mesmo motivo. Ser usado para satisfazer desejos de pessoas que nem ao menos conhecia. Ele lidava com seus traumas os escondendo e disfarçava sua vulnerabilidade com piadas.
As coisas haviam sido diferentes com Meadow. O Distrito 8 não vencia uma edição dos Jogos Vorazes há muitos anos quando seu nome foi chamado na Colheita, e ninguém esperava que ela fosse vencer. Quando Aspen se voluntariou, bom, o luto se instaurou de vez em meio aos cidadãos, porque uma mesma família perderia duas de suas crianças. E enquanto Meadow estava convencida de que morreria nos primeiros minutos, Aspen estava determinado a manter os dois vivos, e no fim das contas, conseguiu os levar até a reta final. Meadow nunca havia sido uma pessoa otimista, mas naquele dia, sentiu que talvez os idealizadores dos Jogos tivessem piedade e deixassem os dois voltarem para a casa. Mas não aconteceu, e Aspen deu um fim à própria vida para que a irmã pudesse viver. Ela não precisava pensar nele, porque o via todos os dias. Às vezes ela o via a observando pela janela. Em outras, conseguia o ver cuidando das plantas em frente à casa. Ela o via em Cedar, porque eram tão parecidos. Ela o via nos olhos de seu pai. Ela via Aspen em todos os lugares, e sabia que ele não estava em lugar nenhum. A vida na Capital e tudo o que veio depois apenas contribuiu para que seu trauma aumentasse.
━ Eu já te falei sobre minha mãe, não já? ━ indagou Finnick, brincando com os próprios dedos, e Meadow o encarou. ━ Talvez não de forma muito detalhada, mas tenho certeza que já te contei sobre ela.
━ Você disse que ela fala sozinha, como se ainda visse o seu pai ━ ela respondeu, e Finnick assentiu em silêncio, encarando o nada. ━ Tudo bem. Não tem problema.
━ Ela enlouqueceu quando mataram ele. Ela vê coisas, mas é inofensiva. Às vezes, ela fala tanto com meu pai que é como se ele ainda estivesse ali ━ Finnick contou, e Meadow o observou calada. ━ Mags nos ajuda muito. Ela vai ajudar você, também. Vocês vão se dar bem, ela também não é muito falante.
━ Deve ser solitário pra você ━ a garota murmurou, pensativa. ━ Não ter ninguém pra conversar.
Mags havia sofrido um derrame anos antes que havia afetado sua fala. Ela não conseguia dizer mais que duas palavras sem tossir, e sua voz era baixa e quase inaudível. A mãe de Finnick, como ele havia dito, não falava coisa com coisa, muito afetada pela morte do marido. E Meadow, bom, ela não tinha nada que valesse a pena ser dito e não era como se fosse boa para conversar, também.
━ Todo mundo tem limitações ━ ele respondeu, simplesmente.
Ao adentrar o distrito de Finnick, Meadow reparou que ele já não parecia mais o rapaz radiante que ela conhecia. Poucas foram as vezes que ele havia, de verdade, abaixado sua máscara na presença de Meadow. Aquilo só ocorria sob extrema vulnerabilidade. Mas ali, em sua casa, longe de olhos curiosos, era como se aquela fosse a verdadeira versão de Finnick. Sem retoques, holofotes e poemas. Apenas Finnick Odair, um garoto do Distrito 4, que passava o tempo livre pescando e limpando peixes.
━ Você pode escrever uma carta pra sua família quando entrarmos ━ disse o rapaz, quando o carro parou em frente à Vila dos Vitoriosos e as portas foram abertas por pacificadores. ━ Pra se certificar de que eles estão bem.
Quando Finnick desceu do carro, Meadow permaneceu lá dentro, encarando os portões da Vila dos Vitoriosos com olhos confusos. As casas da vila eram todas iguais em qualquer distrito, mas diferentemente do 8, o Distrito 4 possuía muitos vencedores. Era um lugar muito mais movimentado ali; as pessoas não estavam todas do lado de fora, mas era fácil perceber quais casas possuíam moradores. Após concluir que o carro não voltaria a circular enquanto ela estivesse dentro dele, Meadow desceu do veículo, finalmente sentindo as lágrimas se formando em seus olhos ao encarar o novo lar.
Ela se recusou a derramar as lágrimas daquela vez. Seu lábio inferior tremeu brevemente, mas ela o mordeu para evitar. Finnick percebeu, mas não disse nada, apenas sinalizou para que a garota o seguisse em direção à sua casa, que era uma das últimas da vila. Enquanto caminhavam, ela sentiu um cheiro diferente, como se houvesse sal no ar, e enrugou o nariz, confusa com aquilo.
━ É a maresia ━ Finnick explicou a ela, soltando uma risada breve. ━ Você já foi à praia?
━ Praia? ━ ela indagou, arqueando uma das sobrancelhas. O Distrito 8 tinha, sim, uma porção que encontrava o mar, mas era bem pequena e distante de onde Meadow morava. ━ Não. Nós não tínhamos folga das indústrias e nem como chegar lá.
━ Eu imaginei ━ ele retrucou, abrindo a porta de sua casa e deixando Meadow passar primeiro. ━ Tem um pedaço de praia atrás da vila. Dá pra ver da janela dos quartos. Nós podemos ir lá mais tarde ━ ele sugeriu, e então abriu um sorriso ladino. ━ Sabe, passar nossa lua de mel.
━ Passar a lua de mel nos fundos da casa? ━ Meadow questionou, sem parecer muito impressionada. ━ Bom, ainda é melhor do que o que eu teria se fosse me casar de verdade no Distrito 8.
O interior da casa de Finnick não era igual ao da casa de Meadow. As paredes tinham mais fotos penduradas; fotografias, principalmente, do rapaz com seu pai. Fotos de infância de Finnick, em que ele se encontrava no mar, e fotos de sua mãe, uma mulher loira com um sorriso feliz na época. A voz daquela mulher podia ser ouvida no andar de cima, falando coisas que Meadow não conseguia entender, mas ouví-la fez Finnick sorrir brevemente.
━ Vamos lá. Ela deve estar esperando por nós ━ falou o rapaz, indicando para Meadow a escada. ━ Não é como se toda Panem já não soubesse da notícia, é? Estão anunciando em todos os canais da TV. Eu não me assustaria se uma equipe de filmagem aparecesse aqui ainda essa semana.
Meadow balançou a cabeça em concordância. Ela sabia que sua vida havia se tornado em espetáculo midiático desde que saiu da arena, mas especialmente seu casamento e todos os aspectos que o envolviam eram motivo de curiosidade para a Capital. Eles sugariam tudo o que pudessem da cerimônia; ela tinha certeza que seria televisionada, e que o público faria todo um alvoroço por seu vestido e ela teria que sortear convites de casamento para pessoas que não queria ver nunca mais. Mas Meadow tinha a esperança de que, uma vez que a ansiedade pela cerimônia e a festa passassem, as pessoas perdessem o interesse nela e em Finnick, no geral.
━ Cedar assiste televisão. Pelo menos não vai se preocupar com o meu sumiço, agora que sabe que estou morando aqui ━ sua voz baixa tinha agora um toque de rancor, e enquanto subia os degraus, Meadow soltou um suspiro. ━ Talvez seja melhor mesmo. Eu desaparecer. É melhor pra eles, que não vão precisar lidar comigo e passar os dias se preocupando.
━ É, você é problema meu, agora ━ confirmou Finnick, de forma humorada. ━ Não pense essas coisas, Meadow. Pense pelo lado bom, lembre-se que estamos livres agora.
━ Livres, você diz?
━ Tão livres quanto podemos ser nesse lugar.
Ela sabia o que ele queria dizer, claro que sim. Estavam livres da prostituição. Não de Panem, não do presidente Snow, não dos Jogos Vorazes e não da Capital. Mas estavam livres das noites em que tinham seus corpos oferecidos para outras pessoas e de toda a violência que aquilo envolvia. As marcas deixadas pelo tráfico sexual passado na Capital após os Jogos Vorazes eram muito mais do que físicas, mas agora que aquilo havia chegado ao fim, talvez os dois jovens pudessem seguir em frente. Não esquecer, mas talvez, superar.
Meadow seguiu Finnick pelo corredor e entrou em um dos quartos, onde se deparou com as costas da mulher que procuravam. Seus cabelos eram loiros e grisalhos e ela os mantinha presos, enquanto suas mãos se movimentavam sobre um material que a jovem reconheceu como argila. Ela murmurava algumas coisas, cantarolando às vezes, e não pareceu se importar com os passos se aproximando.
━ Mãe? ━ Finnick chamou sua atenção, e a mulher se virou de imediato, arregalando os olhos e abrindo um sorriso ao ver os dois. Ela limpou as mãos em um avental e se aproximou, segurando o rosto do filho para o admirar brevemente antes de o abraçar.
━ Está cada dia mais lindo! Ah, e você, você deve ser Meadow! Sim, eu a vi na televisão, você esteve presa em um deserto e conseguiu sair com vida ━ a mulher falou, e a garota não conseguiu responder, apenas assentiu com a cabeça. Em resposta, a mãe de Finnick sorriu levemente, tirando alguns fios de cabelo do próprio rosto, e apoiou as mãos nos ombros da vitoriosa. ━ Ah, eu estava louca para te conhecer, Finnick me contou sobre você, mas não me disse que estavam noivos e nem que eram namorados… Bom, não importa, finalmente estamos aqui! Eu sou Coralia, muito prazer… Marvin já deve estar chegando com peixes para o jantar, ele vai adorar conhecê-la, também!
Marvin Odair, o pai de Finnick. O homem que estava morto há alguns anos e que continuava vivo na mente da pobre Coralia. Meadow não soube como reagir diante daquilo, e percebendo o estupor da garota, Finnick abraçou a mãe de lado e sorriu para ela brevemente, antes de dizer:
━ Vou levar Meadow pra conhecer a casa, sim? Não se preocupe, nós vamos cuidar do jantar essa noite.
Coralia assentiu, um pouco confusa, mas passou uma das mãos de forma carinhosa por uma das bochechas do filho, antes de dar as costas aos dois e voltar a atenção aos vasos de argila. Em silêncio, Finnick e Meadow saíram do quarto, deixando a mulher trabalhar em paz.
━ Ela passa o dia inteiro ali, esperando meu pai voltar, como se fosse um dia comum. Acho que ela apagou completamente da memória o dia em que ele morreu, e desde então, vive o mesmo dia todos os dias, como se ele ainda fosse voltar para nós. Como se não o tivessem tirado de nós ━ ele explicou, passando uma das mãos pelo rosto, e ela assentiu com a cabeça. ━ Temos que ter paciência, sabe? Nós não contamos pra ela sobre o que aconteceu, só… Deixamos ela sonhar. Ela está feliz, no fim das contas.
━ Que engraçado. Eu sempre pensei que você levava uma vida perfeita, nadando em dinheiro, com uma família completa e funcional… ━ falou Meadow, sem a intenção de ofender, apenas pontuando a realidade. ━ Mas até isso a Capital tirou de você. Acho que isso não existe mesmo no nosso mundo.
━ Bom, eu não tenho lidado com nada parecido com dinheiro há anos ━ ele respondeu, abrindo a porta de um novo quarto, que claramente pertencia a ele. Não porque algum aspecto visual o diferenciava o suficiente para que ela imediatamente o ligasse a Finnick, mas porque tinha o seu cheiro. ━ E só restaram minha mãe e Mags da minha família. E agora você, é claro. Meu adorável cubo de açúcar.
Ele sorriu de forma quase detestável, e Meadow revirou os olhos.
━ E nossos filhos, no futuro? ━ ela completou.
━ Eu nunca quis ter filhos. Ainda não quero ━ ele respondeu, ficando sério com a simples menção do assunto. ━ Eu sei que é só brincadeira sua, mas filhos de vitoriosos sempre acabam na arena. Se nós dois tivéssemos um filho, eu não quero nem imaginar. Ele iria passar o aniversário de doze anos sendo sorteado na Colheita.
Era uma triste verdade. Os filhos de vitoriosos eram colocados na arena com uma frequência grande demais para que fosse apenas coincidência; era uma forma dos idealizadores tornarem os jogos mais interessantes para o público.
━ É por isso que poucos vitoriosos tem uma família ━ ela concluiu, correndo os olhos pelo quarto do rapaz, e então encarou Finnick. ━ E o meu quarto? Onde fica?
━ Esse é o problema. A casa tem três quartos, exatamente como a sua. Um é meu, um da minha mãe e o outro ela usa pra esculpir, pintar, qualquer coisa que a mantenha distraída ━ ele explicou, vendo-a franzir o cenho ao ouvir sua fala. ━ Eu posso dormir na casa de Mags por enquanto, até resolver isso. Você pode ficar com o meu quarto.
━ Você vai sair da sua casa?
━ É. Você quer que eu fique pra dormir com você?
━ Você fica colocando palavras na minha boca que eu nunca diria ━ ela uniu as sobrancelhas, cruzando os braços, e ele piscou em sua direção. ━ Eu posso dormir na casa de Mags, é o que eu quis dizer. Idiota.
Finnick sorriu ladino, balançando a cabeça negativamente, e sinalizou para que Meadow ficasse à vontade. Então, com passos largos, seguiu até o guarda-roupas e pegou algumas peças.
━ Vou tomar banho. Você pode ir depois. Deixaram uma sacola de roupas pra você aqui mais cedo, antes de nós chegarmos. Não sei se estão do seu gosto, mas até irmos pro seu Distrito e recuperar as coisas que você gosta, vai demorar um pouco. A Colheita é em duas semanas ━ ele disse, antes de fechar o armário e caminhar até a porta do quarto mais uma vez, deixando Meadow sentada sobre sua cama. ━ Sinta-se em casa.
━ Eu estou em casa, no fim das contas.
━ Não na que você queria. Mas bom, a maior parte das coisas não acontece da forma que nós dois queremos, não é? ━ o vitorioso indagou, levantando as sobrancelhas, e ela concordou com um muxoxo. ━ Se precisar de qualquer coisa, é só gritar. Eu saio correndo do banheiro.
Meadow balançou a cabeça negativamente.
━ Não, eu prefiro te ver de roupas. Se precisar de alguma coisa, eu espero.
Ele sorriu.
━ Como quiser, cubo de açúcar.
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Após o banho, Meadow se sentiu mais suja do que antes. Parecia errado sentir qualquer coisa parecida com conforto enquanto sua família precisava lidar com sua ausência. Ela não podia dar a eles detalhes do que havia acontecido; suas cartas e telefonemas certamente seriam interceptados pela Capital. Então, tudo o que Meadow podia fazer era imaginar a confusão nos rostos do pai e do irmão caçula ao descobrirem pela televisão que ela não apenas havia se mudado, como também estava noiva.
River, seu pai, talvez ligasse os pontos; ele não sabia tudo o que acontecia com Meadow, mas tinha uma noção melhor do que Cedar. O garoto era jovem demais para sequer imaginar as atrocidades vivenciadas na Capital de Panem, e a vitoriosa sentia a cabeça doer só de pensar no que Cedar devia estar sentindo naquele momento, sendo abandonado pela irmã como havia sido pela mãe anos antes. A culpa a corroía enquanto ela discava os números do telefone, sendo observada por Finnick, sentado do outro lado do quarto.
━ Tem certeza que discou o número certo?
━ Eu não tenho certeza nem se o telefone está ligado ━ ela murmurou, aflita. Apesar de ter um telefone em sua casa na Vila dos Vitoriosos do Distrito 8, Meadow nunca havia o utilizado. Seus amigos não tinham telefones e ela não tinha para quem ligar. ━ Alô? Oi? Alguém está aí?
━ Meadow?
━ Cedar! Oi, Cedar. Vocês estão bem? Como estão as coisas?
━ Estão que nem antes, mas agora, sem você ━ ele respondeu, parecendo incomodado. ━ Você vai se casar com Finnick?
━ Vou.
━ Indigo perguntou por que você faria isso com sua vida e disse que Finnick age como um pavão.
Ela esboçou um pequeno sorriso. Indigo, como Finnick havia mencionado mais cedo, não deixaria sua família na mão.
━ Indigo está com vocês?
━ É, desde que você sumiu. Ele veio entregar a carta que você deixou se despedindo de nós, porque você não conseguiu avisar pessoalmente antes de pegar o trem.
━ Ah, sim. A carta ━ ela repetiu, unindo as sobrancelhas, e Finnick a olhou confuso. Ela ignorou, dando atenção apenas ao som discreto da respiração do irmão do outro lado da linha. ━ Eu… Eu só queria ter certeza de que vocês estavam bem, Cedar. Queria ter contado as notícias pessoalmente, mas você sabe, eu… Bom, me falta coragem, às vezes. Não consegui, me desculpe. Vocês precisam de alguma coisa aí em casa? Está faltando algo?
━ Você ━ Cedar respondeu, e um silêncio breve se fez presente. ━ Nós estamos bem, fora isso... E você? Quando você volta?
━ Eu… Na Colheita, com certeza, vou voltar e nós vamos nos ver de novo. E depois, bom… Você vai vir pro meu casamento, não é?
━ Uhum. Se você nos convidar ━ resmungou o garoto. ━ Finnick trata você bem?
Ela encarou Finnick por meio segundo, antes de concordar com a cabeça e se dar conta de que o irmão não conseguiria ver seu gesto.
━ Trata, Cedar. Muito bem, na verdade ━ ela assegurou, ouvindo um muxoxo de concordância do irmão. ━ Estou com saudades de você e do papai. Posso falar com ele?
━ Ele tomou aquele analgésico que o faz sentir sono, ele dormiu fazem uns 20 minutos, eu acho ━ Cedar respondeu. ━ Indigo quer falar com você. Vou passar pra ele, tudo bem?
━ Tudo bem, Cedar ━ ela concordou, e ouviu a movimentação do telefone, sabendo que agora era seu mentor quem estava do outro lado da linha. ━ Obrigada.
━ Pelo quê?
━ Você sabe. Por escrever a carta. Deixou Cedar mais tranquilo.
━ Ah, é. Bom, eu sabia que você não tinha escolha. Você não faria algo assim se tivesse ━ Indigo falou, e ela soltou um suspiro cansado. ━ Vou continuar cuidando dos dois, Meadow. Não se preocupe. Não aconteceu nada, por enquanto. Mas vamos nos falar melhor pessoalmente, sim? Pode passar pro Finnick? Quero falar com ele.
━ Finnick? ━ ela enrugou a testa, e ao ouvir a confirmação do homem, ela chamou o rapaz. ━ Indigo quer falar com você.
Também confuso, Finnick se aproximou, pegando o telefone das mãos de Meadow e o levando até a orelha, enquanto ela cruzava os braços e se aproximava da janela. Sentindo o ar fresco, ela fechou os olhos, respirando fundo e se sentindo mais calma, finalmente. Saber que tudo estava bem com sua família tirava um peso de seus ombros, e ela nunca seria capaz de agradecer o suficiente a Indigo Weaver por ser tão bom para ela e para os dois, mesmo que não precisasse fazer aquilo.
Era bom ter ele lá com eles, porque Indigo entendia melhor a Capital, os jogos e tudo o que era relacionado. Ele sabia que ela não podia dar detalhes ao telefone, e sabia que ela não passava de uma peça em um tabuleiro de xadrez, que o presidente Snow movimentava da forma que desejava.
Ao ouvir uma risada curta saindo dos lábios de Finnick, seguida por um agradecimento, ela se virou, vendo o rapaz oferecer o telefone novamente.
━ Cedar quer falar com você de novo.
━ O que Indigo te disse de tão engraçado? ━ ela indagou, unindo as sobrancelhas, e aceitou o telefone mais uma vez. ━ Cedar? Quer me falar alguma coisa?
━ Você mora perto da praia agora, não mora? Você precisa ir lá! E depois, me liga pra contar como é! Tchau, Meadow, amo você.
E desligou, antes que ela pudesse responder. Ela encarou o telefone, estática, e após longos segundos, colocou o objeto de volta no lugar, já sentindo falta da voz infantil do irmão. Por fim, sorriu sozinha, porque eles estavam bem. Seu pai e seu irmão. Talvez, o pressentimento de que a vingança de Snow não estava completa fosse apenas aquilo: um pressentimento.
━ Ele me deu parabéns pelo nosso noivado ━ Finnick explicou, e ela o olhou confusa. ━ Você perguntou o que o Indigo disse de engraçado. Foi só isso.
━ Ah ━ ela riu pelo nariz. ━ Ele sabe o que estamos fazendo. Não precisei dizer. Sei que ele entendeu.
━ Acho que todos os vitoriosos entenderam ━ disse o rapaz, sentando-se ao lado de Meadow, e riu baixo. ━ Eles acham que estamos fazendo isso pra escapar da prostituição, e outros acham que é pra chamar a atenção e conseguir patrocinadores ━ continuou, e então uniu as sobrancelhas, fingindo-se de indignado. ━ É tão difícil assim acreditar no nosso amor verdadeiro e incondicional?!
Meadow balançou a cabeça negativamente, com o esboço de um sorriso nos lábios, e olhou para Finnick por cima do ombro.
━ É, eu acho que sim. Eu acho que pra encontrar o amor, você precisa acreditar que ele existe. E pra acreditar que ele existe, você precisa de esperança ━ ela explicou, e Finnick assentiu com a cabeça. ━ É difícil ter esperança, especialmente quando se trata de pessoas como nós, Finnick. Todo dia, desde a arena, é uma batalha. Eu tinha esperanças mais fortes quando estava praticamente passando fome no Distrito 8. Eu tenho comida agora, e tenho mais dinheiro do que já sonhei em colocar as mãos, mas a esperança foi perdida.
Finnick a encarou em silêncio por alguns segundos, antes de balançar a cabeça para os lados, em negação. Talvez Meadow não acreditasse no amor, e não precisava; ele também duvidava que aquilo existisse, ao menos para ele. Mas dizer que havia perdido a esperança era uma mentira, porque ele sabia que ao menos uma pequena faísca existia, e aquela faísca havia feito com que a garota aceitasse fazer parte de seu plano.
Ele sorriu depois de alguns segundos, levantando-se mais uma vez, e apertou as bochechas de Meadow com uma de suas mãos, antes de depositar um beijo em uma delas, vendo a garota fazer uma careta.
━ Assim você quebra o meu coração, cubo de açúcar ━ ele brincou, antes de se espreguiçar levemente. ━ Eu vou pegar uns peixes agora, pro jantar.
Meadow se levantou quase que em um pulo, lembrando-se do pedido de Cedar.
━ Posso ir com você?
Finnick assentiu em silêncio, com um sorriso, e riu ao ver Meadow o seguindo por todos os lados da casa enquanto ele preparava as coisas que precisava, parecendo ansiosa e agitada, como não costumava ficar. Ela o assistiu preparar as iscas, as varas de pesca e uma rede pequena, e o encarou confusa quando ele a entregou um balde vazio.
━ Nós vamos colocar os peixes aí.
━ Faz sentido. Eu comi peixe poucas vezes, mal me lembro do gosto ━ ela contou, enquanto saiam de casa levando os materiais de pesca. ━ Os peixes sempre chegavam praticamente podres no Distrito 8, isso é, quando eles chegavam. A maior parte dos peixes que tínhamos contato lá eram os pescados no próprio distrito, mas eles também não chegavam muito bons no mercado clandestino de onde eu vivia.
Finnick não queria comentar sobre, porque poderia fazer a garota se fechar, mas ele percebia que, aos poucos, Meadow se tornava mais falante. Contava alguns fatos sobre sua vida e sobre sua história. Não eram segredos e nem nada surpreendente, mas para alguém que antes só tinha o costume de falar quando necessário, era uma grande evolução. Ele gostava de saber que ela se sentia confortável o suficiente com ele para conversar; no fim das contas, ele se importava com ela e em questão de tempo os dois estariam fadados a uma vida em conjunto. Era melhor mesmo que se dessem bem e confiassem um no outro.
━ Acho que não existe nada que eu tenha comido mais do que peixe na minha vida ━ ele contou, e ela assentiu. ━ Tecnicamente, nós não podemos ficar com nenhum peixe dos que pescamos, porque eles são destinados à Capital. Mas não é como se os pacificadores pudessem passar o dia todo conferindo os trabalhadores pra ter certeza que um peixe ou outro não foi desviado.
━ Deve ser bom viver em um distrito que produz algo comestível ━ Meadow observou, chutando pedrinhas ao longo do caminho enquanto os dois caminhavam pela Vila dos Vitoriosos. ━ Nunca faltaram retalhos pra fazer roupas pra mim e minha família, mas não podíamos comer tecido. Se bem que isso deve depender mais da riqueza do que de qualquer coisa, porque no 11 as pessoas também não parecem muito bem alimentadas. E eles cuidam da agricultura.
━ É, com certeza. No fim das contas, todos são subordinados à Capital. Alguns distritos vivem melhor do que outros, sem qualquer dúvida, mas eles ainda odeiam todos nós. Do 1 ao 12, e até a memória do 13 ━ Finnick opinou, vendo Meadow concordar. ━ Nós só servimos pra tornar a vida de todos eles mais confortável.
━ Eu queria ver o que aconteceria se houvesse outra guerra. A Capital pode ser mais forte, mas se acabarem com os distritos, eles também vão morrer. Estão acostumados a ter tudo de mão beijada e eu sei que, se precisassem cultivar a própria comida, não durariam uma semana.
━ Cultivar a própria comida? Meadow, eles morreriam se precisassem repetir uma peruca!
Meadow riu baixo, concordando com a cabeça, e seguiu Finnick por um caminho parcialmente escondido da vila, que os guiou até a pequena porção da praia que era destinada aos vitoriosos daquele distrito. Ele viu quando os olhos da garota se arregalaram, e deu um passo à frente, pisando na areia. Meadow encarou o chão, parecendo não saber o que fazer, e ele sorriu.
━ Tire os sapatos, cubo de açúcar. Você precisa sentir a areia.
Ela obedeceu, tirando os sapatos dos pés e os segurando com as mãos antes de dar o primeiro passo em direção à areia. A textura era um pouco incômoda, mas ela logo se acostumou a sentir a fricção dos grãos de areia em sua pele, sentindo os pés afundando um pouco a cada passo que dava. O sorriso leve no rosto de Finnick denunciava que ele estava se divertindo com a cena da garota conhecendo a praia pela primeira vez, e ele aguardou pacientemente enquanto ela aproveitava cada nova sensação.
Embora sua edição dos Jogos Vorazes tivesse se passado em uma arena que simulava um deserto, Meadow nunca havia realmente sentido a areia sob os pés; na arena, ela tinha medo demais de que tudo estivesse envenenado de alguma forma, e durante os dias em que os jogos duraram, ela não ousou tirar as botas. Havia sentido a areia em outras partes do corpo, é claro, mas não era nada parecida com aquela. A areia da arena era sintética, e ali, no Distrito 4, a areia era real e ela não precisava se preocupar em não ser morta. Ela podia, de fato, aproveitar.
━ É bom, não é?
━ É estranho. Mas não é ruim.
━ Bom, espere até sentir a areia molhada.
━ Por que? ━ ela o encarou, parecendo um pouco assustada. ━ É ruim? É nojento?
━ Não! Não, é macia e confortável. Também não é parecida com a lama, se você está pensando nisso.
Ele tomou o balde e os sapatos das mãos da garota, permitindo que ela aproveitasse por completo a nova experiência, vendo-a se abaixar para sentir a areia nas mãos e soltá-la aos poucos, vendo os grãos sendo soprados pelo vento. Meadow riu sozinha, divertindo-se com a areia, e Finnick balançou a cabeça negativamente, rindo baixo ao se aproximar mais da água. Ao perceber que ele se distanciava, a garota deu passos rápidos em sua direção, vendo-o colocar o balde ao lado dos sapatos na areia e fincar as varas de pesca atrás do balde.
━ Preparada pra entrar no mar?
Ela encarou a imensidão azul esverdeada, e reparou, enquanto as ondas se quebravam, que a cor era parecida com a dos olhos de Finnick.
━ Bom, é raso no começo, não é?
━ Ah, é. Você não sabe nadar.
━ É, era difícil aprender no chuveiro…
━ É mesmo? ━ ele levantou as sobrancelhas, e Meadow concordou, cruzando os braços e espelhando o sarcasmo do loiro. ━ Bom, no chuveiro é mesmo difícil. Tenho amigos que se afogaram assim.
Ele estendeu uma das mãos para Meadow, que a pegou após ponderar por alguns segundos, e deu um passo para o mar. Ela o seguiu, um pouco incerta, e ao sentir uma pequena onda molhar a ponta de seus pés, quase pulou para trás, vendo Finnick rir. Mais uma vez, ela deu um passo à frente, agora sentindo os pés afundando na areia molhada, enquanto a água gelada cobria seus pés por completo.
Finnick a incentivou a dar mais alguns passos, acompanhando-a até que seus joelhos estivessem cobertos pela água, e observou Meadow arregalar os olhos enquanto a movimentação da água fazia seu corpo balançar levemente. A garota curvou o corpo para baixo, molhando a mão livre, e então levou um dos dedos até os lábios, unindo as sobrancelhas ao sentir o gosto.
━ É mesmo salgada, que engraçado!
A gargalhada do rapaz ecoou por seus ouvidos, e ela sentiu as bochechas esquentando. Quando Finnick deu mais um passo para o fundo, a garota permaneceu no lugar, e ele se virou para olhá-la em confusão.
━ Eu não sei nadar. Vai ficar fundo demais, uma onde pode me levar ou coisa do tipo.
━ Não vai. Eu estou te segurando ━ Finnick lembrou, levantando sua mão e a de Meadow que segurava. ━ Você só pode ter ficado maluca se acha mesmo que eu vou deixar você ser levada pelo oceano um dia depois de termos ficado noivos! Eu esperaria o casamento passar, pelo menos!
Ela o olhou ofendida.
━ Certo, então agora está decidido, nossa lua de mel não vai ser aqui.
Finnick riu mais uma vez, puxando Meadow levemente, e ao ver que ela não saiu do lugar, parou de insistir, voltando a se posicionar ao seu lado. Como ele havia dito antes, precisava respeitar as limitações das pessoas. Meadow não conhecia o mar e não tinha razões para confiar no oceano.
Então, ficaram ali, por longos minutos, observando as ondas calmas e o sol. Em um momento, Meadow fechou os olhos e apenas aproveitou o sentimento da água fria em seu corpo, enquanto a brisa a soprava e o sol a esquentava. Ela nunca havia experimentado nada como aquilo, e era como se descobrisse uma nova paixão. Ali, no mar, ela parecia se sentir confortável de forma que nunca havia estado antes; era uma sensação nova, quase saudosa – mas não era possível sentir saudade de algo que não se conhecia. Ainda assim, era como Meadow se sentia.
━ Você está vendo aquilo ali? ━ Finnick apontou para um local distante, e Meadow abriu os olhos para ver um círculo de areia que se encontrava no final de uma passarela, também de areia, um pouco mais altos do que o nível do mar, formando uma espécie de ilha. ━ Em alguns momentos do dia, a maré sobe e cobre aquela faixa de areia. Mas durante uma parte do dia, ela fica exposta daquele jeito. É um bom lugar pra pescar, porque fica mais pro fundo e já dá pra encontrar alguns peixes. Vamos?
━ E se a maré subir?
━ Bom, aí você aprende a nadar na marra ━ ele respondeu, e ela o olhou horrorizada. Ele piscou em sua direção. ━ Brincadeira, cubo de açúcar. Eu nadaria de volta pro raso com você nas minhas costas. Mas a maré não vai subir agora, nós ainda temos algumas horas.
Meadow pareceu convencida, afinal, Finnick conhecia o mar bem melhor que ela. Eles voltaram para a areia, pegaram seus pertences e se colocaram a caminhar até a passarela de areia, que se estendia por longos e longos metros até a mini-ilha em seu fim. Quando alcançaram o destino, Finnick ensinou a garota a colocar iscas no anzol e então a arremessar a linha da vara de pesca, aplaudindo Meadow quando pegou seu primeiro peixe, que não era muito grande, mas era alguma coisa.
━ Você aprende rápido. Amanhã, vou te ensinar a nadar ━ ele contou, e ela o olhou em silêncio. ━ Você não quer?
━ Ah, não sei. Acho que ainda tenho um pouco de medo. Pra quê eu precisaria nadar?
━ Nem tudo tem que ter um objetivo, Meadow ━ ele retrucou. ━ Você pode fazer uma coisa simplesmente porque gosta! E você vai ver como é relaxante, acho que vai gostar.
Meadow já havia percebido que Finnick se comportava como uma criança agitada; ele se movimentava o tempo inteiro e não passava muitos minutos em uma só posição ou no mesmo lugar. Mas ali, próximos do mar, ela percebia que ele parecia mesmo mais tranquilo. Era uma conexão bonita que o rapaz tinha com o oceano; seus olhos eram da cor da água e seus cabelos lembravam a areia. Ele era quase a personificação daquele local.
Eles pescaram juntos por um tempo, e não demorou para que enchessem metade do balde. Finnick disse que já tinham peixes suficientes para alguns dias e, depois de fincar a vara de pescar na areia, ele tirou a camisa e pulou de ponta no oceano, fazendo com que Meadow arregalasse os olhos ao vê-lo desaparecer na água. Quando ele retornou a superfície, ela riu sozinha, vendo-o sacudir a cabeça para tirar os cabelos do rosto.
━ É, Meadow, você tinha razão ━ ele gritou, agora um pouco distante na água.
━ Com certeza eu tinha, mas sobre o quê? ━ ela perguntou, no mesmo volume.
━ A água é mesmo salgada!
Ela revirou os olhos, ouvindo a risada do rapaz, e se sentou na areia para continuar observando Finnick e o mar. Ele nadou por um tempo, até que o sol começou a se pôr, e Meadow se levantou ao ver que a areia já começava a ser consumida pela água.
━ FINNICK ━ ela chamou. ━ A MARÉ ESTÁ SUBINDO.
Sem precisar ouvir mais nada, Finnick nadou de volta para alcançar a ilha e subiu na areia, sacudindo o rosto mais uma vez para que as gotas de água que encharcavam seu cabelo o deixassem em paz e molhando Meadow no processo.
━ Você tá parecendo um cachorro molhado ━ ela se queixou, fazendo uma careta enquanto recolhia os objetos na areia.
Finnick riu, pegando o balde de peixes das mãos da garota.
━ Eu jogaria você na água, mas não quero derreter meu cubo de açúcar.
O percurso de volta para a casa do vitorioso foi calmo. Finnick contou mais um pouco sobre estratégias de pesca que ainda iria ensinar a Meadow e começou a explicar sobre como limpava os peixes, e ela ouviu com atenção, porque queria se lembrar de tudo o que havia aprendido sobre a praia para poder contar a Cedar depois.
Quando já estavam em frente à casa de Finnick, perceberam uma movimentação estranha no local. A casa estava mais barulhenta, e um carro da Capital estava estacionado na rua. Os jovens se entreolharam, e com um suspiro, Finnick abriu a porta de entrada, sendo surpreendido pela figura sorridente de Caesar Flickerman em sua sala de estar, cercada de câmeras.
━ Oh, aí estão eles! Os novos pombinhos de Panem! ━ exclamou o apresentador. ━ Você está assistindo ao Notícias da Capital, e hoje, viemos fazer uma visita ao lar do casal mais querido, charmoso e empolgante do momento!
Imediatamente, Finnick ajeitou a postura e sorriu, vendo Meadow fazer o mesmo, aproximando-se dele e passando uma das mãos por sua cintura, sentindo o próprio braço se molhar contra a pele do rapaz. Caesar chegou mais perto dos dois, levantando as sobrancelhas exageradamente, e disse para as câmeras enquanto apontava para o tronco desnudo do vitorioso:
━ Será que chegamos em uma hora ruim?
━ Ah, não, nós só estávamos pescando nosso jantar ━ disse Finnick, aproximando o rosto do microfone, e Meadow assentiu. ━ E sabe como é, aproveitei para nadar um pouco.
━ E imagino que o mar levou sua camisa?
━ Na verdade, fui eu quem a escondeu ━ Meadow respondeu, lançando uma piscadela para a câmera. ━ Bom, eu queria aproveitar a vista por mais tempo.
Finnick riu, e Caesar arregalou os olhos para a câmera, antes de seu sorriso excessivamente branco aumentar consideravelmente.
━ Nós não podemos julgar a Meadow, podemos, pessoal? ━ ele questionou para o público que o assistia de casa, e a garota abriu um sorriso amarelo. ━ Como vão os preparativos para o grande dia? É para isso que viemos, é claro! Queremos saber tudo, desde que as notícias nos surpreenderam essa semana!
Meadow e Finnick trocaram um olhar cúmplice, e após um rápido acordo silencioso, o rapaz abriu um sorriso e puxou a garota para um beijo em frente às câmeras, ouvindo Caesar Flickerman e parte de sua equipe festejando diante da cena.
━ Ah, bom, o que podemos dizer é que mal podemos esperar pelo casamento! ━ disse Finnick, ao se separar dos lábios da noiva, que concordou com um movimento de cabeça. ━ Não temos muita coisa decidida ainda, porque queremos que seja um dia muito especial, e é claro, queremos que vocês façam parte disso!
Meadow continuou sorrindo para as câmeras, ocasionalmente dizendo uma coisa ou outra para agradar os telespectadores, enquanto tentava se acostumar com a Capital a perseguindo até dentro de casa. Ela gostaria de reclamar, e gostaria que aquilo fosse resolver as coisas, mas Meadow sabia que suas reclamações não valiam de nada ali.
Aquela era sua vida. E, por mais que as câmeras não a agradassem, ainda era melhor do que viver como antes.
━ E uma pergunta que não quer calar, tenho certeza que muitas pessoas estão desejando ser Meadow nesse momento, já que se mudou para cá… Meadow, como está sendo? Finnick é um bom noivo? Ele não deixa a toalha molhada em cima da cama, deixa?
━ Estou adorando viver aqui. Quero dizer, eu cheguei hoje, mas esse é apenas o primeiro dia do resto da minha vida ━ ela sorriu, apoiando a cabeça no ombro do loiro. ━ E eu não poderia desejar passar de qualquer outra forma!
━ Eu estou amando viver com meu cubo de açúcar, de verdade ━ completou Finnick. ━ Sei que ainda somos bem jovens, mas mal posso esperar para que ela tenha os meus filhos. Você consegue imaginar, Caesar?! Uma casa repleta de mini Finnicks e mini Meadows correndo por aí…
━ Ah, sim, seria adorável! ━ o apresentador concordou. ━ Filhos! Se já está pensando em filhos, imagino que já estejam pensando em nomes, também, correto?
Finnick limpou a garganta, sem ideias, mas Meadow viu uma oportunidade surgir diante de seus olhos e a agarrou, pegando o microfone das mãos de Caesar para dar nome ao filho que não planejava, nunca em sua vida, ter.
━ Eu gostaria de homenagear uma pessoa que, desde o começo, foi de extrema importância pro nosso relacionamento, Caesar. A pessoa que nos apresentou ━ ela disse, já sentindo as bochechas doendo de tanto sorrir. ━ Caso seja um menino, gostaria de chamar nosso filho de Coriolanus.
Ao seu lado, Finnick quase se engasgou, e Caesar arregalou os olhos.
━ O presidente Snow?! Por essa eu não esperava!
Meadow assentiu com a cabeça, olhando fixamente para a câmera.
━ Muito obrigada por tudo, presidente Snow.
meadow e peeta conta de amigos fanfiqueiros!! ele falando que a katniss tá grávida e ela falando que vai chamar o filho de coriolanus, simplesmente dissimulados. os amo.
nesse capítulo tivemos mais migalhas do nosso casal e eu tô amando escrever os dois! sei que a fanfic parece um pouco parada, mas é porque queria abordar a história de um jeito diferente, pelo menos no primeiro ato, e tratar mais do trauma desenvolvido pelos vitoriosos, falar mais sobre a rede de prostituição e coisas do tipo, pra poder me aprofundar de verdade no relacionamento do casal. acho que se começasse a escrever a fanfic durante os acontecimentos dos filmes/livros ficaria uma coisa muito corrida, então preferi fazer desse jeito.
de qualquer forma, a septuagesima edição dos Jogos vai começar em alguns capítulos, e aí teremos um pouco mais de ação! enfim, espero que tenham gostado, e vejo vocês no próximo capítulo!
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