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03.

capítulo três.
uma chance de liberdade

━ Que droga de ideia foi essa?

Foram as primeiras palavras de Meadow Selcouth quando ela, juntamente a Finnick Odair e os outros vitoriosos, adentraram o estabelecimento onde ficariam hospedados durante o fim de semana. Era uma espécie de hotel, bastante luxuoso, mas não o suficiente para os moradores da Capital; apenas luxuoso o bastante para os campeões dos Jogos Vorazes, que vinham de baixo. Dos distritos de Panem.

Ao ouvir a voz esganiçada da garota ao seu lado, Finnick deu um aperto em sua mão, lançando-a um olhar alerta como quem a mandava calar a boca. Ele não estava errado, de fato; em meio a escolta que os levava até a Capital e os outros vitoriosos, não era recomendado dizer qualquer coisa que pudesse ter alguma chance de causar situações comprometedoras. Quando estava perto deles, Finnick ficava em silêncio se o dessem essa opção; se não, bem, ele já era um profissional em conversas fiadas.

━ Por que você ainda está segurando a minha mão, Finnick? ━ ela indagou, agora com a voz baixa, e o loiro revirou os olhos antes de murmurar entre dentes:

━ Cala a boca, Meadow.

Ela arregalou os olhos levemente, e ele se sentiu culpado por alguns segundos. Meadow estava acostumada com o tratamento ríspido, afinal, Indigo Weaver vivia dizendo coisas que mais soavam como um coice de cavalo do que qualquer coisa. Mas ela não estava acostumada a ouvir Finnick falar daquela forma, especialmente com ela; ele sempre era paciente e compassivo. Os dois estavam na Capital. O lar do presidente Snow. Não havia espaço para cometerem erros e Finnick estava fazendo o que precisava fazer para que não fossem castigados de alguma forma. Meadow entenderia. Precisava entender, porque agora, vivia sempre sobre uma corda-bamba, correndo o risco de cair.

Algum tempo se passou até que os pacificadores que os acompanharam desde os distritos os guiassem até seus respectivos quartos. Não eram muito grandes, nem de longe tão espaçosos quanto os do Palácio Presidencial. Mas eram bem maiores do que as casas inteiras em que grande parte dos Vitoriosos haviam crescido.

━ Eu encontro você no seu quarto em alguns minutos ━ Finnick prometeu, ao se separar de Meadow, que apenas assentiu ao seguir os pacificadores.

Um pouco atrás da garota, estava Hayden Sage. O outro vitorioso do Distrito 8, que seria mentor naquele ano ao lado dela. Contra ela. Nenhum dos dois tentou iniciar uma conversa; era inútil e trabalhoso demais, e seus tributos teriam de matar um ao outro. Não fazer amizades era fácil e era também uma questão de sobrevivência para duas crianças que ainda seriam sorteadas para a arena no oitavo distrito.

As instalações de Meadow não eram diferentes das de Finnick, Mags, Enobaria ou qualquer outro mentor que já tivesse sido deixado em seu quarto. Era um quarto com uma decoração "simples" para os padrões da Capital, e muito mais confortável do que o quarto de Meadow. Havia tudo o que ela poderia precisar em sua estadia, com a ergonomia disfarçando o verdadeiro inferno em que os vitoriosos viviam após os jogos. Pelo menos, a fome não era mais um problema.

Até mais, vizinha ━ foi a primeira vez que Meadow ouviu a voz de Hayden Sage, despedindo-se em um murmúrio quase inaudível, enquanto era levado até o quarto ao lado.

Ela apenas o olhou, observando-o adentrar o próprio quarto. A voz de Hayden era tão profunda quanto ela imaginou que seria, e soava como se ele estivesse ficado dias e dias sem falar; provavelmente era o que havia acontecido. Seu hálito cheirava levemente a álcool, ela identificou, mas ele não parecia embriagado. Parecia ser apenas um homem cansado e amargo.

Meadow pensou sobre o cumprimento de Hayden até ouvir as batidas de Finnick na porta. Ela se levantou da cama e caminhou até a porta, abrindo-a para o mentor do Distrito 4, que não pestanejou em entrar no cômodo e se jogar na cama espaçosa. Não era como se fosse a primeira vez que os dois se viam sozinhos em um quarto; foi, de fato, a forma que os dois se conheceram. A garota fechou a porta com cuidado, e quando se virou, encontrou os olhos de Finnick sobre sua figura.

━ Você confia em mim?

Ela franziu o cenho diante da pergunta, encostando as costas contra a madeira da porta.

━ Algo parecido com isso, sim.

Confiar não era algo que Meadow era capaz de fazer. Ela confiava em Aspen, quando estava vivo, em Cedar e em seu pai. Após os jogos, seus problemas de confiança atingiram novos níveis e a garota não conseguia olhar para alguém e evitar sentir que esse alguém queria a matar. Era como se todos a odiassem e tivessem planos para vê-la morta. Como se todos quisessem vê-la fracassar ou quisessem a machucar. Era o que faziam, a maior parte do tempo: machucavam Meadow.

Ela se sentia diferente sobre Finnick; eles enfrentavam os mesmos problemas e, diferentemente da maioria das pessoas, Finnick era sincero com Meadow. Ele não tentava disfarçar a realidade, mas a ajudava a aceitar seu destino. Dava conselhos de acordo com a própria experiência, e era uma das únicas pessoas que, de fato, fazia certo esforço para lidar com a vitoriosa do Distrito 8. Ela gostava de Finnick e o valorizava, mas confiar em alguém era algo que ela não tinha certeza se conseguiria fazer novamente.

━ "Algo parecido com isso"? ━ Finnick repetiu, com o fantasma de um sorriso nos lábios, e balançou a cabeça negativamente. ━ Acho que é o máximo que posso conseguir, não é?

━ É. Provavelmente ━ ela respondeu, cruzando os braços, e deslizou as costas pela porta até se sentar no chão. ━ E então? Qual é o seu plano?

Finnick franziu o cenho.

━ Por que você acha que eu tenho um plano?

━ Não teríamos dado as mãos em frente a uma multidão se você não tivesse, Finnick ━ a menina resmungou, brincando nervosamente com os dedos. ━ Snow não vai gostar disso. Você sabe que não.

O simples ato de dar as mãos, na opinião de Meadow, era o suficiente para enfurecer Snow. Ela sabia que era o brinquedo preferido da Capital, perdendo apenas para Finnick – qualquer ato que desse a entender que os dois já não estavam disponíveis para tudo o que as pessoas da Capital mais gostavam de fazer não seria aprovado facilmente. Dar as mãos representava união, e a união entre distritos era a última coisa que o presidente de Panem poderia querer.

Meadow não conseguia pensar em uma interpretação daquele ato que pudesse agradar o presidente. Podia parecer um ato simples e inocente, mas qualquer coisa feita por Finnick Odair e Meadow Selcouth reverberava rapidamente pela Capital; Snow não iria ficar satisfeito ao saber que tudo o que as pessoas comentavam sobre era algo que ele não pôde prever, planejar ou impedir.

Dar as mãos era, de uma forma bem sutil, um jeito de se rebelar. E em Panem, rebeliões não ficavam sem punições.

━ Já existiam boatos sobre sermos um casal antes. As pessoas adoram, dizem que seríamos o casal modelo de Panem.

━ Elas fingem gostar. Preferem quando estamos separados.

━ Bom, eu prefiro estar separado delas. E sei que você também ━ Finnick disse, sentindo um gosto amargo na boca. ━ De qualquer forma, se fingem gostar ou se gostam de verdade, o fato é que a Capital teria que aceitar. E Snow também. Podemos nos libertar deles, Meadow.

Finnick odiava a vida após os jogos, talvez de forma ainda mais intensa que Meadow. As festas na Capital o causavam pânico e ele sentia nojo de si mesmo ao pensar nas coisas que fazia por sobrevivência. Com o tempo, ele se acostumou com todos os sentimentos negativos que o preenchiam e se esqueceu de como era a vida antes da arena.

Quando Finnick conheceu Meadow, se lembrou de si mesmo. De uma versão sua que ainda não havia sido totalmente corrompida pela Capital; ela tinha olhos assustados e se encolhia a cada momento, mas de certa forma, ainda tinha esperança de uma vida em paz. Odair observou de perto conforme a garota se perdeu; viu com clareza os danos causados pelo sistema e não pôde impedir. Ele acompanhou, dia após dia, Meadow se perder de si mesma como ele havia feito. Finnick queria trazê-los de volta. Queria os libertar.

━ Nos libertar? Finnick, Snow vai odiar tudo isso ━ a voz de Meadow começava a ficar esganiçada conforme o desespero a tomava. ━ Ele vai nos punir e nada vai melhorar.

Com calma para não estressar Meadow ainda mais, Finnick se levantou da cama e caminhou até ela lentamente, sentando-se em frente à garota, que beliscava as palmas das próprias mãos numa tentativa de descontar o nervosismo. Os olhos do rapaz pousaram sobre a pele avermelhada, e cuidadosamente, ele pegou uma das mãos de Meadow para a impedir de se machucar.

━ Meadow. Não faz isso ━ ele pediu, ainda segurando uma das mãos da garota, observando a palma machucada. ━ Nós só demos as mãos. Podemos voltar atrás se quiser. Mas se continuarmos com os rumores, espalhando um ar de dúvida, de suspeitas que estamos juntos… Acho que só pode nos beneficiar. Talvez as pessoas não gostem, no início, mas a Capital nos adora. Não iria demorar para que todos se apaixonassem pela ideia de nós dois juntos, você não acha? Essas pessoas mudam de ideia rápido, Meadow. Já há coisas demais para fazê-las felizes. Perder nós dois não seria tão ruim quanto você pensa.

Finnick estava certo sobre algumas coisas; a Capital tinha motivos demais para ser feliz. Tinham tudo do melhor e tudo em Panem era feito para eles. Tudo era pensado para vê-los felizes e tudo era feito para facilitar suas vidas e os entreter. Talvez os dois não fossem mesmo tão importantes quanto ela pensava, mas ainda assim, Meadow tinha medo demais. Era o que ela mais sentia.

━ Você acha que fingir ser um casal pode nos ajudar a conseguir patrocinadores para nossos tributos?

Aquela era uma das maiores preocupações de Meadow; ela temia entregar uma criança à morte sob sua mentoria. Ela não queria ser a culpada mais uma vez, mas não sabia o que poderia fazer para deixar seu tributo vivo quando a hora dos jogos chegasse.

━ Ah, com certeza, sim ━ Finnick opinou, refletindo sobre a pergunta de Meadow. ━ Todos os holofotes estariam sobre nós dois. E também haveria um senso de competição, eu acho… Quero dizer, somos de distritos diferentes e nossos tributos estarão um contra o outro. Os apostadores sempre fazem de tudo para vencer apostas e, nesse caso, acho que a maior parte apostaria em mim ou você.

━ Eu só estou viva porque meu irmão nos manteve vivos ━ Meadow retrucou. ━ Apostar em mim é como jogar dinheiro fora.

━ Aspen os protegeu dos outros tributos na arena, é verdade ━ Finnick disse, vendo Meadow olhar para o lado para evitar o encarar enquanto lágrimas se formavam em seus olhos. ━ Mas você precisa se dar algum crédito. Você talvez não perceba isso porque está triste demais, e tem todos os motivos para estar, mas sua inteligência também chamou a atenção da Capital, sabe, além de todo o drama familiar.

Finnick não estava mentindo; a arena dos jogos de Meadow e Aspen simulava um deserto, algo visto antes poucas vezes, e muitos dos tributos morreram em consequência das condições climáticas e por não conseguirem encontrar água ou alimentos. Aspen os defendia de ataques, mas era Meadow quem os mantinha vivos ao encontrar soluções para a sede, a fome e as temperaturas extremas. Os dias no deserto eram quentes, mas as noites eram mais frias do que podiam imaginar; enquanto os irmãos Selcouth se cobriam de areia quente para se manterem aquecidos, outros tributos congelaram até a morte.

Meadow estava afundada demais no luto para perceber que não estava viva apenas porque Aspen a protegeu. A Capital não gostaria tanto assim dela se fosse esse o caso. O que havia chamado a atenção de todos era que, mesmo quando não havia um jeito, Meadow encontrava uma solução que muitas vezes ninguém podia prever.

━ Teremos a primeira festa hoje à noite ━ Finnick voltou a dizer, após algum tempo em silêncio, suavizando o aperto na mão de Meadow. ━ Você tem tempo pra pensar no que quer fazer.

A resposta era clara, por mais que Meadow não quisesse admitir; apesar de todo o medo que a afligia, no momento em que seus dedos se entrelaçaram em meio a multidão, ela sentiu um choque por sua pele que a fazia pensar que aquela era a única escolha correta. Era um risco que ela precisava correr; se desse certo, seu sofrimento diminuiria – ele nunca acabaria, ela tinha certeza –, e se desse errado, bem, ela não sabia como sua vida poderia piorar.

Meadow encarou Finnick com os olhos arregalados, e ele percebeu que sua mente estava a mil por hora. Ela considerava os riscos, os benefícios, seus sentimentos. Uma mistura de angústia, ódio, medo e nojo a atingiu ao se lembrar de seus dias e noites na Capital, e por fim, uma faísca de esperança iluminou seu rosto de forma que apenas os olhos mais atentos pudessem perceber.

━ Se vamos fazer isso, temos que fazer direito ━ ela disse, por fim, e Finnick levantou as sobrancelhas. ━ Não podemos dar tempo a Snow de nos fazer voltar atrás, Finnick.

Aquela era uma versão de Meadow que Finnick não conhecia; ela parecia determinada, e pela primeira vez demonstrava que a mente estrategista que a manteve viva durante muitos momentos de sua edição dos Jogos Vorazes ainda funcionava, bastava um gatilho para a ativar. Um incentivo. Alguém que acreditasse.

━ Você tem razão, Meadow ━ ele apenas concordou, deixando espaço para que a garota continuasse com sua linha de pensamento.

━ Podemos anunciar um noivado.

Finnick não conseguiu ter uma reação diferente de rir em incredulidade. Meadow mordeu o interior das bochechas, mantendo a seriedade.

━ Como é?

━ Você tem esperanças de encontrar o amor?

━ Não ━ ele respondeu, sem pestanejar.

━ Bom, eu também não. Se ficarmos noivos, isso vai gerar um surto geral na Capital. As pessoas vão começar a planejar nosso casamento e vai ser tarde demais para Snow nos fazer desistir.

A falta de esperanças para o amor não podia ser lida como qualquer coisa além de uma consequência da vida que os dois eram obrigados a levar após os Jogos Vorazes. Era triste, mas não os incomodava. Não mais do que qualquer outro aspecto de suas vidas. O amor parecia apenas mais uma promessa vazia e encontrá-lo ou não era o menor de seus problemas.

Finnick pensava que se casaria algum dia, talvez com alguma neta de Snow ou coisa do tipo, por escolha do presidente. Ele nunca imaginou que um dia fosse se casar por sua escolha; ele não se imaginava com ninguém e aquilo não parecia minimamente possível. Meadow era sua melhor opção. Talvez, sua única. Ele não a odiava, nem de longe, e aquilo era o suficiente. Finnick odiava a maior parte das pessoas.

━ Esse foi seu plano desde o início? ━ ele indagou, unindo as sobrancelhas.

━ Do que você está falando?

━ Se casar comigo. Era o que você queria fazer desde o início? ━ ele continuou, abrindo um sorriso ladino, e Meadow revirou os olhos. ━ O pedido não foi tão romântico quanto eu imaginei, mas eu aceito.

Ele se sentia confortável para fazer piadas perto de Meadow, o que era um bom sinal. Talvez, Finnick nunca reencontrasse quem ele havia sido antes dos Jogos o destruírem, mas sabia que com Meadow talvez pudesse ser o mais próximo do que era antes. Ela, pelo menos, não o obrigava a ser alguém que não era.

━ Então estamos noivos?

━ A palavra parece amarga na sua boca, Meadow ━ ele observou, com um sorriso pequeno. ━ Tente não soar tão feliz ao anunciar isso ao vivo.

━ Bom, eu nunca pensei que fosse ser uma noiva ━ ela respondeu, descansando a cabeça contra a porta e encarando o teto. ━ É melhor viver essa mentira do que viver nossa realidade, não é? Eu só não estava esperando.

Ninguém estava esperando, de fato. Eles eram apenas crianças. Meadow ainda não havia nem mesmo completado a maioridade legal de Panem; faltavam alguns meses para seu aniversário de dezoito anos, e Finnick havia completado seus dezenove há poucas semanas. Eles eram jovens demais para aquilo tudo, mas a arena os obrigou a amadurecer. A vida que veio depois, mais ainda.

Meadow observou que Finnick nunca conseguia ficar muito tempo parado; mais uma vez, ele mudou de posição, saindo do ponto em que estava sentado em sua frente para se sentar ao seu lado, encostando as costas contra a porta como Meadow fazia. Ele a encarou com um sorriso mínimo, que ela retribuiu com o mesmo ar de alívio. Apesar do medo, eles sentiam como se, finalmente, estivessem encontrando uma saída, o que eles sabiam que não era exatamente verdade.

━ Posso segurar sua mão?

Finnick sabia que Meadow não gostava muito que a tocassem. Ele gostava de pedir permissão, porque sabia que aquilo não acontecia muito. Em resposta, a garota assentiu levemente, antes de buscar ela mesma pela mão do rapaz, entrelaçando seus dedos e descansando suas mãos sobre seu joelho. Eles observaram em silêncio suas mãos dadas, perdidos em pensamentos.

Estavam juntos. Eram cúmplices e seriam para sempre. Meadow nunca desejou se casar, mas estava feliz que o faria com Finnick; ele não a incomodava como a maioria dos homens e ela apreciava sua companhia. Claro, o acordo dos dois não era a forma ideal ou mais romântica para decidir passar a vida com alguém, mas os dois não acreditavam que pudessem conseguir algo melhor do que aquilo.

━ O que fazemos agora?

━ Não sei. Quer treinar uns beijinhos?

━ Não vamos começar nosso noivado brigando, Finnick.

Ele riu, balançando a cabeça negativamente, e pela primeira vez naquele dia Meadow pareceu relaxar. Havia algo sobre a risada de Finnick que a acalmava; aquele som não era nem um pouco ameaçador, era confortável e acolhedor e ela se sentia em casa mesmo estando tão distante. Distraidamente, Finnick levantou as mãos entrelaçadas que descansavam sobre o joelho de Meadow e as observou no ar, antes de pousar novamente no joelho da garota, que uniu as sobrancelhas.

━ Vamos ter que nos beijar alguma hora.

━ Você sonha com isso, né?

━ Há tanto tempo.

Dessa vez, os papéis se inverteram. Meadow o olhou, quase entediada, e enrugou o nariz.

━ Cala a boca, Finnick.

𓅨

Quando a hora do almoço chegou, Finnick insistiu para que Meadow o acompanhasse até o refeitório para que almoçassem juntos. Como de costume, a garota recusou; Meadow raramente sentia fome ou vontade de comer. Ela nunca tivera fartura de alimentos em casa, e só alcançou tal coisa após vencer os jogos, mas agora sentia-se abatida demais pela própria vida para ter energia para se alimentar. O luto e a tristeza eram tão profundamente encravados em seu âmago que não restava espaço para a fome.

Estar na Capital, em especial, fazia-a perder o apetite.

A relação problemática de Meadow com a comida era algo que Indigo Weaver sempre apontava e tentava resolver, sem sucesso. Finnick acreditava que deviam dar um passo de cada vez; Meadow seria curada, de pouco a pouco, de cada uma das feridas internas que a afligiam.

━ Coma.

Depois de Meadow rejeitar o convite de descer para comer, Finnick subiu com um pouco de comida, para o desprazer da garota. Ela não gostava de precisar dos outros para coisas tão básicas como se alimentar. Ela também sabia que, se dependesse de si mesma, passaria dias sem comer. Meadow estava ficando extremamente boa em se negligenciar e era algo que todos podiam notar.

━ Meadow. Coma o pão.

━ Não estou com fome.

━ Pare de agir como uma criança e coma o pão ━ ele insistiu, olhando-a seriamente. ━ Faça isso pelo seu noivo.

━ Você não desiste?

━ Vou ficar aqui até a hora da festa, se for preciso.

Ela observou as opções trazidas por Finnick por um momento. Haviam carnes, frutas, pães, massas e doces. Após ponderar um pouco, ela puxou o prato de cordeiro assado para perto de si na cama, partindo um pedaço e levando aos lábios. Ela sempre teve certo apreço por carnes; era o que menos havia em sua casa, porque as carnes eram caras demais e sua família não tinha dinheiro o suficiente. Eles comiam às vezes, e era sempre uma refeição especial.

━ Seu estilista já passou no seu quarto? ━ ela perguntou, enquanto levava uma garfada pequena até a boca. ━ Ele não se dedica muito. Acho que nunca te vi vestindo mais do que uma rede de pesca cobrindo suas partes.

━ Eu insisto para cobrir pelo menos isso. Se você visse os rascunhos iniciais… ━ ele resmungou, incomodado, e deu uma mordida em uma coxa de frango. ━ Hoje é apenas a primeira festa. Blaise deve me dar uma sunga e guardar suas redes para as próximas, quando os jogos se aproximarem ainda mais.

Blaise, o estilista de Finnick, era provavelmente o mais preguiçoso de toda a Capital. Meadow não gostava das roupas de nenhum tributo, vitorioso ou morador da área rica de Panem, mas sabia que, pelo menos, seus estilistas se esforçavam para criar algo, ainda que fosse algo feio. Blaise não criava nada; se pudesse decidir sozinho, nem mesmo redes cobririam alguma parcela do corpo de Finnick. A forma com que ele era sexualizado por todos fazia Meadow sentir ânsia de vômito, e ela se sentia ainda pior ao ver a naturalidade com que o rapaz tocava no assunto.

Dentre todos os problemas de Meadow, Zinnia Cliff não era um deles. A estilista sempre a cobria com o máximo de tecido possível, de forma que Selcouth, às vezes, sentia o suor escorrer por seu corpo devido ao calor. Ela preferia suar do que tremer de frio. A vitoriosa podia não gostar dos designs de Zinnia, mas ao menos, eles a faziam se sentir minimamente protegida dos olhos maldosos.

━ Como está o cordeiro?

━ É carne, Finnick. Eu não reclamo. Mesmo que esteja sem fome ou doente ou qualquer coisa do tipo.

Apesar de tudo, Meadow ainda não se esquecia da vida dura nos distritos. A fome – quando não podia ser evitada – doía mais do que qualquer ataque sofrido na arena.

Mais algum tempo se passou, enquanto Meadow comia lentamente, distraída por Finnick e seus assuntos. Conversavam baixo, como sempre faziam, temendo que a pessoa errada pudesse os ouvir, ainda que não falassem nada demais. Quando a porta se abriu de repente, Meadow quase caiu da cama com o susto, e Finnick se virou de imediato para ver quem estava ali.

Zinnia Cliff, com sua característica peruca rosa, vestia uma espécie de terno verde e roxo. Lembrava o visual de Caesar Flickerman, mas ficava bem melhor na estilista do que no apresentador, na opinião de Meadow. Ela estava parada na entrada do quarto, com um caderno sob o braço direito e algumas amostras de tecido.

━ Atrapalho?

━ Não. Estávamos apenas comendo.

━ No quarto?

Meadow deu uma olhada ao seu redor.

━ Bom, da última vez que olhei em volta, era onde estávamos, sim.

━ Você é mesmo um deleite, Meadow ━ Zinnia retrucou, com um sorriso ladino surgindo, e fechou a porta atrás de si, caminhando em direção à garota e estendendo o caderno. ━ Algumas opções para hoje. Posso adicionar algumas aplicações, diminuir as mangas e outras alterações pequenas. Tem algum que goste mais? Algum que grite "Jogos Vorazes"?

Algo que "gritasse Jogos Vorazes" certamente não era sinônimo de algo bom ou bonito para Meadow, Finnick ou qualquer pessoa que tivesse, de fato, estado nos jogos. A glamourização da morte feita pela Capital era algo doentio e Meadow sentia seu estômago embrulhar a cada vez que algo como aquilo era dito.

━ Você escolhe. Eu não gosto de nada ━ Meadow murmurou, após observar os rascunhos por algum tempo. ━ Não sei o que está na moda. Não entendo disso.

Apesar de tudo, a vitoriosa não tinha o objetivo de esnobar o trabalho de Zinnia; ela era uma das poucas pessoas que demonstrava certo cuidado e empatia por ela.

━ Mas escolha o que for mais bonito, hoje é um dia especial ━ Meadow continuou, agora brincando distraidamente com a fronha de um travesseiro que estava ao seu lado, ainda com os olhos presos nas folhas do caderno de Zinnia. ━ Algo que chame a atenção.

━ Dia especial? ━ a estilista elevou as sobrancelhas, confusas. ━ Por que está dizendo isso?

Lançando um olhar para Finnick, Meadow umedeceu os lábios antes de anunciar com um breve sorriso:

━ Finnick e eu estamos noivos.

Por um momento, Zinnia não reagiu, tentando decifrar se havia escutado direito. Quando se deu conta que sim, ela arregalou os olhos e levou as mãos ao coração, franzindo a testa enquanto olhava para os dois vitoriosos à sua frente, em choque.

━ Noivos!? Ah, que coisa magnífica, mas você deveria ter avisado antes! ━ Zinnia exclamou, agitada, recolhendo o caderno das mãos de Meadow e puxando um lápis que estava preso à peruca rosa-chiclete. ━ Eu poderia me reunir com Blaise e criar um conceito que representasse os dois pombinhos, mas agora é tarde e… ━ Enquanto falava, Zinnia desenhava coisas que Meadow e Finnick não conseguiam ver, de forma rápida e quase desesperada, murmurando para si mesma: ━ Não. Eu dou um jeito. Posso fazer aplicações de renda aqui, adicionar tule a saia, modificar o decote… Eu volto logo! Finnick, vá para o seu quarto, suas equipes vão chegar para os arrumar logo.

E, sem mais nem menos, Zinnia saiu do quarto apressadamente, batendo a porta atrás de si de maneira desajeitada.

━ Você quebrou ela ━ disse Finnick.

━ Ela é maluca e obsessiva ━ Meadow respondeu, enrugando o nariz. ━ Eu não tenho culpa disso.

━ Ela não é tão ruim ━ o rapaz defendeu, rindo pelo nariz, e Meadow negou com a cabeça.

━ Não mesmo, Finnick. Mas ainda é um deles.

Com um aceno de cabeça, o rapaz se levantou da cama, esticando o corpo levemente antes de se dirigir em direção à porta com um suspiro cansado. Quando sua mão descansou sobre a maçaneta da porta, ele deu meia-volta, pousando os olhos sobre Meadow uma última vez, enquanto a garota recolhia os pratos sobre a cama.

━ Vamos seguir mesmo com isso, não é?

Ela o olhou de volta, com um sorriso mínimo e quase triste surgindo nos lábios.

━ Se ficar cansado de mim, pode pedir o divórcio no futuro.



demorei um pouco, mas voltei!! reescrever essa fanfic tá sendo tão bom, porque tem tantas coisas da primeira versão que poderiam ser melhores e agora sinto que tô conseguindo criar um enredo melhor e aprofundar mais os personagens <33

enfim, espero que tenham gostado do capítulo! agora temos finnick e meadow noivos da forma menos romântica possível, admito que fiquei meio triste com os dois dizendo que não acreditam no amor etc e tal, mas desenvolver esse casal de traumatizados lentamente é uma delícia, apesar das tristezas.

até o próximo capítulo!!

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