Viagem ao Nordeste de Angola
Mesmo sendo uma longa viagem, sem dúvida que valeu a pena esta deslocação à Província do Uíge, em tempo uma das principais zonas de produção mundial de café, tendo acabado por fortalecer laços e, conjuntamente com os meus parceiros angolanos, enriquecendo experiências.
O objetivo da missão seria dar um contributo à formação dos técnicos de uma das principais empresas angolanas, tornando-se porém numa importante troca de competências entre os profissionais dos dois países.
Do programa social tive a oportunidade de conhecer algumas figuras destacadas da sociedade angolana, tendo uma delas me marcado consideravelmente, não só pela sua experiência de vida, como principalmente pelo respeito que tem pelas pessoas de bem, sejam de que país for.
Procurámos pôr uma pedra nos problemas atuais que nos assolam, e desenvolvemos uma das conversas mais interessantes que tive na vida. O meu interlocutor abriu-me as portas da sua casa e do seu coração. A sua inteligência obrigou-me a estar bem atento para o ouvir.
Tendo lutado pela sua liberdade, nos anos sessenta e setenta, sorria-me sem rancor, mas dificilmente escondendo um desalento, porque, dizia, quando mais precisou dos portugueses, já não estavam lá. Sem esconder as dificuldades que teve, de construir uma nação, cheia de fraturas, ao longo desta conversa nunca me deixou de apertar a mão.
Aqueles olhos brancos sorriam às vezes com um amargo de boca: então os amigos não são para as ocasiões? Passados todos estes anos, mesmo com zangas e divergências, senti que a palavra "amigo" até faria sentido. Refleti instantaneamente nos meus grandes amigos, de décadas, e, na verdade, o relacionamento nem sempre é fácil. Por outro lado, tive consciência que estaria na casa de um deles, onde o respeito, a educação e a diplomacia são pedras essenciais para o fortalecimento dos laços.
Mas a lição que trouxe foi que nunca se guarda rancor, odio ou inveja, porque o importante, o que realmente interessa, é arregaçar as mangas para que tudo se faça em prol do desenvolvimento, evolução e prosperidade de qualquer nação.
Na realidade senti um pouco isso em Angola. Mesmo no interior vi milhares de estudantes, que curiosamente usam bata branca, onde a conversa, mesmo de circunstância, é regra geral com muita elevação, num português correto e bem falado. Não é por acaso que se vê também muita gente a ler, para além de um incentivo à cultura como a presença de teatros ou até de galerias de arte.
As sábias palavras que ouvi não são mais do que um hino à liberdade, que se combate com a promoção da sua cultura, e que um país, que pretende ser evoluído, conquista-se através da aposta na educação e formação.
Afinal nem todos só vêm negócio neste jogo! E assim seremos sempre amigos!
Uíge, 24 de fevereiro de 2018
António José Alçada
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