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Um café de sonho ou um «sonho» de café

Talvez seja um privilegiado. Não o nego. Mas tive a oportunidade de visitar uma torrefação de café, a funcionar desde os anos 50, na cidade do Uíge, em Angola. Para um apreciador de bom café foi mais um momento marcante da minha vida. E tive a felicidade de tirar algumas fotos, mais um beneficio que poucos terão conseguido. Mas este sorriso lusitano ainda consegue alguns milagres. Dedico esta crónica a estes nobres operários que mantêm viva esta tradição e que recentemente, uma delegação da Empresa Provincial de Aguas e Saneamento do Uíge, que me visitou na cidade da Guarda, me entregou em mão mais um pacote deste lote do verdadeiro ouro negro, produzido com a sabedoria ancestral dos seus avós.

Estava em plena rua no centro da cidade do Uíge, quando me chega subitamente ao nariz um aroma forte de café, mas com cheiro único que excede, em muito, qualquer perfume de senhora mesmo das melhores marcas de referência. O júbilo atravessa-me o coração e sinto uma vontade de correr atrás daquela «musa» que me presenteie com uma chávena daquele néctar precioso, único no mundo, e que em tempos foi um dos grandes produtores de referência.

O meu colega ao ver esta excitação entendeu o desejo que me prendia a alma. Leva-me então a um armazém onde do portão inalava-se o sabor do tão almejado produto, tendo-me no entanto avisado que seria muito difícil tirar fotos. O edifício não tinha qualquer indicação, fazendo lembrar um encontro secreto onde o acesso só seria possível com senha e contra senha. E na verdade foi isso que aconteceu. O guarda, vestido com casaco escuro, camisa aos quadrados e uma gravata do «Boavista» foi confrontado com o meu ímpeto: «meu amigo, peço-lhe muita desculpa, mas sabe, vim de muito longe para ver esta preciosidade. Adoro café e não posso perder esta oportunidade. Acredite, não sei quando voltarei cá!»

O sorriso do angolano não se fez esperar. Esta senha de honestidade e simpatia traduziu-se na contra senha de uma «faça favor, esteja à vontade» e até, para meu espanto, surpreendeu-me deixando tirar fotos «à vontadinha» e falar com os funcionários. Tal como uma criança que corre no parque, e usufruir de todos os baloiços, eu queria ver tudo, aprender e sentir a verdadeira «alma» do café. Os operários, ainda vestiam as batas como desde a primeira hora que começou a funcionar esta unidade comercial.

Mesmo sentido que o tempo não corre, o relógio da produção, organização e humildade assemelham-se às melhores máquinas artesanais suíças. Aliás saliento, humildade e educação foram os aspetos mais marcantes destes operários que tive o prazer de conviver durante os instantes em que estive nesta unidade de torrefação.

Foto 2

Outra nota que me reteve foi a limpeza do espaço. Nem um papel, nem uma beata, nada. Para além do ruido das maquinas ancestrais que teimam em não parar, cada um sabe bem que tarefa tem de desempenhar.

O café, neste longínquo território angolano, foi um dos fatores de desenvolvimento económico, onde muitos compatriotas nossos também trabalharam e trouxeram para a nossa degustação ainda nos anos sessenta e setenta. Bem me recordo das casas tradicionais de chás e cafés, na Rua Augusta, em Lisboa, ou no Bulhão, no Porto, com diversos lotes a granel e onde podíamos optar por meio quilo de café moído (no momento) ou em grão. As misturas de aromas desses estabelecimentos, que me ajudavam a acalmar as birras junto da minha mãe, ou das minhas tias, ainda em garoto, desapareceram por complemento deste nosso quotidiano, com a invenção do café encapsulado que pouco ou nada tem com a pureza dos cafés de Angola, São Tomé e Príncipe ou até de Timor.

E esta oportunidade que tive no Uíge, e que muito agradeço, para além de me possibilitar voltar a tomar a bica com aquele aroma, transportou-me ao passado de miúdo, onde ambicionava tomar estas fragâncias com os «grandes», fazendo-me por isso recordar a minha mãe, as suas irmãs e até a minha Tia Maria Augusta que pautava por ter em sua casa não só os melhores lotes de café, mas também de chá.

Efetivamente são estes aspetos da nossa vida de hoje que não consigo compreender.

Como é que estes produtos biológicos, sem qualquer adjuvante químico, têm tanta dificuldade de chegar às nossas casas, e outros, que sabe Deus onde serão manufaturados, usando atores de cinema e, ao que parece, com suplemento de açúcar, para nos convencer, entregam-nos à porta a qualquer hora do dia ou da noite?

Cidade do Uíge, 22 de fevereiro de 2018

(Dia de aniversário do Lord Baden Powell of Gilwell)

António José Alçada

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