The Taste Of Your Lips
“Esqueça essa história de querer entender tudo. Em vez disso, viva.”
– Faça seu coração vibrar
Como de costume acabei dormindo durante o trajeto e fiquei me perguntando se tudo foi um sonho ou realidade. Ao olhar para a janela do jatinho e ver o reflexo apagado do meu rosto pude notar que tudo havia sido real porque a minha boca estava roxa, bem no local que aquele covarde "delicadamente" depositou um soco em meu rosto.
No entanto, também provou que o beijo foi real. Por que ela faria aquilo? Achei que me odiasse...
***
Cheguei ao aeroporto e para a minha não surpresa Rick já estava lá, aposto que o piloto avisou. Será que eu nunca poderia fazer algo sem que as pessoas soubessem? Ah, só quando estou naquela pequena cidade, inclusive, já quero voltar. É... Quer dizer, voltar para o anonimato é claro...
Senti uma brisa fria tocar meu rosto e esvoaçar os meus cabelos que se rebelavam contra o gel.
— Por onde andou? O que você tinha na cabeça para sumir quando havia entrevistas?! Não sabe a cara que fiquei quando você não apareceu. — a expressão do Rick era irritada e parecia que ele planejava me cortar em cubículos e atirar no Mediterrâneo, tentei não rir mas já era tarde demais. — Você bebeu? Está drogado? Por onde esteve? Ibiza?
— Fui à Charleston. Precisava de um pouco de paz. — acendi um cigarro, não tinha o hábito de fumar às vezes o fazia quando estava irritado.
Falei de uma forma indiferente enquanto soprava meus esvoaçantes desejos. Fumar não era divertido quando se estava com a boca inchada e dolorida, o que me proporcionou um resmungo que entregou meu não mais segredo sujo.
— Andou brigando? Como eu vou explicar isso? Por que você não responde as minhas perguntas? — Rick tocou em meu ombro para chamar a minha atenção. — Mike?
Caminhamos até o carro e fiquei ponderando se respondia alguma delas. Desde que desembarquei do jato Rick me faz perguntas. Aonde está o botão "off" dele?!
— Sei lá, inventa uma desculpa. Fala que estou em um filme novo e recusei um dublê. É só mentir, achei que esse era o seu trabalho.
Ops... Acho que peguei pesado dessa vez, tendo em vista que Rick não me respondeu e ficou em silêncio durante todo o trajeto até o meu apartamento.
Suspirei fundo e joguei o que restou do cigarro em um local apropriado enquanto tocava Drake no som do carro. Estávamos apenas nós três, Rick, Josh – o motorista – e Mike G intimamente conhecido como eu.
Permanecemos em silêncio até mesmo quando Alfred e Josh tiravam minhas malas do carro. Tentei falar com o Rick mas ele me ignorou fingindo que alguém estava ao telefone. Revirei os olhos discretamente e Alfred chamou minha atenção.
— Sr. Michael, tem uma jovem loira dizendo que gostaria de falar com o senhor, ela insistiu em esperar no saguão principal. — ele falou enquanto parecia organizar algo em seu tablet de uso restrito aos funcionários. — Ela disse que era importante.
Senti o gosto da bile em minha boca enquanto parecia sofrer um ataque de pânico. Gwen descobriu, só pode ser isso.
— Obrigado, Alfred. Por favor me chame de "você" não precisa de tanta cordialidade, estamos em casa. — respondi com um leve sorriso.
Alfred fez uma breve reverência e logo após a sua saída fui ansioso até a saguão principal. Lá estava meus maiores amores: discos, livros, poesias desenhadas em uma enorme parede e meu piano juntamente com a mobília em estilo neoclássico.
Fui aos tropeços para o local e abri as portas sem tanta delicadeza, vi uma silhueta feminina juntamente com cabelos loiros e longos, ao me aproximar senti um leve toque de decepção. Não era a gótica, era a Scarlett Louca Accolla.
Acho que minha expressão de insatisfação ficou notável pois ela já começou a falar antes que eu me aproximasse.
— Bem... Desculpa por tudo que aconteceu, acabei deixando você chateado e perdi o controle. Eu e o álcool não somos bons amigos.— Scarlett suspirou fundo e sentou-se novamente depois do meu aceno para que o fizesse. — Perdão por questionar sua sexualidade.
— Até que para alguém que bebeu você tem uma excelente memória, não é? — observei o rosto ruborizado dela enquanto mantinha uma distância segura. Tinha alguma coisa nela que fez o brilho se apagar.
— O seu empresário me contou... — ela se apressou em dizer enquanto mexia nas mãos.
Fiquei analisando suas expressões, não lembro de ter contado detalhes ao Rick e também não lembro se ocultei alguma coisa. Que seja.
— Tudo bem, álcool faz as pessoas perderem o controle, mesmo que seja somente um vinho.
Eu precisava parar de ser tão venenoso. Não acho que ninguém faz estragos bebendo vinho tinto, imagina que loucura não rolava na Grécia.
— Desculpe, Mike. Podemos começar novamente? — ela umedeceu os lábios e esperou por minha resposta.
Fiz uma expressão pensativa enquanto coçava o queixo, depois acabei rindo, não consigo ter raiva de ninguém.
— Tudo bem, tudo bem. Podemos começar de novo, vamos fingir que aquilo nunca aconteceu. — disse enquanto sorria e repousava as mãos na calça jeans, eu necessitava de um banho e uma noite de sono.
— O que foi isso na sua boca? — Scarlett perguntou com curiosidade e aproximou-se e puxou com delicadeza o meu queixo, seus dedos longos e seu toque frio pareciam ter aumentado a dor que estava adormecida.
— É... Artes marciais. Comecei recentemente e acabei me distraindo, resultou nisso. — forcei um sorriso e observava sua cara meio incrédula com a minha resposta mas parecia ter algo a mais no jeito que ela me olhava, examinava meu rosto com tanta precisão que me senti em um episódio de Grey's Anatomy. — Então, eu preciso tomar um banho e depois dormir.
Parecia que nós dois tínhamos acabado de sair de transe mas o olhar dela permaneceu daquele jeito, acho que estava com sede, ficava umedecendo os lábios o tempo todo.
— Tudo bem. Depois nós conversamos mais, que tal me acompanhar até a porta? — ela me olhava de um jeito travesso, não pude negar já que instantaneamente Scarlett havia começado a andar pelo meu apartamento indo até a porta.
— Certo. — respondi rapidamente estalando a língua.
Caminhamos enquanto ela parecia conhecer meu apartamento da cabeça aos pés, admirava algumas coisas, não gostava de outras.
Eu só conseguia pensar no quanto queria um banho quente, assim que cheguei da "escola" nem tomei banho, apenas tirei a maquiagem rapidamente e coloquei uma roupa básica. Camiseta branca e calça jeans, a camiseta ficava legal, bem despojado, deixava evidente as minhas tatuagens.
— Então... Boa noite. Amanhã poderíamos ter um encontro como um casal? – Scarlett fez aspas com os dedos e me olhavou esperançosa por uma resposta.
— Claro, pode ser. Te pego de que horas? — perguntei meio distraído enquanto não havia notado que já estávamos na porta.
— Pode me pegar a noite toda, se você quiser. — ela respondeu com malícia e veio na minha direção.
— Como...? — franzi o cenho e tentei analisar sua ambiguidade. Scarlett sorria de uma forma travessa, será que tinha vinho naquela água?
— Ah, qual é..? Vamos fingir um namoro e não teremos benefícios, é isso mesmo?
Estava prestes a responder que eu sequer havia cogitado tal namoro mas ela me surpreendeu quando me pressionou contra a porta. Essa garota era insaciável.
— O que você está...? — fui impedido de continua a frase pois ela já estava selando seus lábios nos meus. Senti um sabor agridoce do qual eu não conseguia decifrar se era o batom ou seu liquefeito desejo por mim.
— Eu sei que você também quer. — sua voz rouca deixava o ar mais sensual.
Ela dizia enquanto sua língua travava uma batalha interna e tentava tocar a minha. Tinha algo que me impedia é isso aconteceu pela segunda vez, não sei se era o jeito que ela me abordava. Ninguém jamais fizera isso comigo.
— Scar... — ela começou a beijar meu pescoço enquanto sua mão passeava pelo meu tronco.
— O que você tem? Por que nunca corresponde? Pode ser uma coisa legal para nós dois. Exceto se... — ela sorriu e mordeu os lábios — Opss...!
Ela me olhava com aquela expressão, sabia o que estava prestes a dizer. Droga. Por que ela insistia nesse assunto? Fora ter me beijado de um jeito que a minha boca começou a dor.
— ... se o quê? — cruzei os braços e observei-a por alguns instantes enquanto a mesma fazia semi círculos em meu peitoral.
— Se você não gostar dos meus atrativos femininos. — seus olhos azuis brilhavam com tanta malícia e promiscuidade. — Você é gay ou não?
Fiquei irritado por algum tempo, uma raiva me consumia, segurei as mãos dela com firmeza enquanto a mesma parecia adorar a situação.
— Eu não sou gay, por que você insiste tanto nisso? — fiz um movimento brusco, deixando-a em desvantagem pressionada na porta, agora vamos conversar. Porém, ela parecia adorar.
— Então o que é? Não sou o seu tipo? É isso? — a loira sorriu maliciosa.
Senti a perna dela subir instintivamente e se acomodar na lateral do meu corpo. Minha raiva parecia se transformar em algo mais suave, afinal, que mal tinha? Ela é solteira, eu também. Isso poderia ser mais divertido se tivéssemos algum benefício.
Suspirei fundo e de forma derrotada enquanto encostei suavemente minha cabeça no ombro dela e fiz minha respiração quebrar em seu pescoço.
— Tudo bem, lembre-se que você me pediu. — respondi com malícia antes de depositar um beijo em seu pescoço.
Ela me olhou por alguns segundos mas logo entendeu do que se tratava quando peguei-a no colo e empurrei contra a parede. Não tinha nada de mais, éramos livres e por enquanto somos "namorados", um namoro com benefícios. Fechei a porta com um pé enquanto equilibrava ela nos meus braços, fomos aos beijos até a sala e joguei a mesma no sofá enquanto tirava minha camiseta e ela contemplava minhas tatuagens, tornei a beijar seus lábios rubros e pude sentir que o clima estava esquentando e isso deveria ser finalizado em outro lugar.
— Que tal terminarmos essa conversa no meu quarto? — sorrio malicioso e passo lentamente a língua nos lábios.
Perguntei me afastando devagar e vendo meus cachos tocarem o rosto dela que parecia extasiada e fez apenas um aceno de cabeça. Caminhamos de uma forma apressada subindo degrau por degrau, ela sorria de uma forma empolgada enquanto passamos pelo corredor que indicava vários quartos de hóspedes até a chegada no meu.
— Tem certeza? — perguntei parando na frente da porta mas o olhar voraz dela já deixava claro a resposta.
— Com todas as letras. — ela empurrou-me porta a dentro para o aconchego e luxúria que só o meu quarto parecia oferecer. Peguei um "apetrecho" que ficava no criado mudo e assim demos início a nossa conversa de travesseiro.
***
Acordei com uma luz fraca entrando no quarto e esfreguei os olhos sem lembrar de como fui parar ali, até que senti o peso de um braço no meu peitoral e logo flashes da noite anterior começou a invadir a minha cabeça. Tentei levantar sem acorda-lá mas parecia difícil pois quando saí da cama já sentia o peso do seu olhar.
— Bom dia. — ela sorriu e me saudou com uma voz rouca e um olhar ainda pervertido.
— Bom dia. — forcei um sorriso e fui ao banheiro dar início a minha higiene pessoal. Escovei os dentes e tirei a cueca box entrando lentamente no chuveiro. Comecei a deixar a espuma dançar em meu corpo enquanto Scarlett observava — Tem escovas de dentes extra, caso queira alguma.
Continuei tomando banho e virei na direção oposta, não conseguia encarar Scarlett sem roupa no banheiro. Não quando estou em desvantagem.
— Muitas mulheres já passaram por aqui? — ela perguntava de uma forma sinuosa enquanto eu me virava para ela e fechava os olhos para supostamente não cair shampoo.
— Não. É só um hábito. — terminei rapidamente o meu banho antes que ela tivesse alguma coisa suja em mente. Ontem foi legal mas foi apenas isso, legal. — Eu vou trocar de roupa e descer. Te encontro lá embaixo.
Tentava desvencilhar-me enquanto ela amarrava o cabelo num coque. Enxuguei rapidamente o meu corpo, amarrei a toalha na cintura e tentei sair mas o seus dedos frágeis me impediram.
— Está me evitando?— Scarlett manteve aquele olhar pervertido.
— Não. É que eu tenho umas coisas para resolver. — suspirei enquanto saía lentamente de lá.
Ela entrou no box e tudo parecia ser convidativo nela, até a forma como a água caía em seus ombros. Preciso sair daqui, testosterona super elevada.
— Quer que eu separe uma camiseta para você? — evitei seu olhar enquanto estava me retirando do banheiro.
— Claro. Gosto das brancas. Mike... Será que não podemos tomar café aqui? — ela mordia o lábio como se tentasse me persuadir. Então, dei de ombros e concordei, não estava afim de uma revelação bombástica para os meus funcionários.
— Certo. Do que você gosta? — perguntei e fiz uma lista mental, indo pegar tudo para nosso café da manhã na cama.
****
Depois de gravar mentalmente uma lista de coisas que Scarlett gostava de comer – e tinha em minha geladeira – consegui equilibrar tudo em uma bandeja, tinha a missão de subir até o quarto com ela. Abri a porta com cuidado, para não só derrubar tudo mas como para não sujar o meu pijama recém colocado.
— Cheguei. — disse de uma forma animada mesmo estando cansado.
Scarlett sorriu e se posicionou de joelhos na cama, pegou uma de minhas camisas sociais mesmo eu tendo deixado uma camiseta de algodão. Ela estava tentando me seduzir, agora eu tinha certeza.
Engoli em seco quando observei o contorno da minha camiseta em seu corpo, deixava várias coisas em evidência, inclusive, os seus...
— O que você trouxe aí? — sua pergunta puxou-me de volta à realidade. Fui meio desajeitado até a cama levando iogurte, leite, torradas e frutas vermelhas. — Tudo que a dama pediu.
Comemos em silêncio enquanto a falta de assunto tomava conta do lugar. Eu evitava olhar para Scarlett, tudo nela era convidativo para uma fuga do estresse do cotidiano.
Essa tem que ser a última vez que fazemos isso. Tirei as coisas da cama depois de iniciar um papo bacana sobre os lugares que já visitamos e outros assuntos aleatórios.
— Então, Rick não me ligou, precisou ver se tenho compromissos hoje. — Estava prestes a levantar novamente mas Scarlett foi mais rápida e sentou em meu colo. Que tortura... Deliciosa.
— Parece que você está me evitando, Mike. Não gostou de ontem? — ela sorriu e se dispôs a beijar o meu pescoço, fazendo os pelos da minha nuca ficarem eriçados.
— É... Só ... Claro que não... Quer dizer, gostei, não estou te evitando. —E lá estava novamente sentindo o desejo dilacerar-me por dentro.
— Claro que está, mal consegue me olhar. Não gosta do que vê? — suas mãos delicadas contornaram um lugar específico em seu colo.
Meus olhos acompanharam os dela até tal lugar e não pude resistir. Tudo bem, ela venceu dessa vez, a última. Começamos a nos beijar novamente e iniciamos o segundo round.
****
Depois de algum tempo desde a nossa última "conversa", falamos sobre coisas aleatórias, colocamos a nossa roupa e levei o resto do café da manhã com cuidado enquanto falávamos sobre algo aleatório.
Rick surpreendeu-me enquanto descia a escada e conversava com a Scarlett, acabei derrubando a bandeja pelo susto, não por ele estar na minha casa nesse horário mas sim por estar acompanhado pela Gwen.
— Precisamos conversar. — disse Rick de uma forma animada antes da queda triunfal das sobras do café da manhã.
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