8 meses - Orgulhos e Contradições
Eu estava rolando na cama de um lado pro outro, morrendo de sono, tentando dormir, mas com medo de fechar os olhos e reviver aquela noite de novo nos meus sonhos. O que vinha acontecendo direto e aquilo era simplesmente tortura. Não que tenha sido ruim, pelo contrário, foi lindo. Dolorido e diferente, uma sensação estranha no começo. Mas ainda assim foi a coisa mais intima que podíamos ter compartilhado e ele foi tão carinhoso antes, durante e depois. Ficar lembrando daquela noite só me trazia o sentimento de vazio que eu tive quando acordei sozinha. Não foi só pelo fato de acordar sozinha, foi pelo fato de saber de alguma forma que tudo ia voltar a ser como no começo.
E eu estava certa. Julia sua idiota!
Mais uma vez me iludi, mais uma vez me ferrei. E mais uma vez eu estava ali tentando fingir pra mim mesma que não me importava, olhando de minuto em minuto pro relógio do celular pra ver quando ele chegaria em casa. Tudo de novo. Eu não acredito!
O pior era não saber o que eu tinha feito de errado dessa vez. Yoongi teria coragem de se afastar só por que não gostou daquela noite? Eu tava cansada daquele drama. Não queria mais viver daquilo. Tinha atingido meu limite de vezes em que não me senti suficiente.
Dou alguns soquinhos no travesseiro, afofando melhor. Decidida a dormir daquela vez. Me ajeito na cama, abraço o braço fofinho do ursão do meu lado e suspiro fechando os olhos. Carneirinhos voadores cruzando o espaço numa galáxia muito, muito distante. Um carneirinho em órbita... dois... o terceiro não estava no espaço, estava fazendo um barulho discreto no andar de baixo. Não tão discreto assim. Não vou levantar. Não vou abrir meus olhos. Não vou ligar. Não quero saber que horas são.
Carneirinho filho da mãe!
Bufo irritada e pego novamente meu celular sobre o criado mudo. 3:40 da manhã. Por que cara?
Levanto da cama vestida com a calça e a blusa de manga cumprida do pijama. Eu não ia sofrer com aquela confusão toda sozinha de novo. Não mesmo. Saio do quarto e desço as escadas sem fazer questão de ser silenciosa. A luz da cozinha estava acesa, então é pra lá que eu sigo e o encontro mexendo em algumas coisas no armário. Assim que Yoongi me ouve se vira para me olhar. Eu me aproximo sem pudor e sem cautela.
- Ta cheirando a perfume barato de novo – acuso.
- Eu não tive intenção nenhuma de esconder mesmo – da de ombros.
- Por que ta fazendo isso comigo? O que eu fiz de errado dessa vez?
- Você escolheu o cara errado desde o começo Julia. Ta na hora de deixar esse seu capricho de criança de lado e aceitar que não é pra rolar nada entre a gente.
Ele falava com tanta naturalidade. Sério, frio e distante.
- Então por que você dormiu comigo? Por que passou aquela noite comigo? Por que fez am...
- A gente não fez amor, a gente transou – cruza os braços.
- Ta – engulo em seco, mas tento ao máximo não transparecer nenhum sentimento em minha voz. Não queria dar esse gostinho – Por que transou comigo então?
- Por que eu quis – inclina a cabeça e me encara de lado. Com aquele jeito indiferente característico dele – Tive vontade, deu tesão. Você é bonita Julia, nunca neguei. Mas da minha parte não passa disso.
Sinto uma agulhada, mas não sei dizer se foi no peito, no estômago, na garganta. Talvez tenham sido varias agulhadas ao mesmo tempo, que me deu uma dor aguda inexplicável. Me senti usada.
- Só isso? Era só isso que você queria de mim? Por que se importou então se era isso que o Namjoon queria comigo ou não?
- Não faço idéia, agora também não me interessa – ele se vira de costas pra mim, apoiando as mãos no balcão da pia.
- Eu não te entendo...
Afogando a dor angustiante numa pilha de orgulho e confusão. Agora eu teria orgulho. Estava decidida.
- Ninguém entende. Meus pais não entendem, meu irmão não me entende... provavelmente nem meus amigos me entendem.
- Não sei o que diabos eu posso ter a ver com esses seus problemas pra você me culpar tanto a ponto de me tratar assim.
- Eu não te culpo por nada Julia – anda impaciente pela cozinha – Acredite, estou te fazendo um favor te deixando longe de tudo isso.
- Se você não fosse tão idiota, eu poderia te ajudar – agora eu que cruzo os braços – eu queria tanto entender, estar do seu lado. Já te provei tantas vezes Yoongi...
- Ninguém pode me ajudar Julia, para de ser tão menininha. O problema ta aqui – ele aponta pra própria cabeça – E aqui – depois espalma a mão com força no próprio peito – Não da pra simplesmente te enfiar dentro da minha cabeça e deixar você arrumar tudo. Ninguém tem esse poder além de mim.
Suspira, claramente nervoso.
- Você se acha tão maduro, mas nem sempre a gente precisa resolver as coisas sozinho...
- Esse não é o meu caso.
- Por que você não quer.
- CHEGA – fala mais alto do nada, o que me faz sobressaltar.
Yoongi passa as mãos pelo rosto, subindo pelos cabelos e bagunçando tudo, completamente frustrado. Ele não olha pra mim, só fica encarando o teto por alguns segundos.
- Para de me trair... para de voltar esse horário, com esses perfumes...
- Eu não estou te traindo. A gente não tem nenhum tipo de relacionamento de verdade, não tenho nenhum compromisso com você por mais que seu pai insista e coloque na sua cabeça que esse casamento é verdade.
- Meu pai não coloca nada na minha cabeça. É você que se aproxima de mim, me leva pros meus lugares favoritos, me beija daquele jeito, segura minha mão, dorme comigo... eu não pedi pra você fazer nada dessas coisas. É você que me ilude assim... por que?
Pela primeira vez desde que eu o conheço, Min Yoongi não tinha uma resposta. Seu queixo erguido e seus olhos audaciosos não deixavam de me encarar, mas ainda assim ele não me respondia imediatamente como de costume.
- Eu já disse – fala mais baixo agora – você é bonita... as vezes me da vontade, mas não passa disso.
Usada de novo...
- Chega pra mim Yoongi... eu que não quero mais agora. Não quero mais ver sua cara – luto de todos os jeitos pra que nenhuma das lágrimas que se formou em meus olhos rolem pelo meu rosto.
- O que você quer dizer?
Seu rosto por um segundo passa de inexpressivo pra um aturdido. Eu queria controlar os meus sentimentos como ele fazia, mas não consigo. Uma lagrima solitária e teimosa desce pela minha bochecha.
- Eu te amo tanto... – murmuro limpando rapidamente meu rosto – Mas eu quero que você vá embora. Pra mim acabou.
- Você ta falando isso da boca pra fora. Se eu inventar de sair daqui seu pai vem atrás querendo me matar no mesmo segundo. Ou eu vou direto pra cadeia.
Balanço a cabeça de um lado pro outro em negativa. Ele e essa mania de achar que tudo eu recorria ao meu pai. Aquilo já tava me enchendo o saco.
- Eu não quero mais ver sua cara Min Yoongi e pai nenhum vai mudar isso.
- E eu não quero ir pra cadeia. Foi o motivo de ter aceitado essa droga de acordo pra começo de conversa...
Ouvir ele falar daquele jeito só piorava tudo. Só que agora junto com a dor uma raiva enorme se misturava.
- Vai embora Yoongi – falo entre dentes, sentindo mais uma lágrima descer.
Sem esperar sua resposta eu saio rapidamente da cozinha, voltando correndo pro meu quarto afim de finalmente chorar em paz. Era a sensação mais contraditória e estranha que eu já tinha experimentado. Odiar tanto uma pessoa que eu não consigo deixar de amar. Eu não queria mais vê-lo, mas não queria que ele fosse embora. Pra onde ele iria? Como ia sobreviver? Eu me preocupava com Yoongi e suas condições. Já podia sentir o arrependimento me dominando antes mesmo de deitar na minha cama. Se ele realmente tiver ido embora pela manhã eu jamais iria me perdoar por tê-lo deixado sem um teto.
Por favor não vai embora... eu te odeio... mas não vai embora.
Ia ser mais uma noite em claro, torcendo pra que ele não fosse orgulhoso pelo menos uma vez na vida enquanto eu tentava ser orgulhosa o máximo que podia.
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