Capítulo 7: Another Love
Sábado, 29 de fevereiro de 2020
Uma das maiores desvantagens de passar muito tempo na praia ou mesmo viver em uma ilha, é que os cuidados com o cabelo devem ser redobrados. Para evitar o ressecamento, pontas duplas e outros inconvenientes, é importante comprar produtos específicos para a limpeza e hidratação adequada dos fios.
Rōjūrō Otoribashi — mais conhecido como Rose — era um nipo-sueco alto, magro, de olhar melancólico, cujos orbes eram azuis levemente puxados para um tom fechado de roxo, e longos cabelos loiros ondulados.
Seus cabelos, bem como todos os demais detalhes em sua aparência, eram muito importantes para ele, uma vez que dentre sua lista de prioridades pessoais — depois da música — absolutamente nada era mais importante do que ter estilo.
Quando ficou decidido que iriam ao Shiba's à noite, rapidamente, Rose concluiu que não poderia perder muito mais tempo na praia, pois precisava fazer uma boa hidratação em seus cabelos e escolher um traje adequado para a ocasião. Felizmente, quase todos concordaram em ir para casa mais cedo.
Lisa e Mashiro foram para o AP delas no carro de Hiyori, pois a loirinha e Shinji disseram que iriam ficar na praia um pouco mais para ver o por do sol, e ele lhe daria uma carona depois disso.
Kensei dirigiu em silêncio, deixou Hachi em sua padaria e depois levou os demais para casa. Ele parecia extremamente perturbado, e quando chegaram, foi direto para o quarto se banhar, sem dirigir uma única palavra a ninguém.
Apesar do jeito blasé, Rose se importava muito com seus amigos Vizards, que eram sua segunda família. Love era seu melhor amigo, e quando soube que ele tinha um encontro naquela noite com uma garota em quem parecia estar muito interessado, Rose ficou extremamente feliz por ele.
Love — que estava muito entusiasmado com seu encontro — pediu a Rose que lhe ajudasse a escolher uma roupa, pedido este o qual ele atendeu prontamente, uma vez que adorava deixar seus amigos mais apresentáveis.
Após concluir sua tarefa como "consultor de moda" foi para seu próprio quarto a fim de hidratar os cabelos. Usou um combinado de creme branco, uma ampola de vitaminas, chá de camomila e algumas gotas de óleo de argan.
Colocou uma touca plástica para deixar os produtos agindo pelos próximos quarenta minutos, enquanto escolhia uma roupa para si. Optou por um visual mais minimalista: uma camisa branca slim e uma calça skinny preta — ambas da marca Armani — e um Mocassim de couro cru.
Rose gostava de pensar em si como um homem romântico — não no sentido vulgar da palavra — mas sim, referindo-se ao movimento estético, ou seja, à tendência idealista ou poética que carece de sentido objetivo.
Love adorava lhe chamar a atenção, dizendo que ele deveria ser mais prático e concentrar-se no que estava a sua frente, ao invés de se focar tanto em estética e ideias intrigantes, porém impraticáveis.
Romântico, belo e boêmio, essas três palavras o definiam bem. Afinou sua guitarra a fim de levá-la ao rolê, pois a dona do Shiba's sempre lhe oferecia duas ou três rodadas de cerveja se ele tocasse algumas músicas no bar.
Eram 18h45 e tudo já estava devidamente organizado para aquela noite. Às 19h00 enxaguaria o cabelo, tomaria banho, e por volta de 20h40 sairíam de casa rumo ao bar, onde pontualmente encontrariam os demais às 21h. Pontualidade era importante para todos os Vizards, sobretudo para Rose, e esta era uma de suas únicas características mais objetivas.
O tempo estava a seu favor, então sentou-se ao piano que havia em seu quarto a fim de tocar um pouco. Sem pensar muito, passou a dedilhar as notas de "Another Love" de Tom Odell.
I wanna take you somewhere so you know I care
But it's so cold and I don't know where
I brought you daffodils in a pretty string
But they won't flower like they did last spring
Não sabia ao certo por que começara a tocar aquela canção especificamente, não era como se fosse uma de suas favoritas ou se pensasse nela com frequência. Mas, conforme cantava e se permitia sentir cada uma das belas notas as quais executava com a maestria de um gênio da música, alguns sentimentos começaram a emergir do fundo de sua alma.
And I wanna kiss you, make you feel alright
I'm just so tired to share my nights
I wanna cry and I wanna love
But all my tears have been used up
Estava feliz por Love, a inveja não era algo que ele permitia entrar em seu coração, mas sentia falta — falta de amar e ser amado — de estar apaixonado, de se sentir entusiasmado com outro ser humano, de nutrir carinho, afeição e desejo por um único ser, mas já fazia tantos anos que não sentia algo assim, que sua alma romântica clamava por isso em silêncio.
On another love, another love
All my tears have been used up
On another love, another love
All my tears have been used up
On another love, another love
All my tears have been used up
No último ano do ensino médio, quando ainda vivia em Kobe, Rose teve um relacionamento de seis meses com um rapaz estrangeiro, e embora tivessem prometido um ao outro que manteriam contato, quando seu então namorado mudou de escola no meio do ano, não mandou mais notícias.
O ano de 2012 havia sido um dos mais difíceis de sua existência, pois havia vivenciado uma paixão avassaladora no primeiro semestre e uma enorme desilusão no segundo.
Quando recebeu a notícia de sua aprovação na Seireitei em 2013, sentiu que tudo mudaria para melhor. Embora tivesse que se mudar para longe de seus pais — com quem se dava muitíssimo bem — realizaria o sonho de estudar música na melhor Universidade do Japão, e quem sabe, com um pouco de sorte, apaixonar-se novamente.
Durante o campeonato de artes marciais de 2014, ele chegou a pensar que havia encontrado alguém capaz de virar seu mundo de cabeça para baixo, mas suas crenças rapidamente se tornaram infundadas.
29 de Março de 2014.
Rose estava exultante, ele havia conseguido o posto de líder-orientador da 3ª divisão do Gotei 13, logo em seu segundo ano de graduação, e isso era um baita feito, pois a maioria dos líderes-orientadores chegava a tal posição em — no mínimo — quatro anos.
A primeira fase do campeonato, também chamada de "fase interna" havia sido concluída, e naquele dia se iniciariam as lutas da fase externa.
Para melhorar ainda mais as coisas, seu amigo Love também havia chegado ao nível de líder-orientador da 7ª divisão, o que era mais um motivo para comemorar. Ambos estavam animadíssimos com a fase externa do campeonato, mas é como dizem: quando você acha que se saiu bem em algo, descobre que outra pessoa se saiu ainda melhor.
O adversário de Rose naquela luta seria um calouro do curso de história, que surpreendentemente havia conseguido a posição de líder-orientador da 5ª divisão logo em seu primeiro ano de graduação. Aparentemente ele também era um mestiço, loiro e de olhos castanhos, mas seu nome e sobrenome eram japoneses, assim como Rose.
A primeira vez em que ele viu Shinji Hirako foi poucos minutos antes de iniciarem uma luta de Kendo. Rose se interessou pelo outro loiro de imediato: ele tinha os cabelos extremamente lisos e muito compridos, um olhar indecifrável que parecia variar entre tédio e divertimento a todo instante, além de um sorriso estranho — que parecia estar invertido — o qual não poderia ser considerado bonito, mas certamente lhe conferia ainda mais personalidade.
— Que tal uma aposta, Hirako-San? — perguntou Rose, despretensiosamente.
— Pode me chamar de Shinji — ele respondeu, direcionando-lhe um de seus sorrisos estranhos.
— Sendo assim, pode me chamar de Rose.
— O que propõe, Rose? – perguntou Shinji.
— Se você perder, eu quero que pague um jantar no meu restaurante favorito — respondeu, sem tentar esconder seu interesse. — E se você ganhar poderá escolher o que quiser.
— Certo — Shinji concordou, sem demonstrar nenhuma emoção. — Então se eu ganhar, você me paga um jantar no seu restaurante favorito.
Rose sorriu, pois imaginou que talvez o interesse não fosse unilateral. Independentemente de quem saísse vitorioso, teria seu jantar com Shinji, a única coisa que estava em questão era quem pagaria a conta, e claro, quem obteria a melhor posição no ranking do Gotei.
A luta havia sido acirrada, mas Shinji tinha um estilo único e quase irracional de lutar: trocava a espada de uma mão para outra, invertia golpes e fazia sequências insanas de ataques que seriam capazes de deixar até os mais experientes praticantes de kendo completamente perdidos.
Embora Rose tivesse se mantido firme por quase toda a luta, no fim, Shinji e sua imprevisibilidade levaram a melhor.
Trocaram cumprimentos cordiais após a luta, e um pouco depois de saírem do tatame, Shinji pediu o número de Rose, o qual ele forneceu prontamente.
— Você terá que me buscar, meu carro está na oficina — disse Shinji.
— Além de lhe pagar o jantar também serei seu motorista? — perguntou Rose, em tom de ironia.
— É o que temos para hoje, a menos que queira deixar para outro dia...
— Me mande a localização, vou buscá-lo às 20h — disse Rose.
Shinji concordou com o manear de cabeça e um de seus sorrisos bizarros, tomando seu rumo logo em seguida.
Quando chegou em casa, Rose foi se banhar e escolher uma roupa, animado com a perspectiva de ter um encontro após um ano e nove meses solteiro, já que, até o presente momento em sua vida acadêmica, tinha se limitado a ficadas insignificantes em festas da Universidade. Nesta época, ele dividia um apartamento com Love e Kensei.
Love também era de Kobe, e eles se conheceram em 2013, durante a viagem rumo a Seireitei. Eles se deram muito bem logo de cara, pois além de serem da mesma cidade, ambos gostavam de música, mangás, e não conheciam absolutamente ninguém em Okinawa, então decidiram procurar um apartamento para alugarem juntos.
Por arranjo do destino, encontraram um anúncio em um dos muitos murais da Universidade, de um calouro da matemática que estava em busca de colegas para dividir moradia, e foi assim que conheceram Kensei.
Rose teve muita sorte, desde que chegara a Seireitei todas as coisas pareciam se arranjar sozinhas e da melhor maneira possível. Amizades, moradia, boas notas, excelentes posições no Gotei... A única coisa que poderia tornar esse cenário ainda melhor seria um encontro — mesmo que não levasse a absolutamente nada mais sério — e ele teria isso naquela noite.
— Kensei, preciso de um favor — disse Rose, entrando na cozinha, já arrumado, exalando seu tradicional Bleu de Chanel.
Kensei e Love comiam lámen no balcão e analisaram a aparência do amigo: ele usava uma camisa azul marinho da Lacoste, dobrada até a altura dos cotovelos, uma calça de sarja cor de chumbo e sapatos Oxford.
— Onde você vai todo bem vestido desse jeito? — perguntou Kensei.
— Arrumado, cheiroso — observou Love. — Acho que alguém tem um encontro.
— Exatamente — respondeu Rose. — Porém, preciso do seu carro emprestado.
Kensei demorou um pouco para notar que a frase era dirigida a si, e quando reparou nos olhares de seus amigos, engasgou com o caldo do lámen.
— Meu carro? — questionou o platinado, com ar de indignação.
— Bem, eu não tenho um carro — disse Love, com ar de riso.
Rose permaneceu encarando Kensei, pois ele precisava desesperadamente de um carro, senão seu encontro com Shinji iria pro brejo.
— Como você pode ter grana para comprar tantas roupas de marca, perfume francês e até um piano, e não compra a porra de um carro? — Kensei perguntou, visivelmente contrariado, pois ele simplesmente adorava seu Jeep, e não o emprestaria tão facilmente.
— Falou o cara que comprou um carro importado com dinheiro de herança — respondeu Love, todo debochado. — Enfim a hipocrisia.
Rose segurou o riso, pois sabia que provocar Kensei não era o caminho para conseguir convencê-lo.
— Não tô questionando a origem do dinheiro dele, e sim suas prioridades — devolveu Kensei, após dar uma cotovelada nas costelas de Love.
— Eu sou um músico, obviamente o piano era uma prioridade — disse Rose. — E a maioria das minhas roupas são presentes de minha querida mãe, que sempre fez questão de ter um filho elegante.
Kensei revirou os olhos, mas não disse nada, afinal de contas Rose vivia recebendo pacotes de sua mãe, contendo inúmeras roupas e acessórios, pois ela era uma consultora de moda masculina e tinha uma loja de roupas importadas em Kobe.
— Deixa de ser cuzão — Love interveio. — Seu amigo tem um encontro e precisa do carro, pede para ele encher o tanque e empresta logo!
Embora tivesse um jeitão curto e meio grosso, Kensei adorava seus amigos, e no fim acabou concordando em emprestar o carro.
— Tudo bem, mas eu quero o tanque cheio e uma marmita.
— Uma marmita? – questionou Rose.
— É claro! Se vai sair, aposto que vai naquele bistrô do qual vive falando, então traz alguma coisa boa pra gente comer. — respondeu Kensei.
— Ótima ideia — comentou Love. — Adoro a comida daquele lugar.
Rose concordou, afinal de contas, era um pedido bastante razoável, e nada lhe impedia de pedir um ou dois pratos para viagem e trazê-los para seus amigos. Como ainda tinha tempo, sentou-se com eles no balcão e passaram a conversar sobre o campeonato.
— Ficou sabendo? — Love perguntou, mirando Kensei. — Agora você não é mais o único na Seireitei que chegou ao nível de líder-orientador logo no primeiro ano da graduação.
— Tô sabendo — respondeu Kensei. — Você chegou a lutar com o cara, né, Rose?
— Lutei, e perdi — disse o loiro, tranquilamente. — Em compensação, ele concordou em jantar comigo esta noite.
Love adorou a notícia e passou a disparar um monte de perguntas sobre o novo líder da 5ª divisão. Rose contou a eles sobre a aposta e os detalhes sobre a luta, e enquanto isso, Kensei parecia estar processando a informação em silêncio.
— Faz mais de um ano que moramos juntos e eu nunca percebi que você gostava de homens — comentou Kensei, com um ar pensativo. — Devo ser um péssimo amigo.
Rose e Love riram da expressão do platinado.
— Agora, em retrospecto, percebo que nunca conversarmos sobre coisas desse tipo — disse Rose. — Espero que isso não lhe cause nenhum desconforto.
— Óbvio que não — respondeu Kensei. — Só fiquei surpreso por nunca ter notado, devo ser mais desligado do que imaginei.
Rose achou graça num primeiro momento, mas depois se sentiu um pouco mal por Kensei, afinal de contas, ele era um bom amigo, estava sempre disposto a lhe ajudar em qualquer coisa, e mesmo assim, embora tivesse conhecido seus dois amigos quase que ao mesmo tempo, Rose sempre foi mais próximo de Love e nunca buscou estreitar os laços com Kensei.
A verdade é que Rose se sentia muito privilegiado em relação ao platinado, pois o pouco que sabia da história de Kensei já lhe deixava claro o quão difícil havia sido a vida dele, e estar próximo a alguém cuja história era — de fato — dramática, fazia com que Rose se sentisse uma farsa.
Tirando a desilusão amorosa no ensino médio, tudo havia sido fácil para Rose. Seus pais eram amorosos, compreensivos, mantinham um casamento estável há trinta e um anos, compreenderam e aceitaram sua sexualidade antes mesmo dele se assumir, e o apoiavam em todas as suas empreitadas.
Seu olhar melancólico, apreço pelo drama e miséria humana não tinham uma raiz mais profunda. Não havia uma história triste por traz daquela aparência, era tudo uma questão de gosto, estilo e estética. No fim, mesmo que adorasse Kensei, sentia que não podia compreendê-lo, então sempre acabava mantendo certa distância emocional do amigo.
Conversaram um pouco mais sobre o campeonato e outras trivialidades, e quando deu a hora de sair, Rose se despediu de seus amigos e foi buscar Shinji.
Seguiu as orientações do GPS até chegar a um restaurante de lámen, desses bem antigos e tradicionais, mais ao leste da ilha. Não demorou muito, avistou Shinji descendo de uma escada de metal que ficava na lateral do restaurante — aparentemente ele vivia num quarto barato acima do estabelecimento.
Rose desceu do carro para cumprimentá-lo e não pôde deixar de reparar nas roupas de Shinji: ele usava uma calça de sarja cinza claro, uma camisa preta, suspensórios caídos, sapatos de couro preto — desses bem casuais de amarrar — e estava com seus longos cabelos soltos, caminhando distraído com seu smartphone.
— Boa noite — Rose o cumprimentou.
— Boa noite — Shinji respondeu, erguendo os olhos e sorrindo. — Quanta pontualidade, achei que fosse do tipo que se atrasa.
— Jamais, ser pontual é basicamente minha única qualidade — brincou Rose.
— Duvido muito — devolveu Shinji.
A troca de gentilezas foi interrompida por uma voz feminina irritada, que gritava da janela.
— Esqueceu a carteira, cabeção! — disse uma garota loira, atirando a carteira de Shinji em sua cabeça.
— Ai! — gritou Shinji, sentindo o impacto do objeto. — Eu deixei aí, sua tonta, não sou eu quem vai pagar o jantar!
— Você não vai pagar o seu jantar, mas vai pagar o meu! O cara não é obrigado a pagar minha marmita, e se você não trouxer comida para mim vai dormir na rua! — respondeu a garota atarracada.
— Bem lembrado — disse Shinji. — Até mais tarde!
— Até. — Então ela fechou a janela e desapareceu.
Rose ficou atônito com o ocorrido, num momento Shinji parecia um daqueles rapazes ingleses do final dos anos oitenta, cheio de estilo e com um ar misterioso, e no outro, protagonizava uma cena pastelão com uma garota maluca, como se fossem dois personagens de anime, utilizados para alívio cômico.
— Desculpe por isso — disse Shinji, com um sorriso amarelo. — A propósito, onde vamos jantar? Dependendo do que for, vou ter que comprar alguma coisa no combine antes de voltar, senão vou dormir no relento.
— Meus amigos também exigiram marmitas — respondeu Rose, fazendo menção para que entrassem no carro. — Tenho certeza que encontrará algo no cardápio que agrade a sua...
— Amiga. — Shinji completou ao se sentar no banco do carona.
— Vocês moram juntos? — perguntou Rose, enquanto colocava o cinto de segurança.
— Sim, somos dois esquisitões e convivemos desde o jardim de infância, seria difícil para nós morar com outras pessoas. — Fez uma pausa. — Vamos procurar um lugar melhor quando começarmos a receber a bolsa de iniciação científica, mas você sabe como são os japoneses, não é fácil achar um locador disposto a alugar um imóvel para um rapaz e uma moça.
— Isso é verdade — concordou Rose. — O bom e velho conservadorismo.
Apesar do comentário despretensioso, Rose também estava surpreso com o fato de Shinji dividir casa com uma garota. Aparentemente, eles eram amigos de infância, mas para os padrões japoneses, não era algo bem visto.
No caminho, Rose contou a Shinji sobre o bistrô onde iriam jantar, cuja dona era uma chef de cozinha chamada Kirio Hikifune, que havia se formado em gastronomia na Seireitei e se especializado na França.
Chegaram ao local, que era aconchegante e pequeno, a construção tinha estilo ocidental, toda de tijolos antigos e envernizados, havia plantas ornamentais, mesinhas de madeira, cadeiras estofadas e uma iluminação refinada.
Sentaram-se numa mesa rente à parede e logo foram atendidos por uma voluptuosa ruiva que já era conhecida de Rose.
— Olá Rose, vejo que tem companhia — cumprimentou a moça, com graciosidade. — O que vão querer hoje?
— Olá Rangiku — respondeu Rose, com um sorriso. — Meu amigo não está familiarizado com a culinária francesa, o que recomenda?
— Ah, temos diversos pratos deliciosos! O senhor tem alguma restrição alimentar? — ela perguntou referindo-se a Shinji.
— Nenhuma restrição — ele respondeu, retribuindo o sorriso. — Pode me chamar de Shinji.
— Certo, Shinji! Você prefere carne suína, bovina, peixes?
— Sou um grande entusiasta de carne bovina.
— Então eu sugiro um Boeuf Bourguignon. — Fez um biquinho ao pronunciar o nome em francês. — Além de delicioso, também é um dos favoritos do Rose!
— Parece ótimo — respondeu Shinji.
— Excelente sugestão, Rangiku – disse Rose. — De entrada, eu gostaria de uma salada verde com crottin de chèvre.
— Eu vou querer o mesmo — comentou Shinji. — Não entendo absolutamente nada de comida francesa.
— Não vai se arrepender, Rose tem muito bom gosto — respondeu Rangiku, dando uma piscadinha para Shinji. — E para beber?
— Um Lirac tinto, safra de 2010.
— Perfeito, fiquem à vontade.
Dito isso, Rangiku se retirou e Rose notou que Shinji a acompanhou com o olhar, visivelmente admirado com sua beleza.
— Acho que estou apaixonado —comentou Shinji, dando um suspiro. — Mesmo que a comida não seja boa, esse bistrô já é o meu favorito nessa ilha.
Rose sabia que Rangiku Matsumoto era lindíssima — afinal de contas, não era cego — ela era uma ruiva de seios fartos, belos olhos e trejeitos extremamente sensuais, mas, aquele comentário soou como um alerta vermelho, então achou por bem tomar uma postura mais direta.
— Ela é a vice-orientadora da 10ª divisão e está no segundo ano de gastronomia — disse Rose. — Interessado?
— Admirado — respondeu Shinji. — Me apaixono muito fácil, mas é provável que amanhã já a tenha esquecido.
Rose achava a postura de Shinji cada vez mais intrigante, porém algo lhe dizia que aquele jantar não era o que ele achava que era, então o quanto antes tirasse isso a limpo, melhor.
— Shinji, serei direto contigo, embora não seja do meu feitio. — Fez uma pausa, olhando-o nos olhos. — Eu o convidei para sair porque me interessei por você, mas não sei se compreendi bem suas intenções.
Shinji não desviou o olhar nem pestanejou, respondendo com tranquilidade e franqueza:
— Imaginei que estivesse interessado, e eu também estou, porém não da mesma maneira. — Ele deu um daqueles sorrisos estranhos antes de continuar. — Infelizmente para mim e felizmente para você, eu sou hétero.
— Felizmente para mim? – questionou Rose, curioso com aquele comentário.
— É claro que sim, um cara como você certamente consegue um tipo muito melhor do que eu — ele respondeu como se fosse algo óbvio. — Além de bonito, é cheio de qualidades e muito agradável, se estivesse em meu poder escolher minha orientação, seria uma bênção me relacionar contigo, mulheres são muito complicadas.
Rose riu da fala de Shinji, sabia que ele era imprevisível, mas certamente não estava preparado para ouvir algo daquele tipo.
— Estou lisonjeado — disse Rose. — Mas, qual o seu interesse em jantar comigo? Não teme o que dirão se nos virem aqui juntos?
— Quero sua amizade — respondeu Shinji. — Como disse, também me interessei por você, me pareceu uma pessoa muito interessante, mal nos conhecemos e já até me trouxe para conhecer uma culinária nova!
— E quanto à sua reputação?
— O que poderiam dizer? Que tive um encontro com um cara bonitão? — Fez uma pausa, soltando uma de suas risadas estranhas. — Minha masculinidade não é assim tão frágil, e sinceramente, não dou a mínima para o que os outros pensam.
Rose se sentiu confuso com seus sentimentos. Parte dele estava decepcionada com o fato de Shinji ser hétero, e a outra parte estava feliz por ter encontrado alguém que tinha tudo para ser um amigo muito interessante.
O jantar foi incrivelmente agradável, Shinji sabia conversar sobre absolutamente qualquer coisa, e aos poucos, Rose começou a sentir que seriam grandes amigos, e que Love e Kensei também iriam gostar muito dele.
Na hora da sobremesa, a chef de cozinha veio servi-los pessoalmente, pois Rangiku havia lhe avisado que Rose — que era um cliente fiel — havia trazido um amigo, então ela decidiu ir cumprimentá-los.
Kirio Hikifune era uma mulher de quarenta e dois anos — que aparentava ser uma década mais jovem — com seios tão fartos quanto os de sua funcionária, cabelos tingidos de roxo, temperamento alegre e semblante jovial. Ela caminhou até a mesa dos rapazes com um sorriso no rosto, trazendo uma Île Flottante para cada um deles.
— O que acharam do jantar, meninos? — perguntou Kirio, toda sorridente.
— Maravilhoso, como sempre — disse Rose.
— Incrível — respondeu Shinji. — Acho que nunca comi algo tão bom em toda minha vida!
— Fico muito feliz que tenham apreciado, a sobremesa é por conta da casa — ela disse em tom animado. — Soube que foi promovido a líder-orientador, Rose, meus parabéns!
— Muito obrigado. — Sorriu discretamente. — Shinji também é líder-orientador, e ele ainda está no primeiro ano da graduação.
— Jura? — Ela arregalou os olhos. — Shinji, querido, saiba que os líderes-orientadores têm desconto no meu bistrô, então venham mais vezes!
— Pode ter certeza que vou fazer bom uso desse desconto — brincou Shinji.
— Kirio foi líder-orientadora da 12ª divisão por muitos anos — comentou Rose.
— Sério? Minha amiga se tornou 1ª assistente na 12ª divisão! — disse Shinji.
— Sua amiga deve ser muito talentosa — respondeu Kirio. — Venha com ela jantar aqui qualquer dia desses, quero conhecê-la.
— Eu prometi que levaria uma marmita a ela, mas não sei o que pedir, é uma tonta de paladar infantil, não come legumes e tem um monte de frescuras...
— Pode deixar comigo, sei exatamente o que irá agradá-la!
Rose também pediu dois pratos para viagem, a fim de levá-los para Love e Kensei, e após terminarem a sobremesa, se retiraram do restaurante levando as refeições de seus respectivos amigos.
Quando terminou de se arrumar, Rose deixou o quarto e encontrou Love sentado na sala, usando a roupa que haviam escolhido juntos.
— Onde estão Shinji e Kensei? — perguntou Rose.
— Flagrei o Kensei fazendo bolinhos de arroz na cozinha, ele já estava arrumado, saiu levando uma marmita e disse que voltava logo — respondeu Love. — Falei pro Shinji ir buscar o Hachi com a banheira dele, e que iríamos em seguida.
Ambos sabiam o que aquilo significava, e ficou claro para Rose que Love insistiu em esperar o retorno do amigo a fim de se assegurar que ele não faltaria ao rolê — por vergonha ou coisa do tipo — então esperaram por ele sentados na sala. Não demorou muito, ouviram o som da buzina do Jeep ressoar lá fora.
Love se sentou na frente, ao lado de Kensei, e Rose foi atrás, onde havia espaço suficiente para ele e sua guitarra.
— Se desculpou com ela? — Perguntou ao platinado, que o encarou pelo retrovisor, fazendo um breve aceno com a cabeça.
— Ótimo.
Dito isso, partiram rumo ao Shiba's.
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