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Capítulo 25: The Man Comes Around


Nota: Olá leitores, tudo bem com vocês?
Agora, daremos início ao 3° e penúltimo arco, começando com o ponto de vista da ilustre Yoruichi Shihōin ✨

Vocês se lembram daquela trilha de migalhas informativas que foi se formando no 2° arco? Sobre a ilha, Arrancars, Espadas, a própria Seireitei, seus fundadores, etc? Então...

Nesse arco, todas essas informações vão voltar com força total, então não se deixem enganar pela falsa sensação de calmaria dos próximos capítulos, ok? 🌝

Boa leitura 🧡

Sábado, 21 de março de 2020.

Poucas coisas são mais estranhas do que o desencadear de eventos que vão ocorrendo de forma natural — e perturbadora — em nossas vidas. Num momento, tudo está bem, você está feliz e tem o privilégio de se sentir amado, bem-sucedido, ou pelo menos, em paz. E então, não mais que de repente, algo inesperado acontece, e a sensação é basicamente que o mundo capotou bem diante de você.

Yoruichi Shihōin sabia que o mundo não havia, de fato, capotado, mas o sedã à sua frente sim, e nele estava sua melhor amiga. Não havia acostamento ali, tratava-se de uma marginal estreita de mão dupla, em que de um lado havia um barranco rochoso, e do outro uma ribanceira repleta de vegetação densa, composta por árvores, arbustos e rochas, e próximo a elas, o mar.

Kyōraku freou abruptamente em meio à perseguição quando viu o carro prateado perder o controle, saindo da marginal capotando quatro vezes, até ficar peso por entre as árvores. Yoruichi desceu correndo, desesperada, constatando que o carro havia ficado quase totalmente destruído e que se encontrava em um local de difícil acesso.

Começou a descer a ribanceira, até que sentiu uma mão segurar seu braço.

— Vamos chamar o resgate — disse Kyōraku, com o semblante sombrio.

— Temos que ajudá-la! — Yoruichi bradou, desesperada para socorrer Kuukaku.

— Se fizermos as coisas no impulso, podemos piorar a situação — ele afirmou num tom firme, segurando a morena pelos ombros com as duas mãos.

Dito isso, o homem tirou o celular do bolso e ligou para o resgate. Yoruichi encarou o carro, metros abaixo de onde estavam, completamente envolvido pelas árvores e rochas. Sentou-se numa pedra ao lado da estrada, aguardando a chegada dos socorristas, a esta altura já era sábado, pois passava de uma da manhã.

Como haviam chegado àquele ponto? Num momento, ela e Kuukaku estavam felizes, cantando e dançando, realizando a apresentação que havia levado semanas de planejamento e ensaios, e no outro, encontrava-se numa beira de estrada, usando salto alto e corpete, torcendo para que a amiga estivesse viva e o resgate chegasse logo.

Em meio aos pensamentos deprimentes, segundos pareciam horas. Kyōraku ligou o pisca alerta de seu carro, estacionando-o corretamente na beira da estrada, e depois juntou-se a Yoruichi.

— Se o desgraçado do Ryuuken sobreviver, eu mesma vou matá-lo — ela afirmou, com os olhos marejados. — Ele nunca se deu ao trabalho de estar presente, nem para ela e muito menos pro Uryu, e agora aparece aqui e faz uma merda dessas...

— Por quê? — Kyōraku questionou, desolado, e Yoruichi compreendeu no mesmo instante o que ele queria dizer.

— Ela pediu o divórcio.

Passaram-se alguns minutos de silêncio ensurdecedor, não havia o que dizer, e então ouviram ao longe as sirenes do resgate se aproximarem.

Levou quase duas horas até conseguirem retirar Kuukaku e Ryuuken do automóvel, eles estavam inconscientes, mas vivos e foram levados ao hospital de Seireitei.

No caminho do hospital, Kyōraku parou na casa de Yoruichi para que ela pudesse se trocar e pegar algumas coisas. Os dois se conheciam há muito tempo, eram ambos de famílias nobres — embora não dessem a mínima para isso — e se reuniam com certa frequência.

Sentados na pálida recepção do hospital, permaneciam em silêncio, tomando chá batizado a fim de suportar toda a tensão da espera. Já passava das três e meia da manhã, e Yoruichi não pôde deixar de pensar no quão estranha era toda aquela situação. E pensar que, menos de uma semana atrás, eles estavam rindo e tomando saquê na cozinha de Kisuke Urahara.

Domingo, 15 de março de 2020.

Yoruichi despertou com a parca iluminação que adentrava o quarto bagunçado. Levantou-se lentamente do futon para não acordar o homem que dormia ao seu lado. Cobriu sua nudez com um robe verde-escuro que estava pendurado num gancho ao lado da janela, abrindo a porta de correr devagar para evitar ruídos.

Eram oito da manhã e já fazia muito calor, precisava desesperadamente de um banho, e embora não estivesse em sua casa, sentia-se familiarizada o bastante para fazer o que desejasse, mesmo que o anfitrião dormisse até meio-dia, como era seu costume aos domingos.

Entrou no banheiro que, apesar de limpo, estava sempre bagunçado. Tudo na casa de Kisuke Urahara era um lembrete de sua personalidade: desleixada, porém eficaz. Era curioso como após tantos anos de convivência, Yoruichi conseguisse ver ordem em meio àquele caos, e toda a lógica por trás das ações e hábitos daquele homem preguiçoso e genial.

Após o banho, saiu desfilando nua pela casa, recolhendo as roupas que jaziam espalhadas pelo chão e colocando-as para lavar, inclusive o robe que usara. Recolheu algumas roupas limpas que estavam na secadora, vestindo uma camiseta branca e uma cueca samba-canção amarela.

Enquanto fazia um café, ouviu o som de chinelos de madeira batendo contra o assoalho, denunciando a aproximação do dono da casa. Yoruichi estranhou o fato dele acordar tão cedo no domingo, eram melhores amigos de infância e ela sabia que poucas pessoas gostavam tanto de dormir quanto Kisuke Urahara.

— Bom dia — o loiro a cumprimentou, sentando-se junto à mesa.

Os cabelos estavam bagunçados, e ele vestia um conjunto de calça e robe verde-escuros. Tinha inúmeras peças daquela cor, o que fazia muita gente acreditar que ele não trocava de roupa.

— Por que acordou tão cedo? — ela perguntou, enquanto colocava água no fogo para o chá dele.

Vai saber — ele respondeu com seu típico tom despretensioso. — Talvez seja emoção, pelo que aconteceu ontem à noite...

Yoruichi riu da sutileza em suas palavras, ele era conhecido por não ir direto ao ponto e abordar todo e qualquer assunto de natureza delicada daquele jeito, tranquilamente, como se fosse algo corriqueiro, tipo falar do clima ou algo assim. É claro que não havia motivo para drama, eram adultos, no auge de seus trinta e seis anos de idade e se conheciam desde a infância, mas o fato era que haviam transado na noite anterior e agora precisavam lidar com isso.

Não é como se tivesse sido a primeira vez, Kisuke — ela comentou debochada, enquanto servia café para si e um chá-verde para ele.

É que a última vez faz o quê... — Ele fez uma pausa, como se estivesse puxando a informação na memória. — Uns cinco anos? E estávamos bêbados naquela ocasião.

Mas ontem estávamos bem sóbrios - deu um gole no café. — Tá arrependido?

De forma alguma, apenas... Surpreso.

Yoruichi ouviu as palavras dele e ponderou por um momento. Há tempos andava refletindo sobre sua relação com Kisuke e precisava escolher bem as palavras antes de pronunciar o que tinha em mente.

A noite anterior havia começado como outra qualquer. Ela passou na casa dele, conversaram sobre trivialidades, pediram comida — nenhum deles era muito habilidoso na cozinha — então ela disse que queria lhe mostrar o figurino que usaria na apresentação, e ele obviamente aceitou de bom grado a tarefa de "crítico de moda", mesmo que seu conhecimento no assunto fosse, no mínimo, duvidoso.

Ela queria ver se ainda tinha alguma chance de "funcionarem" numa relação que fosse além da amizade, e resultado foi uma noite inesquecível.

Aquela havia sido a terceira vez que ficavam juntos. A primeira havia ocorrido ainda na adolescência, quando Yoruichi sugeriu que transassem, pois não queria ficar nervosa nem criar expectativas sobre a tal primeira vez, dizendo que seria melhor para eles se fizessem um com o outro invés de pessoas aleatórias. Depois disso, ambos continuaram sendo amigos e tiveram inúmeras experiências com outras pessoas.

A segunda vez havia acontecido em meados de 2015, após uma das famosas festas de recepção do Shiba's, com ambos alcoolizados. Na manhã seguinte, apenas agonizaram na ressaca e riram do ocorrido. Mas agora, cinco anos depois, Yoruichi havia pensado seriamente sobre sua relação com Kisuke, e após constatar que a atração era real e palpável, tomou uma importante decisão.

Sabe essa coisa que mostram nos filmes, de um cara conhecendo uma garota, eles se apaixonam perdidamente, e então resolvem ficar juntos pra sempre? — Yoruichi questionou, em tom descontraído.

Urahara concordou com a cabeça e esperou que ela retomasse o raciocínio.

Nunca aconteceu comigo — afirmou rindo. — Já me interessei por muita gente, curti bastante, mas não sou uma mulher romântica, e acho que nunca vou ser.

Não posso julgá-la quanto a isso, sabe muito bem do meu histórico — ele respondeu, após dar um gole no chá.

Ela sabia, e definitivamente não o julgava por isso. Ele era, basicamente, e sobre sua própria definição: um mero, honesto e bonito pesquisador pervertido.

Mas, recentemente eu percebi que isso não precisa ser algo ruim, sabe? Veja a Kuukaku, por exemplo. O Kyōraku não era lá muito romântico, mas eles formavam um excelente casal, só não deu certo porque ele queria filhos e como ela não queria, achou melhor terminar com ele. — Fez uma pausa, dando mais um gole no café. — Depois veio o Ryuuken, rolou toda aquela paixão e romantismo, e no fim, deu merda.

De fato, há coisas muito mais importantes do que o romantismo — ele concordou com um sorriso curioso. — Mas aonde quer chegar, Yoruichi-San?

Ela era uma das poucas pessoas no mundo que ele chamava pelo primeiro nome. Em geral, Urahara tratava a todos pelo sobrenome — uma forma polida e gentil de demonstrar distância emocional da maioria das pessoas — embora não se importasse de ser tratado informalmente. Mas, por maior que fosse a intimidade que tinha com a morena, ele jamais abriu mão do honorífico "San" no final, e ela achava aquilo estranhamente encantador. Era como se ele quisesse demonstrar respeito por ela, independente da situação que se encontrassem.

Respeito, companheirismo, intimidade e tesão. Nós temos tudo isso, não temos? — ela questionou, olhando-o nos olhos.

Urahara engasgou com o chá e uma cor avermelhada tomou conta de sua face. Yoruichi segurou o riso, pois era engraçado ver um macho tão sem vergonha corando naquela situação. Ele fez que sim com a cabeça, parecendo incapaz de dizer uma única palavra.

Você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, né?

E você, comigo — ele respondeu, após concordar com um gesto.

Ela sabia que sim, pois apoiaram um ao outro em todas as suas empreitadas desde que eram crianças.

Eu acho que nos amamos, Kisuke — disse Yoruichi, sem o menor constrangimento. — Talvez não tenhamos percebido antes, porque somos amigos, mas eu estive pensando sobre isso, e se você concordar, acho que podemos ficar juntos.

Você quer dizer juntos como... Um casal? — Urahara questionou, parecendo surpreso com a sugestão.

Sim, um casal numa relação monogâmica — respondeu seriamente. — Nunca fiz questão desse tipo de coisa antes, sabe que não sou ciumenta, mas estou em outra fase agora. Se você não tiver interesse, pode falar abertamente, não vai ferir meus sentimentos nem nada do tipo.

Urahara ficou em silêncio por alguns segundos, parecendo digerir as palavras dela.

Eu não tenho dúvidas quanto a isso, na verdade, eu sempre soube que te amava. É claro que fico feliz em ouvir de forma explícita que me ama, mas é algo que eu sempre senti nas suas ações. — Ele falava tranquilamente, parecendo ter recuperado a descontração usual. — Não vou mentir, estou surpreso com a "proposta".

Imagino que sim, até porque nunca demonstramos esse tipo de amor um pelo outro, e eu imagino que você precise de tempo para...

Eu aceito — Urahara a interrompeu. — Se tivesse proposto há dez anos também teria aceitado, não me vejo fazendo nada desse tipo com qualquer outra pessoa além de você. Se não for com você, não vai ser com mais ninguém.

Você consegue ficar com uma única mulher? — ela questionou, arqueando uma sobrancelha. — Porque eu não quero um relacionamento aberto nessa altura da vida, muito menos ser corna.

Se a mulher for você, consigo — ele respondeu, olhando-a nos olhos. — E você, consegue?

Sabe que eu sempre cumpro minhas promessas, se eu disser que você será o único, é porque será — Yoruichi afirmou com convicção.

Sei que sim, mas você sabe que monogamia significa que você não vai poder sair com outras mulheres, certo?

Poxa, Kisuke, não seja tão radical! — brincou Yoruichi, gargalhando com a colocação do loiro. — É claro que sei, estou propondo exclusividade total.

Então temos um acordo — ele concordou com um leve sorriso, estendendo a mão a ela.

O compromisso estava firmado, e mesmo que não fosse dos mais românticos, o contentamento mútuo era visível e quase palpável. Urahara se levantou e caminhou na direção dela, pronto para beijá-la, mas foi interrompido pelo som da campainha.

Que tipo de ser inconveniente faria uma visita num domingo de manhã? — disse Yoruichi, caminhando em direção à porta, abrindo-a sem cerimônia alguma. — Ah, é você. Entra.

Bom dia para você também, minha cara — disse Shunsui Kyōraku, removendo os sapatos antes de entrar. — Está usando as roupas do Urahara-San? — questionou divertido enquanto a encarava.

Chamá-lo de indiscreto seria puro eufemismo — Urahara comentou, fazendo menção para que Kyōraku se sentasse à mesa. — Deseja algo para beber?

Saquê — respondeu o homem, sentando-se em frente ao anfitrião.

Por Kami, não são nem dez da manhã! — disse Yoruichi rindo.

Nunca é cedo demais para começar a beber, mas aceito um pouco de chá também.

Yoruichi não ficou nada surpresa com a fala de Kyōraku, pois além de conhecê-lo há muito tempo, o reitor de Seireitei era amplamente conhecido por seu excesso de apreço pela bebida.

Urahara se levantou e pegou uma garrafa de saquê no armário, servindo doses a todos.

É bom que já comemoramos nosso compromisso — anunciou o loiro.

Que compromisso? — Kyōraku perguntou, visivelmente curioso.

Yoruichi-San e eu estamos... — Fez uma pausa, como se procurasse as palavras certas. — Em um relacionamento sério.

Yoruichi riu, enquanto Kyōraku os encarava com olhos levemente arregalados.

Juntos tipo, juntos mesmo? Vocês dois? - piscou algumas vezes. — Estão querendo me pregar uma peça?

É sério — Yoruichi assegurou, rindo da reação do velho amigo. — E com exclusividade.

Meus parabéns! — Tomou a dose de saquê num único gole. — Só lamento não ter tirado uma casaquinha da Yoruichi-San antes disso...

Urahara, que havia acabado de pegar seu leque em uma das gavetas da cozinha, usou-o para bater na cabeça de Kyōraku usando força moderada. O moreno reclamou, mas o loiro o ignorou completamente, sentando-se novamente e usando o leque para aliviar o calor.

Você paga uma de marrento, mas arrasta um caminhão pela Kuukaku até hoje que eu sei — Yoruichi caçoou.

Cruel, Yoruichi-San, cruel — disse Kyōraku, com falso pesar. — Estou feliz pelos dois ex galinhas, mas vim aqui hoje como reitor e não como amigo.

Lá vem bomba.

De fato, receio não ter boas notícias.

Yoruichi sentou-se no balcão da cozinha, enquanto os homens permaneciam em silêncio, sentados junto à mesa.

É sobre a verba, né? — Urahara questionou, escondendo o rosto atrás do leque.

Eu juro que tentei, mas o conselho tem uma opinião quase unânime a repeito da sua pesquisa atual.

Muito útil, rendeu excelentes resultados nos últimos onze anos, mas já deu o que tinha que dar, estou certo? — Urahara se adiantou, ardiloso como sempre. — E quanto ao meu pedido mais recente?

O projeto de pesquisa é interessante, mas economicamente inviável — Kyōraku respondeu com pesar.

Yoruichi sabia muito bem do que estavam falando, e não estava nada surpresa com o posicionamento do conselho. Urahara havia encabeçado uma importante pesquisa na área de genética humana e molecular nos últimos onze anos — que apesar de ter rendido excelentes resultados e proporcionado avanços consideráveis na detecção, diagnósticos e tratamentos de doenças hereditárias — já estava saturada.

Isso sem falar que o próprio Urahara já havia perdido interesse no assunto, e há mais de três anos solicitava a transferência da verba para uma nova pesquisa.

Para darem uma negativa tão explícita, é porque já decidiram direcionar a verba para outra pesquisa.

Como reitor, não posso confirmar tal suposição, até porque o anúncio só será feito oficialmente no início de abril.

E como amigo? — Urahara sorriu significativamente, servindo mais uma dose de sake ao reitor.

Como amigo, posso confidenciar que o conselho vê a pesquisa de Mayuri Kurotsuchi como a mais promissora no momento. — Suspirou. — É claro que eu acho toda essa coisa de "drogas e seus efeitos no cérebro" um porre, mas poucas coisas são mais lucrativas do que a indústria farmacêutica. Você sabe como essas coisas funcionam, contra os números não há argumentos.

Urahara suspirou longamente, mas não demonstrou descontentamento. Yoruichi sabia que ele estava decepcionado, mas havia outras formas dele se dedicar à nova pesquisa. Já haviam conversado sobre o assunto, e ela levantou a hipótese de conseguir patrocínio no setor privado, de forma independente, e ela com certeza o ajudaria no projeto.

Não posso reclamar, é quase uma justiça poética ele ficar com a verba — comentou em tom despretensioso, enquanto se abanava com o leque. — As pessoas sempre o compararam a mim de forma pejorativa, e sei o quanto ele se irrita com esse tipo de coisa.

De fato, mas convenhamos, não precisa de muita coisa para irritar o Kurotsuchi-San — disse Kyōraku, maldosamente. — Não sei o que aquela garota linda e elegante viu nele...

Nemu-Chan? — Yoruichi questionou divertida. — Não se engane, os dois são idênticos, a única diferença é que ele demonstra emoções e ela não.

Que medo — brincou Urahara, escondendo a face com o leque. — Ela é amiga da Matsumoto-San, né?

E da minha Nanao-Chan também — Kyōraku acrescentou.

Sim, já saímos todas juntas — Yoruichi comentou. — É uma garota interessante, meio esquisita, mas não tenho nada contra ela.

Você não pode criticar as pessoas por serem esquisitas, minha cara — Kyōraku debochou. — Veja o homem com quem está comprometida.

Urahara bateu novamente na cabeça de Kyōraku com seu leque, e eles continuaram bebendo e conversando sobre trivialidades por mais algum tempo.

Quando o amigo finalmente se retirou, Urahara o levou até a porta, e ao retornar, foi até o balcão onde Yoruichi estava sentada, colocando as pernas dela sobre seus ombros, e carregando-a dali.

O que está fazendo? — ela perguntou, estranhando a atitude.

Tirando o atraso.

Dito isso, ele a carregou de volta ao quarto.

As lembranças do domingo pareciam ter ocorrido em outra vida. Yoruichi se sentia impotente ao lado de Kyōraku, aguardando por notícias na recepção do hospital.

Urahara havia enviado uma mensagem dizendo que tudo estava ocorrendo conforme o plano no bar, e pedindo que ela os informasse assim que tivesse notícias. Yoruichi não mencionou o acidente, queria ter certeza do estado da amiga antes de preocupar a todos no bar, e estava determinada a informá-los apenas quando obtivesse respostas mais consistentes.

O tio de Kuukaku e delegado da ilha, Isshin Shiba, havia ligado para Kyōraku em busca de notícias, sendo informado do ocorrido. Ele havia se comprometido a avisar os outros dois sobrinhos — Kaien e Ganju — apenas quando tivessem um parecer oficial do estado de Kuukaku, uma vez que nenhum deles estava na ilha naquela semana, e parecia mais sensato esperar um pouco mais para informá-los.

Naquela altura, ele já havia ido até o local do acidente com sua equipe a fim de investigar a causa, e ao que tudo indicava, uma gaivota havia batido contra o para-brisa do sedã, causando a fatalidade.

Já passava das cinco da manhã quando a cirurgiã, Dra. Unohana Retsu — médica, pesquisadora e líder-orientadora da 4ª divisão — veio ter com eles. Por serem todos velhos conhecidos, não houve formalidades, a mulher apenas os cumprimentou com uma breve reverência antes de informá-los sobre as notícias.

— O Dr. Ishida sofreu uma hemorragia interna, mas já foi operado e passa bem — disse a médica, com seu tom gentil e formal.

— Não dou a mínima para esse desgraçado, como está Kuukaku? — perguntou Yoruichi, visivelmente aflita.

— Ela está estável, os órgãos internos não sofreram nenhum dano mas, infelizmente, o braço direito dela precisou ser amputado — disse a médica com pesar. — Ela está dormindo com auxílio de medicamentos, e amanhã acordará bem melhor, mas precisará do apoio de seus familiares e amigos.

Um silêncio ensurdecedor se seguiu após a fala de Unohana. Kyōraku agradeceu as informações dadas pela médica, deixando-se cair na cadeira quando ela se retirou. Yoruichi permaneceu em pé, como se estivesse petrificada, digerindo aquela informação.

Não tinha palavras para descrever o ódio que sentia, queria matar Ryuuken, só de pensar que na manhã seguinte sua amiga acordaria sem uma parte do corpo, e tudo por culpa daquele homem, seu sangue fervia e lágrimas escorriam por seus olhos.

Como se soubesse exatamente o que se passava pela mente dela, Kyōraku puxou-a pela mão, fazendo com que se sentasse na cedeira ao seu lado.

— Ela está viva, Yoruichi-San — ele disse com a voz embargada. — O mais importante é que ela está viva.

Yoruichi respirou fundo, estava feliz pela amiga estar viva, sabia que isso era o mais importante, mas era difícil conter a revolta em seu peito.

— Vou ligar pro Kisuke. — Levantou-se e caminhou até a área externa.

Ao discar o número do loiro, Yoruichi sentiu as mãos tremendo. Quem a olhasse de longe poderia ter a falsa impressão de que ela estava fragilizada, quando na realidade, era o ódio em seu peito que a fazia tremer.

— Yoruichi-San — Urahara a atendeu prontamente, com seu típico tom de voz manso. — Quais são as notícias?

Ela resumiu os eventos da forma mais sucinta que conseguiu, revelando o local do acidente, sua possível causa, as consequências desastrosas para sua amiga, e o triste fato de Ryuuken ter sobrevivido. O loiro a ouviu em silêncio, e só se pronunciou quando ela concluiu o relato.

— Não sei nem o que dizer — Suspirou, do outro lado da linha. — Vou buscar você.

— Peça ao Yumichika a minha bolsa, as chaves do carro estão nela.

Não havia muito mais a dizer, tampouco a ser feito. Enquanto Yoruichi falava com Urahara, Kyōraku informou as notícias a Isshin. Ele se ofereceu para levá-la em casa — Kuukaku só poderia receber visitas dali doze horas — Yoruichi agradeceu, e o informou que Urahara viria buscá-la com seu carro que havia ficado no bar.

Kyōraku fez companhia a Yoruichi na porta do hospital até que Urahara chegasse. Se despediram com um aceno, e ao abrir a porta do carro, Yoruichi largou-se no banco do carona, desolada. No interior do automóvel, uma música ecoava baixinho.

There's a Man going around taking names
And He decides who to free and who to blame
Everybody won't be treated all the same
There'll be a golden ladder reaching down
When the Man comes around

Ao trocar um breve olhar com seu melhor amigo e companheiro, ela pôde notar o quão desolado ele estava. Não disseram nada um ao outro, e quando ele entrou na avenida principal, Yoruichi quebrou o silêncio.

— Podemos ir para minha casa hoje? — ela perguntou baixo, com a cabeça apoiada no vidro.

— Claro.

Hear the trumpets, hear the pipers
One hundred million angels singing
Multitudes are marching to the big kettledrum
Voices calling, voices crying
Some are born and some are dying
It's Alpha and Omega's kingdom come

O apartamento de Yoruichi ficava do outro lado da ilha, e eles percorreram boa parte do percurso em silêncio, enquanto a música ressoava baixa pelo carro.

— Eu só não queria que ele saísse impune — disse Yoruichi, mais para si do que para o homem ao seu lado.

— Ele não vai sair ileso, os Shiba exercem grande influência na ilha, assim como a família do Kyōraku e a sua...

Whoever is unjust let him be unjust still
Whoever is righteous let him be righteous still
Whoever is filthy let him be filthy still
Listen to the words long written down
When the Man comes around

— Mas não será punido como merece, até nossa influência é limitada, e o Ryuuken pertence aos Sternritter. — Suspirou. — Nós dois sabemos como isso termina.

Permaneceram em silêncio, perturbados com suas próprias limitações, pois ambos compreendiam que certas coisas eram simplesmente maiores que eles, e algumas regras — por mais problemáticas e injustas que fossem — não podiam ser burladas.

Era deprimente refletir sobre o assunto, mas quando tudo parece ir mal, é preciso focar no bom. O mais importante era que Kuukaku estava viva, e eles fariam de tudo para apoiá-la.

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