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Capítulo 22: Speechless

Sábado – 14 de março de 2020.

  Começar em um emprego novo é sempre desafiador. Ainda que seja para realizar tarefas para as quais nos consideramos aptos, o friozinho na barriga é simplesmente inevitável.

  Hiyori estava animada e um pouco nervosa, aquele seria seu primeiro dia de trabalho no Shiba's e todos os seus amigos iriam até lá com o objetivo de prestigiá-la — ameaçaram pedir todos os drinks do cardápio para testar suas habilidades — e também para comemorar a aprovação dela e de Shinji no programa de mestrado.

  Apesar do horário de trabalho ser das 18h as 5h, ela havia ido bem mais cedo pro bar, pois sábado era dia de ensaio – o penúltimo antes da apresentação – e Kuukaku permitiu que ela tomasse banho e se arrumasse por lá mesmo.

  Kuukaku Shiba era uma chefe muito firme e exigente, mas também uma pessoa extremamente bacana. Hiyori estava animada com a perspectiva de trabalhar com ela, sentia que podia aprender muitas coisas com aquela mulher.

  Hiyori usava calça e camiseta preta, tênis antiderrapante da mesma cor e os cabelos presos num rabo de cavalo. Faltando meia hora para a abertura do bar, limpou o balcão, abasteceu a cuba de gelo e se pôs a lavar e separar as frutas que poderia vir a usar naquela noite, bem como outros ingredientes.

  Lisa e Mashiro também ficaram após o ensaio e até ajudaram a limpar as mesas e deixar as coisas no esquema.

— Pivete, topa fazer uns drinks pra gente na terça? — perguntou Lisa, aproximando-se do balcão. — É aniversário do Rose, e queremos fazer uma festinha surpresa.

— Pivete é o seu rabo! — ralhou a pequena loira, enquanto terminava de arrumar os copos atrás do balcão. — Faço sim, onde vai ser?

— No bistrô da Kirio — respondeu a morena parecendo entusiasmada. — Conversamos com o Hachi ontem, ele vai fazer o bolo e alguns docinhos, e claro que ele falaria disso com ela né?

— Nem acredito que eles tão namorando — comentou Hiyori. — Ela que ofereceu o bistrô?

— Foi, o Rose é um cliente antigo e ela gosta muito dele, ficou toda entusiasmada com o plano.

— Eu confesso que ainda não me acostumei, morro de ciúmes — Mashiro comentou, juntando-se a elas. — Mas eles combinam tanto e o Hachi tá tão feliz...

— Contanto que ele não abandone a gente, por mim tá tudo certo — disse Lisa, categórica. — Fiquei meio incomodada com esse lance do Love namorar também, mas tô curtindo conhecer a Kiyone melhor, ela é bem mais legal do que eu imaginava.

  Continuaram conversando sobre trivialidades quando foram interrompidas por Kuukaku.

— Tá na hora, vamos abrir essa bodega?! — A pergunta retórica da dona do bar arrancou risos das garotas que concordaram animadas.

  Não demorou muito, os clientes começaram a chegar, e dentre eles, os demais Vizards, estando Love acompanhado de Kiyone, que aos poucos se enturmava com o grupo.

  As garotas ficaram satisfeitas ao constatar que Hachi também veio, mesmo sem Kirio — que estava trabalhando — o que deixava claro para elas que o Vizard mais velho não os abandonaria por estar comprometido.

  Hiyori sorriu ao notar que Hachi havia trazido uma torta, e Kuukaku se ofereceu para guardá-la na geladeira do bar até a hora de comer.

  Todos pediram drinks, até mesmo Kensei, que não estava tomando bebidas alcoólicas em razão dos antidepressivos, mas não queria que os amigos notassem. Tendo isso em mente, Hiyori se ofereceu de antemão para fazer drinks sem álcool, para que ele não se sentisse pressionado a dar explicações aos demais.

  O último a pedir um drink foi Shinji. Diferente dos outros, ele não pediu na mesa, aproximou-se do balcão, sorrindo daquele jeito esquisito que só ele sabia fazer.

— Quero provar um dos que aprendeu em Nova Iorque — pediu, enquanto se sentava em uma banqueta.

  Hiyori não respondeu de imediato, concordou com a cabeça e começou a preparar o drink. Sabia que Shinji odiava gengibre, e assim como sua chefe, não era muito chegado a vermute doce e adorava uma boa Vodka. Precisou de menos de um segundo para decidir preparar um Red Snaper — podia fazê-lo até de olhos fechados — mas, por algum motivo, sentiu o estômago gelar.

  Desde o final de semana passado, em que ela e Shinji "estudaram" juntos para a prova do mestrado, parecia que os sentimentos que nutria por ele voltaram a tona com toda força. Não que tivesse deixado de amá-lo em algum momento, mas desde que retornara ao Japão e soube da doença da mãe, Hiyori não pensava sobre o assunto, e o luto recente tirava o brilho de boa parte das coisas que aconteciam ao seu redor.

  Estava feliz pelo emprego, pela aprovação no mestrado, por estar — aos poucos — se reconectando com Shinji, morando com Nemu, dentre tantas outras coisas maravilhosas, mas tudo isso parecia perder a cor quando se lembrava que a mãe não estava mais ali, que não poderia lhe contar as novidades nem dividir com ela suas preocupações e alegrias.

  A verdade é que ninguém te prepara para uma perda dessa magnitude e, muitas vezes, algumas mágoas e pendências também acabam por perder a importância mediante tamanha dor.

  Hiyori se esforçava para estudar, conversar e até para brigar. Sabia que continuava a amar Shinji tão intensamente quanto antes, da mesma forma que admitia que parte de si ainda estava ferida e magoada, mas preferia não dar tanta atenção a essas coisas. Precisava cumprir a promessa que havia feito a mãe, seguir em frente e dar tudo de si na árdua tarefa de "ser feliz".

  Serviu o drink de Shinji, ele deu um gole e a expressão que fez deixava clara sua aprovação.

— Mesmo depois de um ano longe, ainda conheço os gostos desse idiota como a palma da mão. — Pensou ela.

— Não vai sentar com o pessoal? — perguntou olhando para a mesa dos amigos por um momento. — Eles parecem estar se divertindo.

  Os demais Vizards riam e pareciam zoar Love por alguma coisa que não dava para ouvir. Shinji olhou para eles por um momento soltando um riso bobo — parecia saber o motivo da brincadeira — mas não saiu dali.

— Talvez depois. — Deu outro gole no Red Snaper. — Ouvi dizer que a nova bartender é bonita, então vou ficar um pouco mais...

  Hiyori corou fortemente com aquela fala, em todos aqueles vinte anos de convivência Shinji jamais lhe fez um gracejo ou um elogio daqueles. Ficou sem reação, olhou para o chão e por sorte um cliente se aproximou do balcão — pedindo para experimentar um Metropolis — o que lhe ajudou a disfarçar o constrangimento.

  Enquanto preparava o drink, Hiyori pensou que talvez, só talvez, Grimmjow não estivesse tão errado em suas suposições.

  O coração estava disparado, ela não queria alimentar falsas esperanças — não depois de tudo que havia acontecido entre eles — mas aquele gracejo e os acontecimentos do final de semana passado reverberavam em sua mente e ela simplesmente não era capaz de refrear a avalanche de sentimentos que vinham no pacote.

Sábado 07 de março de 2020.

  Hiyori estava contente, o primeiro ensaio havia sido muito produtivo e isso fez com que se sentisse um pouco mais confiante com a ideia de se apresentar na festa de recepção dos calouros, já que havia aceitado dançar no calor do momento e não tinha muita experiência com aquele tipo de performance.

  Ela realmente havia se apresentado num bar em Nova Iorque com suas amigas Drag Queens — como havia dito em meio a discussão acalorada que teve com Shinji no dia em que se reencontraram — mas jamais havia dançado, apenas cantava algumas músicas tocando piano.

  Felizmente, a coreografia não era complicada e, após uma longa chamada de vídeo com seu amigo americano Paul — que se tornava Pauline da meia-noite às seis — encorajando-a, decidiu levar o plano adiante, aproveitando a oportunidade para descolar um emprego.

  Estava dando tudo certo, Kuukaku Shiba havia concordado em contratá-la e tudo que precisava fazer agora era dar o melhor de si naquela empreitada.

  "Dê o seu melhor" eram palavras que a mãe de Hiyori costumava dizer para incentivá-la. Ao pensar nisso, a pequena loira sentiu uma forte pontada em seu peito. Parecia até errado ficar feliz com uma conquista quando não poderia dividi-la com a mãe.

  Entrou no carro que estava estacionado em frente ao bar, quando sentiu o celular vibrar.

Shinji

18:58 — Deu tudo certo no ensaio?

18:59 — Pensei em estudar um pouco pra prova de segunda, mas tô meio nervoso.

18:59 — Podemos rever nossos temas juntos, trocar uma ideia, como nos velhos tempos.

19:00 — Você pode me ajudar?

  Ao ler aquelas mensagens, Hiyori sorriu. Sabia que Shinji não tinha dificuldade alguma com seu tema, além de que ele não fazia o tipo que ficava ansioso com provas — essa era uma característica dela — e quando estudavam juntos, na maioria das vezes, era só pra fazê-la relaxar, controlar a ansiedade e aumentar sua confiança ao discorrer sobre determinada matéria.

Hiyori. 19:04 — Que horas?

Shinji. 19:04 — Agora [emoji sorridente].

Shinji. 19:05 — Tô fazendo lasanha...

Hiyori. 19:05 — Tô indo.

  Sem pensar muito, ligou o carro e dirigiu até a casa dos rapazes. Embora tivesse estudado bastante para a prova, tinha dificuldades em conter a ansiedade, e Shinji costumava ajudá-la em situações assim, o que tornava o plano bem mais atraente do que voltar para casa e revisar as matérias sozinha. Isso sem falar que estava morrendo de fome, e ela simplesmente adorava lasanha.

   A linha de pesquisa de Hiyori era "Materialidade, Ideologia e Vida Cotidiana nas Culturas Modernas", enquanto a de Shinji era voltada para "História, Cultura e Poder". Ainda que os cursos de Ciências Sociais e História fossem muito diferentes, era perfeitamente possível — e instrutivo — trocar ideia sobre seus estudos, visões e interpretações.

  Não eram raras as vezes em que as conversas se tornavam discussões acaloradas, com direito a troca de tapas e puxões de cabelo. Hiyori jamais admitiria em voz alta, mas morria de saudades de tudo isso.

  Chegando à casa dos rapazes, foi entrando — a porta estava destrancada — encontrando Shinji sentado junto a mesa da cozinha. Ele vestia um avental branco e vermelho por cima de uma camiseta preta e uma calça jeans.

— Yo — disse Hiyori, anunciando sua chegada.

Shinji ergueu o rosto, deixou o celular de lado, olhando-a por um momento antes de responder.

— Falta uns minutos pra lasanha ficar pronta — disse ele apontando para o forno com o polegar. — Senta aí.

  Hiyori estranhou o olhar dele, não sabia ao certo o que significava, mas desde que haviam se reencontrado ele demonstrou ternura e um desejo de consertar as coisas, e ela não pretendia causar maiores dificuldades. Sentia que não podia perder mais ninguém, nem se dar ao luxo de agir com imaturidade.

  Lavou as mãos na pia da cozinha, sentando-se de frente para o loiro em seguida.

— Tenho uma novidade — Shinji anunciou.

— Conta.

— Consegui a vaga de professor de inglês. — Sorriu, parecendo entusiasmado. — Começo na segunda!

— Sério? — ela respondeu com os olhos arregalados. — Então temos que comemorar duas vezes, porque eu também arrumei um trampo! Vou trabalhar de bartender no Shiba's.

— Que incrível! — Levantou e abriu a geladeira. — Quem enriquecer primeiro compra a nossa casa...

Shinji pegou uma garrafa de suco de maçã, dois copos, servindo-o na sequência.

— Em quem disse que eu quero morar com fumante? — disse Hiyori rindo.

— Até tu? — respondeu fingindo indignação. — Minha mudança pra casa do Renji e dos caras já não rolou por causa disso.

— Que merda, e onde você vai morar?

— Sei lá, enquanto eu ajudar a abastecer a geladeira posso continuar aqui.

— Até que é uma troca justa — Hiyori comentou após dar um gole no suco. — Esse suco aqui é ótimo.

  Naquele momento, ouviram um "plim" vindo do forno, anunciando que a lasanha estava pronta, e Shinji se levantou para servi-la.

  O cheiro estava maravilhoso, e o estômago de Hiyori chegou a roncar quando a travessa foi colocada na mesa.

— É de quatro queijos? Que delícia!

— Vai com calma, tá bem quente.

  Hiyori adorava queijo, e ficou extasiada só de olhar para imensa fatia de lasanha que Shinji colocou em seu prato. Quase queimou a boca com a primeira garfada, mas não se importou, pois aquele era o gosto da felicidade.

  Naquele momento, Rose entrou na cozinha, e poucos minutos depois, Love e Kensei também apareceram. Comeram, conversaram sobre as novidades e riram. Todos ficaram felizes com a notícia de que Hiyori trabalharia no Shiba's, e a loirinha ficou contente em saber que Kiyone havia aceitado namorar com Love.

  Kensei parecia bem, na medida do possível, mas Hiyori e Shinji permaneciam atentos, observando-o de perto, revezando-se para acompanhá-lo ao médico, ao psiquiatra e até mesmo à terapia naquela semana, inclusive passaram seus números de celular aos profissionais que acompanhariam o platinado, caso houvesse alguma recomendação ou emergência.

  Hiyori ficou sabendo já na quinta-feira que Mashiro tinha dado com a língua nos dentes na frente de Mayuri Kurotsuchi — colocando Nemu em uma situação difícil — mas não a recriminou. Sabia que a Vizard de cabelos verdes se importava muito com Kensei, apesar de dizer que o odiava, e entendia a dinâmica dos dois, que até certo ponto, era parecida com a que ela tinha com Shinji.

  Naquela noite, como Shinji e Hiyori não iriam ao bar, Mashiro se comprometeu a ficar atenta e contatá-los caso algo estranho acontecesse. Apesar da bola fora, Hiyori estava confiante de que a amiga seria mais discreta sobre aquele assunto dali em diante.

  Ao terminarem de jantar, Love, Kensei e Rose foram terminar de se arrumar para sair, enquanto Hiyori lavava os pratos e Shinji os secava e guardava. Ficaram conversando sobre a prova e assuntos correlatos na cozinha até os rapazes saírem.

— Enfim, sós — disse Shinji, ao escutarem o som do Jeep saindo. — Agora quero meu pagamento.

— Como é que é? —perguntou Hiyori arqueando uma sobrancelha.

— Eu te alimentei ué, agora preciso ser recompensado...

— Que tal um soco na cara?

— Não é uma proposta ruim — ele respondeu, fingindo ponderar a respeito. — Mas tenho outra coisa em mente.

Dito isso, saiu puxando-a pela mão até a sala.

— Qual o plano, cabeção?

— O de sempre: terapia musical — ele respondeu enquanto pegava uma maleta marrom, e uma sacola de pano da mesma cor. — Você disse que ia me ajudar.

  A maleta marrom nada mais era do que uma vitrola, e dentro da sacola havia meia dúzia de vinis. Shinji adorava aquelas velharias, e pelo visto ainda não havia tido chance de curti-las desde que voltara ao Japão.

— Lá vem você com aquelas músicas velhas...

— Não reclama, vou te deixar escolher. — Apontou para a sacola marrom. — A maioria ficou na casa do meu pai, mas consegui trazer alguns.

  Shinji jamais dizia "em casa" era sempre "a casa do meu pai" já que desde a infância ele passava muito mais tempo na casa de Hiyori do que em sua própria, e não era segredo que ele tinha muito mais consideração e carinho pela mãe dela do que pelo pai.

  Hiyori não pôde deixar de sentir uma pontada de culpa. Por mais que estivesse magoada com Shinji, foi errado evitá-lo quando descobriu que a mãe estava doente, e principalmente, após a morte dela. Mas, além da mágoa e dificuldade em lidar com tudo o que estava acontecendo, a própria senhora Sarugaki havia pedido para ela não dizer nada enquanto Shinji estivesse no exterior — não queria que se preocupasse estando longe — e infelizmente ela faleceu dois dias antes dele retornar ao Japão.

  Pegou a sacola e, sem dizer nada, olhou cada um dos vinis que havia nela. Escolheu um de Jazz, não porque gostasse — definitivamente não era o estilo dela — mas porque sabia que era o tipo de música que animava Shinji.

  Ele sorriu ao pegar o vinil das mãos dela, colocando-o na vitrola em seguida. Quando a música começou a ecoar pela sala, Shinji estendeu a mão para Hiyori, com um olhar de divertimento.

— Nem pensar — afirmou categórica, já compreendendo as intenções dele.

— Não me faça implorar.

— Pode implorar a vontade, não vai adiantar nada.

— Então nada de sobremesa pra você — devolveu Shinji, erguendo as mãos em sinal de rendição.

— Você não se atreveria.

— Última chance — ele disse, estendendo novamente as mãos na direção dela. — É isso ou nada de milkshake.

  Shinji costumava fazer milkshake quando estudavam juntos, e Hiyori os adorava. Tinha saudades daqueles tempos em que tudo era tão mais... Simples.

— Você é um cretino, sabia? — Pegou nas mãos dele. — Tá cansado de saber que não sei dançar esse tipo de música.

— Mas aí que tá a graça — ele respondeu, colocando as mãos na cintura de Hiyori, erguendo-a em movimento rápido, fazendo com que os pés dela ficassem acima dos dele. — Você só tem que se equilibrar.

  Hiyori sentiu o corpo estremecer com aquela aproximação. Não que fosse a primeira vez que faziam aquele tipo de coisa, uma vez que Shinji era simplesmente obcecado por musicais como Sing in the Rain e La La Land, e não foram poucas as vezes em que ele a obrigou a dançar junto.

  Rose costumava zoar Shinji, dizendo que aquilo era muito gay, até mesmo para ele. Já Hiyori, criticava, gritava, dava uns tapas, mas acabava cedendo quando ele ameaçava deixar de cozinhar pra ela. No fundo ela gostava, já que ele podia fazer aquilo com qualquer outra pessoa, mas sempre insistia em fazer com ela, e isso fazia com que se sentisse especial.

  Equilibrada acima dos pés de Shinji, Hiyori se agarrou nos ombros dele, enquanto ele a segurava pela cintura, realizando os passos de dança, um tanto desajeitadamente.

— Pelo menos não tenho que me preocupar em não pisar no seu pé — ela disse rindo.

— É o jeito 4.0 de dançar.

— Se alguém chegar agora, não vou saber onde enfiar a cara.

— Relaxa, eles já viram a gente fazer coisa pior.

  Hiyori não disse nada, mas concordava. Foram anos e anos de cenas pastelão, micos e vergonha alheia, já que quando estava com Shinji era simplesmente incapaz de agir com maturidade. Ele estava sempre despertando o melhor e o pior de si.

— A tia era uma ótima dançarina — Shinji comentou, olhando-a nos olhos por um momento.

— Era mesmo — Hiyori concordou com um sorriso triste, lembrando-se das vezes em que Shinji dançara com a mãe dela nos natais que passaram juntos.

  Shinji continuava se movendo no ritmo da música, enquanto Hiyori se segurava nele. Não precisavam dizer nada, apenas compartilhavam aquelas lembranças em silêncio enquanto dançavam.

  Quando a música terminou, jogaram-se no sofá.

— Agora eu quero milkshake — Hiyori pediu, olhando-o de rabo de olho.

— Seu desejo é uma ordem — concordou, indo para a cozinha.

  Hiyori pensou em segui-lo, mas algo a impediu. Que sentimento era aquele? Seus olhos se voltaram para o relógio que ficava na parede, constatando que era quase meia-noite. Provavelmente os rapazes só voltariam de madrugada, e a última vez que passara a noite sozinha com Shinji havia sido, por falta de termo melhor, catastrófica.

  Tentou afastar aqueles pensamentos caminhando pela casa. As mão suavam e ela não conseguia refrear as imagens que invadiam sua mente. Sem pensar muito no que fazia, entrou no quarto de Rose, sentando-se junto ao piano.

  Era estranho o quanto a dor que sentia refreava a vontade de gritar pra Shinji coisas como "eu odeio você" ou mesmo "eu te amo". O rancor que sentia não era maior que a saudade, mas ainda estava lá, envenenando seu coração.

  Ouviu o som do liquidificador sendo ligado na cozinha, e naquele momento, começou a dedilhar no piano uma canção que ela amava e odiava.

I can't believe what you said to me
Last night we were alone
You threw your hands up
Baby, you gave up, you gave up
I can't believe how you looked at me
With your James Dean glossy eyes
In your tight jeans with your long hair
And your cigarette stained lies

  Tocar e cantar era de longe uma das formas mais efetivas de Hiyori aplacar a dor e lidar com os sentimentos não expressos. Ela nunca fora boa com palavras, era curta, grossa, e não tinha muita paciência para conversas longas.

Could we fix you if you broke?
And is your punch line just a joke?

I'll never talk again
Oh, boy, you've left me speechless
You've left me speechless, so speechless
And I'll never love again
Oh, boy, you've left me speechless
You've left me speechless, so speechless

  Não havia mesmo palavras para descrever o quanto Shinji a destruía por dentro, tampouco o quanto ele era importante e insubstituível. Não importava quantos bilhões de pessoas existissem no mundo, o quanto Grimmjow fosse mais bonito e rico, Shinji seria sempre o centro de seus pensamentos, sonhos e expectativas, e isso doía demais.

I can't believe how you slurred at me
With your half wired broken jaw
You popped my heart seams
On my bubble dreams, bubble dreams
I can't believe how you looked at me
With your Johnnie Walker eyes
He's gonna get you and after he's through
There's gonna be no love left to rye

  Ela não sabia se conseguiriam, de fato, fazer as coisas voltarem a ser como antes, mas não estava disposta a continuar longe dele. Apesar de todos os pesares, Shinji seria sempre seu melhor amigo, e a pessoa com quem ela podia contar para absolutamente qualquer coisa.

And I know that it's complicated
But I'm a loser in love, so baby
Raise a glass to mend all the broken hearts
Of all my wrecked up friends

  Hiyori notou que o som do liquidificador havia parado.

I'll never talk again
Oh, boy, you've left me speechless
You've left me speechless, so speechless
And I'll never love again
Oh, friend, you've left me speechless
You've left me speechless, so speechless

  Ao terminar de cantar, olhou em direção a porta, deparando-se com Shinji encostado no batente, segurando dois milkshakes. Trocaram um olhar que durou um pouco mais de um segundo, até Shinji quebrar o silêncio.

— Esse cara da música é péssimo. — Entregou um copo a Hiyori.

— O pior de todos — concordou ela. — A julgar pelas letras, acho que a Gaga tem dedo podre pra homens...

Shinji ficou em silêncio por alguns instantes, olhando para baixo.

— Quer ver um filme? — ele perguntou, desviando o olhar.

  Hiyori ponderou por um momento, dando um gole no milkshake de chocolate antes de responder.

— Quero. — Fez uma pausa enquanto se levantava. — Vou avisar a Nemu, não quero que ela fique preocupada.

  Dito isso, foram para sala e viram centenas de vídeos idiotas na internet, como normalmente faziam quando procuravam por um filme.

  Para Hiyori, Shinji estava determinado a fazer as coisas voltarem a ser como antes, e ela por sua vez, não tinha nada contra aquele plano.

  A noite no bar estava tão tranquila quanto divertida, ou pelo menos, era essa energia que emanava dos clientes, que bebiam, comiam e conversavam animadamente.

  Já a bartender procurava focar seus pensamentos nos drinks que preparava. Ainda que a maioria dos clientes pedisse canecas de chopp ou garrafas de sake, muitos quiseram provar os novos drinks do cardápio naquele dia.

  Rose cantou naquela noite, e Hiyori notou as trocas de olhares entre ele e Ikkaku Madarame. Pelo visto, não eram só Love e Hachi que estavam apaixonados, e ela sorriu com aquele pensamento.

  Por volta das 23h, os Vizards se juntaram no balcão para comer a torta que Hachi havia trazido. Até mesmo a dona do bar participou da pequena comemoração, e Hiyori fez questão de convidar Ikkaku e Yumichika para que se juntassem a eles.

— Um brinde à família reunida! — disse Lisa erguendo seu copo. — Agora que todos os Vizards estão na Seireitei, podemos colocar em prática nosso plano de dominação.

— Que plano? — Mashiro questionou fazendo um beicinho. — Pensei que a ideia era emendar um doutorado e torcer pros atuais professores morrerem ou se aposentarem...

  Todos riram da fala de Mashiro, que pelo visto, estava levemente alcoolizada.

— Melhor não falarem disso aqui, as paredes têm ouvidos — disse Kuukaku rindo, apontando para a mesa de Shunsui Kyōraku em seguida. — Não se esqueçam que o reitor é cliente fiel dessa bodega.

  Mashiro levou as duas mãos à boca, com os olhos arregalados, acenando para o reitor em seguida, tornando a cena ainda mais hilária.

  Continuaram conversando sobre inúmeras besteiras, mas a verdade é que Hiyori não estava prestando atenção. Tentava disfarçar, mas seus olhos buscavam Shinji a todo momento. Estava confusa, achava que ele queria que voltassem a ter a mesma relação de antes, mas o gracejo no bar e seu comportamento no final de semana passado a fizeram pensar se não havia algo mais ali.

  Os Vizards foram indo embora em pequenos grupos, Lisa e Mashiro foram as primeiras — deviam estar cansadas, já que estavam ali desde o ensaio — seguidas de Hachi, Kensei, Love e Kiyone. Um pouco depois, Rose foi embora junto de Ikkaku e Yumichika.

  Por volta de três da manhã, todos haviam ido embora, até mesmo Shinji, que havia simplesmente desaparecido, e Hiyori estranhou o fato dele não ter se despedido dela como os demais.

  O bar fechava as 4h, mas Hiyori só saiu às 5h, após deixar tudo limpo e organizado.

— Ótimo trabalho — disse Kuukaku quando deu o horário de ir embora. — Até quarta.

— Até! — Hiyori se despediu com um leve sorriso.

  Ao sair do bar, Hiyori se surpreendeu ao ver Shinji do outro lado da rua, encostado no carro, esperando por ela.

— Pensei que tivesse ido embora.

— Não, fui só levar o Hachi em casa.

  Hiyori ficou ainda mais confusa com aquela resposta. A rua estava morta, mas o sol já tinha nascido, acompanhado de uma brisa gelada.

— Por que voltou? — ela perguntou ao se aproximar dele.

  Shinji não respondeu de imediato, desviou os olhos para rua, como se estivesse pensando em algo muito específico.

— Eu te disse que gostei da bartender — ele respondeu, ainda sem olhar para ela.

  Naquele momento Hiyori sentiu o coração disparar, não era coisa da cabeça dela, aquilo era claramente um flerte ou uma provocação de muito mal gosto, e aquele pensamento a deixou furiosa.

— Qual é a sua? — gritou com os olhos cheios de água. — Naquele dia você...

  Sem conseguir segurar a enxurrada de sentimentos que lhe invadiam, lágrimas escorreram pelo rosto da loira, que até aquele momento, não havia falado sobre aquele assunto com ninguém.

— Você disse que foi um erro, que não devíamos — despejou aos soluços. — Por que tá fazendo isso agora?

— Foi um erro meu agir daquela forma — disse Shinji segurando-a pelos ombros. — Eu queria que tivesse sido diferente, mas não me arrependo do que fizemos.

  Hiyori o encarou enquanto tentava conter as lágrimas.

— Não se arrepende? Eu fiquei mais de um ano me sentindo um lixo por causa daquela merda, tem ideia do que é isso?

— Você acha que eu fiquei como nesse tempo? — Shinji questionou em um tom baixo, enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. — Eu tenho vergonha das minhas atitudes, e não sou nem capaz de expressar o quanto eu sinto por ter te machucado.

  As palavras dele pareciam sinceras, mas na cabeça de Hiyori a conta não fechava.

— O que você quer de mim, Shinji? — ela questionou enquanto encarava os próprios pés.

— A questão não é o que eu quero, eu aceito qualquer coisa. — Colocou as mãos delicadamente no rosto dela, fazendo com que o encarasse. — Será que não entende? Eu te amo, sempre amei, e quando morrer vou continuar amando.

  Hiyori piscou algumas vezes, tentando digerir o que tinha acabado de ouvir.

— Você quer dizer como...

  Shinji não permitiu que ela concluísse a frase, ao invés disso, tomou os lábios dela num beijo lento, suave, cheio de sentimentos que, até então, não haviam sido expressos.

  Hiyori sentiu os lábios finos dele pressionarem os seus, com os olhos ainda abertos. Aquela não era a primeira vez que se beijavam, mas a sensação era como se fosse. Fechou os olhos e retribuiu.

  O beijo que havia começado suave tornou-se apaixonado, Hiyori entrelaçou os dedos nos cabelos de Shinji enquanto ele segurava a cintura dela com firmeza. Separaram-se apenas quando a falta de oxigênio falou mais alto.

— O que você quis dizer com "até morrer"? Você não tá doente, né?

— Não, nada disso. — Ele riu da pergunta e do tom desesperado dela. — Foi só uma expressão.

  Agora era Hiyori quem desviava o olhar para rua, com o rosto ainda mais vermelho que antes.

— Em termos práticos, o que estamos fazendo? — ela perguntou, sem conseguir encará-lo.

— O que devíamos ter feito há muito tempo. — Fez uma pausa, enquanto se afastava um pouco e acendia um cigarro, tomando cuidado para que a fumaça não fosse pra cima de Hiyori. — Um amigo meu vai fazer aniversário na terça, quer vir comigo?

— Vai me dizer que nosso primeiro encontro vai ser na festa do Rose? — Arqueou uma sobrancelha.

— Você quem disse que é um encontro, agora não pode mais voltar atrás — respondeu com seu clássico sorriso estranho.

— Idiota.

— Sou o seu idiota.

  Naquele dia, Hiyori voltou para casa com o coração agitado e um sorriso bobo no rosto. Mesmo que ainda houvessem pendências entre ela e Shinji, tudo havia mudado para melhor. Ela não estava mais vivendo um sentimento unilateral, era recíproco, e isso mudava tudo.

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