Capítulo 15: Smells like a Teen Spirit
• Nota: Olá leitores, tudo bem com vocês? Acho que é a primeira vez que apareço com uma nota por aqui 👀
Não tenho o hábito de fazer isso, gosto de deixar a leitura e as interpretações completamente livres, mas gostaria de alertá-los que este capítulo, muito mais do que apresentar o "rival" do Shinji, serve para introduzir conceitos e informações que serão essenciais para compreensão do 3° arco. Algumas passagens podem ser até um pouquinho enfadonhas, mas eu não tenho o costume de jogar informação inútil no texto, então se algo está sendo dito é porque, cedo ou tarde, voltará à tona.
Sei que pode parecer óbvio para algumas pessoas, mas senti que precisava reforçar isso de alguma forma 😅
Boa leitura 🧡
∆
Terça-feira,03 de março de 2020.
É engraçado como a relação entre duas pessoas pode começar de uma determinada forma, e depois, simplesmente tornar-se algo completamente diferente, mas ainda sim especial.
Era terça-feira, o que para Grimmjow significava: dia de fazer compras e resolver algumas coisas no Instituto de veterinária da Seireitei. Ligou para Hiyori de manhã – odiava mensagens de texto, por isso só fazia ligações, apesar de preferir resolver tudo pessoalmente quando era possível fazê-lo – e combinou de jantar com ela naquele dia.
Foi buscá-la no Instituto de artes marciais, pois a loira havia ido até lá treinar um pouco e rever os antigos companheiros da 12ª divisão. Eram sete e meia da noite quando a viu se aproximar, usando uma camiseta roxa, calça cinza e tênis branco de solado alto.
Grimmjow nutria um imenso carinho por Hiyori, e apesar de acreditar que fariam um excelente par, não se ressentia com o fato dela ser apaixonada por outro, principalmente porque havia tido um ano inteiro para refletir sobre seus sentimentos, e concluíra que a amizade dela era muito preciosa para si.
– Ué, cadê sua moto? – Hiyori questionou ao vê-lo.
– Vim de caminhonete – ele respondeu, apontando para o estacionamento. – Agora eu sou oficialmente responsável pelas compras lá de casa.
Hiyori sorriu, curvando os lábios levemente, como se quisesse demonstrar que estava impressionada.
– O que veio resolver no campus?
– O curso de veterinária tem uma parceria com o haras, tive uma reunião com a coordenadora para decidir o cronograma e discutir as atividades desse ano letivo – Grimmjow comentou, enquanto caminhavam na direção do estacionamento.
– Humm, Jow agora resolve questões burocráticas – brincou Hiyori. – Seu irmão deve estar adorando ter você para resolver essas coisas.
– Aquele lá morre de preguiça de lidar com gente – afirmou rindo. – Agora vai ser mais fácil trombar com o Imperador do que ver o Starrk fora do haras.
– Não julgo, se eu tivesse uma propriedade linda daquelas, não ia querer sair pra absolutamente nada.
– Então, se você não tivesse um péssimo gosto para homens, poderia viver lá – brincou, ao abrir a porta da caminhonete para Hiyori entrar.
– Abusado – ela respondeu rindo.
– O que quer comer? – Grimmjow perguntou, enquanto colocava o cinto de seguranças e dava partida.
– Humm, Takoyaki!
– Bora lá.
Dito isso, partiram rumo a um pequeno restaurante próximo a balsa que servia deliciosos Takoyakis. Não era a primeira vez que iam até lá, em seus poucos e intensos meses de amizade ao final de 2018, Hiyori e Grimmjow fizeram diversas coisas juntos, inclusive comer a saborosa iguaria feita de massa frita recheada com carne de polvo, naquele mesmo restaurante.
Para algumas pessoas, três meses é muito pouco tempo para estabelecer um laço duradouro, mas para Grimmjow, era tudo uma questão de sintonia e afinidade, coisa que ele e Hiyori tinham de sobra. Durante o ano em que ela esteve fora, não conversaram, apenas curtiam as fotos um do outro no instagram, como haviam combinado antes dela partir. Agora, conversando sobre trivialidades a caminho do restaurante, era como se aquele ano em que estiveram separados simplesmente não tivesse existido.
Grimmjow não tinha muitos amigos – por uma pá de motivos – e ainda que tivesse outros planos em 2018, agora, a única coisa que interessava era que ele tinha o prazer da companhia de Hiyori novamente, pois amizade era algo raro, relevante, e devia ser valorizado.
Quando chegaram ao restaurante, pediram duas porções de Takoyaki e cervejas.
Ver Hiyori conversando, comendo, bebendo e rindo era ótimo, e poder fazer tudo isso com ela novamente, ainda melhor. Naquele momento, foi simplesmente impossível refrear as lembranças.
Sábado, 24 de Novembro de 2018.
Eram quatro da tarde quando Grimmjow foi buscar Hiyori no barracão. Estava animado, pois eles já tinham saído algumas vezes e já fazia um bom tempo desde que ele se entusiasmara com uma amizade pela última vez.
Estacionou a moto e poucos minutos depois pôde vê-la caminhando em sua direção. Usava uma calça de moletom azul escura, camiseta branca, tênis da mesma cor e uma jaqueta jeans. Estava com uma mochila preta – ele tinha pedido para que ela trouxesse uma muda de roupas – pois o passeio daquele dia seria muito especial.
Grimmjow notou que a pequena loira pisava duro e estava com uma expressão irritada.
– Toma – disse Hiyori, estendendo um pão de batata para ele.
– Valeu. – Mordeu o pão, enquanto analisava a expressão facial dela. – Que bicho te mordeu?
– Ah, eu discuti com o Shinji – respondeu com um tom transtornado. – Ele fica pegando no meu pé.
– Por minha causa? – Grimmjow questionou.
Hiyori não respondeu, apenas franziu a testa, parecendo muito incomodada. Grimmjow achou melhor não tocarem no assunto por enquanto, porém sabia que aquela não era a primeira vez que o melhor amigo de Hiyori implicava com a amizade deles.
Grimmjow estava contente em ser amigo dela, mas planejava avançar na relação – se Hiyori assim o permitisse – pois sentia que eram muito parecidos. Se seus planos se concretizassem, teriam uma conversa séria sobre Shinji e todo aquele comportamento babaca dele, mas, por enquanto, deixaria estar. Terminou de comer o pão de batata e entregou o capacete para Hiyori, partindo logo em seguida.
Não pretendia estragar o passeio por um motivo tosco como aquele, e assim que possível, faria Hiyori sorrir. Quando chegaram até a praia, avançaram um pouco mais de quinhentos metros de onde ficava a balsa, chegando até outro cais, onde havia uma segunda balsa, um pouco menor que a primeira.
– Esta não é uma daquelas balsas particulares? – Indagou Hiyori, enquanto estacionavam a moto na embarcação.
– É sim.
– Por acaso estamos indo para ilha de algum ricaço amigo seu?
– E quem disse que eu tenho amigos? – Grimmjow respondeu com sua risada escandalosa, fazendo um sinal para o condutor da balsa partir.
Desceram da moto e passaram a observar a ilha de Seireitei se afastar cada vez mais. Grimmjow jamais falava sobre suas origens com as pessoas da faculdade, afinal de contas, ele não tinha muitos amigos. Havia Ikkaku Madarame, um colega que curtia carros, motos, e participava de rachas com ele, mas amizade mesmo – dessas mais próximas – só havia duas, e Hiyori era uma delas.
Grimmjow era um cara bonito, e por ser um Arrancar e ter um temperamento forte, acabava passando uma imagem de "bad boy". Em razão disso, havia uma porção de conhecidos puxa saco que queriam obter alguma vantagem andando com ele, além de inúmeras garotas idiotas que – apesar de nunca terem conversado – ficavam fazendo declarações e pedindo que ele namorasse com elas. Ele pensava que se as pessoas já agiam assim sem saber quem ele era, seria simplesmente um inferno caso descobrissem.
Durante o primeiro e o segundo ano da graduação, Grimmjow teve uma única amiga, que assim como ele, cursava veterinária e também era uma Arrancar. Infelizmente, logo no início de 2016, ela foi vítima de um ataque covarde – que ninguém jamais descobriu quem fora o autor – tendo sofrido um traumatismo craniano, e deixado a ilha para realizar um tratamento adequado. Os pais dela eram empresários riquíssimos, mas Grimmjow não os conhecia bem, o que dificultava muito a obtenção de notícias. Nos últimos dois anos ele procurou informações como pôde, sem muito sucesso, enquanto torcia para que ela tivesse se recuperado, e que um dia pudessem se ver novamente.
Ter conhecido Hiyori, de alguma forma, fazia com que aquela dor diminuísse e ele se sentisse menos sozinho. Mesmo tendo se conhecido a pouco tempo, sabia que ela era uma mulher autêntica e não uma bajuladora interesseira, por isso decidiu levá-la para conhecer sua família.
Após quarenta minutos, chegaram ao cais de uma ilha, aparentemente deserta. Ao saírem da embarcação, Grimmjow seguiu por uma rua de paralelepípedos, em direção ao centro da ilha. A paisagem era simplesmente deslumbrante, havia palmeiras, vegetação rasteira com inúmeras flores e árvores frutíferas. Após três quilômetros, chegaram a uma belíssima propriedade, com uma placa escrito "Haras Baragan".
Ali, no meio daquela ilha, havia uma linda fazenda. Parecia surreal ter um haras bem no meio de uma ilha, e Hiyori não escondeu sua surpresa. A casa grande, os estábulos, pistas de corrida, jardins e o pomar, tudo parecia ter sido tirado de um filme espanhol.
Ao estacionar a moto em frente a casa grande, bonitos cachorros cinzentos – que mais pareciam lobos – vieram recebê-los, acompanhados de uma garota saltitante.
– Pai, vem ver isso aqui – gritou a garota, olhando em direção a casa grande. – Tio Grimm trouxe uma garota para casa!
Grimmjow gargalhou da espontaneidade – que já era esperada – de sua sobrinha.
– Hiyori, essa peste aqui é minha sobrinha, Lilynette – anunciou, apresentando-as. – Lily, essa aqui é minha amiga Hiyori, seja legal com ela.
– É um prazer te conhecer – disse Hiyori, aproximando-se da menina.
– Nós temos quase a mesma altura, falta só um palmo para eu te alcançar – Lilynette comentou, esticando o braço até a cabeça de Hiyori. – Quantos anos você tem?
– Vinte e dois.
– Jura? Nossa, você é muito baixinha, eu ainda tenho oito! – Exclamou Lily, parecendo surpresa.
– Lily, pare de incomodar a convidada – disse Starrk, irmão mais velho de Grimmjow, que havia chegado silenciosamente na varanda.
Após as apresentações e algumas conversas triviais, Grimmjow foi mostrar a propriedade para a amiga. Apesar do sol já estar se pondo, havia iluminação de altíssima qualidade em quase todos os lugares da fazenda, o que lhes permitia explorar o local com tranquilidade.
Enquanto caminhavam, Grimmjow respondia inúmeras perguntas de Hiyori, afinal de contas, até aquele momento, ela achava que ele era um simples estudante australiano de sobrenome extravagante, o que não era mentira, mas também não era verdade.
– Seu sobrenome não é Jaegerjaquez?
– Sim, é o sobrenome do meu pai – respondeu, enquanto a conduzia até os estábulos, para verem os cavalos. – É Grimmjow Baragan Jaegerjaquez, esse haras foi construído pelo meu avô materno, Ruiz Baragan.
– Espera – disse Hiyori, como se tivesse se dado conta de algo. – Mas esse não é o nome de um dos fundadores da Seireitei?
– É – respondeu Grimmjow, dando início a uma longa narrativa.
Seireitei havia sido fundada por três homens, um espanhol, um alemão e um japonês, cujos sobrenomes eram, respectivamente, Baragan, Sternritter e Yamamoto. Os dois primeiros possuíam muito dinheiro e recursos, enquanto o terceiro, ainda que não fosse tão rico, possuía origem nobre e o suporte do governo japonês. Juntos, fundaram o campus de Seireitei, e logo depois, o Instituto de artes marciais.
Devido a uma série de divergências entre o espanhol e o japonês – boa parte delas em razão de regras e códigos de conduta – Baragan acabou se afastando do Gotei 13, tendo sido seguido por vários membros do Instituto que o admiravam, e como não estava disposto a parar de lutar, passou a promover competições fora da Universidade. Desta forma, surgiu o termo "Arrancar" que nomeava todos aqueles que saíam ou eram expulsos do Gotei, e posteriormente, surgiu o termo "Espada" como eram chamados os dez melhores Arrancars.
As competições onde se definiam a hierarquia entre Arrancars e Espadas eram muito mais brutais e perigosas que as promovidas pela universidade, sendo consideradas ilegais. Contudo, Baragan ainda era o fundador mais rico da Seireitei, e possuía grande influência na gestão do campus, além de trazer recursos de países estrangeiros, desta forma, as autoridades da ilha e membros da universidade passaram a fechar os olhos para tais práticas, uma vez que não era vantajoso bater de frente com Baragan.
Ruiz Baragan era um latifundiário espanhol riquíssimo, que criava cavalos de raça para competições, dono de inúmeras plantações de oliveiras na Espanha, e que possuía uma enorme paixão pelas artes marciais, tendo viajado inúmeras vezes para diversos países da Ásia.
Em uma de suas viagens ao Japão, enquanto dedicava-se a fundação de Seireitei, conheceu Akemi Takeda, uma linda mulher com altíssimas habilidades em Kendo, que possuía ascendência samurai. Casaram-se e tiveram uma única filha, Hana Baragan, que além de estudar em Seireitei, honrou o pai sendo a Espada mais forte de sua geração.
Hana, que além de dominar com maestria as técnicas de Kendo, as quais aprendera com a mãe, também era uma exímia lutadora de Keysi – um método de luta desenvolvido na Espanha, também conhecido como KFM – o qual aprendera com o pai.
Ainda na graduação, Hana conheceu um rapaz Israelense de origem judaica, que por dominar o sistema de combate Krav Magá, também possuía uma excelente classificação na hierarquia dos Espadas. Começaram a se relacionar, e quando se formaram, ambos foram fazer pós-graduação na Universidade de Tel Aviv, em Israel.
Hana aprendeu as técnicas do Krav Magá, que aliadas aos seus conhecimentos em KFM e Kendo, transformaram-na em uma perfeita máquina de matar. Ela sempre planejou retornar ao Japão, pois o Haras era seu lar, contudo, ela não esperava perder o namorado em um fatídico acidente de carro em junho de 1983, muito menos descobrir-se grávida dele, poucas semanas após sua morte. Retornou ao Japão em Julho, grávida de três meses, e sem concluir o mestrado.
Para evitar a ruína da filha, Ruiz Baragan providenciou um casamento arranjado com um empresário australiano, chamado John Jaegerjaquez, que era amigo da família e já conhecia Hana de longa data. Casaram-se no Japão e mudaram-se para a Austrália quando o bebê de Hana completou seis meses.
Apesar do arranjo, Hana não permitiu que John registrasse seu primeiro filho, nascido em 19 de janeiro de 1984, o qual ela decidiu chamar de Coyote Baragan. A criança era uma cópia do pai o qual jamais conheceria e nem teria o sobrenome: branco, cabelos escuros e olhos azuis acinzentados. Ruiz, mesmo sendo um homem tradicional, concordou com a decisão da filha, pois o neto era seu herdeiro, e não havia nada mais justo do ele que ter o seu sobrenome.
Hana se recusava a falar sobre o falecido namorado e pai de Coyote, provavelmente porque a dor era grande demais. Conforme o filho crescia, ela o ensinava as técnicas do KFM e também do Krav Magá.
Em 31 de julho de 1992, Hana teve seu segundo filho, Grimmjow Baragan Jaegerjaquez, fruto de seu casamento com John, e a esta altura, Coyote tinha oito anos de idade. Ruiz Baragan faleceu em 1997, vítima de um derrame cerebral, seguido por sua esposa Akemi, nove meses depois. Hana havia retornado com os dois filhos ao Japão, primeiramente para o enterro do pai, ali permanecendo ao lado da mãe até o dia em que ela também partiu, em razão de uma parada cardíaca.
O casamento de Hana e John nunca fora grande coisa, e acabaram por se divorciar em meados de agosto de 1999, quando Coyote tinha quinze anos e Grimmjow sete. O momento era oportuno, pois já estavam distantes há algum tempo, e agora com os pais mortos, Hana não teria a quem envergonhar, e deveria assumir a gestão do haras com ânimo de definitividade.
Ressentido, John conseguiu a guarda de Grimmjow na justiça, e o levou de volta a Austrália, fazendo questão de cercear ao máximo o contato dele com a mãe e o irmão.
A partir daquele momento, Grimmjow começou a apresentar um comportamento cada vez mais agressivo. Brigava na escola, tinha dificuldades em fazer amigos, e seu relacionamento com o pai era péssimo. Jogava rugby no colégio – como forma de extravasar todo seu ímpeto de violência – pois o pai não permitiu que ele continuasse a estudar as técnicas de luta que a mãe o ensinara.
Quando completou dezoito anos, Grimmjow foi internado em uma clínica de recuperação na Austrália, em decorrência do excessivo uso de cocaína. A esta altura, Coyote já tinha vinte e seis anos de idade, e conseguiu trazer o irmão de volta ao haras, pois John já havia desistido do filho há algum tempo e tinha se casado novamente, sendo assim, não se opôs à partida de Grimmjow.
Ao retornar ao Japão, Grimmjow começou a pensar seriamente na teoria de que sua família era amaldiçoada.
Lilynette nasceu em 19 de janeiro de 2010, no exato dia em que Coyote completou vinte e seis anos de idade. Apesar de ter ganhado uma linda filha de presente, o irmão de Grimmjow perdera sua amada, que faleceu logo após o parto.
Em 2010, a família Baragan era composta por quatro membros: Hana, Coyote, Grimmjow e a bebê Lilynette. No entanto, Grimmjow percebeu que ninguém chamava o irmão mais velho pelo sobrenome. Em Seireitei, em Naha, ou em qualquer outro lugar que não fosse o haras, não existia Coyote Baragan, e sim Coyote Starrk.
Isso se dava porque havia uma regra em Seireitei de que os alunos descendentes dos fundadores da universidade não poderiam usar seus sobrenomes, e se não tivessem outro, deveriam adotar um fictício, com o objetivo de evitar certas práticas, tais como favoritismo, nepotismo, intimidação, excesso de cobrança, etc. Pura hipocrisia.
O sobrenome fictício tornou-se um apelido, e Coyote passou a ser chamado por todos de Starrk, até mesmo por Grimmjow, que achava o nome muito legal e digno de um Espada.
Grimmjow terminou seus estudos em Naha – pois o último ano de escola havia sido interrompido por sua internação – e voltou a praticar as técnicas de KFM e Krav Magá com a mãe e o irmão. Gostava de lidar com os cavalos do haras e queria estudar veterinária em Seireitei, mas para isso foi necessário ter aulas particulares e se dedicar muito aos estudos. Em 2014, já com vinte e dois anos, Grimmjow foi finalmente aprovado em Seireitei, dando início a graduação, e como ele tinha o sobrenome de seu pai, não precisou adotar um fictício.
Infelizmente, naquele mesmo ano, Hana adoeceu e veio a falecer em meados de Setembro, vítima de um tumor extremamente agressivo. Apesar da dor da perda, Grimmjow sentia-se grato por ter convivido com ela por quatro anos após se reunirem, e continuou dando o melhor de si na universidade, pois desejava que a mãe tivesse orgulho dele.
Agora, ao final de 2018, prestes a se formar em veterinária, ele dividia a história de sua família com Hiyori, e o mais estranho de tudo era que contar todas aquelas coisas a ela, enquanto caminhavam pelo Haras, lhe trazia uma enorme sensação de paz.
– Certo, deixa eu ver se eu entendi – começou Hiyori. – Então você é basicamente um milionário australiano, com ascendência espanhola e japonesa, que têm um irmão israelense, também de ascendência espanhola e japonesa, e quando não está estudando ajuda a gerenciar essa propriedade enorme e a cuidar de uma criança?
– Basicamente – afirmou Grimmjow. – Ah, e a mãe da Lily era polonesa, por isso ela tem o cabelo daquela cor...
– Verde claro? – Hiyori perguntou, arqueando uma sobrancelha.
– Não, aquilo lá é arte dela com papel crepom – respondeu rindo. – Ela é loira mesmo.
Após o longo tour pela propriedade, Grimmjow e Hiyori foram jantar na casa grande com o irmão e a sobrinha dele. Starrk parecia estar sempre com sono ou entediado, enquanto Lily estava sempre ligada no 220 – pai e filha eram o perfeito oposto um do outro – mas, ambos gostaram de Hiyori, que inclusive dormiu no quarto de Lily naquela ocasião, não por necessidade, mas por sugestão da menina.
No dia seguinte, quando foram nadar na praia, Hiyori pôde ver a tatuagem que Grimmjow tinha nas costas – na altura de seu rim direito – com o número seis. Apesar de ser do Gotei 13, ela não lidou mal com a descoberta de que ele era um Espada, já que depois de tudo que ele havia lhe contado sobre sua família, era lógico e quase óbvio que ele não seria apenas um Arrancar.
Para Grimmjow, ter Hiyori como amiga era um enorme presente. Ela não julgou seus atos, não o recriminou por ter sido usuário de drogas, não mudou seu comportamento quando descobriu que ele era rico, e também não pareceu descontente com o fato dele ser um Espada.
Após todas aquelas constatações, Grimmjow teve ainda mais certeza de que desejava manter Hiyori em sua vida, de um jeito ou de outro.
Como teria que dirigir, Grimmjow se limitou a tomar duas cervejas, mas Hiyori bebeu como se não houvesse amanhã. Ela parecia um tanto preocupada, mas garantiu que não tinha nada a ver com Shinji, e que eles estavam bem, na medida do possível. Grimmjow imaginou que fosse em razão do luto ainda ressente, e também pela pressão, já que as provas para o mestrado estavam muito próximas. Ele, mais do que ninguém, sabia o quanto doía perder uma mãe, e procurava animar Hiyori como podia.
Quando se levantaram da mesa, já passava das onze e meia da noite. Hiyori estava levemente cambaleante, mas não era o tipo de bêbada que dava trabalho. Já na caminhonete, ela ligou o som, encostando a cabeça no vidro em seguida.
Load up on guns, bring your friends
It's fun to lose and to pretend
She's over-bored and self-assured
Oh, no, I know a dirty word
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello
Nirvana era a banda favorita de Grimmjow, então assim que o aparelho de som foi ligado, uma música já familiar passou a ecoar através das caixas de som veículo. Ele deu partida, e por alguns momentos, percorreram a avenida em silêncio, apenas ouvindo música.
I'm worse at what I do best
And for this gift I feel blessed
Our little group has always been
And always will until the end
– Jow – Hiyori o chamou, ainda com a cabeça encostada na janela.
– Uhm?
– No dia da festa de recepção dos calouros, eu vou fazer uma apresentação no Shiba's com algumas amigas – dizia num tom manso, como se estivesse com sono. – Se você puder ir...
– Quando vai ser?
– Dia vinte – ela respondeu em meio a um bocejo.
– Vou sim – concordou sorrindo. – Não perderia por nada.
And I forget just why I taste
Oh yeah, I guess it makes me smile
I found it hard, it's hard to find
Well, whatever, nevermind
Quando chegaram ao prédio em que Hiyori morava atualmente, Grimmjow subiu com ela até o apartamento. Talvez por ter acabado de se mudar – ou por estar muito bêbada – ela não se lembrava da senha da porta. Tocaram a campainha, e alguns minutos depois, foram atendidos por uma bonita moça com cara de paisagem, que auxiliou Hiyori a entrar no apartamento.
Após deixar a amiga em segurança, Grimmjow entrou na caminhonete e se dirigiu ao pequeno apartamento que possuía na ilha, onde dormia quando não podia ou não era conveniente voltar pro haras. Lá chegando, ouviu o som de algo vibrar, foi quando notou que o celular de Hiyori estava caído no banco do carona.
Pegou o aparelho, olhou no visor "Shinji". Destino, providência ou mera coincidência? Não importava. Decidiu atender, pois já tinha um tempo que desejava conversar sobre algumas coisas com aquele palhaço.
– Moshi moshi – disse Grimmjow ao atender, com seu melhor tom de ironia.
Após alguns segundos de silêncio ensurdecedor, Shinji perguntou quem estava falando, e apesar da imensa vontade que Grimmjow sentia de zoar com a cara dele, decidiu se conter, pois eles tinham assuntos importantes a tratar.
Aquela seria uma longa noite.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro