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Capítulo 55

Assim como nos outros anos, mal espero o veículo estacionar para desembarcar correndo. Escuto meu irmão gritar o meu nome, mas o ignoro. O coração transborda de alegria, pois as tão esperadas férias escolares finalmente chegaram. Consequentemente, o acampamento de verão.

Sigo correndo rumo ao meu lugar favorito, não só do acampamento, mas da vida. O lago.

Do alto da pequena colina, já consigo ver as águas tranquilas e o píer de madeira, o que faz meu sorriso alargar ainda mais. Sem perder tempo, desço a colina.

Porém, algo diferente chama minha atenção. Ou melhor, alguém. Obrigo os meus pés a pararem, controlo a respiração que estava acelerada, e me aproximo devagar. Lembrando-me das palavras de mamãe. Tenha modos, mocinha!

— Oi! — Digo um pouco acanhada.

O garoto, que observava o céu estrelado, vira em minha direção e abre um sorriso.

— Oi! — Retribui o cumprimento.

Analiso-o atentamente. Tento colocar minha mente para funcionar, entretanto não encontro nenhuma lembrança dele.

— Não me lembro de você! — Digo cruzando os braços na altura do peito.

Ele ri e nega com a cabeça.

— Eu também não me recordo de você, mas isso tem uma explicação lógica! É a minha primeira vez neste acampamento.

— Oh! — Exclamo, envergonhada por não perceber o óbvio. Ele se aproxima e estende a mão.

— Sou Vicente Ferraço! — Aperto sua mão e me apresento.

— Agatha Tavares!

— É um prazer te conhecer! — Sorri e pela primeira vez eu reparo em seus orbes azuis.

— UAU! — Exclamo — Seus olhos são azuis! — Ele ri e toca meu cabelo.

— E você tem o cabelo de fogo. — Fecho a cara e ele ri ainda mais.

— Eu não tenho cabelos de fogo, Vin! — Faço bico e fito o lago escuro.

— Gostei do apelido!

— Como disse? — Volto a fita-lo. Dessa vez com mais interesse.

— Gostei do apelido. — Sorri — Todos me chamam de Vice — faz uma careta — Até os meus pais. Mas eu prefiro o seu.

— Legal! — Sorrio voltando a me animar.

— Gatha!

— O quê? — Arregalo os olhos e dou um passo para trás.

— Desculpa! — Ri da minha reação — Não estou te chamando de gata! Eca! — Faz cara feira — É que o seu nome permite este apelido. Agatha.

— Oh! É verdade! — Faço uma rápida avaliação de sua análise — Também gostei do apelido, Vin!

— Que bom! Acho que seremos bons amigos... Gatha!

— Acho que sim!

Sorrio e volto meu olhar para o céu estrelado. A imensidão negra que, para o meu espanto, aos poucos toma conta da minha mente e me envolve por completo...

— Águi! — Escuto alguém chamar — Águi, acorda! Levanta, amiga! — A voz de Lara me faz despertar.

Minhas pálpebras se movem, mas logo se fecham ao sentir a luz forte do sol. Pisco algumas vezes até abrir os olhos por completo.

— Lara... — Tento me mexer, mas sinto minhas mãos presas. Olho ao redor e vejo todos os meus amigos ajoelhados no jardim. Assim como eu, todos de mãos atadas. Todos, menos um — Vicente!

Minha voz sai falha ao lembrar dos últimos acontecimentos.

— Onde ele está? — Olho para Lara em busca de resposta, mas ela nada fala, apenas deixa as lágrimas rolarem — FALA!

—Águi... — Ouço a voz de Théo vinda do meu outro lado.

— Onde ele está, Théo? Para onde o levaram? — Meu desespero é notório em minha voz.

— A dorminhoca finalmente acordou! — Olho para frente e vejo o líbio se aproximar — Estávamos apenas esperando por você para começarmos a nossa festa!

— O que fez com ele? — Pergunto entredentes.

O homem ri com gosto.

— O mesmo que farei com o seu querido anfitrião, bonitinha!

Dito isso, aponta a arma na direção de Habib, destrava o objeto, e sem pensar duas vezes, dispara na cabeça da vítima.

Os gritos de espanto e descrença saem de nossas bocas. Meus olhos ardem e as próximas cenas me deixam em choque.

— Parece que você não terá muita utilidade, então diga adeus à vida! — O homem pressiona a arma na cabeça de Cardoso, para dispara-la em seguida.

Fecho os olhos com força.

— Acorde! — Digo a mim mesma — Ande! Acorde desse pesadelo, Agatha!

— Hum... acho que você é o líder desse bando de insignificantes! — Sua voz me faz gelar.

— Se o matar, terá que fazer o mesmo comigo! — Escuto a voz calma de Sam. Abro os olhos a vejo se aproximando do amado, que sussurra algo em seu ouvido e os dois sorriem.

— Já que insiste... — O líbio sorri.

— Foi um prazer lutar o bom combate ao lado de vocês! — Gabriel diz com lágrimas nos olhos e um sorriso no rosto — Até a eternidade, meus irmãos!

— Blá-blá-blá! — Revira os olhos e atira contra a cabeça das duas pessoas que mais admirei nesse grupo.

Viro o rosto, e sinto um gosto amargo em minha boca. A ânsia aumenta à medida que o assassino se aproxima da próxima vítima.

— Ahhh, você sim terá muita utilidade, princesa! — Sua frase me faz por para fora tudo o que estava em meu estômago — Que nojo, bonitinha! Tirem-na da fila, tenho planos bem melhores para ela...

Sinto mãos em meus ombros. Estou tão fraca, que não teria forças para lutar contra um deles, e na verdade nem quero. Deixo que me carreguem.

— Águi... — Théo fala, mas é interrompido.

— Senhor, é urgente! — Um dos capangas aparece esbaforido segurando um aparelho de celular na mão.

— Espero que seja mesmo! — Retira brutalmente o aparelho das mãos do rapaz e coloca na orelha — Pronto!

Enquanto ouve o que a pessoa do outro lado da linha fala, sua expressão vai mudando, de tédio para raiva.

— COMO VOCÊ ME DIZ ISSO? — Grita — EU NÃO ME IMPORTO *** — Diz outras coisas que não consigo compreender e desliga a ligação. Aponta para o cara que me segura e diz em tom sério — Fique de olho neles! Quando eu retornar exterminaremos estes porcos de uma vez por todas!

O homem sai furioso, sendo seguido pelo rapaz que trouxe o celular.

Olho para Théo e ele me fita com intensidade. Seu olhar quer dizer algo, mas só entendo quando ele olha de relance para o cara que me segura. Respiro fundo e deixo meu corpo ficar ainda mais mole, chamando a atenção do mesmo, que me coloca no chão para me analisar. Aproveito a deixa para aplicar mais um golpe de defesa pessoal.

Com as pernas livres, ergo os joelhos atingindo seus países baixos. Théo vem por trás e chuta a lateral do joelho do nosso oponente. O mesmo cai gemendo de dor e larga sua arma.

Pego-a imediatamente e entrego ao Théo.

— Levante-se em silêncio! — Diz apontando o revolve para o homem.

— Por favor, não faça nenhuma besteira! — Peço em português.

— Fique tranquila, doutora! — Sussurra.

— Vocês acham que são os únicos dispostos a morrer pelo que creem? — Pergunta dando uma risada debochada — Eu também estou!

E quando ele ameaça gritar por socorro, Théo nocauteia o homem com um golpe na lateral do pescoço.

— Vamos! — Diz para o restante do pessoal — Levantem-se e corram sem olhar para trás!

Foi o que começamos a fazer. Ao entrar na casa, percebo que o doutor permanece parado, olhando os corpos sem vida dos nossos amigos.

Corro até ele e o sacudo.

— Ei! Olha para mim. — Ele me encara por um instante e pisca algumas vezes — Precisamos ir! — Também olho para a terrível cena e fecho os olhos — Apenas vamos!

Ele concorda e se põe a correr comigo.

Aisha aparece na porta da casa, e arregala os olhos, fitando algo além de nós.

— EI! — Ouço o grito do líbio e logo os disparos.

— Venham por aqui! — Aisha corre para a lateral da casa — Precisamos despistá-los das outras meninas!

Junto o pouco de força que ainda havia, e corro desesperadamente. Os disparos foram ficando para trás quando viramos novamente, porém em poucos segundos eles voltam, nos alerdando que os mesmos estavam atrás de nós.

— Não adianta tentar fugir, bonitinha! — Ouço a voz do líder — Eu te encontrarei aonde quer que vá!

— Ignore e apenas corra! — A voz de Théo me encoraja.

— A plantação! — Digo.

— Poderemos despistá-los lá dentro. — Aisha concorda.

As balas não cessam até mesmo quando entramos no matagal. E quando escuto um gemido saindo dos lábios de Théo, fico em alerta. Olho para ele e o vejo segurar a lateral do abdome.

— Ele foi atingido, Aisha! — Comento o óbvio.

— Vamos! Ainda dá para correr! — Ele diz, já perdendo o fôlego.

Fazemos uma espécie de zigue-zague, o que aparentemente funciona para despistarmos os traficantes. Porém, quando Théo solta outro gemido eu me preocupo, pois o doutor tentava a todo custo ser forte e não nos preocupar, sendo assim, a dor estava tão intensa a ponto de ele não conseguir mais aguentar em silêncio.

— Théo, você está sangrando à beça! Olhe o estado da sua camisa. — Seguro seu braço. Ele para e analisa o local.

— É... Parece que eu me enganei! Ai... — Pressiona os lábios com força apertando o ferimento.

— Deus! — Puxo o grandão para um dos lugares onde as folhagens estavam mais densas e peço que ele deite.

Cogito em erguer sua blusa com cuidado, mas o sangue já começava a coagular aos poucos, se o fizesse, romperia a casca que está sendo formada. Respiro fundo e retiro meu casaco. Passo por seu abdome e o amarro, orando para Deus operar um milagre. Faço meu trabalho em silêncio, focando minha atenção no ferimento sem dizer nada ou sequer encara-lo, pois se o fizesse, provavelmente não aguentaria.

Sinto seu toque gelado em minhas mãos. Desta forma sou obrigada a olhar seus olhos, agora sem brilho e quase perdendo a vida.

— Nós dois sabemos que isso não vai dar em nada, doutora. — Sorri sem mostrar os dentes.

— Não diga tamanha besteira, Théo! — Volto minha atenção para o sangramento que tento conter, mas ele segura minha mão com firmeza.

— Agatha, não adie o inevitável! — Nego com a cabeça sem encará-lo — Chegou a minha hora também.

— Cale a boca, Théo! — Brado com raiva, voltando a encara-lo. Minha boca treme e os olhos marejam — Você não pode se entregar assim! — Um soluço teimoso rasga minha garganta — Eu não estou preparada para perdê-lo, droga! — Me curvo diante dele e o mesmo me envolve com apenas um braço enquanto meu choro baixo e dolorido sai.

— Eu sinto muito pelo Vicente, Águi! Eu sinto muito por não ter feito nada! — Diz com pesar.

— Théo... — A dor inunda o meu coração com força total. A ficha estava caindo como um grande balde de água fria — Ele me deixou... Outra vez! — Aperta-me com força. Ergo o rosto e fito seus olhos azuis — Ele prometeu que dividiríamos uma vida juntos! Ele prometeu, Théo! — Tapo a boca com a mão, controlando os gemidos — Mas ele não cumpriu! Ele mentiu pra mim!

— Ei! — Segura meu rosto com uma das mãos — Olhe para mim, Agatha! — Eu o faço e percebo que o mesmo também estava chorando — Abaixo de Deus, você era a pessoa que ele mais amava nessa vida. Ele faria qualquer coisa por você! Eu sei que está sendo difícil... — Fecho os olhos e os aperto com força — Mas Deus te ajudara a enfrentar todas essas dificuldades.

— Eu só quero que ele me leve também! — Sussurro com pesar — Ele está levando todos eles, por que não posso ir também?

— Ei! Você não disse agora para eu não me entregar? — Assinto — Então não pare de lutar! Deus conta com você!

— Você está certo! — Fungo e respiro fundo — E ele conta com você também, doutor! — Seguro sua mão e olho em seus olhos — Por favor, me prometa que você não irá desistir! Irá lutar até o fim, mesmo quando não houver mais forças, me prometa!

— Eu prometo, doutora! — Sorri, não qualquer sorriso, mas o que eu mais gostava, revelando seus dentes impecavelmente brancos.

— Ótimo! — Coloco-me de joelhos — Isso será minha maior motivação para continuar e enfrentar o que está por vir.

— Águi, — Ele me olha com preocupação — você não está pensando em...

— Aisha... Sinto tanto pelo que aconteceu com o Habib! — Ela fecha os olhos e concorda.

— Ele sempre quiz externar o seu amor por Cristo e nunca teve uma oportunidade. Tenho certeza que ele está muito bem agora! — Sorri e volta a me encarar.

— Com toda certeza! — Seguro sua mão — Cuide desse homem por mim, por favor! — Volto a fitar o meu amigo — Eu sei que Deus te dará a estratégia necessária para tirá-los dessa situação. — Ela assente e me abraça com força.

— Agatha! — Théo tenta falar, mas eu o impeço.

— E você, poupe suas energias e sobreviva! — Toco em seu peito — Eu amo você, doutor! Obrigada por tudo! — Deposito um beijo em sua mão e sinto uma lágrima rolando.

— Por favor não faça isso! — Me ponho de pé rapidamente, sacudo a poeira da roupa e dou um passo para trás.

— Ele me quer e está com pressa. — Digo dando um pequeno sorriso — Creio que se me encontrarem, deixará o restante de vocês em paz, pelo menos por enquanto. Então saiam daqui assim que puderem! — Olho para o céu e penso nos meus amigos — Digam para os outros que eu os amo e que também não desistam! Deus realmente conta com cada um de nós.

Théo tenta se levantar, mas ao fazer uma careta de dor e desespero, Aisha o impede.

— Até breve! Ou até a eternidade! — Respiro fundo, dou as costas para os dois e me ponho a correr. Escuto a voz do doutor atrás de mim, mas o ignoro.

Quando estou a uma distância segura dos dois, paro de correr, olho para o alto e começo a gritar.

— OI! ESTOU AQUI! — Clamo internamente para que eles me escutem, mas nada. Nenhum barulho — EU SEI QUE ESTÃO AQUI! — Digo sentindo minhas forças se esgotando completamente — POR FAVOR, SÓ TERMINEM COM ISSO! — Fecho os olhos e dobro os meus joelhos.

Neste momento, sinto um tecido sobre minha face, e mais uma vez, entrego-me à escuridão.

>>>><<<<

Só peço que leiam até o fim! Tenho certeza que nestes capítulos finais Deus falará bastante aos nossos corações 🙏🏼

Ahh, e não esqueçam de votar! A gente fica tão nervoso/angustiado que acabamos esquecendo kkkk Eu pelo menos sou assim 🤷🏼‍♀️

Att.
NAP 😘

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