Capítulo 49
Vicente olha pela janela. Seus pensamentos completamente perdidos.
Realmente, somos muito parecidos em vários aspectos.
Aproximo-me em silencio e toco seu ombro. Ele vira assustado, e o meu coração se quebra ao ver seu estado. O rosto inchado e os olhos vermelhos devido as lágrimas. Ele estava sofrendo, como Théo havia dito mais cedo.
— Sinto muito! — Minha voz sai embargada.
Mais lágrimas rolam por sua face e eu as enxugo.
— Eu... — Ele tenta dizer, mas nenhuma palavra sai completa.
Envolvo-o em um abraço. Preciso consola-lo de alguma forma.
— Eu fracassei mais uma vez, Águi! Não consegui protege-la! — Suas palavras me atingem, tamanha é sua dor.
— Shhhh! Você não fracassou, Vicente! Deu o seu melhor e Deus é testemunha disso.
— Hassan, que mal a conhecia, fez o que eu deveria ter feito! — Desabafa em meu ombro — É o nosso dever cuidar de cada um de vocês! — Se afasta e me encara com tristeza.
— Vocês fizeram o que puderam, tenho certeza disso! — Trago ele para um dos assentos baixos — Não entendemos o porquê disso tudo estar acontecendo, mas precisamos confiar! — Enxugo minhas lágrimas — Eu passei a tarde toda discutindo com o Senhor, tentando entender o motivo. Mas Ele, em sua infinita misericórdia, me fez lembrar de que Ele é Deus. O criador de todo o universo e de tudo o que há. Nada sai do controle de suas mãos! Nada! — Percebo que começo a aumentar o tom, então falo mais baixo — Confesso que ainda sinto medo pelos meus irmãos, principalmente pela minha amiga. E eu tentei, juro que tentei impedir que aquele sonho se tornasse real, mas ela não consegu...
— Do que está falando? — Interrompe-me com a voz embargada.
— Há algumas semanas, enquanto estávamos na Espanha, o Senhor me deu um sonho. Lembro-me que fiquei angustiada, mas imaginei que se tratava de um livramento que Ele estava nos dando. — Nego com a cabeça — Na verdade, Ele estava me alertando sobre o que viria... — O choro volta com força. Vicente tenta me abraçar, mas eu o impeço — Não, me deixa terminar! — Respiro fundo e tento controlar as lágrimas.
Explano o meu sonho, todos os detalhes. Em seguida, conto sobre a noite anterior. Vicente nada diz, apenas escuta em silêncio.
Após saber toda a história, ele se vira para frente, apoia os cotovelos nos joelhos e une as mãos. O silêncio me incomoda, mas prefiro deixa-lo com seus pensamentos.
— Ela teve escolha. — Diz por fim.
— Como? — Indago sem entender.
Ele volta a me encarar, ainda com os olhos marejados.
— Ela teve a escolha de obedecer e confiar no que Deus ordenou que vocês fizessem, mas permitiu que o desespero e o medo dominassem seu coração.
— Está dizendo que a culpa por ela estar passando por isso é dela? — Pergunto, com um pouco de incredulidade.
— Estou dizendo — Ele vira seu corpo, ficando de frente para mim — Que se ela tivesse confiado em Deus, assim como você, talvez estaria conosco agora. O Senhor conservou a sua vida, pois, mesmo diante do medo, você sabia que Ele estava cuidando de vocês. Estou dizendo que houve essa possibilidade.
— Compreendo.
— Contudo, se Deus permitiu que isso acontecesse com a Lili, tenho certeza absoluta que um propósito maior há nessa situação. Mesmo que a gente não entenda — Ele nega com a cabeça — E eu também não consigo entender, não mesmo! Mas eu sei que, para a vida ou para a morte, o nome dEle será glorificado através dela e do Hassan.
Vicente fecha os olhos e mais lágrimas rolam de seu rosto.
— Como está escrito: "Por amor de ti somos entregues à morte todos os dias; fomos considerados como ovelhas para o matadouro". Contudo, em todas as coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou... — Cita Romanos 8.36,37 — Como é difícil estar vivendo isso — Sussurra — Às vezes eu penso que não conseguirei ir até o fim... Mas Deus nos lembra constantemente que a nossa força não vem de nós mesmos, e sim dEle!
— É verdade, Vin! — Baixo a cabeça e cruzo as mãos em meu colo.
— Por favor, olhe para mim! — Sussurra com delicadeza. Junto força e coragem para encarar seus lindos olhos azuis — Preciso que entenda a seriedade das minhas palavras. — Assinto uma única vez — Agatha, eu darei a minha vida pela sua, se isso for preciso! Não cogitarei um único segundo, pois você é o que eu tenho de mais precioso nessa terra! — Sua voz embarga, por conta do choro entalado.
Uma de suas mãos vai até o bolso da calça e de lá retira algo.
Ainda com a mão fechada, ele ergue o punho próximo aos nossos rostos.
— Há quase onze anos eu te fiz um pedido, e eu gostaria de fazê-lo novamente... — Franzo o cenho, mas nada falo — Haja o que houver, por favor! Nunca, em hipótese alguma, esqueça que eu amo você!
Fecho os olhos e sinto as lágrimas escorrerem por minha face. Ele enxuga delicadamente cada uma delas. Há tanto tempo desejei ouvi-lo dizer essas simples, mas profundas, palavras novamente.
Ao longo desses anos, muitas coisas aconteceram, e eu confesso que em alguns momentos eu me esqueci. Talvez esquecer não seria a palavra certa, mas sim desacreditar.
Desacreditei em suas palavras no momento que comecei a acreditei nas circunstâncias ao meu redor, essa é a verdade. Mas no fundo, bem no fundo, eu sempre soube que o seu amor por mim era real, sincero e puro.
Vicente segura meu rosto entre suas mãos, unindo nossas testas.
— Eu prometi a Deus que cuidaria de você, e não estou disposto a falhar nessa missão! — Volto a encara-lo. Seus olhos fitam os meus com intensidade — Talvez não seja o momento propício para dizer isso, mas não é nenhuma novidade! Qualquer pessoa que me conhece sabe sobre o que eu sinto por você, mesmo sem conhecer nossa história — Tento engolir, mas o nó que se forma em minha garganta não permite. Assim como o frio em meu estômago — Eu te amo, e sempre te amei! Isso nunca mudou e jamais mudará!
A mão que segurava o objeto é aberta, e para o meu espanto, o colar que ele me dera em nosso último acampamento, estava lá.
Olho do objeto para ele algumas vezes, até conseguir formular uma frase.
— Você o pegou... — Abre um pequeno sorriso lateral, ainda sem mostrar os dentes.
É claro que eu já imaginava que tinha sido o Vicente. Só não sabia que carregava consigo em todo esse tempo.
— Gatha... — Como eu amo esse apelido. Tão único. Tão nosso — Se você ainda sente algo por mim, e acredita que há um futuro para nós, por favor, aceite este colar novamente.
Pede com certa insegurança. Como se eu tivesse outra opção... Penso comigo mesma.
Sorrio ao notar sua expressão preocupada enquanto me viro de costas para ele. Levo as mãos até o Hijab e o retiro. Ergo meu cabelo, liberando o pescoço. Quando ele entende minha resposta, inspira profundamente e, com delicadeza, passa a corrente de prata pelo meu pescoço.
Viro-me de frente para ele e fito a estrela pendurada em seu devido lugar. Lugar este, que nunca deveria ter saído.
Ergo meu olhar e o fito com amor.
— Eu posso até ter esquecido do seu amor por mim, Vin — Toco seu rosto — Mas eu nunca deixei de esperar por você! Eu cumpri com minha promessa, e continuo esperando o tempo de Deus para nossas vidas! — Ele assente e alarga o sorriso, ainda contido — Eu amo você! E mesmo que eu tentasse, jamais amaria outro homem como eu te amo!
Com os olhos transbordando pelas lágrimas, Vicente me toma nos braços em um abraço que transmite alívio, alegria e muito amor.
— Obrigado, Gatha! — Sussurra entre meu cabelo — Obrigado!
>>>><<<<
Esse é o momento que eu me retiro, para não receber as pedradas do #TeamTheo 🤭
Sorry, mas não poderia ser diferente ♥️
Att.
NAP 😘
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