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Capítulo 25

A segunda-feira chegou em um piscar de olhos. Confesso que para mim foi um alívio, pois tudo o que eu mais queria era manter minha mente ocupada, e assim aconteceu. As aulas foram intensas e no fim do dia eu me sentia completamente esgotada. 

Ainda estava na sala de aula, esperei todos saírem para poder aproveitar um momento de paz e silêncio. Meu olhar perdido, através da grande janela, denunciava minha completa falta de atenção e o meu cansaço.

Suspiro calmamente quando escuto a porta ser aberta. Viro em direção a mesma e me surpreendo ao ver Samantha entrar.

— Foi um longo dia! — Comenta se aproximando de onde estava.

— Foi sim! Mas estava precisando dessa agitação... — Dou de ombros e volto meu olhar para a área externa.

— Eu soube o que aconteceu com a sua amiga... — Assinto sem desviar o olhar — Não estou aqui para dizer palavras de consolo, pois eu sei exatamente como é estar em seu lugar.

— Já perdeu alguém importante? — Questiono sem deixar transparecer minha curiosidade.

— Sim! — De soslaio vejo Sam parar ao meu lado e fitar a paisagem noturna — Ela era a minha única amiga, minha melhor amiga na verdade. — Suspira — Foi um tempo muito, muito difícil para todos lá em casa, principalmente para os meus pais. Só Jesus para nos sustentar. Infelizmente eu era a única cristã, então recebia toda a carga da minha família.

— Mas por que seus pais sofreram tanto com a morte da sua amiga? — Não consegui conter minha curiosidade.

— Porque não é fácil perder um filho, Águi! — Sua voz era carregada de emoção.

Encaro-a com surpresa.

— Ela era sua irmã de sangue? 

— Sim! — Seus olhos encontram os meus. Estavam marejados e era visível a falta que sua irmã fazia — Entretanto, hoje eu consigo louvar a Deus diante de tudo o que aconteceu, pois foi nessa época que entendi o real significado da passagem que diz: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.

— Mateus 11 — Digo.

— Exatamente! — Ela segura minhas mãos e sorri — Eu não tinha ninguém naquela época, apenas Deus, o que me bastava. Mas no início eu me sentia completamente abandonada e vulnerável. Afinal o próprio Deus, aquele que dizia jamais me desamparar, me deixou sozinha. Mas com o tempo eu percebi que era isso que o inimigo queria que eu pensasse, pois Ele sempre esteve ao meu lado. Se eu estou aqui é apenas por causa dEle!

Sinto meus olhos arderem com a presença das lágrimas, mas pisco algumas vezes conseguindo as afastar.

— Quero que você saiba que nós estamos aqui, Agatha! Sei que você é uma mulher um pouco desconfiada, e sinceramente, não te julgo por isso. Mas somos uma família, e a maioria de nós está aqui para apoia-la no que precisar!

Em seguida ela me envolve com seus braços, em um abraço sincero. Fecho os olhos e respiro fundo.

— Obrigada!

***

— Onde estava, amiga? Você nem jantou. — Lara pergunta quando entro no quarto.

— Precisava ficar um pouco sozinha. — Coloco a bolsa em minha parte do guarda-roupa — Depois encontrei Samanta e ficamos conversando.

— Entendi. — E diz se sentando na ponta da minha cama — A Sam é uma mulher maravilhosa!

— Ela é! — Apoio as mãos na cintura e fito o nada.

— Quer conversar? — Toca o meu ombro. Como ela chegou ali tão rápido?

— Acho que hoje eu já conversei demais! — Solto uma pequena risada e sou acompanhada por ela — Mas obrigada por tentar.

— Por nada! — Dá de ombros.

— MENINAAAAAS! — Lídia entra no quarto completamente desesperada.

— Quer nos matar do coração, mulher? — A morena pergunta colocando a mão no peito — Que saco!

— Desculpa, Larinha, mas não estou aguentando de tanta felicidade! — Exclama.

— O que aconteceu, Lili? — Pergunto me aproximando — Seus olhos estão brilhando!

— Siiiim! É porque eu estou muito feliz! — Começa a pular — Eu vou me casar!

— O QUÊ? — Lara e eu gritamos juntas.

— Eu vou me casar, meninas! — Olho para sua mão, mas não vejo nenhum anel.

— E como isso tudo aconteceu? — Lara pergunta intercalando seu olhar entre o rosto da loira e o meu.

— Bom, na verdade ele ainda não me fez o pedido, mas...

— E como você sabe disso, sua doida? — Lara brada.

— É porque o Vicente pediu para eu pegar algo nas coisas dele, e eu acabei encontrando a caixinha de veludo. — Conta gesticulando com os braços — E sem que ele percebesse, eu a abri e tomei um susto quando vi a aliançaaaaaaaa — Grita a última parte voltando a pular.

— Que bom, amiga! — Lara parabeniza sem tanta animação, depois me lança um olhar para que eu fizesse o mesmo.

— Er... É, Lili! Parabéns! — Tento sorrir, e graças ao bom Deus ele não sai tão forçado.

— Obrigada, amigas, mas... — Ela nos fita com desconfiança — por que estão tão desanimadas? — De repente ela tapa a mão com a boca e me olha com pesar — Desculpe, Águi, acabei esquecendo da...

— Não se desculpe, por favor! — Ergo as mãos.

— Bom, estamos felizes por vocês, mas já estávamos de saída! — Olho confusa para Lara — Águi está com fome e eu irei acompanha-la. — A morena me puxa para fora do quarto — Nos vemos mais tarde! Beijo!

Desço a escada em seu encalço, ainda em silêncio. Ao chegarmos no térreo seguro seu braço e ela para.

— Por que fez isso? — Lara cruza os braços e me encara com a sobrancelha arqueada.

— Talvez tenha sido pelo fato de você não estar mais conseguindo disfarçar os seus sentimentos...?!

Arregalo os olhos.

— O... O que quer dizer com isso? — Gaguejo no início.

Ela suspira e esfrega as têmporas.

— Vamos para o refeitório antes que o horário do jantar acabe. Lá nós conversamos com calma.

Assinto e juntas seguimos para lá. O local estava com poucas pessoas, a maioria já tinha se retirado para seus dormitórios. Vejo Théo sentado sozinho em uma das mesas, olhando para o jardim.

— Lara, você poderia preparar um prato com algumas coisas leves por favor? Preciso conversar um minuto com Théo.

Ela olha do meu rosto para ele e concorda.

— Ainda bem que você não é fresca para comer. — Resmunga antes de se afastar.

Ando em direção ao doutor, arrasto uma cadeira e me sento de frente para ele. O mesmo abre um pequeno sorriso antes de se virar para mim.

— Doutora! — Saúda com um aceno de cabeça.

— Doutor! — Faço o mesmo — Atrapalho?

— De forma alguma! — Responde com cautela. Ele estava estranho, isso era fato.

— Por que está assim, tão... — Esfrego o queixo tentando achar a palavra certa — Tão pensativo...?

Ele sorri e fita os meus olhos profundamente.

— Já me conhece tanto a ponto de saber que não estou bem, doutora?

Engulo em seco, mas não desvio o olhar.

— Bom, nos conhecemos há pouco mais de dois meses. Entretanto, ficamos juntos praticamente o dia todo, então... — Ele assente ainda me fitando com a mesma intensidade — Além do mais, temos nos tornado bons amigos — Quando digo a palavra "amigos", ele desvia seu olhar para a janela e suspira — Sendo assim, posso dizer que te conheço o suficiente para saber que não está legal — Cruzo os braços.

— Parece que sim...

Ao longo de todos esses meses, e com os comentários de Lara, e agora Lídia, na minha cabeça, passei a reparar um pouco mais no comportamento de Théo. E para falar a verdade, estava começando a achar que as duas tinham razão. Parece que o doutor Alencar estava mesmo gostando de mim.

Tal pensamento me deixou nervosa. Não pelo fato de ter alguém como ele gostando de mim, pois não posso negar que o Théo é um homem incrível em todos os sentidos, sem contar que é lindo demais!

No entanto, meu nervosismo se dava pelo fato de que eu não queria magoa-lo. De forma alguma!

Com receio, toco sua mão sobre a mesa o fazendo me encarar outra vez.

— Théo, o que está acontecendo?

Em um ato carinhoso, ele segura minhas mãos e as acaricia. Fito-as sobre a mesa, logo em seguida ergo meu olhar para o seu rosto e ele volta a me encarar intensamente.

Abro a boca, mas antes que eu consiga dizer qualquer coisa, ele toma a palavra.

— Agatha, você é inteligente o bastante para perceber que tenho sentimentos por você! — Arregalo os olhos e ele sorri de lado — Não estou aqui para te pedir em namoro, apenas quero deixar meus sentimentos claros, principalmente porque foi você que perguntou! — Sorri de lado.

— Eu...

— Sei que você não quer se envolver com ninguém agora, e confesso que também não queria, mas foi difícil não me apaixonar por você! — Puxo minhas mãos e me levanto da mesa completamente assustada. Ele faz o mesmo — Fica tranquila, não ficarei atrás de você te enchendo o saco. — Ri nervosamente — Estou velho demais para esse tipo de coisa, mas continuarei orando por esses sentimentos. — Ele se aproxima e eu não consigo sair do lugar — Por favor não fique assustada ou se afaste de mim! Independentemente de qualquer coisa, quero você como amiga.

Ele olha por cima dos meus ombros e solta um suspiro.

— Bom, nos vemos amanhã! — Passa por mim e deposita um beijo em minha cabeça.

Pisco algumas vezes antes de me sentar novamente. Tentava digerir toda aquela conversa quando Lara chega esbaforida carregando a bandeja com meu prato de comida.

— O que foi isso? — Pergunta em um sussurro, olhando para algo atrás de mim. Provavelmente Théo, que acabara de se afastar.

— Você estava certa! — Comento com a voz baixa olhando em seus olhos esbugalhados — Théo gosta de mim!

Ela abre um sorriso arteiro e começa a gargalhar.

— Sério? Pensei que isso fosse óbvio, Águi! — Empurra a bandeja em minha direção.

— Eu estava realmente desconfiada, mas uma coisa é você desconfiar, outra é você receber uma notícia dessa bem na lata! — Comento dando minha primeira garfada.

— Não me diga que... — Ela me encara em busca de confirmação e eu balanço a cabeça positivamente — Nossa! Esse doutor é bem direto... Gostei dele! — Diz rindo e eu reviro os olhos.

— Ele não me pediu em namoro ou algo do tipo, simplesmente disse que estava apaixonado por mim. — Apoio o garfo na lateral do prato.

— E você disse o quê?

— Nada! — Dou de ombros — Fiquei sem reação, Lara!

— Não seja boba, mulher! Coloque em oração, vai que ele é o escolhido de Deus para você? — Ela ri e foi inevitável não fazer o mesmo.

— Hel vai dizer a... — Paro de falar na mesma hora ao perceber o que estava fazendo. Engulo em seco e volto minha atenção à comida — Hel diria a mesma coisa... — Minha voz sai como um sussurro.

Sinto a mão de Lara tocando a minha.

— Está tudo bem, Águi! Ainda é muito recente. — Assinto colocando mais uma garfada na boca. Ela pigarreia e se recompões — Mas... Não era dele que você gostaria de receber uma declaração, não é verdade?

Paro de mastigar e a encaro. Ela ergue a sobrancelha e cruza os braços na altura do peito.

— O que quer dizer? — Pergunto ao terminar de engolir.

— Que você é apaixonada por outro homem. — Sussurra.

— Hã... Nã... O qu...Lara! — Exclamo por fim, sem conseguir formar nenhuma frase.

— Águi, não precisa mais esconder seus sentimentos de mim. Eu percebi isso desde a noite em que você descobriu sobre o namoro dele e da Lídia.

  Arregalo os olhos e fico ereta na cadeira. Tentava controlar minha respiração para não confirmar o que ela já sabia.

— Você ama o Vicente!

— Como... Como sabe disso? — Inclino-me em sua direção. Ela suspira e faz o mesmo.

— Após ter saído correndo do quarto, eu falei com a Lili que iria atrás de você, e assim o fiz... Te segui até o lago, onde você encontrou o Vicente e ficou completamente desestabilizada. — Desvio o olhar para o jardim, recordando-me daquele dia — A maneira como vocês conversavam, a preocupação dele ao te ver daquele jeito, sua relação com Caio e a forma como você ficou ao descobrir o namoro dos dois, só me fizeram ligar os pontos e entender o que possivelmente estava acontecendo.

Afasto o prato de comida e enterro o rosto em minhas mãos, esfregando-o com força.

— Vocês já namoraram, não é? — Ergo o olhar para ela e nego com a cabeça.

Após um longo suspiro, recosto-me na cadeira e começo a contar toda a história para Lara. Conto inclusive sobre as últimas descobertas. Abri o meu coração para ela, da mesma forma que eu queria ter aberto para Helena, mas não pude.

Lara escuta tudo em silêncio, fazendo algumas caras de surpresa, incredulidade e tristeza ao logo da conversa. No fim de tudo, ela olha para mim sem saber o que dizer.

— Sinceramente, não faço ideia do que falar sobre tudo isso! Estou em choque! — Encosta em seu assento.

— Agora consegue entender a confusão que está a minha vida? E isso não deveria estar acontecendo! Ainda mais aqui onde estamos! — Gesticulo o dedo indicando o local.

— Olha, se antes eu já estava desconfiada, agora eu tenho certeza absoluta! — Diz se levantando e vindo sentar ao meu lado.

— Sobre o quê?

— Quando a Lili nos contou que iria casar, eu me espantei justamente porque achava que eles iriam terminar. — Arqueio as sobrancelhas — Não era para eu estar falando nada disso, pois esse assunto não é da nossa conta, mas eles passaram a semana toda brigados, e do nada ela chega dando essa notícia... — Ergue as mãos — Agora você me conta tudo isso, apenas confirmando minhas teorias — Bate a mão na mesa — Eu sinceramente não acredito que o Vicente pedirá a Lídia em casamento enquanto ainda te ama, Águi!

Nego com a cabeça.

— Não diga besteira, Lara! Por Deus! — Levanto da cadeira. Já não tinha mais ninguém no refeitório, apenas nós e duas irmãs da limpeza — Eu confesso que ainda o amo e está sendo bem difícil esquecê-lo, mas quero que ele seja feliz! Com a Lídia ou com qualquer outra!

— E eu te admiro muitíssimo por isso, mas escute só o que estou falando, será questão de tempo para ele se tocar!

— Ok, vamos parar de falar sobre isso! Já está ficando tarde e amanhã será mais um dia daqueles! — Ela concorda e juntas saímos do refeitório.

>>>><<<<

O que vocês acham dessa confusão, gente?? E o doutor, que finalmente se declarou 😂😂😂

Que confusão em pleno CEM! Misericórdia 😓

Att. NAP 😘

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