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Capítulo 03

— Então você irá nos abandonar? — Minha amiga pergunta incrédula.

— Por um tempo, Hel! — Termino de ajeita a sala onde em poucos instantes darei a aula da EBD para os adolescentes da igreja.

— Deixe-me fazer as contas aqui — Olha para o alto pensando — Você irá daqui a um mês, ficará em treinamento no CEM por oito meses. Sem contar o tempo que passará em campo! — Exclama — Estou chocada! — Senta-se em uma das cadeiras.

— Não sofra prematuramente, amiga! — Toco em seu ombro.

— Ao menos você virá ao meu casamento daqui a cinco meses? — Pergunta com um olhar assassino.

— Se assim Deus permitir, óbvio!

— Espero que sim, dona Agatha! — Aponta para mim.

— Não faça drama! Você sabia que isso um dia iria acontecer.

— Eu não só sabia, como tinha certeza que iria acontecer! — Olha para mim com insegurança — Mas isso há dez anos... — Desvio o olhar, incomodada com o rumo da conversa — Quando você ainda fazia planos com o...

— Pare, Helena! — Dou as costas para minha amiga e saio da sala.

— Agatha, somos melhores amigas e irmãs em Cristo! — Sinto meu braço ser puxado, fazendo-me parar — Converse comigo, poxa! Dez anos se passaram e você nunca abriu verdadeiramente o seu coração para mim! — Coloco uma mão na cintura.

— Adiantaria alguma coisa, Hel? Você conseguiria mudar essa situação ou teria o poder de arrancar toda dor do meu coração? — Questiono com os olhos lacrimejando.

Ela me encara em silencio e com tristeza no olhar.

— Pois bem, eu abri o meu coração, me derramei, chorei... Mas na presença do único que me sustentaria e ajudaria.

— Sinto muito, Águi! — Diz me abraçando. Não era qualquer abraço, mas um abraço que transmitia consolo, conforto e compaixão.

— Me desculpe por não ser a melhor amiga que você sempre desejou, Hel!

— Não diga besteira, mulher! Você é a melhor amiga que Deus poderia ter me dado! Por isso sentirei muito a sua falta enquanto estiver longe! — Desfaz o abraço e me olha nos olhos — Eu só quero que você seja feliz cumprindo o seu chamado! Mas também desejo que seja realizada em todas as áreas da sua vida, amiga!

— Eu sei — Olho sobre os ombros de Helena e avisto Raquel vindo ao nosso encontro.

— Meninas, vamos dar início à EBD.

— Já estamos indo, Quel! — Respondo — Que Deus abençoe a aula de vocês e as ajude com as pequenas bênçãos do Senhor! — Digo me referindo às crianças.

— Desejamos o mesmo para você, como os aborrescentes.

— Ei! Escutamos isso, tia Raquel! — Leandro, um dos meus alunos, diz se aproximando ao lado dos demais.

— Não deem ouvidos a esta mulher! — Comento rindo da cara que ela fez — Vamos, crianças!

— Não somos crianças, tia Águi! Somos adolescentes, quase jovens — Liliane resmunga passando por mim.

— Como pude me esquecer... Perdão! — Pisco para minhas amigas e acompanho os alunos até a sala.

***

A aula foi divertida e bem dinâmica. Uma coisa que aprendi ao longo da minha vida é que para cada faixa etária precisamos ter uma dinâmica diferente, afim de conseguirmos prender a atenção do público desejado.

Junto meu material, pego minha bíblia e quando estou prestes a sair da sala esbarro em alguém.

— Desculpe-me, moça, não quis te machucar! — Olho para o homem à minha frente e abro um grande sorriso.

— Anjinho, quanto tempo! — Pulo em seus braços.

— Também senti sua falta, minha irmã! — Beija o topo da minha cabeça.

— Onde estão a Ângela e a Verônica?

— Estão no templo, vamos lá!

Seguro sua mão e andamos juntos ao encontro da minha sobrinha e cunhada.

— Quem é a bonequinha mais linda da titia Águi? — Pergunto assim que avisto minha pequena, e acabo chamando a atenção das duas e de outros irmãos que estavam presentes.

— Titia Águi! — Ângela vem correndo em minha direção. Suspendo-a no ar e a encho de beijinhos.

— Como senti a sua falta, minha bonequinha!

— Também, titia! — Beija meu rosto — É verdade que você vai se mudar?

Olho para o meu irmão e ele dá de ombros.

— Fui eu quem contei para ela dessa vez — Verônica responde caminhando até nós.

— Ah, então tudo bem! — Rimos juntas.

— Já terminou de fazer suas coisas aqui na igreja, Águi? — Ângelo pergunta e eu assinto — Então vamos andando, preciso levar as mulheres da minha vida para casa.

— Mas, papai, o senhor veio de carro. Por que iremos andando? — Minha sobrinha pergunta inocentemente.

— É uma forma de falar, meu amor! — Diz pegando a filha do meu colo e beijando suas bochechas fofas.

Chegando em casa, encontramos papai em seu escritório enquanto mamãe terminava de preparar o almoço. Ângelo levou sua filha para encontrar o avô, Verônica e eu fomos ajudar dona Fernanda.

Após o almoço nos reunimos na sala de estar e ficamos conversando, colocando as novidades em dia.

Ângelo fazia falta todos os dias. Verônica e ele estão casados há seis anos, e há cinco tiveram a pequena Ângela, minha primeira e única sobrinha. Nossa diferença de idade é de três anos, sendo ele o irmão mais velho. Mas isso nunca foi um impedimento em nosso relacionamento, sempre fomos muito unidos em absolutamente tudo. Ângelo é a figura perfeita de um irmão superprotetor.

Lembro-me como se fosse hoje, o dia em que cheguei do acampamento de verão, desolada, despois de saber que nunca mais o veria. O meu irmão foi o único que realmente contemplou de perto a minha dor e sofrimento. Ele fez de tudo para que eu me sentisse bem novamente, mas só o tempo e o trabalhar do Senhor em minha vida realmente me ajudaram.

— Está tudo bem? — Desperto-me com sua aproximação.

— Está sim! Só estava refletindo um pouco. — Chego para o lado apontando para o espaço vago, e ele se senta.

— Está animada com a mudança? — Pergunta passando o braço pelos meus ombros.

— Muito! Você, mais do que qualquer outro, sabe como sempre desejei viver isso.

— Verdade! E o trabalho? Já falou com o seu chefe?

— Conversei com ele ontem. — Lembro-me da nossa conversa — Não ficou muito satisfeito, mas aceitou.

— Compreendo! Ninguém quer perder uma excelente médica como você! — Sorri.

— Bobo! — Empurro-o com meu corpo.

— Eu tenho muito orgulho de você, Águi! — Apoio minha cabeça em seu ombro — Também tenho orado bastante pela sua vida. Principalmente na área sentimental.

Afasto-me para encará-lo.

— A mamãe está fazendo a sua cabeça? — Franzo o cenho.

— Não! — Diz rindo — O próprio Deus tem me incomodado quanto a isso.

— Uau! — Arqueio as sobrancelhas — Por essa eu não esperava. Conte-me mais.

Ele suspira e me puxa para mais perto de si.

— Creio que você poderá encontrar um homem de Deus no CEM.

— Por que diz isso? — Questiono.

— Porque Deus tem me direcionado para orar pelo seu coração e sua mente. Para que você tenha discernimento do que Ele quer para a sua vida. — Suspira e balança negativamente a cabeça.

— Mais alguma coisa?

Ele me encara um pouco pensativo antes de responder.

— Não, minha irmã! Apenas isso! — Olha para frente e chama Ângela que vem correndo para o colo do pai.

— Dormirão aqui esta noite? — Pergunto enquanto brinco com a barra do vestido da minha sobrinha.

— Sim, iremos para casa amanhã de manhã.

— Então eu acho que dormirei ao lado de uma certa bonequinha... — Faço cócegas na barriga da pequena que ri sem parar.

— Assim você matará minha neta, florzinha!

— Eu gosto, vovó! — Ela diz, fazendo todos na sala rirmos. Pego-a em meu colo e a encho de beijinhos.

— Você será uma boa mãe! — Escuto meu irmão falar. Olho para ele e sorrio.

— Assim seja!

>>>><<<<

Mais um capítulo, pessoal!! Bom fim de semana!!

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Att.
NAP 😘

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