8 • Dúvidas
Mesma noite - Algumas horas antes
Já era o horário do jantar. Ambas crianças e casal estavam na mesa, saboreando a comida cozinhada por Izuku.
- Tio Deku! - o esverdeado ouviu a voz infantil lhe chamar, olhando em sua direção e notando ser Hana a dona de tal voz.
- Sim, querida? - questionou, levando o garfo com um pedaço de carne à boca.
- Como você e o tio pavê se conheceram? - o sardento arregalou os olhos surpreso. Em anos que se conheciam, a loirinha nunca se demonstrou curiosa em relação aos dois.
- Deixe-me ver... - pensou um pouco e memórias amargas vieram em seus pensamentos. Olhou rapidamente para Shoto e ele não fazia uma expressão muito boa também. Foi um momento terrível na vida do meio ruivo, afinal.
- Ah, isso eu sei! - Aiko, a garotinha de madeixas ruivas, face cheia de sardas e orbes azulados respondeu no lugar do pai. - Posso contar, papai? - perguntou ao bicolor que lhe direcionou um sorriso gentil por toda sua inocência.
- Pode sim.
O casal combinou que apenas contaria a realidade para filha quando ela tivesse uma idade mais elevada, pois não era uma história divertida e nem alegre para uma criança. Apesar de Aiko ser bem madura para a idade, preferiram criar uma versão mais amena da verdadeira situação.
- O papai Izu conheceu o papai Sho na escola, quando um cara mal tava implicando com ele. Ai o papai Izu salvou ele e eu nasci!
Explicou ao seu modo, de forma bem resumida.
- Como você nasceu? - Katsuo se viu curioso diante deste último detalhe. Sua mãe e seu pai sempre se recusaram a dizer como eles haviam nascido, falando que quando crescessem entenderiam. Nesse aspecto fora bem obediente e jamais procurou informações sozinho - principalmente porque Hana fez com que ele desistisse - apesar de alguns alunos mais velhos na escola dizerem coisas bem nojentas sobre esse assunto... coisas quais ele ignora.
- Ok crianças, chega de perguntas. - Izuku interveio, para o bem da inocência deles e de sua própria filha- Por que queriam saber como eu e o tio "pavê" nos conhecemos?
- É que... - a loira começou a dizer. Era um segredo entre ela e seu irmão, mas talvez, só talvez fossem precisar de dicas de seus tios - Promete não contar pro papai? - perguntou com olhinhos de cachorro abandonado.
- Ai meu Deus, não me diga que algum garoto te pediu em namoro... - Midoriya questionou espantado.
- Não! - negou prontamente com as bochechas infladas. - E mesmo se tivesse, eu não aceitaria. Meninos são chatos! - cruzou os braços - Meninas são muito mais legais!
- Eu sou chato, mana? - o moreninho perguntou choroso ao seu lado.
- Um pouco. - declarou e viu uma lágrima sair do olho de Katsuo - Tudo bem, você não é chato! - um sorriso logo apareceu na face do garoto.
- Então, Hana-chan... o que quis dizer com aquilo? - o esverdeado voltou o assunto.
- É que...
- A gente tá tentando fazer o papai e um tio nosso da escola namorarem! - Katsuo respondeu, arrancando uma cara emburrada da irmã.
Midoriya ficou boquiaberto. Segurou-se para não rir do que acabara de ouvir. Que atitude inusitada.
- Mas por quê?
- Porque o tio Eiji é legal com o papai e queremos ver ele feliz de novo! - a loira foi quem explicou animada - mas o tio Eiji é outro menino, então queria saber como você e tio Pavê se conheceram porque vocês também são e eu só vi o papai gostar da mamãe...
Midoriya compreendeu a situação, mas não soube exatamente o que dizer. As circunstâncias entre ele e Todoroki eram bem diferentes das de Katsuki com seja lá quem fosse esse Tio Eiji. Além do fato de não saber exatamente como dizer às crianças que seu pai não gostava de homens... se bem que, na realidade, nem ele mesmo tinha a prova concreta de que o loiro não gostava.
- Bom, eu não sei como nós poderíamos ajudar nesse plano e eu não acho que o Kacchan goste desse Tio Eiji dessa forma. - disse apenas com base em seu conhecimento sobre o amigo de infância.
- Não foi ele que ficou me cantando enquanto estava bêbado naquela festa do Ensino médio? - Shoto pensou alto por um segundo, recebendo um olhar repreensivo de Midoriya e não compreendendo o porquê. Por Deus, o bicolor era muito lerdo. - O quê?
- As crianças, amor. - sorriu para o meio ruivo de forma forçada, a fim de fazê-lo entender que haviam mentes inocentes presentes.
- Não se preocupe, ele parou quando eu disse que tinha namorado. - explicou ao esverdeado, sem notar seu sorriso forçado - e então depois disso ele e a Akane começaram a namorar e...
- Tudo bem, Shoto, já deu amor. - cortou a fala do bicolor e voltou-se para as crianças. - Não vou contar nada para o Kacchan, tudo bem? Tentem fazer eles conversarem. - indicou, mas não acreditava realmente que aquilo daria em algo, afinal, Bakugou já afirmara que jamais pretendia entrar em um relacionamento tão cedo.
***
20 de março de 2020 - Sábado
Assim que abriu os olhos, Eijirou imediatamente os fechou por conta da luz radiante vinda das frestas contra sua face. Sentiu as dores musculares, sua cabeça latejava pela enxaqueca e a garganta estava seca. Puta merda, não deveria ter bebido tanto assim. Percebeu que a superfície em que se encontrava era macia e aconchegante, adoraria aproveitar mais de sua maciez se não fosse a confusão absurda de não ter ideia de onde estava.
Na verdade, não lembrava de quase nada da noite passada.
Apenas memórias embaraçadas de quando saiu de perto de Bakugou e foi tentar aproveitar a boate, contudo sua atenção, por algum motivo que desconhecia, se desviava para ele a fim de saber se ele estava bem. Nada mais.
Forçou seus olhos a abrirem com certa dificuldade e deu uma breve olhada na suíte em que estava, vendo as paredes brancas e sem muita graça, um guarda-roupa mais luxuoso com cores mais escuras e a última coisa que percebeu fora que estava totalmente coberto por um cobertor preto, o que levou-o a perceber outra coisa.
Estava sem suas roupas. Todas. Completamente nu.
- Merda. - praguejou baixinho, já imaginando o que havia acontecido.
Tinha dormido com alguém. Droga, droga, droga... por que aquilo soava tão sujo? Ele jurou - inconscientemente - para si mesmo que não se envolveria sexualmente com alguém em respeito à Mayumi. Mas agora havia quebrado a promessa e o pior, não tinha ideia com quem havia transado. Começou a ficar desesperado e ignorar as dores que sentia para se levantar da cama.
Onde estavam suas roupas? As procurou pelo chão do quarto, mas não encontrou nada. Não havia nada no chão também, estava totalmente limpo. Olhou para o canto da cama e avistou uma muda de roupas e foi até elas. Não eram suas, mas pareciam servir em si. Não questionou muito o motivo de ter uma muda de roupas masculinas bem ali e não teve outra escolha a não ser vestir.
Sua cabeça ainda latejava de dor, entretanto ignorava este fator para conseguir sair daquela situação o quanto antes. Andou lentamente para fora do quarto, seguindo pelo corredor, olhando brevemente dentro de outro cômodo que parecia um quarto infantil onde havia duas camas pequenas. Ótimo, a pessoa com quem havia passado a noite tinha filhos e era casada? Não poderia julgar se era ou não, portanto, desejou que não fosse para as coisas não tornarem-se piores.
Prosseguiu pelo corredor até entrar em outro cômodo que, ao que tudo indicava, era a cozinha. Seu olhar parou diretamente em alguém que estava sentado em uma das cadeiras da mesa com uma xícara de café em uma mão e o celular na outra. Reconheceu a cabeleira loira e espetada.
A figura ergueu o olhar para si e confirmou sua teoria sobre quem era, mostrando uma expressão de susto assim que lhe avistou, mas logo deu de ombros e falou:
- Finalmente acordou.
- Senhor Bakugou?! - gritou após alguns segundos assimilando tudo.
- Isso aí. - confirmou com desdém, voltando o olhar para o aparelho.
- Nós... fizemos aquilo? - tentou soar o mais ameno possível, quase sussurrando, como se estivesse contando um segredo de estado. - Usamos camisinha pelo menos, não é? - perguntou por conta de uma curiosidade súbita que instaurou-se em sua cabeça.
Ao ouvir tal dúvida, Katsuki se segurou muito para não rir. Puta merda, era com isso que o idiota se preocupava? Suspirou, escondendo a face que adquiria um rubor por tal palpite descarado, pois este o trouxe memórias da noite anterior, e olhou Eijirou nos olhos.
- Não fizemos. - disse secamente, tentando desviar a memórias do beijo de sua mente.
- Então por que eu estava pelado? - indagou, inconformado.
- Você entrou debaixo do chuveiro de roupa e tudo.
- Ah. - lá no fundo se sentiu um pouco decepcionado, mas isto não importava no momento. Não tinha transado com ninguém, ainda mais com outro cara... apesar de que a ideia não parecia tão grotesca assim. - Mas por que me trouxe para cá?
- Porra, você pergunta demais. - coçou as têmporas, irritado por ter que se lembrar da noite anterior. - Aquela sua amiga com cabelo rosa ridículo lá falou pra eu te levar pra casa, mas você estava bêbado pra caralho e me deu uns 10 endereços diferentes até que eu desisti e te trouxe para cá. - suspirou - Depois você começou a vomitar pra cacete e sujou meu vaso todo, além de ter entrado debaixo do chuveiro de roupa e tudo, o que me obrigou a te ajudar tomar banho - lembrou da vergonha que sentira ao ter ajudado o ruivo a se despir, de fitar seu corpo bem treinado e até partes que não deveriam lhe interessar... - Depois da porra do banho você começou a dormir em pé e eu te joguei na minha cama.
Eijirou ouviu tudo em silêncio e raciocinou tudo, ele deu um trabalho enorme para o loiro e se sentia bem mal por isso, mas saber da história toda acalmou seu coração. Entretanto, uma dúvida ainda restava e ousou pergunta-la.
- Nós dormimos na mesma cama?
- Não porra, eu não durmo naquela merda de cama. Fui pro sofá. - rosnou com tal pergunta. Odiava aquela maldita cama pois ela sempre lhe trazia memórias sobre Akane. - Queria o quê? Acordar comigo lá do seu lado, é?
A vermelhidão atingiu a face de Kirishima na hora. Essa pergunta o pegou de surpresa, mas tratou de negar prontamente.
- É claro que não. - coçou a nuca envergonhado, olhando para um canto qualquer. - E-enfim, obrigado por ter cuidado de mim e sinto muito mesmo por todo trabalho que eu dei. - disse envergonhado.
- Tá, que seja. - falou, menos irritado com a situação e se levantou da cadeira.
- Sério, eu vou te recompensar por isso, juro. - declarou, disposto a fazer algo pelo cara que teve de suportá-lo bêbado. - Quanto dinheiro quer?
- Não preciso do seu dinheiro - disse ríspido.
- O que quer de mim então? - viu os orbes rubros fitarem-no com intensidade.
- Nada - na verdade, uma ideia havia passado por sua mente. Uma que só surgiu graças à lembrança do maldito beijo, mas nem fodendo que pediria algo assim. Era hétero, e também não estava nem um pouco afim de ter novas experiências românticas tão cedo.
- Mas Senhor Bakugou...
- Porra, para de me chamar de "Senhor", cacete - rosnou. Odiava se sentir mais velho, inclusive quando um cara mais velho fazia isso. - Pronto, é isso que eu quero de você. Me chame de Bakugou.
- T-tá. - queria retribuir com algo mais útil, todavia se Katsuki queria ser chamado daquela forma, respeitaria sua escolha.
- Você deve estar com uma enxaqueca fodida, então toma - pegou uma caixinha do armário e de lá tirou uma cartela de comprimidos para dor de cabeça, entregando ao ruivo e se virando para buscar um copo d'água.
Depois de ter engolido o comprimido, saciado sua sede e até mesmo sua fome, Kirishima agradeceu mais uma vez ao loiro, chamando-o de senhor por acidente, mas logo se retratando para que Bakugou não explodisse de ódio.
Katsuki avisou que as roupas do ruivo ainda estavam secando, mas mesmo assim, Eijirou insistiu para levá-las. Também lembrou de entregar o celular, que por muita sorte não havia estragado na água, pois havia o tirado a tempo.
Enfim, o loiro se ofereceu para levar o ruivo até sua casa e, mesmo relutante, Eijirou aceitou a oferta quando o mais novo deu a desculpa de que iria sair de qualquer forma, pois teria que buscar seus filhos na casa de um amigo. No caminho, ficaram em silêncio, com Kirishima apenas falando as direções, sem nenhuma conversa entre os dois. Bakugou tentava ao máximo não pensar sobre os acontecimentos anteriores e Eijirou ainda estava confuso, ansioso e arrependido por ter causado tantos problemas a alguém que já possuía problemas até demais.
Quando estavam quase chegando ao prédio, Katsuki decidiu questionar uma dúvida que martelava em sua mente, principalmente por conta da noite anterior:
- Você namora?
- Não.
- É casado?
- Era. - demorou um pouco mais para responder, não sabendo se dizia a verdade ou não. No fim, disse a verdade, mas não quis se aprofundar nela.
- É esse? - perguntou, tentando desviar do assunto por ver a expressão amarga na face de Eijirou e olhou para o apartamento de cores brancas e rubras.
- É sim. - o loiro estacionou o veículo ao lado da calçada e logo Eijirou abriu a porta, olhando para trás e agradecendo - Obrigado, senh- - viu Katsuki franzir o cenho - Bakugou. Muito obrigado, sério. - sorriu, mostrando os dentes anormalmente pontiagudos, o que fez o coração do mais novo falhar algumas batidas e logo virar a cara que tomou uma coloração mais avermelhada.
- Que seja.
Kirishima sorriu novamente com o jeito bruto com qual o outro agia, chegando a achar fofo... não que tivesse algum interesse no professor de História.
- Até mais! - disse por fim, andando até o prédio.
Talvez seu coração estivesse acelerado por conta do interesse repentino do outro em saber sobre sua vida amorosa, mas não gostaria de admitir isso tão cedo, afinal, talvez fosse só uma dúvida corriqueira... ou era isso que queria pensar.
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Foi mal pelo capítulo meio sem graça.
Espero que a escrita não esteja tão repetitiva quanto eu penso...
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