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Espero que tenha ficado bom...
Boa leitura!
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- Tio Eiji! - Katsuo gritou assim que a porta fora aberta pelo loiro, enxergando seu professor de educação física sorrindo para si atrás dela.
- Olá Katsuo! - o ruivo não conteve seu sorriso de dentes pontiagudos, se ajoelhando na altura do pequeno e recebendo um abraço eufórico dele. - Está tão feliz assim em me ver? - riu quando o garoto gritou vários "sim" freneticamente, denotando seu ânimo.
Hana se aproximou em seguida, puxando e afastando o irmão do homem, para em seguida abraçá-lo com ainda mais intensidade, extremamente feliz por sua presença ali. Quando seu pai avisara de que seu professor de educação física vinha passar o restante da tarde em sua casa, não contiveram os gritos eufóricos e animados, comemorando contentes e, quando seu pai não já não estava mais olhando, cochichavam sobre aquela possibilidade de seu progenitor estar namorando o Tio Eiji. E se de fato não estivessem, ao menos, agiriam como os belos cupidos que eram e botariam a mão na massa para aquele relacionamento dar certo. Queriam que seu progenitor fosse feliz, mesmo que ainda sentissem falta de sua mãe, sentiam que Eijirou traria uma alegria enorme a todos ali.
- Meu Deus, você é forte garotinha - Kirishima riu com o abraço apertado, retribuindo com carinho. Não sabia que aquelas crianças ficariam tão animadas assim com sua presença, a ponto de até abraçá-lo, mas não achava ruim, apenas lhe deixava mais contente saber que era tão amado assim. - Cuidado, seu pai vai ficar com ciúmes. - ousou brincar, erguendo seu olhar até os orbes rubros e intensos, que lhe fitavam com certa rigidez.
- Não te dei essa liberdade. - disse de maneira levemente agressiva, sentindo uma ponta de arrependimento lhe atingir ao ver o sorriso brincalhão de Eijirou sumir de sua face, vendo seus ombros tensos e sua expressão não ficar lá tão boa quanto antes.
Após ser solto pelos braços de Hana, Kirishima forçou um sorriso - não gostaria de forçá-lo justo para as crianças, mas ficou desconcertado com a repreensão de Katsuki por um momento - se levantando e levando a mão até a nuca em um claro sinal de nervosismo, massageando-a enquanto se desculpa, soltando risos sem graça:
- Sinto muito, não era minha intenção.
Bakugou se sentiu desconfortável por sua própria fala, pensando até em pedir desculpas, mas sentindo aquela enorme dificuldade em fitar as írises carmesins e proferir tal pedido, optando apenas por soltar um pequeno suspiro e abrir passagem para que o ruivo adentrasse a casa. As crianças pareceram não notar a mudança repentina de comportamento de Eijirou, pois este tratou de logo se recompor e prestar atenção no cenário da casa, relembrando um pouco aquela manhã onde acordou desnorteado na cama de Bakugou e pensou ter... transado com ele. Certo, não era hora para ficar lembrando de coisas constrangedoras.
Balançou a cabeça e aguardou pelas próximas palavras de Katsuki.
- Certo, o... Tio Eiji vai ajudá-los a fazer a tarefa, não vai? - ergueu o olhar ao ruivo, que acenou positivo, achando graça de Bakugou chamá-lo daquela forma.
- Ahhh tarefa, papai? - O moreninho resmungou - Eu queria brincar!
- Katsuo. - falou um pouco firme, assustando um pouco Eijirou com a voz tão grave. Bakugou se aproximou do filho - Pense bem, se você fizer a tarefa agora... vai poder brincar o final de semana inteiro, não é ótimo? - um sorriso terno apareceu em seus lábios enquanto via o menor se tocar da tremenda genialidade do progenitor.
Kirishima ficou boquiaberto. Jurava que Katsuki seria alguém extremamente rígido, não dando aberturas para muito carinho, o que até chegava a lhe incomodar um pouco, no entanto ao presenciar tal cena seu coração aqueceu, ainda mais quando Bakugou bagunçou os cabelos do moreno e prometeu-lhe comprar sorvete como recompensa, caso a atividade ficasse bem-feita.
- Eu com certeza vou ganhar sorvete, minhas tarefas sempre ficam perfeitas! - Hana não tardou a proclamar, expressando grande parte da personalidade competitiva do pai e sorrindo convencida para o mais velho. - Você vai ver papai!
- Vou sim. - outro sorriso apareceu em sua face, deixando Kirishima cada vez mais sem jeito. Vê-lo sorrindo tanto e de modo tão doce era tão bom... gostaria de poder ver aquilo mais vezes. - Agora vou deixá-los com esse idiota. - sorriu novamente, olhando para o mais velho e retirando o sorriso dos lábios na hora pela vergonha, virando as costas e indo para o escritório.
Bom, na verdade, não.
Aquele momento descontraído lhe deixou tão feliz que se esqueceu de algo, no mínimo, racional a se fazer. Oh merda, por que não parou para pensar nisto antes? Droga.
Não poderia deixar seus filhos com um estranho em casa enquanto ficava em seu escritório. Bom, tudo bem que Eijirou era seu colega de trabalho, mas ainda assim, era inegavelmente um estranho. Parou de andar na hora, vendo o olhar confuso do ruivo cair sobre si ao virar seu pescoço para trás. Onde estava com a cabeça segundos atrás? Bufou, andando rapidamente em direção ao mais velho, pegando seu pulso e puxando-o consigo. As crianças observaram a cena confusas, igualmente a Kirishima.
- Fique onde eu possa te ver. - largou-o de frente para a porta do escritório, dando aquela ordem de forma rígida para ter certeza de que o ruivo não moveria um músculo dali.
- Ué papai, o que aconteceu? - a loirinha perguntou ao ver seu progenitor pegando o notebook, junto ao carregador e mais alguns objetos de trabalho, tais como canetas e uma das pastas onde continha uma parte do trabalho.
Logo depois, Katsuki saiu do quarto; mantinha o notebook junto à pasta, com certa dificuldade, contra o peito, sustentando-os com o braço direito e o carregador embolado na mão esquerda, junto com duas canetas.
- Nada, minha filha... - respondeu vagamente, não sabendo como dizer o que queria sem que ficasse explícito ao Eijirou.
- Quer ajuda? - Kirishima se ofereceu, segurando o notebook que quase escorregava do braço de Katsuki, que cedeu meio a contragosto por sequer saber como dirigir alguma palavra ao mais velho. - Então decidiu que vai nos ajudar, Bakugou? - disse divertido, brincando com a situação para amenizar a tensão que se fez no momento enquanto seguia o loiro até a mesa de jantar, que estava desocupada no momento, deixando o notebook de frente para a cadeira onde Bakugou sentaria.
- É, vai que você é burro e dá alguma resposta errada. - entrou na brincadeira também, sentindo um enorme desconforto perdurando em sua mente, mas ignorando para fazer a situação soar o menos esquisita possível.
- É... - o ruivo riu, mas abaixou o olhar, um pouco magoado. É óbvio que compreendeu a situação, e não julgava Katsuki de forma alguma por ter tal preconceito, mas ainda assim, ser comparado a este tipo de pessoa doente lhe deixava triste, é claro. - ... realmente pensou que eu faria algo assim? - murmurou bem baixo, mas Katsuki ouviu algumas palavras, sentindo o ar faltar em seu peito. Não era para ele ouvir, mas ouviu de qualquer forma, o que o levou a cerrar o punho, arrependido por ser tão indireto.
- Não.
- Não o que papai? - Hana questionou, curiosa, já pegando seu caderno e estojo para realizar a tarefa, sentando-se em uma cadeira quase ao lado de Katsuki.
- Ah, desculpe, eu só estava pensando alto demais. - disse, sorrindo descontente para a pequena e olhando de canto para Kirishima, que mais cabisbaixo, sentou-se ao lado da garota para ajudá-la em seu dever. Katsuo ficou ao lado do ruivo, percebendo a mudança repentina do ambiente e desgostando daquilo.
- Vocês brigaram? - questionou inocente - Tipo briga de namorado?
E de repente, o ambiente ficou menos tenso.
Kirishima arregalou os olhos, fitando o moreno incrédulo do que havia acabado de ouvir. Bakugou sentiu sua face formigar enquanto fuzilava o menino com o olhar. Meu Deus, não sabia dizer se glorificava aquela inocência ou se arrependia amargamente de não ter eliminado aquele assunto completamente.
Hana colocou as mãos na boca, segurando a crise de risos que estava por vir com a audácia do irmão.
- Como? - o questionamento veio de Eijirou, que sentia o rubor espalhar-se por sua face. A ideia de namorar Bakugou soava um pouco, apenas um pouco, tentadora, mas nem acreditava que o garoto estava mesmo supondo aquilo.
- É bobeira do Katsuo. - Katsuki olhou fixamente para o filho - Não é, Katsuo?
- Mas papai...
- Sem mas, peça desculpas para o tio Eiji pela brincadeira sem graça. - realmente imaginou tê-lo deixado desconfortável ao vê-lo todo vermelho de vergonha, mas mal sabia que não era exatamente desconforto que Eijirou sentia.
- Bakugou, está tudo bem, eu não me incomodo com isso não. - tratou de apaziguar a situação, incapaz de direcionar seu olhar ao loiro. E para piorar, as palavras de Ashido retornaram aos seus pensamentos.
- Não seja tão bonzinho, idiota. - bufou, olhando para Katsuo novamente - Sinceramente, de onde foi que tirou essas coisas, Katsuo? - questionou, verdadeiramente curioso com aquele fator.
- É que o tio Eiji passou a noite aqui... e vocês combinam muito.
- E você fica feliz conversando com ele! Eu te vi sorrindo enquanto o tio Eiji falava com você no telefone! - Hana complementou, entregando informações um tanto quanto reveladoras aos dois homens mais velhos.
Bakugou sentiu sua face queimar com a exposição, ainda mais vinda da própria filha. "É sério, Hana?" pensou, olhando estarrecido para a garota que mantinha uma expressão orgulhosa com seu feitio em sua face. Puta merda, agora realmente havia pedido completamente a coragem de olhar para Kirishima, sinceramente. E outra: Se ela havia o visto sorrir durante as conversas com Eijirou, significava que ela também ouvira os palavrões que proferia, certo? Esperava que não, mas questionaria mais tarde, desejando que este realmente não fosse o caso.
O ruivo estava quase atingindo a cor de seus próprios fios, imaginando todas as vezes que recebia respostas frias e ríspidas de Katsuki, tentando visualizar um sorriso em seus lábios. Era difícil, mas saber daquilo lhe deixou um pouco mais contente - realmente, até esquecera temporariamente a situação tensa anterior - e aquilo junto ao pensamento de que haviam se beijado lhe deixava, por motivos desconhecidos, ainda mais feliz. Voltou à realidade, olhando sem querer para Bakugou, que aparentava estar tão constrangido quanto ele, desviando o olhar na hora e encarando Hana, que já desmanchara a expressão de orgulho e se encontrava risonha com o constrangimento alheio. Katsuo estava igual a irmã, jogando lenha na fogueira ao perguntar para o pai o porquê de ter se calado de repente.
Kirishima realmente achava graça de toda aquela audácia dos pequenos, ao passo que também estava espantado com suas suposições. Não se incomodava com aquilo, mas sentia algo. Não sabia descrever o que era, porém tinha certeza de que não era ruim, parecia bom e tão... certo? Não, droga, não deveria sentir coisas assim, sabia que era livre, mas Mayumi sempre acabava retornando aos seus pensamentos...
Não queria perder outro alguém.
Não queria se machucar novamente.
Antes que a confusão e angústia lhe consumissem de vez, ouviu a voz rouca de Katsuki:
- É melhor começaram a fazer essa tarefa logo, ou terão consequências. - disse com firmeza, fitando o moreno que parou imediatamente de provocá-lo e riu sem graça, já tendo ideia de quais eram as consequências; sem televisão, sem jogos, sem doces.
Hana fez o mesmo, abrindo seu caderno e começando a ler as perguntas que fora obrigada a copiar no caderno - mesmo que as malditas estivessem escritas no livro didático - e já começando a respondê-las com rapidez. Katsuo, por outro lado, assim que abriu seu caderno lembrou-se que não copiou as perguntas em sala e tratou de, preguiçosamente, abrir seu livro após ter a página indicada pela loira, já sentindo as dúvidas chegarem logo na primeira questão e chamando por Eijirou, que prontamente lhe atendeu.
Não era o melhor ambiente para concentrar-se em seu trabalho, então Katsuki tratou de pegar os fones que jaziam em uma mesinha da sala e conectar ao seu celular, colocando apenas o lado direito do objeto no ouvido para prestar atenção no barulho do ambiente.
Talvez a ajuda de Kirishima mais fosse atrapalhar do que ajudar, já que por questões óbvias, não poderia sair dali, mas não era de todo mal ouvir a voz do ruivo explicando alguma parte da matéria - até melhor do que imaginava, visto que Eijirou não parecia tão inteligente - ao seu filho.
Aquela voz, de certa forma, diminua o silêncio que preenchia sua alma.
***
Katsuki levantou-se da cadeira, espreguiçando-se após cerca de duas horas terem se passado. A maior parte do tempo deu-se na correção dos trabalhos que havia recolhido, conseguindo terminar de corrigir todos da quarta e quinta série, tendo agora apenas a sexta e sétima para os próximos dias - graças a Deus havia só uma sala para cada turma. Dedicou o restante de seu tempo ao computador, digitando um pouco do relatório, que terminaria mais tarde, só tendo se levantado no momento para preparar o jantar. Eijirou poderia muito bem fazê-lo, todavia não queria ser folgado a este ponto, além de ser orgulhoso o suficiente para não permitir que alguém fizesse mais uma obrigação sua em seu lugar.
Ambas crianças já haviam terminado suas tarefas há uma hora atrás, então sequer hesitaram em correr para o sofá, arrastando Eijirou, é claro, para assistir alguma coisa. O ruivo apenas se mantinha ao lado dos dois, respondendo quando era questionado sobre alguma cena e apreciando aquele momento. Era algo novo para si. Mesmo que desse aulas para crianças quase todos dias, era diferente quando estava conversando com elas tão casualmente como se fossem seus... filhos.
"Seria assim caso tudo tivesse ido bem?" perguntou-se mentalmente, sentindo a melancolia lhe consumir por um instante ao imaginar a vida feliz que poderia ter tido com Mayu e o filho.
- O que querem comer? - foi disperso dos pensamentos amargos pela voz de Bakugou.
E então ambos Katsuo e Hana trataram de responder alegremente, já pensando na comida maravilhosa que seu progenitor faria e ficando ainda mais ansiosos para saberem o que seu professor acharia da comida do loiro. Talvez pudessem agir em seu plano de juntar os dois neste jantar.
- E você, o que quer? - Katsuki desviou o olhar para Kirishima, um pouco mais ansioso pela resposta, esperando ser capaz de realizar o que ele pedisse, já que o dia de compras não havia chegado e não havia muitas opções. Optou por perguntar mesmo assim, queria deixar seu visitante mais à vontade, mesmo que fosse algo incomum.
O ruivo ficou confuso com a pergunta, mas tratou de ser educado:
- Não tenho preferência, qualquer coisa está boa.
- Só peça algo logo antes que eu perca a paciência.
Vendo que Katsuki de fato estava impaciente, o ruivo suspirou e disse logo sua comida favorita, que na realidade, era algo bem comum, e que estava incluso nos pedidos das crianças, então não haveriam divergências.
- Qualquer coisa que tenha carne está boa para mim.
***
Após o jantar cheio de elementos positivos, principalmente pela presença das crianças que contaram como fora seu dia na escola, Bakugou continuou a escrever seu relatório, guardando um tempo para estudar enquanto Eijirou brincava com os pequenos, gerando várias risadas e momentos divertidos entre os pequenos, que a todo momento citavam seu progenitor na conversa, elogiando o quanto era esforçado e habilidoso, igual fizeram durante a janta; perguntando à Kirishima o que ele achara da comida e dizendo que se quisesse comer mais dela poderia muito bem visitá-los novamente.
O ruivo conversava animadamente com os pequenos, rindo dos elogios inocentes que eram feitos ao professor de história - nem imaginava que aquela era uma tentativa de fazê-lo se interessar mais pelo próprio - mas mantendo certa distância quando a questão era afeto, já que percebeu ao longo do tempo o incomodo que Bakugou sentia diante de sua presença ao lado dos pequenos. A ansiedade era refletida nos orbes escarletes.
De qualquer forma, não gostaria que o mais novo pensasse que fosse alguém mal-intencionado, mas mesmo assim gostaria de continuar vigiando as crianças e as entretendo enquanto o homem loiro se ocupava com o trabalho. Ficava feliz só de ter tido tal momento sendo proporcionado a si, como um presente divino.
- Olha! A mamãe dizia que adorava esse desenho. - Hana disse quando uma animação começou a passar na televisão, chamando sua atenção e lhe trazendo memórias felizes com sua progenitora - A gente sempre via juntas... - Seu semblante tornou-se triste à medida que dizia as palavras, seu desânimo tornou-se evidente aos olhos do ruivo, que esticou a mão até seus fios escorridos e os afagou como forma de acalento. - Queria saber onde ela está...
- Será que ela está bem? - Katsuo questionou-se, preocupado. - Ela foi embora... mas eu não quero que nada de ruim aconteça com ela...
- Creio que sim. - Kirishima respondeu de forma travada, mas com um olhar terno ao moreninho. Não gostaria de se meter em um assunto que não era dele, ainda mais quando era algo tão... delicado, então apenas disse aquilo para tirar aquela preocupação da face do garoto. - Mas não fique desanimado, vamos ver o desenho. - disse com um sorrisinho animado em seus lábios, vendo os dois acenarem positivamente, um pouco mais animados e voltarem suas atenções à televisão.
O ruivo, por um momento, desviou as írises carmesins até Katsuki, a fim de saber se ele estava bem com aquela conversa ou se sequer a ouvira. Seu peito apertou ao ver a expressão desolada na face alheia, ele havia parado de digitar e parecia imerso em pensamentos desagradáveis.
E de fato, estava.
Sem querer, Bakugou havia desviado seu foco para as duas crianças, a fim de checar se tudo ia bem e apreciar um pouco aquele momento único. Kirishima era alguém agradável, se arrependia amargamente por manter dúvidas sobre ele - mesmo que fosse só para fins de segurança - e principalmente, por deixar isto tão explícito. Apesar de ter um estilo horrível, calçando aquela monstruosidade - vulgo crocs - e exagerar no gel ao ponto de manter seus fios ruivos em pé de modo bizarro, ele era alguém que conseguia facilmente alegrar àqueles ao seu redor.
Arrependeu-se de ter prestado atenção demais quando ouviu a menção à Akane vinda de Hana, trazendo um sentimento amargo ao seu peito. Obviamente não via maldade alguma nas palavras infantis, mas só de pensar na mulher que lhe traiu e ainda fugiu de si apenas para não ter que arcar com suas responsabilidades doía. Era uma dor indescritível que, aos poucos, tomava seu ser. Ficou pensando e pensando sobre aquela merda toda, tentando - e falhando - concentrar-se no que fazia anteriormente até ouvir o barulho de uma cadeira sendo arrastada e uma mão sendo posta em seu ombro. Olhou para o lado e não viu ninguém menos que o ruivo com um sorriso terno direcionado a si.
Aquele sorriso, de alguma forma, lhe fazia sentir-se acolhido incondicionalmente. Sinceramente, que tipo de magia Kirishima usava para ser tão brega, mas tão fofo e atencioso ao mesmo tempo? Talvez nunca fosse descobrir.
As crianças sorrateiramente olharam para os dois homens tão próximos, sorrindo, contentes pela proximidade entre os dois, mas ao mesmo tempo, receosas pela face tristonha que seu progenitor sustentava.
O silêncio perdurou-se por um tempo até que Eijirou decidiu pronunciar-se:
- Quer conversar?
- Não, tenho que trabalhar.
- Relaxe um pouco.
- Você veio aqui para cuidar dos meus filhos, não de mim. - tentou ser frio com o mais velho, não querendo deixar que seus problemas ficassem tão evidentes, se fechando naquela bolha novamente.
- Não quer dizer que eu não possa cuidar de você também. - falou firmemente, sentindo sua face arder pelo sentido romântico que aquelas palavras poderiam ter, mas não retirando o semblante determinado da face.
- Não preciso de cuidados, estou perfeitamente bem.
- Você sabe que não está.
- E o que você sabe? - rosnou, soltando um longo suspiro antes de gritar: - Por que se importa tanto? Você não tem a menor obrigação de se importar, imbecil. Eu não vou te dar nada em troca, se é isso que deseja.
Os gritos foram audíveis às duas crianças que encaravam a cena assustadas com os gritos do pai. Katsuki não tem tinha o costume de gritar perto delas, e sempre que o fazia era porque realmente estava possesso de raiva. Não era o caso, mas a presença de Eijirou lhe dizendo coisa extremamente óbvias, mas que negava a si mesmo está a lhe estressado a ponto de não se conter no momento.
Kirishima se arrependeu de ter sido tão invasivo, olhando para baixo, sussurrando um pedido de desculpas ao loiro que sequer ouviu, pois aproximou suas faces rapidamente para dar uma chance, sussurrando bem baixo para que seus filhos não ouvissem.
- Depois que as crianças dormirem nós conversamos.
***
E ali estavam eles, lado a lado no sofá da sala. Mais alguns longos minutos se passaram e Bakugou terminou o que tinha planejado para fazer hoje, se levantando da cadeira mais uma vez e vendo que os pequenos estavam dormindo praticamente em cima do ruivo, que já estava sonolento por estar em um ambiente tão calmo. Katsuki levou seus filhos para o quarto, deitando-os cuidadosamente em suas respectivas camas e voltando para sala, sentando ao lado de Eijirou.
Não gostaria mesmo de abrir-se com alguém, principalmente quando mal conhecia a pessoa, no entanto ao menos poderia xinga-lo o quanto quisesse, sem risco de assustar os pequenos.
O professor de educação física estava de cabeça baixa, não sabendo mais como se portar. Provavelmente havia decepcionado o loiro de todas as formas possíveis; desde sua chegada, onde tentou brincar amigavelmente até o momento em que tentou ajudar o loiro e acabou por piorar a situação, vendo que falou algo qual sequer tinha certeza.
- Eu não pretendo desabafar nem qualquer merda aí. - quebrou o silêncio, olhando de canto para o ruivo, que se mantinha cabisbaixo. - Não quero te ofender, mas não faz sentido toda essa atenção que você me dá, parece até que gosta de mim.
- Você é um cara bacana, Bakugou. Não sei quem é doido de não gostar de você. - a menção à palavra "gostar" fez o coração de Eijirou remexer-se em seu peito, porém fez questão de não deixar que a emoção lhe movesse e disse o que realmente achava.
- Ela é. - disse de forma amargurada e impulsiva, referindo-se a Akane. - Todos são, na verdade. Me acham insuportável... e eu estava falando da forma romântica, se não entendeu.
- Ah, s-sim... - coçou a nuca, envergonhado por ter a maldita lembrança do que Ashido lhe contou passando por sua mente. Certamente era só alguma besteira de sua amiga para lhe confundir, não deveria ficar dando atenção a este tipo de coisa.
- O que? Tá pensando merda? - Katsuki riu debochado ao ver a face do ruivo ficar levemente ruborizada.
- B-bom, é que... - olhou de canto para o loiro que demonstrou-se minimamente curioso para que continuasse sua fala - Minha amiga disse que viu eu te beijando naquela noite da boate. Loucura, não? - riu bem nervoso com qual seria a reação de Bakugou diante daquilo. Por que fora tão direto? Não sabia, apenas tinha certeza de que sua impulsividade lhe fazia cometer besteira de vez em quando.
As mãos de Katsuki começaram a suar com a menção ao beijo. Merda, estava quase esquecendo aquela porcaria e agora algo pior surgira em relação a este assunto; Eijirou sabia dele. Ao menos ele duvidava da maldita mulher de cabelos róseos lembrava de ter visto logo depois do beijo, então tratou de entrar na onda do ruivo e fingiu que aquilo era uma tremenda loucura.
- Pois é, o que ela tem na cabeça? Isso que dá beber demais, por isso odeio essas merdas.
Kirishima riu, aliviado pela confirmação de que aquilo era falso. Ashido estava apenas tentando lhe empurrar aquele homem por conta de sua admiração para com Bakugou, só isso, nenhum beijo havia ocorrido.
Outro silêncio tomou conta do local após sua risada. Ergueu o olhar até o loiro, fitando-o um pouco mais bem-humorado, mas sem esquecer de seus arrependidos anteriores, aproveitando o momento de descontração para se desculpar apropriadamente.
- Me desculpe por hoje, eu realmente não quis te passar essa impressão sobre mim. - pontuou, respirando fundo para sua voz não soar tão destruída assim. - Eu nunca faria mal a nenhuma criança, Bakugou. Só quero que saiba disso, mas realmente entendo sua preocupação. Se eu tivesse um filho também não o deixaria com estranhos... - explicou, sentindo a dor pela própria menção ao filho que nem chegou a conhecer.
Bakugou viu a expressão dolorosa na face do ruivo, sentindo o remorso lhe corroer novamente por ter sido tão ridículo a ponto de deixar seu medo explícito, fazendo o mais velho se sentir mal pela acusação indireta.
- Eu fui ridículo também, convenhamos, então pare de ficar se desculpando por tudo, idiota. - admitiu, arrancando um riso fraco do mais velho - Está ficando bem tarde...
- Sim, está. Acho melhor eu ir para casa logo, não quero tomar mais do seu tempo.
- Você não atrapalha tanto assim. - murmurou, arrancando mais risos do outro e enfim acenando positivo para ele. Por algum motivo não gostava muito da ideia de que ele fosse embora, por mais que fosse se sentir mais seguro daquela forma. Andaram até a entrada, e quando Eijirou estava de saída tratou de agradecê-lo. - Obrigado... pela ajuda.
Um sorriso formado por dentes pontiagudos foi visto na face do ruivo como resposta, mas logo este se desfez pela mágoa avassaladora que Kirishima sentia por achar que mais atrapalhou do que ajudou o mais novo.
Isto não passou despercebido por Katsuki, que se sentiu culpado pela mágoa que o outro sentira e decidiu falar algo que mudaria tudo ali. Tornaria as coisas complicadas, mas voltar atrás em sua mentira para tentar criar algum laço de confiança com Eijirou - não que ele desejasse isso - poderia deixar as coisas um pouco mais leves.
- Na verdade... você me beijou sim naquela noite, sinto muito por ter mentido. - declarou, fitando o chão com a face impassível, mas seu coração estava a mil. - Pense o que quiser sobre isso.
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É isto kk
Obrigado por ler!
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