Capítulo 08 - Não faz sentido
Alan não aceitou as ordens do padrinho, chefe da equipe, desconfiado, decidiu conseguir mais informações com a central de inteligência a respeito do veículo, Dante não era inteligente, mas não acreditava que todos iam se encontrar em Tremembé e Lucas não ia de boa vontade para o local, como havia dito.
Se está tão na cara assim, pode ser que seja uma isca, levar Carlos, Torquato e Diógenes para o lugar errado ou pior, matá-los. Pensava, enquanto dirigia em direção à delegacia de homicídios, onde Samuel provavelmente estava. Não queria ir só, seu celular estava no modo viva-voz para continuar conversando com os colegas da central.
A central de inteligência é uma equipe lotada em uma das delegacias com o objetivo de reunir informações através da colheita de binas, grampos, informações de policiais em operações ou perseguições e também com as informações que eram recebidas de outros estados para aumentar a possibilidade de prender um grupo ou ladrões trabalhando individualmente, garantindo mais proteção ao estado.
— Tereza, aqui é Alan da equipe do corregedor Carlos. Pode me enviar a rota do carro que ele mandou que averiguasse? — Pediu à colega, nunca conheceu nenhum deles, pois, para manter o sigilo, nunca falavam que eram dessa equipe, apenas que foram lotados numa das delegacias da cidade.
— Inspetor Alan, o corregedor Albuquerque mandou não lhe passar qualquer informação. — A policial falou e Alan começou a rir imaginando que seu padrinho estava ficando muito mais protetor que o normal.
— Tereza, estou indo para fazer a cobertura, estamos lidando com um assassino frio e que já matou várias pessoas, duvido que a delegacia de Aracati ou de Icapuí tenham respondido ao pedido de averiguação da casa. — Disse para a moça, eles tinham um certo rancor por seu chefe ter pedido a exoneração de vários policiais civis e militares por corrupção junto ao antigo delegado dos dois distritos.
Tereza riu concordando, mas o fez com medo e em tom baixo para ninguém escutar. Então, começou a digitar o número da placa, não estava fazendo o certo, mas ele tinha razão, então, terminou de digitar o número da placa e começou a pesquisar ela através das fotos das câmeras da cidade e fotossensor para traçar uma rota.
— Posso te fazer um pedido? — Tereza perguntou ao policial.
— Não tomo cerveja, gosto de cachaça, quando terminarmos esse nosso plantão vamos ao boteco do Albuquerque e nos conhecemos. — Disse, imaginando o pedido e sorriu.
— Marcado, mas eu vou levar minha namorada, já que me falaram que não tem nenhum problema em experimentar novas combinações. — Tereza falou baixo e enrolou um dos dedos nos cachos loiros enquanto traçava a rota, surpresa com a boa intuição dele.
— Alan, ele não foi para essa tal praia, vou mandar para o Carlos a nova rota, fica no final do parque industrial, pedirei à delegacia do bairro mais próximo em Caucaia para dar apoio. — Afirmou.
Alan não respondeu, assim que recebeu o novo endereço, foi até o acostamento e adicionou o segundo endereço, precisava ser rápido.
— Manda o Samuel me esperar na Homicídios, estou na Aguanambi, pode me mandar uma foto de vocês? — Pediu à Tereza e encerrou a chamada, em seguida, apertou o número de emergência para falar rápido com seu padrinho.
— Padrinho, eles não estão a caminho de Icapuí, na verdade estão no Parque Industrial, a central vai lhe mandar o novo endereço. — Disse para o padrinho.
Carlos bateu sua mão irritado e com força no volante, vendo o motor soltar mais fumaça, algum engraçadinho não tinha feito a revisão direito e agora precisava esperar o motor esfriar para conseguir empurrar o carro com seus colegas até o posto a alguns metros dali.
— Vai para lá, estamos com problema no carro e vou levá-lo para um posto e solicitar uma nova viatura. — Disse para o sobrinho. — Tome cuidado e chame Samuel, ele vai te dar apoio, solicite à delegacia mais próxima que mande apoio. — Mandou, estava preocupado, Sandro tinha razão, mas ali também havia muito remorso.
— Já solicitei, padrinho, assim que puder, vai direto para o Varella, tenho certeza que Lucas vai parar lá de novo. — Avisou, só torcia para que não fosse nada sério demais.
— Infelizmente, Alan. — Carlos respondeu e desligou, saiu do carro e foi em direção aos seus amigos que estavam sentados na estrada.
Torquato e Diógenes aguardavam bebendo água, Carlos sentou ao lado e voltou a ligar para o secretário de segurança.
— Ele está no Parque Industrial, vacilei. — Comentou com seus amigos.
— Pelo menos Alan e Samuel vão para lá, você tentou estar um passo à frente meu amigo, isso não é errado. — Diógenes o confortou.
— Nós somos uma equipe, se um erra, os outros lhe ajudam a consertar. — Torquato comentou com seus amigos e os colegas concordaram.
— O Eduardo vai demorar a chegar aqui, quarenta minutos a uma hora. — Carlos contou para os seus colegas, pois o secretário de segurança já estava próximo a Aracati e demoraria a chegar naquela parte da estrada, pelo menos, era escoltado por duas viaturas e usariam uma delas para ir até onde Alan e Samuel estavam se dirigindo.
— Será que eles nunca pensaram em ir para a praia? — Torquato perguntou aos amigos.
— Provavelmente, prestando atenção, não fazia sentido voltar para lá, Lucas nunca viveu com eles naquela cidade, ele foi no carro de bom grado justamente porque iam ser seguidos. — Diógenes falou para os amigos e tirou o celular do bolso. — Me passa o endereço, depois nós três dividimos o valor. — Falou para os amigos.
Carlos passou o endereço e Diógenes rapidamente chamou um táxi particular, perder tempo ali era inaceitável, assobiou quando viu o preço aparecer na tela, Carlos assentiu, mas Torquato passou o dedo pela gola da camisa como se o preço estivesse na garganta, mas, concordou.
— Vamos rachar, mas quero bebida de graça no boteco. — Torquato falou para o chefe e Carlos concordou.
— Ótimo, vamos lá salvar o garoto e pegar esse Dante de uma vez. — Diógenes falou e se levantou.
— Precisamos ir para o outro lado da avenida e ir pela estrada de Maracanaú, é mais rápido. — Lembrou e correu para o carro pegar o que faltava.
Carlos ajudou Torquato e ambos foram para o carro ajudar os outros, já imaginavam as manchetes
"Policiais vão de Uber até o local de negociação com sequestradores", pelo menos estavam se esforçando para manter a cidade tranquila.
Alan passou na porta da delegacia e Samuel entrou rápido, já arrumado, tinha decidido não ir para casa ou tirar os equipamentos, temia perder muito tempo caso precisassem de apoio, e tinha razão, seu amigo e seus filhos estavam bem, então estava tranquilo quanto a isso.
— Vai ter que me dar umas respostas. — Samuel disse para o inspetor. — Li o suficiente para entender que estamos lidando com gente complicada e seu amigo se acha um super-herói. — Reclamou, o relatório era longo, mas tinha muitos fatos e alguns ganchos que prendiam bastante a atenção.
Alan riu e concordou com a descrição de Lucas, era isso mesmo.
— Pergunte, temos uma hora de viagem daqui até lá. — Concordou.
— Como aquele senhor podia ajudar a desmontar aquele esquema de corrupção e desvio de dinheiro? — Perguntou ao inspetor, era o que mais lhe deixava surpreso.
— O Yamamotto? Bom, Áurea, conhecida como "Madame" e atualmente foragida, meu padrasto, Antônio, minha mãe, Sasha, os pais do dono do Varella e de dois médicos de lá formaram um grupo chamado "cúpula", visando realizar alguns objetivos pessoais: seu Daniel Varella queria o hospital; Berenice e o marido, continuar seus projetos fora do país, são médicos mas desejam fazer parte de projetos humanitários fora do país; Yamamotto e sua esposa, administrar sua própria escola. Então, como a madame e Yamamotto não tinham tantos recursos, com a ajuda de Berenice, Ptolomeu e Daniel começaram a procurar investidores e assim começaram a realizar esses objetivos, o plano era que, depois, Daniel colocaria os filhos dela e do marido como sócios do hospital, enquanto Yamamotto e Áurea tinham que isentá-los de pagar mensalidades e garantir os estudos deles até o ensino médio, como Antônio e minha mãe já tinham uma escola, ajudaram em troca de verbas para outros projetos, mas Áurea e Antônio começaram a desviar o dinheiro e, se Yamamotto sabia disso, só não se metia, já que, se falasse para Berenice, Ptolomeu e Daniel as verbas iam acabar e o tráfico também. — Alan explicou, era complicado, precisou escutar do seu amigo várias vezes até conseguir entender o sentido.
— Por que Lucas está novamente nos ajudando? — Samuel perguntou, crente de que haveria um outro motivo além da prisão do irmão.
— Luana, a filha do Dante, é criada por ele, já falamos sobre isso. Lucas quer que Dante seja preso e assim vai poder dar à filha as respostas, quando for mais velha. — Alan respondeu, achava difícil isso acontecer.
— Como vocês chegaram a esse cara que morreu? O corregedor Carlos chegou a comentar sobre as ameaças. — Questionou, não haviam falado dessa parte, e ele não encontrou nada a respeito.
— Lucas encontrou Dias através de um colega no banco, a moto do foragido foi vendida por alguém e o dinheiro, depositado na conta de um parente falecido. Nós só juntamos os pontos e a investigação começou, mas as ameaças também tiveram início e, como o Leandro, companheiro dele, estava começando a pesquisar locais em Cambrigde para morarem por alguns anos decidimos que Lucas deveria ficar e eles irem para termos que nos preocupar com menos pessoas, então, Lucas decidiu inventar que um caso importante para trabalhar e o colocamos no apartamento, seria só até pegarmos Dias, ele ia viajar em seguida. — Alan respondeu sentindo-se culpado, não deveria ter ligado.
— Certo. — Samuel respondeu, precisavam se concentrar agora no plano de salvamento, apontou para o celular dele, vibrava muito e a foto era justamente de seu amigo ao lado de uma garota morena. — Vou colocar no viva-voz. — Avisou.
Alan estranhou aquela ligação, mas não podia perder qualquer chance de descobrir o paradeiro ou a situação de Lucas, atendeu, estranhando tanto chiado.
— Fala, Vitória. — Disse para a irmã de Lucas.
— Minha mãe e meu irmão vão se entregar, estou com eles, mas Lucas ficou no galpão com Hélio, você precisa chegar rápido, ele está com o ombro ferido e houve uma explosão. – Respondeu, olhando da janela a fumaça negra subindo ao céu.
Alan continuou dirigindo e apertou o volante, olhou ao redor, os carros estavam parando, então, acelerou, passou no sinal vermelho sem se importar com as buzinas ou com quase ter feito um acidente na via, começando a ultrapassar os carros indo em direção à rua que levava ao local.
— Vamos prendê-los e espero que você e Hélio continuem sem se envolver nessa sujeira. — Falou para a garota.
— Só quero que salve meus irmãos, claro que eu estou longe desses problemas, minha intenção, do Dante e do Hélio foi atraí-lo para conseguirmos entender algumas coisas, e conseguimos. — Vitória respondeu e abaixou a janela para evitar que a fumaça entrasse na casa.
— Farei o possível. — Alan respondeu. — Quando eu chegar aí, continue escondida, mas deixe Dante e Paula por perto. — Avisou, seria mais fácil assim, Samuel os acompanharia até a parte de trás da viatura para prendê-los e, então, entraria no galpão para salvar Hélio e Lucas.
Samuel massageou a testa imaginando quanta coisa não era mencionada, encostou-se no banco e fechou os olhos tentando relaxar até chegarem no local.
Vitória encerrou a chamada e olhou para a mãe antes de desligar, Paula a olhava com o mesmo nojo que tinha por seu irmão mais velho, mas Dante estava tranquilo, foi ele quem decidiu se entregar.
Vitória foi até a mãe, Paula estava sentada com as mãos amarradas e a boca amordaçada, não conseguia acreditar no que tinha feito, sabia desde o começo a localização da sua avó e também que Letícia planejava agir como a Madame, por dinheiro, claro, como sempre, o enriquecimento era maior que os valores morais que deveriam ter.
— Essa é a diferença entre você, eu e meus irmãos, apesar dos nossos erros, nossa família é sempre mais importante. Lucas assumiu a culpa pela morte do meu pai porque não queria que eu e Hélio nos voltássemos contra Dante e explicou tudo sobre a Letícia e mais algumas coisas. — Vitória falou para a mãe e tirou a mordaça da boca dela.
— Eu nunca acreditei, Lucas não levantaria a mão para o Yuri, mas eu não queria nenhum dos três mortos, são meus filhos, independentemente de qualquer quantia que eu receberia. — Explicou, não ia deixá-los morrer, só Lucas.
— Como pode dizer isso depois de ter mandado matar minha mãe e ajudado a Madame a mentir? — Dante perguntou, sentia nojo dela.
— Acha que eu alguma vez aceitei você ser criado entre nós? Eu gostava da sua mãe e ela foi minha amiga até o momento em que descobri que Natália e Yuri continuavam a me trair, só esperei o momento certo para matá-la. — Paula respondeu, estava engasgada há muitos anos. — Você é um bastardo, como sua filha e as filhas de Letícia. — Provocou e virou o rosto sentindo uma dor horrível na bochecha direita.
Vitória massageou a mão depois do tapa, sua mãe só podia estar louca por falar assim, Dante saiu da casa batendo a porta com força, não conseguia admitir que ela continuasse falando isso.
— Nós somos uma família, eu, meus irmãos e meus sobrinhos, independente do que diga. — Vitória falou para a mãe e correu em direção à saída para acalmar seu irmão.
Paula cuspiu um pouco de sangue, a filha tinha a mão pesada.
— Essa é a pior, como a madame me disse. — Paula falou baixo sentindo o rosto dolorido.
Vitória se aproximou de Dante e seu irmão a abraçou, não havia mais nada que pudesse fazer agora, tinha perdido a mãe, mas a filha não ia sofrer o mesmo que ela.
— Vai mesmo procurar a velha? — Dante perguntou à irmã, que não precisou falar nada, pois o jeito que ficou depois que fizeram a mãe falar a verdade a respeito do plano com Letícia já bastava para responder.
— Sim, ela vai ser presa, ela queria limpar a família, mas agora serei eu a fazer isso, porém do jeito certo. — Vitória falou para o irmão e Dante beijou seus cabelos.
— Vá até o final desse terreno, há uma saída para a fuga, se Hélio não voltou, deixe que a polícia vá salvá-lo, tem uma moto e dinheiro suficiente para você sair daqui e procurar a velha, faça ela pagar pelo que roubou e ajude nosso irmão a cuidar da Luana e do Yuri. — Dante pediu à irmã.
— Farei com maior prazer. — Vitória respondeu e deu um beijo na bochecha dele. — Te amo, maninho. — Disse para Dante, que a abraçou.
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