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Capítulo 06 - Mudança de planos


Depois de escutar o som do tiro, Hélio saiu do carro deixando a mãe chorando, não queria acreditar que Dante tinha feito isso, quando Lucas contou que defendeu Natália e o lembrou de quando se machucou tentando ajudá-la, podia jurar que Dante tinha se arrependido e não ia continuar com o acerto de contas.

Letícia estava na frente da porta esperando eles saírem, Hélio parou do lado dela e a namorada do seu irmão o olhou de canto de olho, ele secava a mão na calça jeans e continuava olhando o trinco da porta.

— É só abrir. — Letícia falou para o rapaz.

Hélio manteve o olhar fixo no trinco, ignorando o comentário, desde que a conheceu, mantinha distância por causa do seu relacionamento com Dante, mas não conseguia esquecer que ela era a primeira mulher por quem havia se interessado de verdade, deixando-o numa situação complicada.

— Está tudo em silêncio. — Hélio falou e pôs a mão no trinco para abrir.

Porque o idiota vacilou. Letícia pensou e tirou devagar o pano de dentro do bolso da calça, precisava ser rápida, aproximou-se e, quando Hélio começou a abrir a porta, passou o braço por cima do ombro dele e tampou o nariz do rapaz.

Hélio soltou a maçaneta e tentou se soltar, contorceu-se e tentou tocar novamente a porta, mas, quanto mais tentava, mais confusos seus sentidos ficavam, o cheiro forte fazia sua capacidade de raciocinar ir se perdendo e Letícia só soltou o pano quando Hélio caiu sobre ela.

A jovem olhou para o carro e jogou o corpo do rapaz para o lado, se levantou e limpou a areia da roupa, então, escutou a porta do carro ser aberta e começou a empurrá-lo pelos ombros.

Paula foi apressada até ela e pegou as pernas do filho, o porta-malas estava aberto, agora era só jogá-lo lá e depois fariam o mesmo com Vitória, mas Dante era outra história, precisavam matá-lo como a madame ordenou.

— Vamos, rápido. — Paula mandou e Letícia andou mais rápido.

— Eu ainda não sei como vamos fazer com o Dante, ele é diferente do Hélio. — Letícia falou para a moça, ele, além de mais forte, era mais esperto.

— Já começamos, vamos terminar. — Paula falou para Letícia e colocaram Hélio dentro do porta-malas.

Paula se aproximou um pouco do filho e beijou sua testa, não iam matá-lo, mas precisavam fazer isso para protegê-los.

Letícia, aproveitando de Paula estar com a guarda baixa, empurrou-a com força para dentro, fazendo Paula bater a cabeça na lateral do compartimento e desmaiar. Fechou a porta e foi até a parte do carro onde ela antes estava chorando.

Não vou me engalfinhar com Dante, ele que me mata. Pensou, preocupada, eles ainda estavam no galpão, então, entrou no carro e começou a procurar a chave do automóvel, estaria com Dante? Fazia sentido, afinal, seria estranho que ele descesse sem ela.

— Merda! — Falou irritada, batendo no volante do carro, não tinha como sair só e ainda havia os dois lá dentro, mexeu na lateral do carro e encontrou uma caixa de fósforo e o isqueiro, aquilo seria ótimo, mexeu na alavanca para abrir o compartimento da gasolina e decidiu tentar aquele plano.

Foi até o compartimento e acendeu o cigarro usando o isqueiro, deu uma tragada tentando relaxar e depois colocou a bituca do cigarro na entrada do tanque de gasolina, deixou a portinha entreaberta para que eles vissem e fossem fechar, depois foi para os bancos traseiros.

Letícia sorriu, vendo que Vitória e Hélio tinham comprado algumas garrafas de água com e sem gás, pegou três com gás e voltou até o banco do motorista para abrir a parte da frente do carro onde fica o motor.

Levantou o capô e prendeu-o para continuar aberto, abriu o recipiente onde ficava o aditivo e despejou toda a água das garrafas, depois, fechou e abaixou o capô, deixando o carro fechado, e correu em direção à saída.

Madame, tudo está saindo como planejou, agora, eu quero a minha parte. Pensou animada e continuou correndo, havia uma boa quantia em dinheiro lhe esperando.

Dante escutou o relato do irmão sobre a namorada, surpreso principalmente pela parte do relacionamento do pai com ela, agora tudo fazia mais sentido, Yuri o apresentou para Letícia como professora de artes há muitos anos na escola onde estudava com Hélio. Yuri sempre fez questão de ir nos dias de aula com ela para buscá-los.

— Victor descobriu através dela que somos irmãos, não sei se você lembra, mas, no dia em que dormimos no porão foi graças a uma encomenda que eu levei sem saber do que se tratava e ela foi receber, passei mal comendo os chocolates achando que eram um presente e depois de me limparem me levaram para lá. — Lucas explicou para o irmão.

— Essa vigarista! — Vitória insultou Letícia, estavam confiando nela e não passava de uma duas-caras.

— Você vai ficar aqui, Vick vai chamar a polícia para te encontrar, agora eu vou ter uma conversa com ela. — Dante disse para o irmão, a vingança não tinha mais qualquer cabimento, foi o pai que machucou sua mãe, mas a Madame também precisava sofrer um pouco e ele só ia conseguir isso tirando o restante do dinheiro dela.

— Dante, toma cuidado, principalmente se deixou algo no carro, ela é esperta e Victor quase morreu no incêndio que a Letícia provocou para fugir contigo. — Lucas pediu ao irmão, já que sabia que ela só não havia matado ele, as filhas e os irmãos do galego porque havia errado a hora em que iam voltar para o carro depois de uma consulta no hospital Varella.

— Eu que ensinei a ela, é mais fácil te associarem com uma bala na cabeça do que com um corpo carbonizado. — Disse Dante friamente e saiu andando, apressado.

Vitória foi até o irmão mais velho e o abraçou, era uma despedida e a mais triste, pois não iam voltar mais a se encontrar.

— Quando eu puder, dou um jeito de te encontrar aqui ou lá. — Vitória falou para o irmão.

— Te amo maninha, me perdoa. — Lucas pediu, tinha enganado ela para chegar aos pais, assim, Hélio conseguiu que ela fosse com ele.

— Entendi seus motivos, mas foi a forma com que você fez o que fez que me magoou. — Falou para o irmão, não perdoaria fácil.

— Vamos logo, Vick. — Dante a apressou e saiu do galpão.

Lucas acenou para a irmã, despedindo-se, e Vitória retribuiu antes de ir.

...

Assim que saíram, Dante estranhou tudo tão silencioso, olhou ao redor procurando pelo irmão e Paula, mas nenhum estava ali, desconfiado, pediu à irmã para que ficasse atrás dele e andou devagar contornando o carro em busca dos seus rastros, infelizmente, as pegadas na areia estavam misturadas e do lado direito do carro havia muito mato que chegava já até sua cintura, local perfeito para Letícia se esconder.

— Mano, olha o carro. — Vitória falou, apontando para a frente dele, garrafas d'água estavam secas e jogadas lá.

— Ela inutilizou o carro. Se eu sair com ele, vamos precisar acelerar caso a polícia descubra e, como ela encheu de água mineral e com gás em vez de água destilada, o motor vai explodir. — Dante contou para a irmã, pelo menos, Letícia estava a pé também, portanto, não estava longe.

— O que faremos? Ficar no mato? — Vitória perguntou, preocupada. — Eu não sou do mato, sou da praia. — Reclamou, detestava os mosquitos e bichos de mato que podiam encontrar em lugares assim.

Dante sorriu e mandou falar baixo, não sabiam onde Letícia estava, poderia ser em qualquer lugar, olharam dentro do carro, não havia nenhum sinal deles.

— Lembra do que o Lucas falou, fica mais perto do galpão, vou procurar no porta-malas uns brinquedinhos e depois te conto o plano B. — Avisou para a irmã e deu a volta pelo carro, observando o matagal, qualquer movimento de Letícia seria o fim dela.

Assim que chegou no fundo do carro escutou gemidos, curioso, foi até perto do porta-malas e percebeu que vinham dali, apressou-se e abriu com a chave levantando-o em seguida.

Hélio continuava desacordado, mas Paula pediu ajuda e Dante a ajudou a sair dali, Paula olhou ao redor, procurando provavelmente por Letícia, mas, ela não estava mais lá, sua testa estava ensanguentada e Dante a chamou para tirarem seu irmão de lá.

— Ela me jogou lá, sua namorada tentou nos trair. — Falou para Dante, mas ele não respondeu, não confiava mais em ninguém além de Vitória e Hélio.

Pegou o irmão nos braços e chamou Paula para irem até Vitória, deixaram Hélio deitado do lado da irmã e Dante mandou Paula ficar perto da filha.

— Mãe, como isso aconteceu? — Vitória perguntou para a mãe.

— Ela me jogou no carro e eu desmaiei com o golpe baixo, depois deve ter jogado Hélio lá, nunca achei que ela teria tanta resistência e força para isso. — Paula mentiu, não podia deixar eles perceberem.

Vitória concordou e viu seu irmão sair com duas armas longas de perto do carro, estavam presas a seus ombros por um suspensório, não acreditava que tinha aquilo ali, colocou no pescoço balas de calibre alto e na bermuda duas pistolas e uma faca.

— Paula, carrega ele contigo, vou proteger a retaguarda. — Dante falou e apontou para o mato do outro lado do terreno à esquerda do galpão. — Será por lá que vamos, seguiremos até uma casa abandonada, eu me precavi. — Contou para a irmã.

— Seu irmão morreu? Você tem certeza que aquilo não vai nos procurar? — Paula perguntou para o enteado.

— Vai lá ver você mesma. — Dante disse para Paula, deixando a irmã confusa, mas Paula negou e chamou a filha para ajudá-la a carregar seu irmão.

— Já te vi fazendo muita coisa para não confiar que o mataria, principalmente por ele ter matado seu pai e sua mãe. — Paula falou para Dante. — Você é igual ou pior que seu pai quando está decidido a se vingar de alguém. — Comentou.

— Alguém tem que fazer o trabalho pesado. — Dante respondeu, mantendo o tom neutro. Vitória ia do lado da mãe, carregando Hélio, calada, o irmão sobre seu ombro, não estava a fim de falar sobre esse assunto.

— Não acredito que a vovó seria capaz de escolher quem da família ia morrer, como se estivesse limpando a família de pessoas fracas. — Vitória mudou de assunto.

— Sua avó foi capaz de esconder o marido de todos porque estava doente por duas décadas, isso é bem ela. — Paula disse para a filha. — A prova disso é que estamos nos escondendo de credores e com uma dívida astronômica que você e seu irmão têm para pagar. — Lembrou à filha.

— Não sei como vamos pagar isso, o que tenho guardado só serve para as despesas da gente e, ainda assim, acaba no fim do mês que vem, se apertar. — Contou, preocupada. Até o momento eram só credores os procurando, mas, quando ingressassem com ações de execução, a penhora ia acabar com o resto, e dar entrada no pedido de falência não vai resolver nada, nunca iam conseguir pagar as dívidas.

— Com o dinheiro dele, seu irmão guardava dinheiro, vocês sabem mexer com computador e podem roubá-lo. — Paula lembrou à filha, se Lucas estava morto, seria fácil.

— E o Yuri e a Luana? Esqueceu que o Lucas vive com alguém? Eles não vão perceber o dinheiro diminuindo? — Perguntou para a mãe.

— Trazemos eles para viver com a gente. Se pudermos trazer a Luana, Yuri também vai vir. — Paula afirmou, ter o neto junto era uma questão não só de serem bancados, mas também de honra.

— Minha filha não vai ser tratada como minha mãe foi. Ele a tratava como filha e vai continuar sendo, minha filha. — Dante enfatizou, não queria fazer isso, mas tinha que encenar (também) para manter Paula quieta.

— Meu Deus! Vocês são loucos! Disse nervosa com a ideia. Não vamos. Já imaginaram como seria difícil levar Luana e Yuri com Carlos e Alan no nosso encalço? Vitória perguntou. — Yuri ficará lá e depois que conseguirmos resolver as pendências financeiras, aí agiremos. — Falou para a mãe.

— Ele vai crescer e nos tratar como monstros, os culpados pela morte do pai dele. — Paula lembrou à filha, estranhando que ela estivesse na defensiva.

— Você e Dante eram os mais dispostos a matá-lo e agora que conseguiram estão com medo de terminar — Comentou e Hélio começou a acordar, fazendo o grupo parar.

— Meus sobrinhos não vão ficar lá. — Hélio disse para a mãe depois de se soltar. — Vou buscá-los assim que tiver uma oportunidade. — Disse para a família.

Vitória olhou preocupada para Dante, mas ele continuou calado, entregou uma das armas maiores para o irmão e a pistola para Vitória, deixando Paula com a faca, e voltou a seguir em frente pela estrada.

— Mais um pouco e entramos naquele canto, Hélio, vai protegendo a retaguarda agora. — Dante mandou e seu irmão concordou.

— Onde a Letícia ficou? — Hélio perguntou, só podia estar morta.

— Depois que você e sua mãe apagaram, ela se escondeu, acabou com o carro e agora vamos começar o plano B. — Disse para o irmão.

— Certo. — Hélio respondeu e olhou novamente para trás, tinha a impressão de que havia algo faltando.

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