Capítulo 04 - Foi uma armadilha
Samuel sentou numa cadeira de frente para a enfermaria do hospital e tirou o celular do bolso para checar com seu amigo como seus filhos estavam, Alan ainda estava confuso e o irmão dele, Sandro, aguardava para examiná-lo.
— Ricardo, como eles estão? — Perguntou ao seu amigo. A casa estava barulhenta, conseguia escutar a televisão ligada.
Ricardo se levantou e saiu de perto da sala, o rosto estava pintado de vermelho por causa de Alana, que quis brincar de palhaço, e o tinha feito pegar suas tintas guache, com a ajuda de Diego, agora, os dois estavam vendo brincadeiras de palhaço para testarem.
— Me transformando no It. — Avisou e riu lembrando do seu palhaço favorito, Pennywise não era a melhor referência para crianças. Vivas. — Nós encontramos as tintas guache e vamos brincar de palhaço, Diego é esperto, está assistindo umas brincadeiras para tentarmos. — Explicou ao colega.
Samuel sorriu imaginando a cena, pelo menos eles estavam se divertindo.
— Estou no hospital, um dos policiais levou uma surra e estou aguardando para conversarmos. Nosso plano foi descoberto e eles mataram o cara lá antes da gente chegar. — Contou para Ricardo.
— Tá certo, nós vamos brincar mais um pouco e começo a preparar o lanche deles. — Ricardo avisou ao policial, olhando a hora no celular, eram três horas da tarde.
— Se quiser, peça comida, mas não esqueça de lavar bem as mãos de vocês e o rosto. — Samuel avisou, se a tinta ficasse grudada à pele ia ser dolorido quando fossem tirar.
— Certo, papai, tá igual ao velho lá. — Ricardo reclamou e encerrou a chamada.
Samuel levantou quando viu o irmão de Alan sair da enfermaria, a única diferença entre Alan e Sandro era o tom bronzeado e os cabelos castanhos do médico, pois o policial era loiro e branco.
— Posso conversar com ele? - Perguntou ao médico.
— Pode entrar, ele quer falar contigo. - Sandro respondeu, parecendo irritado, e deu espaço para que entrasse.
O policial ficou aliviado de ver pessoas com enfermidades aparentemente leves, enquanto Alan estava ajeitando a camisa e tinha enfaixado a cabeça, aproximou-se dele e, em resposta, seu colega estendeu a mão para cumprimentá-lo.
— Parabéns, Samuel. — Alan falou ao reconhecê-lo, os quatro decidiram que entre os candidatos ele era o melhor por unanimidade.
— Obrigado Alan, hoje parece ser um dia atípico. — Disse para o policial e ele concordou, sentando-se na maca, enquanto Samuel sentou-se numa cadeira perto dela.
— Só quanto a levar uma surra. Eu levo esporro do Carlos sempre, meu padrinho é bem chato. — Alan brincou, no entanto, Samuel continuou calado e soltou o ar cansado.
— Você vai comigo há um lugar. — Alan avisou. — Eles foram para onde? — Lembrou, tinha que saber para conversarem.
— Diógenes e Torquato foram para a PEFOCE e depois iam ao apartamento daquele advogado que está escondido. — Samuel respondeu. — O corregedor Albuquerque foi com o secretário de segurança à unidade de segurança máxima. — Contou.
Alan mordeu o lábio, apreensivo. Eles estavam muito distantes, mas não podiam perder muito tempo.
— Faz quanto tempo que estamos aqui? - Perguntou ao policial.
— Duas horas, eu acho, mas desde que saímos faz quase três horas. – Respondeu, estranhando a pergunta. — Há algo que você está sabendo? — Perguntou curioso.
— Sim, Lucas foi encontrar o Dante, o assassino do Dias e de algumas pessoas. — Explicou e desceu da maca. — Samuel, você precisa ligar para eles e mandar nos encontrarem na casa da Madame no Vicente Pinzón, eu vou te explicar tudo no caminho. — Falou apressado enquanto procurava sua mochila.
— Seu irmão levou. — Samuel comentou, ele tinha pedido para guardar na sala para ninguém se assustar com a arma que Alan usava.
Alan resmungou e passou na sua frente, então, Samuel seguiu ele, se Alan estava sabendo como resolver o imbróglio, era melhor acompanhá-lo.
— Meu irmão é uma pulga mesmo, igual ao papai. Não querem que eu continue trabalhando na polícia, como se eu fosse ficar numa dessas salas ensinando como criar hábitos alimentares saudáveis ou nas universidades dando aula. — Comentou com Samuel, que continuou calado lhe acompanhando.
Entraram no elevador e Alan escorou no fim dele depois de apertar no último andar, não podia contar ao irmão o que havia acontecido, Sandro e Leandro tinham que continuar alheios ou o companheiro de Lucas voltava para Fortaleza, interrompendo todo o plano de continuar morando fora do país.
— Pode me explicar o que aconteceu lá? — Samuel perguntou, não gostava de ter amizade com colegas de trabalho, Ricardo era a exceção, pois estudaram juntos desde a escola.
— Foi uma armadilha, Dias já estava morto quando eu cheguei, só que eu vacilei, conversei com o Lucas e não percebi que tinha sido descoberto. Dante Yamamotto é irmão dele. Os dois conversaram e Dante mandou ir até onde moraram, Lucas com certeza vai lá e, se acontecer algo com ele, eu não vou me perdoar. — Explicou ao colega.
Assim que chegaram no décimo segundo andar do hospital, Alan se deparou não só com seu irmão mais velho, mas também com um senhor observando sentado e outra pessoa, o que o fez bufar, impaciente e ir na direção deles.
— Esse é o pai de verdade do Lucas e aquele é o irmão dele. — Disse para Samuel quando saíram do elevador e Sandro ficou na frente da porta para que não passasse.
— Pode parar, Carlos está a caminho para ir com vocês. — Sandro avisou ao irmão.
— Eu não vou ficar aqui enquanto ele está na tal casa. — Alan disse para o irmão, mas Sandro continuou impedindo.
O senhor se levantou vendo os dois irmãos discutindo, Samuel continuou observando calado, Alan tinha razão, não tinham muito tempo, mas tudo parecia confuso.
— Ele não foi despreparado. — O senhor disse para o policial, era tão alto quanto Alan, cabeça raspada, os olhos caídos e tanto as sobrancelhas quanto o cavanhaque eram brancos, estava se apoiando numa bengala.
— Diferente de vocês. — Apontou, percebendo que nenhum estava realmente armado.
— Sim, ele tem uma arma, mas não vai dar conta do Dante, não deu na última vez. — Alan disse para o senhor Yamamotto, lembrava do último encontro.
— Diógenes e Torquato foram direto para lá, pela hora, devem estar no local vendo o que deixaram. Dante, Hélio e Vitória não estão querendo fazer nada ali. — Yamamotto explicou ao policial.
Samuel se aproximou deles para entender melhor a conversa, talvez ele fosse explicar qual era o motivo do filho deste senhor ter se metido nessa operação e atrapalhado tudo.
— O senhor pode contar o que sabe? — Pediu ao senhor.
Yamamotto virou para ver quem lhe perguntou, riu baixo e saiu de perto indo em direção à mesa onde Sandro costumava trabalhar, o médico estranhou aquilo e acompanhou o idoso até lá.
Depois de sentar, Yamamotto saiu do login do médico chefe que, surpreso, tentou pôr a mão no mouse, mas foi impedido, e o idoso começou a se logar com o cadastro do proprietário.
— Daniel e eu éramos amigos, tudo que eu soube passei para ele, e Leandro confia em mim para que eu possa acessar. — Comentou com Sandro.
— Deveria ter me dito. A tudo que Leandro tem acesso, eu também tenho. — Sandro respondeu, contrariado, ele era pior que o filho.
— Não tem rapaz, sente-se também. — Yamamotto mandou e, devagar, começou a procurar pelas pastas.
Sandro continuou parado atrás dele e Yamamotto resmungou incomodado, mas continuou até achar a pasta com os arquivos que queria.
— Leandro e Lucas nunca iam deixar algo tão importante guardado onde todos pudessem acessar, mesmo sendo você. — Comentou com Sandro e ele revirou os olhos.
Alan se aproximou do colega notando ele perdido, Samuel não sabia que falar com Yamamotto dava essa sensação.
— Olha, quanto menos falarmos melhor, até o Carlos prefere porque, se perder alguma coisa, adeus, o Lucas também é assim. — Explicou ao colega.
— Só quero entender isso e irmos. — Samuel reclamou, impaciente.
A porta do elevador foi aberta e o restante da equipe chegou, Yamamotto levantou o rosto e acenou para que Carlos fosse até lá.
Torquato e Diógenes se sentaram do lado dele e cumprimentaram o colega machucado, Victor, continuava calado, batia o pé impaciente, porém não apressava ninguém.
— Relaxa ogro, a gente vai ter que esperar. — Alan avisou, mas o dito cujo não respondeu.
Carlos e Yamamotto conversaram baixo e a impressora começou a imprimir, o corregedor pegou as folhas quando a conversa acabou e foi até os colegas entregá-las.
— Se acalme, eles não vão fazer nada ainda. — Carlos disse para Victor quando lhes entregou a impressão e o rapaz assentiu.
— Lucas se encontrou com Hélio na casa da família há uma hora e meia, conversaram e entraram num carro, aparentemente não houve nenhum tipo de agressão, mas Lucas não cumpriu com parte do acordo, Luana não foi com eles. — Carlos explicou aos colegas.
— Quem é ela? — Samuel perguntou ao chefe. — Por que ele foi até o tal Dante? — Indagou.
— Ela é filha do Dante. Luana é criada como filha do Lucas a pedido dos avós maternos. — Alan respondeu.
— Exato, Dante acredita que o irmão deixava a mãe dele, Natália, empregada da família Yamamotto, ser agredida e ser forçada a ter relações sexuais com Yuri Yamamotto Filho, ele é o pai adotivo do Lucas e filho de Áurea, conhecida como "a Madame". — Carlos respondeu por cima.
— Ainda está muito confuso. — Samuel disse para o chefe.
— O que devemos realmente fazer? Prender Dante e resgatar esse Lucas ou investigar a morte do Dias que é ligada aos dois? — Perguntou ao chefe.
— Os três, Dias era nossa missão inicial, mas ele morreu e deduzimos que Dante o usou para chegar ao irmão. — Carlos respondeu.
— Eles estão a caminho da casa da família na praia de Tremembé, litoral oeste do estado e fronteira com o Rio Grande do Norte, nossa parte da missão é resgatar Lucas e levar Dante à delegacia de Icapuí, perto de onde essa praia está situada, para prendê-lo com apoio da polícia civil e militar dos arredores para evitar uma possível fuga. — Contou o plano.
— Samuel, essa história é longa, após realizarmos a operação teremos que fazer relatórios e o arquivo está bem organizado na nossa sala na unidade de homicídios — Torquato disse para o rapaz.
— Se preferir, pode ficar lá e dar início no relatório da primeira parte da operação com Alan, ele não vai participar dessa parte. — Carlos falou para o agente.
Alan se levantou irritado, mas a dor de cabeça lhe fez se sentar novamente, ficaria no serviço burocrático.
— Alan, não insista. — Sandro disse para o irmão, pois apesar de aparentar ter sido algo leve, Alan precisava descansar.
— Posso fazer nada. — Alan reclamou.
— Você pode sim. Explicar por que ligou para o Lucas? — Diógenes perguntou ao agente, estava aí o motivo de aquilo acontecer daquela forma.
Alan abaixou a cabeça tentando manter a calma, sentia o peso de seu erro, os olhares sobre si esperando a resposta.
— Estava estranhando Dias parado há muito tempo na cadeira, depois que conversei com o senhor, liguei para ele e contei o que estava acontecendo para confirmar se realmente era Dias nas fotos, mas enquanto conversávamos perdi a concentração e foi quando a cadeira foi virada e vi Dias morto e, de repente, Dante estava atrás de mim com uns capangas, ele pegou meu celular e os outros me bateram até eu ficar inconsciente. — Contou para os colegas.
— Se meu irmão não fosse tão idiota, eu te daria um murro por ser tão burro quanto ele. — Victor disse para o agente e Alan resmungou chateado com o insulto.
— Típico do Lucas. — Sandro concordou. — Deviam ter mandado ele ir com Leandro e as crianças. — Disse para o padrinho.
Carlos continuou calado escutando as lamúrias do afilhado e se afastou indo em direção aos colegas.
— Vamos, a viagem é longa e precisamos chegar antes de Hélio, Dante e Lucas. — Falou para os seus amigos, mas parou quando escutou Sandro começar a rir.
O médico sentou-se à sua mesa, estava com raiva de ver tudo aquilo acontecendo novamente e com medo do que podia dar errado nesse plano.
— Parece até que sabiam que isso ia acontecer, que estão de conluio e não mediram os riscos, como naquela vez em que todos nós fomos dopados. — Sandro continuou acusando e apontou para o tio.
— Você se lembra muito bem do que aconteceu. — Acusou o padrinho.
Alan tentou chamar a atenção do irmão para que parasse, mas ele continuou lá, aguardando o seu padrinho falar.
— Você e Lucas passaram anos sem se falar justamente porque você nunca entendeu nossas atitudes. Não Sandro, eu não planejei isso, minha ideia era manter Lucas no apartamento para que mantivéssemos Leandro e as crianças em segurança também, apesar de terem algum poder aquisitivo, Dante está com mandado de prisão aberto e não irá procurá-lo fora da cidade, e Hélio e Vitória, endividados até a cabeça depois da fuga da avó, além de covardes demais para caçá-lo. — O corregedor respondeu.
— Meu filho sempre soube que isso podia acontecer, nós também sabíamos dos riscos e estamos assumindo-os novamente. — Yamamotto disse para o médico.
— Falou a pessoa que podia terminar tudo isso há anos e não fez. — Sandro disse, sarcástico. — Nunca assumiu risco nenhum, é um covarde, Lucas está até hoje carregando o peso dos seus erros do passado. — Falou para o senhor sem se importar se ele ia continuar calmo ou não.
— Vamos parar por aqui. — Carlos mandou. — Sandro, lembre-se que todo vidro pode ficar sujo e o seu não é diferente, todos nós já erramos e você não foi diferente, mas concordo contigo, Lucas não deveria ter entrado nisso desde o começo e errei em dissuadi-lo de ir com Leandro e os filhos. — Admitiu o corregedor.
— Samuel, vá para a delegacia e Alan, descanse, amanhã de manhã compareça na delegacia para ajudar Samuel no que falta. — Diógenes disse para o policial e entrou no elevador seguindo Carlos e Torquato.
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