Capítulo Vinte e Sete
Marshall Aldrin:
Estacionei o carro com um suspiro aliviado, e enquanto me encaminhava em direção aos outros, Kraes Dramar apareceu em meu caminho, solicitando uma conversa em particular. Olhei de relance para o senhor vampiro, que parecia perplexo e alheio à situação.
— Claro, vamos lá — concordei, e nos afastamos alguns metros, deixando o senhor vampiro para trás. Kraes lançou uma pequena noz no chão e a esmagou sob o pé, fazendo com que um brilho mágico surgisse e nos envolvesse em uma bolha de privacidade.
— Isso nos impedirá de sermos ouvidos pelos vampiros — explicou Kraes, cruzando os braços. — Vim até você porque preciso que faça algo por mim.
— E o que seria? — perguntei, curioso.
Kraes suspirou antes de continuar.
— Tenho que comparecer a uma reunião com o Rei das Fadas, Milo. Será uma festa para que ele possa discutir com os generais das fadas e com todos os guerreiros feéricos. Como sou um caçador e já tenho uma prole, ele deseja que eu seja representado. Tanto eu quanto o líder da Caçada Selvagem apoiamos essa ideia.
— Então você quer que eu vá como seu representante por ser seu filho — deduzi, e vi Utily, que nos seguira, olhar de Kraes para mim com interesse. — No entanto, acho que não seria bem-vindo.
Kraes negou com a cabeça, esboçando um sorriso confiante.
— Pelo contrário, meu filho. O Rei das Fadas, Milo, tem sangue humano. A festa será uma celebração da união entre feéricos e seus parceiros humanos, uma tentativa de agradar o rei e o lorde. Portanto, você não só seria bem-vindo, como também seria uma honra representar não apenas a mim, mas toda a Caçada Selvagem.
Mesmo que sua última frase soasse como uma pergunta, estava claro que era mais uma ordem do que uma escolha.
— Quando isso vai acontecer? — perguntei, cruzando os braços.
— Hoje, ao anoitecer no mundo humano — respondeu Kraes, e engoli em seco. — Pensei que voltaria rapidamente para a cidade e não vi necessidade de procurá-lo, e seu sogro não me deu pistas sobre o seu paradeiro.
Kraes deu de ombros, como se isso não fosse algo muito importante.
A bolha mágica desapareceu, e Kraes caminhou na direção oposta à casa, assobiando. Em questão de segundos, seu cavalo surgiu ao seu lado. Atrás dele, um cavalo feérico de cor roxa se aproximou de mim.
— Melhor chamar seu namorado vampiro, partirá conosco imediatamente — disse Kraes, estalando a língua. Daniel apareceu ao meu lado em um piscar de olhos.
— Para onde vamos? — Daniel perguntou, enquanto eu montava no cavalo e estendia a mão para ele.
— Iremos a uma festa das fadas, como representantes de Kraes Dramar — expliquei, enquanto Daniel se juntava a mim no cavalo, suas mãos se apertando com delicadeza em minha cintura.
Os cavalos levantaram voo e dispararam pelo céu, afastando-se da mansão dos vampiros. Os cascos tocavam o ar, deixando um rastro de partículas de magia no rastro deles.
— É assim que se viaja para o Reino das Fadas? — Daniel perguntou, gritando para ser ouvido enquanto o vento mudava, e a paisagem se transformava em um vasto oceano. Olhei para as ondas abaixo de nós.
— Sim, é a maneira correta, mas há outras formas de entrar no reino feérico — respondeu Kraes. — Algumas delas são perigosas para aqueles que não são hábeis em caçadas.
Confesso que os cavalos feéricos eram incrivelmente rápidos, e havia uma emoção indescritível em segurar a crina de um deles e cavalgar pelo céu. Não é que eu não gostasse de um pouco de perigo, mas a experiência era verdadeiramente eletrizante, ao contrário do que eu estava acostumado. Olhei para Kraes, que parecia indiferente a tudo o que acontecia ao nosso redor, como se essa fosse uma viagem rotineira que ele fizera por séculos.
Eu agarrei as rédeas do cavalo com firmeza e senti uma liberdade que não experimentava há muito tempo. As mãos de Daniel se agarraram mais firmemente à minha cintura quando o cavalo acelerou ainda mais.
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A casa da família feérica erguia-se majestosamente, uma imponente mansão de um tom claro que estava quase totalmente oculta por densas trepadeiras de um laranja vívido. Kraes desmontou do cavalo e dirigiu-se à porta da frente, onde foi recebido por um mordomo peculiar, com garras afiadas e uma boca cheia de dentes igualmente afiados.
O mordomo fez uma reverência respeitosa para Kraes, que o ignorou, passando direto pela entrada, mas não antes de me avaliar de cima a baixo.
— Ah, você deve ser a prole do jovem mestre! — o mordomo disse, estalando a língua, e fiz um esforço para não mostrar minha irritação. — A madame e as demais estão na sala de estar à sua espera!
Ele virou-se nos calcanhares, e eu o segui, com Daniel segurando minha mão firmemente. A sala de estar era suntuosa, com dois sofás luxuosos, onde uma mulher de beleza estonteante estava sentada, acompanhada por outras duas damas que conversavam animadamente. Elas cumprimentaram Kraes com cortesia, mas me ignoraram completamente.
— Parece que você nos fez uma visita, meu querido filho — a madame disse, sorrindo de forma encantadora. — E este jovem é o seu filho? Ele não parece estar à altura da beleza de nossa família.
Kraes a ignorou, focando sua atenção em mim.
— O cavalo que os trouxe aqui será o mesmo que os levará ao palácio do Rei das Fadas — disse Kraes, dirigindo-se à sua mãe. — Eles deverão usar algo que represente a honra da Caçada Selvagem.
Todos na sala concordaram com a cabeça e saíram, nos deixando sozinhos. Finalmente, fui conduzido ao quarto que me fora designado. No banheiro adjacente, as empregadas já haviam preparado água quente.
Após minha higiene, fui levado até a cômoda. Enquanto penteava meu cabelo, organizei meus pensamentos sobre como deveria me comportar em um baile feérico. Decidi adotar uma postura tranquila e inabalável, digna de um verdadeiro feérico.
Quando saí do quarto, encontrei Daniel à minha espera no corredor, vestido com um elegante terno preto, enquanto o meu traje seguia o mesmo estilo, mas com uma gravata vermelha.
Assim que me viu, seus olhos se arregalaram de admiração.
— Você está mais deslumbrante do que o normal — ele murmurou, piscando os olhos. — Você é incrivelmente belo, meu amor.
Ele beijou minha bochecha, fazendo-me corar levemente. Deixamos a casa para trás e montamos no cavalo, que partiu a galope, deixando a mansão feérica para trás o mais rápido que podia.
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A grandiosa festa se desenrolava no Salão Principal do castelo, localizado no primeiro andar do majestoso edifício central.
Enquanto caminhávamos em direção ao local, nos deparamos com uma multidão de pessoas. Cada saudação e cumprimento atrasava nossa chegada, já que estávamos prestigiando a Caçada Selvagem, uma honra que não ocorria há muito tempo.
À entrada do salão, um homem meticulosamente verificava a lista de convidados. Quando ele anunciou nossa chegada, todas as atenções se voltaram para mim, uma enxurrada de olhares curiosos e intrigados.
Em questão de segundos, fomos cercados por uma multidão ávida para conhecer mais sobre a prole de Kraes Dramar. Um jovem se destacou na multidão, atravessando-a com uma confiança singular. As pessoas se afastaram para dar espaço, fazendo reverências respeitosas.
— É uma honra inestimável ter a Caçada Selvagem conosco — o jovem proferiu com um sorriso caloroso. — Sou Milo Almeida Fairlane.
Meu queixo quase caiu de surpresa; o rei das fadas aparentava ser incrivelmente jovem, até mais do que eu. Em seguida, um homem se aproximou, envolvendo Milo de forma possessiva pela cintura.
— Este é o Lorde das Fadas, e também meu marido — Milo anunciou, sorrindo.
Fizemos uma reverência ao rei e seu lorde em sinal de respeito.
— Sou Marshall Aldrin, e este é meu companheiro, Daniel Vamps — apresentei, e Daniel seguiu meu exemplo.
Milo agradeceu com um sorriso gentil, mas seus olhos estavam alerta, observando-me e outros ao nosso redor com uma atenção perspicaz.
Era evidente que o rei das fadas era não apenas um líder astuto, mas também extremamente poderoso. Ele mantinha o respeito de todos, ao mesmo tempo em que inspirava certo temor. Não era apenas o rei das fadas diante de mim, mas também o bruxo supremo dos clãs de bruxas daquelas terras.
A festa recomeçou, e Daniel e eu nos divertimos ao lado de Milo, que assegurou que eu poderia saborear as iguarias sem preocupações com feitiços ou artimanhas.
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Milo e Brand se movimentavam constantemente pelo salão, envolvendo-se em conversas com os diversos grupos de convidados.
— Vossa Senhoria — Daniel sussurrou, em um tom zombeteiro, reproduzindo as saudações das pessoas à família real para mim. — Que coisa brega.
— Concordo plenamente! — Uma voz familiar soou atrás de mim, dispensando a necessidade de identificá-la. Virei-me e tracei o perfil do rosto em minha mente antes de encarar a pessoa se aproximando de nós.
Maxuel sorriu para mim e avaliou Daniel com curiosidade.
— É um prazer conhecê-lo. Sou Maxuel Striggs — ele disse, fazendo uma elegante reverência. — Tenho certeza de que Marshall já falou sobre mim.
— O que você está fazendo aqui? — indaguei, suspeitoso. — Resolveu seus assuntos pendentes?
— Estava ponderando se viria ou não e acabei atrasando um pouco. Milo não se importaria com isso, mas tenho feito muitas ações para ajudar as pessoas. Precisava de um momento para mim mesmo — Maxuel explicou, seu olhar vagando para uma direção específica. — Maeru, finalmente decidiu comparecer a uma festa no palácio.
Virei-me para observar um homem alto e musculoso, com cabelos longos e lisos. Duas séries de asas angelicais se destacavam em suas costas, com o primeiro par sendo notavelmente maior que o segundo. Ele usava um robe com vários botões, calças listradas e sandálias.
Maxuel nos conduziu na direção de Maeru.
— Minha madrinha me enviou uma mensagem dizendo que encontraram Hampher — Maxuel disse e depois olhou na minha direção. — Imagino que ela tenha compartilhado um pouco sobre meu pior inimigo. Agradeço por isso.
Não respondi, apenas observei que Maxuel estava prestes a compartilhar detalhes sombrios de seu passado.
— Seu nome é Logan. Antes de me transformar em vampiro, éramos parte da mesma família, éramos irmãos, ou melhor, meio-irmãos — Maxuel disse com um tom grave. — Foi ele quem me transformou em vampiro, quem tirou a vida de meu pai e de minha madrasta. Meu irmão mais novo sobreviveu apenas graças à minha madrinha.
Aquelas revelações ultrapassavam as fronteiras do que eu havia imaginado sobre o passado de Maxuel.
— Ele voltou à ativa e agora só resta acabar com ele em busca de vingança por tudo que tirou de mim — Maxuel proferiu com firmeza. — Dessa vez, vou encerrar sua existência de uma vez por todas, mesmo que isso signifique o fim da minha própria vida.
Não respondi, consciente de que não havia palavras que pudessem deter Maxuel em sua busca por vingança contra a pessoa que havia destruído sua vida.
A questão que pairava em minha mente era até onde ele estaria disposto a ir para conseguir isso.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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