capítulo cinco
❛ se contente ❜
ponto de vista, iris golding

As últimas horas aconteceram de forma abrupta. Tenho a impressão de que vivi tudo em um segundo plano porque não tenho muito tempo pra pensar. Uma viagem de avião demorada que me rendeu alguns rascunhos de moda e duas playlists zeradas.

Anotação mental: Há músicas que me lembram Jude. E aquela noite. Maldita noite.

Na verdade escutei mais Sydney do que escutei meus fones de ouvido. Ela gosta de manter o ambiente ativo, aberto. Gosta de assuntos e gosta de falar, no geral. E eu não reclamo, sei que é o seu jeito e não odeio isso. Acho que sou melhor ouvindo e dizendo alguns comentários sobre tudo que diz.

Além de ter um time barulhento comigo no voo.

Mas entre os voos, os aeroportos e o hotel, tudo passa rápido. Sei que não vejo Jude por muito tempo, mas que todas as vezes que tenho a chance, seus olhos já estão em mim. Nem sempre com desejo, como da última vez, mas curiosidade também.

Acho que é o efeito de descobrir dentro de duas semanas que estamos vivendo paralelamente.

— Iris, você é modelo, não é? — Sydney me pergunta enquanto organiza suas roupas em um largo armário.

Ficamos juntas nesse hotel e esse é o tempo que temos entre organizar tudo e sair para o tal clube que um dos jogadores vai bancar tudo. Além de nos duas, uma outra garota do staff que não lembro o nome está conosco, mas não apareceu até agora.

— Nas horas vagas, é. Acho que faço mais porque me chamam, e gosto das roupas. Como descobriu?

— Eu ia dizer que é porque você tem cara e corpo de modelo, mas também porque seu e-mail está na sua biografia.

— Está me stalkeando?

Pergunto porque sei que Sydney não me segue, já que preciso permitir que veja minha conta. Gosto de manter minha vida privada. O mínimo que devo pensar é que esteve fuçando minhas redes sociais.

— Vini que me mostrou, eu tive dificuldade em encontrar.

Meu corpo entra em alerta. Por que caralhos Vinicius Júnior teria o meu Instagram? Ele nem mesmo me segue.

— Precisa explicar as coisas direito.

— Eu não sei! Estávamos conversando sobre você-

— Sobre mim? — Interrompo.

— É! Deixa eu completar. Conversando sobre você porque alguns caras estavam falando sobre você e aí ele me mostrou seu Instagram e eu pedi pra te seguir. Me aceita, por favor!

Sei que falo muito sobre os trejeitos da Sydney, mas chega a ser engraçado em alguns momentos. Não tive muito tempo de raciocinar o fato de que os jogadores estavam comentando sobre mim, o que não me surpreende muito, mas que por algum motivo eles tinham meu Instagram mas nenhum deles seguia.

— Claro. — É tudo que digo, com um sorriso.

Faço automaticamente. Só olho o meu celular e aceito.

— Você parece pensativa, mas não diz muito o que pensa. Quer me dizer?

— Curioso o fato de um grupo particular de jogadores estar falando sobre mim.

— São homens, querida! E tenho quase certeza que há alguém interessado, só não consegui entender ainda quem. Quer dizer, todos estão, mas há uma ética dos "irmãos" onde um quer, todos se afastam.

— Quando teve tempo de saber isso tudo? — Agora sou eu quem acabo de arrumar as minhas coisas, que particularmente, estavam mais fáceis de serem organizadas do que as da loira.

Começo a ajudá-la.

— Quando você estava no seu próprio mundinho. Os desenhos e as músicas. Entendi que era seu momento.

Mais uma anotação mental: Muito respeitoso da parte dela. Sydney pode ser uma pessoa bastante extrovertida, mas não é intrusiva. Ela sabe quando pode e quando não pode ser. Ela é respeitosa com os espaço dos outros.

— Okay, agora vamos comentar o fato de que você tem uma bandeira dos Estados Unidos na sua biografia. Eu não fazia ideia! Já te contei que sou da Austrália?

E não para por aqui.

Quando descobri que iríamos viajar para os Estados Unidos, país onde meu pai nasceu, fiz questão de pensar na coisa que mais me importava no momento: O que eu vestiria?

Fico logo feliz de falar sobre esse assunto porque, enquanto eu pensava sobre isso, Sydney me mandou mensagem para saber o que eu vestiria também. Ela diz que tenho bom senso de moda, agradeço por ser coerente.

Então quando nos duas estamos vestindo coisas diferentes, mas complementares, para um clube, sei que compreendemos uma a outra.

Gosto de ser única e me destacar, ela gosta de se enturmar até mesmo nas roupas.

Meu vestido é curto e colado no meu corpo, com um decote em renda não tão conveniente. Mas o que posso fazer se ele é tão lindo? Não usá-lo? Óbvio que não! Pode ser um pouco desconfortável se eu exigir demais do meu corpo, o que nunca acontece. Meu salto é branco da mesma forma que a roupa, mas não me deixam tão alta. Com adicional do cabelo liso, que é quase um acessório para mim.

Sydney está usando uma saia metalizada um pouco transparente, por isso usa uma hot pant preto que combina com seu cropped de manga longa e suas botas longas.

Por mais que eu saiba o quão bonita estou, tem algo sobre o olhar de Jude que reafirma isso constantemente. É incomum saber tanto o que ele pensa, mas lá está ele, dizendo tudo sem falar de verdade. Isso porque estamos divididos em dois carros para ir a boate, e justamente o que Sydney escolheu, Jude estava.

Inquieto, até. Sentado ao lado da loira, que estava sentada no meio de nos no fundo do carro.

— Eu só achei estranho que ele deixou virmos para essa boate. — Camavinga comenta com Vini, que dirige.

— Tô achando que a nova aquisição do time amoleceu o coração do velho. — Pelo seu tom de voz palhaço, até mesmo pirracento, sabemos que está falando sobre Jude.

— Pode me agradecer mais tarde. — Jude diz pouco, mas faz o jogador angolano-francês rir.

Ele está sempre rindo. Sempre feliz.

— Deixa que eu agradeço logo pela folga. O que me faz lembrar que não vou pagar nada hoje. — A loira faz todos no carro gritarem de felicidade, menos Vini que pagaria, e eu porque não tinha intimidade suficiente.

Não demora muito para que o jogador brasileiro estacione seu carro e conseguimos passar sem muito sufoco. Os flashes me fazem pensar que haverão idiotas comentando nossa presença por toda internet.

Dentro do clube, em uma área mais reservada, temos uma mesa particular e é ali que Tchouameni e Rodrygo se reúnem a nós. São eles dois, mais Vini, que começam a beber cerveja e até mesmo viram shots.

Jude chama atenção do garçom, que na verdade, estava de prontidão para atender os jogadores mais cobiçados que ele já viu.

— O que vão querer?

— Um mojito, por favor! — Sydney está retocando seu batom quando fala.

— Eu quero... — Estou pensando, mas acho até mesmo burrice me questionar o que quero. Sempre peço a mesma coisa.

— Um sex on the beach? — Jude é quem diz.

O analiso da forma mais natural possível. Meus olhos demonstram o quão curiosa estou para descobrir porque suas investidas são tão interessantes, inteligentes mas ao mesmo tempo tão erradas. Jude lembrou do pedido que ele mesmo fez, quando nos conhecemos. E ele me fez questão de relembrar com aquele maldito sorriso contido.

— Isso.

Felizmente todos estão presos em seus próprios mundinhos e não ligam muito para essa interação.

— Um mojito, um sex on the beach e uma água, por favor.

— Não está bebendo. — Sou curiosa ao afirmar. Me lembro que ele não bebeu quando nos conhecemos.

— Não costumo beber perto de jogos.

— Disciplinado. — É o meu comentário que faz ele rir, mas não emite sons. Tenho a impressão de que estamos fazendo um joguinho interessante para que ninguém descubra.

— Seria irresponsabilidade minha. Você como publicitárias deve saber. E se descobrem que eu estava bebendo com meus colegas de time antes mesmo de começar a jogar?

— Como publicitária do Real Madrid, não faça isso.

— Disse a garota que acabou de pedir um drink.

— Eu posso. Já você... — Cruzo minhas pernas. O vestido sobe um pouco, tenho que concerta-lo. — Vai ter que se contentar com sua água.

Seus olhos já não estão nos meus, ou no meu rosto, pelo menos. Sinto que o garoto entra em pane geral depois de analisar o que faço. Quando meus olhos voltam para os seus, estava tentando parar de olhar para o meu vestido.

Minha frase acabou caindo no momento certo.

— Eu poderia me contentar com mais do que uma água. — Sua pane no sistema foi controlada ao ponto de saber exatamente o que dizer para mim.

Queria colocar a culpa na bebida, mas não posso. Não há uma gota de álcool no meu corpo para que use como justificativa para meu coração levemente acelerado e a vontade louca de beija-lo.

Mas obviamente há algo dentro de mim que me para.

— Se contente com a água.

Mas também tenho uma vontade repentina de testá-lo. Sei que Jude me deseja, e suas investidas não são poucas, mas mantém seu limite. O que eu quero é ver ele perdendo seu limite e rastejar pela minha atenção.

Então o que faço automaticamente quando nossas bebidas chegam é tomar um gole generoso, chamar atenção de Sydney e apontar para a pista de dança.

— Vamos dançar.

É a palavra chave para que a loira se anime, Jude fique em alerta para observar tudo e ao mesmo tempo colocar meu joguinho em prática.