capítulo quatro
❛ esquecível ❜
ponto de vista, iris golding

Eu sou uma pessoa muito paciente quando as coisas estão indo ao meu favor. Aceito e agradeço ao universo pela dádiva, e é claro, enalteço toda a minha calma. E quando as coisas vão contra o meu desejo, consigo contornar a situação para que eu fique bem.

Mas ajudar a editar o vídeo do Jude Bellingham que eu mesma gravei porque a editora estava doente não parecia ter saída. Sentada em uma cadeira confortável de couro, com o ar ligado em uma sala que tem uma janela direta para o campo de futebol, me encontro com o vídeo pausado no momento certo.

Ou errado.

Quando eu escolhi a dedo o homem que eu queria sair naquela noite, eu sabia que tinha feito uma ótima escolha porque sempre acabava um pouco distraída com sua beleza. Mas eu não fazia ideia que um mês depois estaria encarando-o e precisando repetir mil vezes na tela de um celular por ordem direta.

— Precisamos conversar. — Na mesma rapidez que Sydney entra, ela fecha a porta e as cortinas.

Fico um pouco surpresa e até mesmo preocupada com a forma como entra. Deixo o celular em cima da mesa e a encaro, cruzando os braços.

— Rapaz, se um dia um bandido te assaltar, quem sai traumatizado é ele. — Ela senta na mesa em minha frente. — Você tem uma carinha de quem vai acabar com a vida de qualquer um.

— Só estou curiosa.

— O que foi aquilo ontem?

Era é direta e eu não sou idiota. Óbvio que eu sei que estamos falando do fato de que Jude Bellingham estava me encarando como se eu fosse uma bolsa de luxo que acabou de passar na passarela por mim. Desejo é a palavra. Mas eu nunca demonstraria que me importava com esse fato.

Não devo. Não me importo.

— O que aconteceu ontem? — Pergunto a loira como se não soubesse.

— A encarada histórica que você levou de um jogador de futebol e nem se quer deu bola.

Reviro meus olhos, me perguntando o que eu fiz pra merecer tamanha perseguição.

— Ele é jogador, vai dar em cima de qualquer mulher. Típico.

— Não o Jude. O cara é todo focado no esporte, sinceramente a gente nem percebe que ele tá por aqui além dos próprios parceiros de time. Mas pra você ele fez questão de usar o tempo todinho e mal olhar na câmera.

— Sydney, não foi nada demais.

— Por que você não deu bola? Não é seu tipo? — Está tão interessada que seus olhos estão semi-cerrados.

Luto uma vontade interna de contá-la sobre o que aconteceu. Mas não consigo confiar. Penso que a minha história estará no próximo site de notícia. Por isso, me contento com suas dúvidas.

— Isso aí. Não é meu tipo. Jogadores não são meu tipo. — Minto.

— Você tá trabalhando no Real Madrid. — Ela diz como se fosse óbvio.

"Jogadores" deveriam ser meu tipo, acho que é isso que quis dizer.

— Eu nem queria estar aqui. — Dou risada, ela faz a mesma coisa. — Agora tenho que editar o vídeo do nome que você tanto citou.

— Destino!

Estou de saco cheio dessa palavra. Minha irmã reafirma isso a cada minuto que nos encontramos. A minha vida amorosa é o reality da minha irmã, já que seu relacionamento não está indo muito bem.

E o destino não está fazendo merda nenhuma.

— Eu achei que ia ter uma boa notícia pra te contar, mas agora vejo que nem tanto... — Ela começa, olhando suas unhas para não ter que me encarar. — Temos um vídeo pra gravar e...

— E...?

— É lá no campo.

Reviro os olhos ardentemente. Tenho quase uma certeza na minha vida: Jude Bellingham está sendo meu pior castigo nos últimos tempo, e me corrói saber que é um homem a razão.

— Posso terminar de editar o vídeo?

— Encare essa carinha pelo celular o quanto quiser, vai ter que encarar na vida real também. — Ela sai da minha mesa, mandando um beijo. — Aliás, trouxe uma balinha de menta pra você. Um beijo.

Sydney fecha a porta da salinha e observo a bala que ela deixou. Um mínimo sorriso aparece no meu rosto porque foi muita gentileza da sua parte, mas ele logo cai quando olho o celular na minha mesa.

Havia alguma coisa naquele jogador que eu não entendia como me atraía tanto. Há dois dias estava com meu pai após uma aula da faculdade, tomando um capuccino e o escutando falar sobre o Real Madrid. Elogiou o jogador inglês muitas vezes, o que me deixou irritada, mas me fez pensar que preciso saber mais do clube.

Conheço muitas caras agora, muitas pessoas. Homens de todos os tipos e sinceramente, não é um time tão ruim. Mas me deixou ainda mais irritada o fato de que eu só consigo compará-los a toda atração que sinto pelo camisa 5.

E olhando sua imagem agora, quase imaginando um vídeo do TikTok com música sensual, me odeio ainda mais por nota-lo. Ele se destacava para mim. Toda vez que o vejo, onde esteja, lá está sua imagem na minha cabeça. A imagem que tenho da Grécia.

Acabei o vídeo em poucos minutos e quase jogo o celular pela minha felicidade. Felicidade essa que acaba porque logo estou no campo de futebol assistindo o treino. Nos aproximamos mais porque Sydney queria pegar os melhores ângulos, mas é a tal aproximação que fez Jude Bellingham notar a minha presença.

Ele me olhou, eu não consegui evitar de olha-lo. Ele sorriu pra mim, e o eu ri pelas suas atitudes.

Estou tão imersa nesse joguinho que não percebo quando Sydney está conversando com alguns jogadores. Vini Jr e Camavinga, dois dos quais lembro os rostos. Quebro aquela tensão para dar mais atenção a loira e seu vídeo.

— Estava pensando em fazer um joguinho com eles. O que acha, Iris?

— A gente tá aqui, é uma oportunidade.

— Tenho pena da novata, teve que ficar no mesmo setor que a Sydney. — O jogador brasileiro comenta e isso me faz rir honestamente.

— Não vai ter um dia de paz aqui dentro. — Agora é a vez do angolano-francês, e estou me divertindo no momento.

— Se toquem! Vocês me amam. Aliás, deixa eu apresentar logo. A novata se chama Iris. — Aponta para mim. — E os insuportáveis são Vini e Eduardo.

— É bom te conhecer, Iris. — Ambos dizem, ate parecem crianças.

Como se estivesse nos sondando, Jude se aproximou dos amigos e passou o braço pelo pescoço de ambos. Camavinga abraçou o inglês de lado e o brasileiro segurou a mão do seu parceiro de time. O garoto, que agora estava no centro, me olhou sorrindo.

— Eu já conheci a novata. Iris, não é? — Bellingham joga o joguinho que eu pedi que jogasse. Aquilo não aconteceu. Foram essas minhas palavras.

Safado, cachorro, sem vergonha. É o que penso.

— Uhum. Peço perdão, esqueci seu nome. Você é...? — Devolvo na mesma moeda. Ele sorri, mas sei que é porque está interessado.

— Jude Bellingham. — Solta os amigos para me cumprimentar com uma mão.

Aceito para não ser mal educada, mas não dou corda para essa sua investida. Sei que ainda está se divertindo com o momento mas me viro para Sydney, que parece interessada com aquilo.

— Temos um vídeo pra gravar com Vini e Eduardo, não é?

— Eduardo? São íntimos agora? — Jude da risada junto com os amigos, até mesmo Sydney ri.

— Somos amigos, cara. Deixa a Iris em paz. Ela me chama como ela quiser.

— Ih! — É tudo que Vini diz mas é o suficiente para que os três estejam rindo e, pelo o que passei do que aconteceu entre nós, sei que a risada de Jude é falsa.

— Vamos gravar ou ficar batendo papo? — A loira está posicionando a câmera em direção ao campo, aproveitando que a luz está a favor dos jogadores.

Eu estou ao lado da garota, que ainda está organizando algumas coisas. Sei que é um jogo qualquer para divertir os torcedores, então não me preocupo muito, mas Jude não largou o meu pé.

O que me deixa tensa é que agora, Sydney está entretida com os outros dois jogadores, o que deu espaço para o jogador inglês.

— Estou fazendo do jeito que quer? Fingindo que não aconteceu? — Não nos olhamos. Estamos ao lado um do outro e olhando o vídeo acontecer.

— Na verdade não é bem do jeito que eu quero. — Falo mais baixo, mas tenho certeza que ninguém escutaria mesmo se dissesse no mesmo tom que ele.

— Estamos jogando esse joguinho de novo? Ok. — Jude tosse um pouco, como se ajeitasse sua voz. — Me concerte, por favor. — Diz mais baixo, do modo como fizemos naquela noite.

— Você de boca calada sem falar sobre isso já está de bom tamanho. Aliás, não está perdendo um treino? — Estou um pouco revoltada, então me viro para olha-lo.

Erro crítico. Próximos demais e atraente demais.

— Pedi um tempinho, tinha uma urgência. Sabe? — Ele sorri de canto.

— Urgência? Você é impossível... — Volto a tirar meus olhos dos seus.

— Mas me fala... Por que esquecer? Eu não esqueci. Não esqueço nunca. Só de te olhar me trás memórias. — Pelo fato de que não quero dar atenção a ele, e estamos lado a lado, Jude se abaixa um pouco para falar no meu ouvido. Posso sentir cada parte de mim se arrepiar.

Tenho até mesmo medo de que vejam esse tipo de interação.

— Foi uma noite, Jude. — Falo mais baixo, mas não como se fosse um segredo. Acho que foi o efeito do modo como falou comigo.

— Inesquecível.

— Esquecível. — O corrigi.

— Faço questão de te lembrar.

Não tenho tempo de rebater o que diz porque Sydney acaba a brincadeira e os jogadores começam a rir entre si, tenho certeza que alguma coisa aconteceu para isso.

— Apostou comigo que bancava a boate que a gente vai nos Estados Unidos. E eu venci! — Camavinga diz, empurrando o ombro de Vini e quase correndo depois porque o brasileiro ameaça ir atrás dele.

— Esqueci de te contar. Vamos para os Estados Unidos depois de amanhã. Vamos ficar duas semanas. — Sydney me assusta com as notícias.

— Quem "vamos"?

— Nós. — Jude aponta pro time. — E vocês. — Indica com a cabeça para nos duas.

Olho para Sydney um pouco chocada. Óbvio que eu gostaria de ir para o país natal do meu pai. Mas acabo de descobrir que estou indo em dois dias, com o garoto que evito constantemente, durante duas semanas. Sorrio de modo falso para ela, mas por dentro estou explodindo.

notas da autora !

i. capítulo revisado mas há sempre erros

ii. pra quem está esperando um romance de primeira: espera sentado! pra quem tá esperando lance casual até descobrirem que se amam: acertou!

iii. um beijo, um queijo, estrela e comentários!