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32 | Mãos santas

"Mão esquerda está virando o volante, a outra está segurando sua coxa, acenda um cigarro e fica chapada, você merece o que você está sentindo falta"

Bryson

—— A M É L I A ——

Um passo para dentro de casa já me sentia sufocada, um peso em meus pensamentos e eu não consigo mais ficar no meio disso tudo. Minha mãe se prendeu ao trabalho desde o dia que chegou e do nada resolveu ser uma pessoa presente, o que não durou muito tempo já que hoje teve que viajar por causa do trabalho me deixando sozinha de novo.

Deitada sobre a cama eu encarava o gesso branco do teto pensando sobre as coisas que vem acontecendo na minha vida e tudo que o moreno me disse não parava de invadir os meus pensamentos. Virei meu rosto para o criado-mudo observando o convite que recebi para comparecer no aniversário do Kevin e soltei um longo suspiro.

— Ok, é melhor sair do que ficar aqui sozinha sem fazer nada. — Murmurei me levantando.

O evento aconteceria em duas horas e com o resto da coragem que ainda me restava resolvi tomar um banho. Sem ânimo encarei meu reflexo no espelho e suspirei fundo, precisava dar um jeito na minha aparência.

Com meu corpo encostado na pia de mármore estiquei meu braço pegando uma tesoura e sem cerimônia corto uma mecha um pouco a baixo do ombro fazendo com que um sopro de alívio escapasse de meus pulmões.

— Até que não ficou tão ruim. — Disse para mim mesma sacudindo os fios de cabelo satisfeita com o resultado.

Em seguida me despi e entrei de baixo do chuveiro me arrepiando ao sentir a água gélida descer pelo meu corpo e fechei os olhos na tentativa de deixar minha mente relaxar, mas o aperto no meu peito ainda permanecia presente, alastrando-se pela minha alma, como se nada mais fosse restar.

Droga...

Ergui meu rosto impedindo que minhas lágrimas caíssem e se misturasse com as gotículas frias do chuveiro. Depois de alguns minutos desliguei o registro e enrolei uma tolha em meu corpo e a outra em meu cabelo ao tirar o excesso de água.

O lugar onde acontecerá a festa exigia formalidade por se tratar de um Club privado, então separei um vestido e alguns acessório. Passei um hidratante corporal com cheiro de cereja seguido de um bom perfume e sequei os fios do meu cabelo com o secador, deixando-os ondulados com o difusor.

— Básico. — Dei de ombros pensando alto e soltei uma risada nasal "Talvez eu esteja ficando louca".

Produzi uma maquiagem leve, uma base fraca e um batom rosado. Vesti minha roupa e coloquei os acessórios seguido do sapato. Em seguida alisei meu vestido preto e parei na frente do espelho para dar uma última olhada antes de sair.

Perfeito.

{...}

O motorista seguia de acordo com o GPS e assim que entrou na avenida principal pude avistar o local. Mantive minha postura sem demonstrar que estava impressionada pela burguesia que o lugar era. Um dos melhores clubes da cidade.

— Tenha uma ótima noite.

Obrigada.

Agradeci gentilmente pagando-o pela corrida e desci do carro com o salto preto médio e coloquei um sorriso sedutor em meus lábios entregando o meu convite para o segurança que deu uma olhava liberando a minha entrada.

Assim que passei pela porta pude ver uma multidão de jovens dançando conforme a música tocava e vários garçons andando por todos os lados segurando bandejas cheias de taças. Provavelmente champanhe.

— Amélia! — Exclamou Maggie ao se aproximar me dando um abraço e se afastou me olhando de cima a baixo com um sorriso. — Você está perfeita, eu amei o novo visual.

— Obrigada, você também está linda.

— Garota, os caras vão todos cair em cima de você. — Falou eufórica quase gritando por causa da música alta me fazendo gargalhar.

— Não exagera.

— Só estou sendo sincera, saiba que se eu jogasse do outro lado também ficaria louca em você.

— Maggie!? — Rimos.

— Vem, quero ver a cara do pessoal quanto te verem. — Me puxou para o centro.

— Estou morrendo de vergonha.

— Deveria estar se achando porque com todo respeito, você ficou muito gostosa nessa roupa, amiga.

— Será que ainda da tempo de fugir? — Brinquei seguindo-a até um rapaz.

— Hm, só se for pra casa de algum dos homens dessa festa.

Meu Deus. — Rimos — Já te falaram que você é muito louca?

— Sempre. — Paramos de falar assim que nos aproximamos de um cara que bebia uma taça de vinho e ao notar a nossa presença ergueu seus olhos para nós. — Quero apresentar a minha amiga Amélia.

— Olá... — Sorri sem jeito.

Amélia, que nome bonito — O loiro se inclinou me cumprimentando com um breve abraço. — Sou Josh.

— Obrigada, prazer.

— O prazer é todo meu. — Sorriu e levou o copo a boca sem desviar seu olhar do meu rosto me fazendo engolir em seco. — Você é amiga do Kevin?

— Sou sim.

— Que pergunta óbvia, se você está andando com a Maggie que é irmã do melhor amigo do Kevin já é certo que são próximos. — Riu de sua própria análise. — Aceita uma bebida? — Se inclinou pegando uma taça da bandeja de um garçom que passou ao lado e me entregou.

— Valeu. — Agradeci sem jeito vendo Maggie manter um sorriso descarada.

— Então, é nova na cidade? Não me lembro de ver você em algum evento que o meu primo fez.

— Sim, mas já tem um pouco de tempo.

— Imaginei, pois seria difícil de não reparar em você. — Confessou me deixando envergonhada. Ainda mais vendo Maggie comemorar sem ser discreta. Alguém me salva.

— Oi pessoal. — Falou Kevin surgindo logo atrás de nós. — O que perdi?

— Finalmente sinal do aniversariante, achei que tinha sumido. — O loiro usou o tom irônico.

— Estava recebendo toda a atenção que mereço essa noite. — Rimos e ele ergueu seus olhos para mim. — Posso falar com vocês duas?

— Agora? — Maggie rolou os olhos.

— Sério que vai me negar um pedido logo no dia do meu aniversário? — Se vitimizou fazendo uma expressão engraçada.

— Sobre o que você quer conversa? — Pergunto aliviada por sua intromissão.

— Vamos para um lugar mais calmo.

— Okay. — Concordei sem questionar já que agradecia mentalmente por me salvar desse situação desconfortável.

Assim que nos afastamos do Josh em uma distância razoável o Kevin ficou entre nós sem tirar os olhos de Maggie que tentava entender o porque dele estar revoltado com ela, já que era óbvio a sua decepção em seu rosto.

— Por que está me olhando assim?

— Quero que saiba que nem judas foi tão traíra assim Maggie.

— O que? Mas o que eu fiz?

— Sério que estava apresentando um cara para a Amélia? E o Aaron?

— Gente, oi? Eu ainda estou aqui, não falem como se não tivesse. — Digo em tom enraivecida.

— Desculpa, mas eles não tem nada sério e não vou deixar ela ficar parada vendo o meu irmão cair em cima das outras sem fazer o mesmo. — Falou ela apontando em direção a uma mesa do outro lado da pista me fazendo ver o moreno conversando com uma garota sorrindo como se tivesse se divertindo e virou um copo de álcool sussurrando algo no ouvido dela.

— Sério Maggie?

— Pessoal, está tudo bem. — Tentei ser convincente sem demonstrar que presenciar essa cena me deixou um pouco abalada. — Ela tem razão, eu não tenho nada com o Aaron.

— Só porque você não quer.

— Não liga, o meu irmão nunca teve nada sério com ninguém.

— Pode ter certeza que aquilo não significa nada. — Se referiu ao que acabamos de ver. 

— Não seja um babaca Long, a garota esta vendo com os próprios olhos. 

— Olha Kevin, eu sei que você só quer defender o seu amigo e você Maggie, só quer ser legal comigo. — Abri um leve sorriso. — Mas essa implicância um com o outro não tem nada a ver comigo e o Aaron.

— Do que está falando?

— Acho que vocês deveriam rever se isso não é algo a mais. — Soltei uma risada deixando-os confusos. — Sério, está tão óbvio.

— Não estou entendendo.

— Só parem de negar. — Me inclinei dando um abraço no Kevin. — Feliz aniversário.

Afastei-me indo em direção ao bar me desviando das pessoas, cedo ou tarde eles vão perceber o que sentem, não é possível. Ergui meu corpo pedindo um Gin tônica com morango e me virei olhando em volta enquanto esperava ficar pronto. Não conseguia mais ver o Aaron e a garota no mesmo lugar em que estavam. Provavelmente foram para algum lugar mais reservado.

— Por que estou me importando com isso? — Resmunguei para mim mesma.

— Aqui está. — O Barman me entregou a bebida e eu agradeci indo para os fundos do salão.

Era só olhar em volta que se notava várias pessoas se divertindo. Havia alguns balões espalhados pelo salão, tudo estava tão lindo e neutro, típica festa de pessoas ricas. Notei que na varanda não tinha ninguém, ótimo, um refúgio.

Escorei-me no mármore tendo uma vista perfeita da cidade, a noite era bem iluminada e bonita. O vento soprou gelado me fazendo fechar meus olhos sentindo a brisa fresca inundar o meu corpo. Quando me permitir abri-los novamente encarei o copo em minhas mãos e suspirei fundo.

— O que estou fazendo.

— Provavelmente fugindo. — Ouso uma voz grave soar logo atrás de mim.

— Aaron? — Ergui meus olhos em sua direção. — A quando tempo você está parado ai?

— Cheguei agora, posso?

Sim...

— Não sabia que você estava na festa, quando passei aqui em frente jurei ter visto alguém familiar. — Se aproximou um pouco. — Quase não reconheci por causa do cabelo.

— Mudei. — Abri um sorriso forçado.

— Deu de notar. — Rimos. — E ficou ainda mais lindo.

— Obrigada. — Virei meu corpo ficando de frente pra ele. — Você fica bonito de smoking.

— Eu odeio usar essas formalidades, me sinto sufocado. — Confessou por fim, se aproximando de forma que me deixasse sem saída já que minhas costas estavam contra o mármore.

— Deveria usar mais vezes, você parece ser um homem comportado.

— Isso foi uma ofensa? — Rimos e ele ajeitou sua gravata borboleta. — Você combinou de cabelo curto, a real é que tudo combina com você.

— Vou fingir que acredito.

— Deveria me levar mais a sério. — Falou virando o pingente do meu colar para o lado certo e ergueu seus olhos para os meus. — Agora sim está perfeito.

— Sempre reparando nos detalhes.

— Isso é ruim?

— Depende. — Abri um sorriso de canto. — Você não deveria estar em outro lugar agora?

— Como assim? — Franziu o cenho confuso e eu dei um longo suspiro. 

— Você não estava acompanhado?

— Ah, é sobre isso. — Sorriu aliviado e fitei seu rosto. — Jade é só uma amiga, ela é do Campus e só estavamos falando sobre a faculdade e as minhas escolhas do que seria melhor para mim.

— Entendi, mas vocês pareciam bem próximos...

— Você ficou com ciúmes? — Soltou um riso nasalado. — Isso de alguma forma te incomodou?

— O que? É claro que não.

— Tem certeza?

— Sim. — Tentei demonstrar firmeza em minha voz. — Por que precisa da confirmação?

— Saber disso mudaria as coisas, e tudo faria sentido. — Pegou o copo de bebida da minha mão colocando na beira do mármore ao lado. — E então?

— Não estou entendendo.

— Vou perguntar de novo. — Inclinou seu corpo fazendo-me engolir em seco ao sentir sua respiração quente contra meu pescoço. — Você sentiu ciúmes?

Aaron...

— O que? — Virou seu rosto ficando com seus lábios quase colado aos meus e sorriu. — Se quiser que eu pare é só falar.

Eu...

Tentei dizer mas a minha voz falhou, como se as palavras tivessem ficado presas na minha garganta. Sinto meu coração acelerar dentro do meu peito e estava nervosa demais. A minha respiração começou a ficar pesada e só a sua aproximação era o suficiente para me deixar desabilitada.

— É tão difícil admitir?

— Não dou a mínima. — Digo vendo-o morde seu lábio inferior. — Satisfeito?

— Isso não me pareceu convincente.

— Que pena. — Levo minha mão na gola do seu Smoking provocando-o.

— Amélia.

— Aaron. — Retruquei percebendo a tensão sexual que se instalou entre nós nesse momento.

— Isso é maldade.

— Acha mesmo? — Sussurrei vendo-o umedecer seus lábios.

— Com toda certeza. — Levou sua mão no meu queixo. — Pretende negar até quando?

— Do que está falando? — Me fingi de sonsa provocando-o ainda mais.

O moreno desceu seus olhos para a minha boca e voltou a me olhar nos olhos puxando-me pelo quadril colando nossos corpos me fazendo prender a respiração no mesmo instante. Meu coração disparou.

— Esse seu perfume me deixa ainda mais louco  — Sussurrou em meu ouvido fazendo meu corpo inteiro tremer e se arrepiar. Sua mão andou pelas minhas costas seguindo em toques delicados por cima do vestido até pousar na minha nuca e entrelaçou seus dedos nos fios do meu cabelo.

— Aaron.. — Sussurro em tom sôfrega fechando meus olhos.

— O que você quer Amélia?

Fitou-me sem desviar o olhar, seus batimentos cardíacos assim como os meus estavam descontrolados. O vento chocou-se contra nossos corpos balançando os fios do meu cabelo invadindo meu rosto fazendo-o sorrir tirando de forma delicada as mechas caídas sobre minha face e naquele momento não dava mais para negar, eu estava louca por ele e o desejava mais do que nunca.

— Eu quero você.

{...}

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