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31 | Açúcar e corante

"O que devemos fazer depois de
tudo que passamos, quando tudo que parecia tão certo está errado"

Slander

—— A A R O N ——

Os holofotes estavam sempre focados no centro do campo, uma luz branca e forte. As pessoas nas arquibancadas faziam cada vez mais barulho e alguns invadiam o gramado para se misturar com a multidão enquanto outros apenas observava de longe a loucura que aquele lugar havia se tornado.

O jogo foi suspenso pelo árbitro após a intervenção da polícia e o sorriso de satisfação em meus lábios era visível. Me afastei de todos me escorando em uma grade virando uma garrafa de água na minha cabeça e passei a mão nos cabelos tirando o excesso de água que escorria pelo meu rosto vendo Kevin se aproximar.

— Parabéns, você conseguiu acabar com o Kol.

— Me sinto adorável. — Rimos — Ele só teve o que mereceu.

— Como conseguiu fazer tudo?

— Na verdade eu só mexi uma peça no tabuleiro e deixei que o Kol fizesse o resto, e ele fez exatamente como eu previ que faria.

— Você é cauteloso. — Se escorou do meu lado. — Agora vai me dizer como tudo aconteceu? Fiquei por fora, você não me disse nada além de que iria ferrar com o kol.

— Meu plano desde o começo era sair do time. — Vejo-o me olhar confuso e arquear uma das sobrancelhas. — A minha saída iria mexer na estrutura do time e isso deixaria o Kol confiante pois aumentaria as chances de ele ganhar.

Meu Deus, por que não me disse nada? Fez eu acreditar que realmente iria deixar o time.

— Eu tinha que ser convincente, então precisei pegar todos de surpresa para ninguém desconfiar de nada.

— Sempre me subestimando.

— Que continue assim. — Ergui meu corpo sorrindo. — Eu conheço o Kol então sabia que ele iria querer fazer uma festa já que não é sempre que se tem a chance de ganhar dos Fearless e provavelmente arranjaria drogas para garantir a sua diversão essa noite.

— Nem sei o que dizer. — Pegou um cigarro. — Mas como você descobriu sobre as drogas?

— Quando fiquei sabendo que a Carla estava na cidade resolvi ir até onde ela costumava frequentar e consegui as informações sem que ela desconfiasse de nada.

— Você é inacreditável Aaron.

— O mais engraçado foi que o Kol apareceu por lá. — O olhei com um sorriso irônico. — E depois que você me entregou a bolsa com o uniforme que eu precisaria para poder entrar em campo eu fui até a casa do amigo do Kol onde o time dele estava ficando e descobri que o cara é um viciado, então o Kol não confiaria as drogas nas mãos dele.

— Isso tudo é loucura. — Falou dando uma tragada no seu cigarro. — Como soube que as drogas estariam no carro dele?

— Bom, eu fiquei vigiando o carro do Kol até ver dois caras do time entrar e pegar alguns comprimidos em um saco cheio de ecstasy e depois guardaram de volta no veículo. — Suspirei fundo. — O foda foi descobrir que eles iriam jogar drogados e isso seria expulsão na hora.

— Que otários. — Resmungou — O Kol foi muito burro em deixar as drogas dentro do carro.

— Pensei a mesma coisa. — Rimos outra vez. — Quando faltou meia hora para o jogo começar eu fiz uma denúncia anônima.

— Ainda estou chocado, mas por que você não denunciou os outros caras do time que trapacearam usando drogas para jogar e ter vantagem de energia?

— Simples, não sou um babaca para denunciar as pessoas, só abro exceção para aquelas que ousam me desafiar. — Abri um sorriso descarado. — Pessoas como eles se prejudicam sozinhos, é questão de tempo até algum treinador perceber e acabar com a carreira deles.

— Você pensou em tudo.

— Sim, menos a parte em que Amélia coloca um fim no que tínhamos, isso não estava nos meus planos.

Foda...

— Mas está tudo bem, vou respeitar a vontade dela e você pode ficar tranquilo, porque não vou contar para o treinador que foi você quem me entregou os uniformes.

— Ufa, não queria ter que aturar a ira dele. — Falou me fazendo soltar um riso nasalado. — Você quer ir beber mais o pessoal na minha casa?

— Não estou afim hoje, eu só quero ir embora e tirar a noite para descansar.

— Tem certeza que você está bem?

— Sempre. — Abri um sorriso forçado e me afastei. — Preciso ir ver como a Maggie estar.

— Você vai desistir assim tão fácil?

— Do que está falando?

— Amélia, sério que vai deixar como está sem ao menos tentar?

— O que posso fazer se a garota me deu um fora? — Dei de ombros me afastando.

— Aposto que só em você chegar na entrada do túnel já vai ter alguma garota caindo em cima. — Suspirou fundo. — O que eu quero dizer é que não é fácil seguir o ritmo da sua vida.

— Já entendi que vocês acham que transmito uma impressão de babaca e que não sou confiável. — Abri um sorriso irônico.

— Não foi o que eu quis...

— Estou de saco cheio. — Interrompi voltando a caminhar.

Assim que cheguei no vestiário peguei as minhas roupas que o Kevin havia trazido para mim e fui tomar um banho aproveitando que o lugar estava vazio já que o pessoal ainda permaneciam espalhados pelo campo.

{...}

Olhei em volta percebendo algumas garotas me encarar com um sorriso convidativo e apenas ignorei sem da importância vendo Maggie sentada em um banco sozinha. Respirei fundo indo em sua direção vendo-a erguer seu olhar para mim ao notar a minha aproximação.

— Você está bem?

— O que você quer? — Sua voz soou com arrogância.

— Por que parece se importar tanto com a prisão do Kol?

— Nada, eu nem ligo pra ele.

— Ah não? — Retruquei arqueando uma das sobrancelhas. — Está desse jeito por nada?

— Só estou desanimada. — Suspirou fundo e percebo que há um tom de tristeza em sua voz.

— Kol Evans era o cara que você estava saindo? — Pergunto sem desviar meu olhar do seu rosto. — Só responda sim ou não.

— Depende, vai invadir a prisão para matá-lo se eu disser que sim? Aquele idiota só queria me usar.

— Como assim te usar?

— Não sei bem, mas parece que ele só queria atingir outra pessoa. — Suspirou fundo — Por que só aparece babacas na minha vida?

— Também gostaria de saber — Disse fazendo-a rir. — E só pra você saber, eu não preciso invadir o lugar para onde o mandei.

— Então foi você?

— Acha mesmo que eu vou deixar um otário brincar com você? — Articulei vendo-a jogar uma garrafa na minha direção. — Por que fez isso?

— Eu te odeio. — Sorriu discreta.

— De nada! — Levo minha mão no bolso do meu short pegando as chaves do meu carro. — Toma, vai dar uma volta para se distrair. — Joguei em sua direção.

— O que? Aaron Miller está mesmo confiando o seu carro a mim?

— Vai logo antes que eu me arrependa.

— Mas como você vai embora?

— Vou andando, preciso esfriar um pouco a minha cabeça. — Um sorriso se formou entre seus lábios.

— O que seria de mim sem você?

— Gosto nem de imaginar. — Rimos e ela se levantou. — Se eu descobrir que você levou algum homem para o meu carro eu te mato. — A puxei para um abraço e depositei um beijo em sua cabeça. — Te vejo em casa. — Me afastei indo para a saída.

— Aaron. — Chamou-me atraindo a minha atenção. — Obrigada...

Apenas assenti com um leve sorriso e voltei a caminhar indo para a estrada vendo as luzes das viaturas em volta do carro do Kol, e eu sabia que logo ele estaria livre já que seus pais tem bastante dinheiro e vão fazer de tudo para limpar a barra do filho. Mas só em ver aquela cena dele sendo levado algemado já foi o suficiente para me deixar satisfeito.

O vento gélido era intenso naquele começo de noite fazendo um pouco de frio. As vitrines das lojas brilhavam de forma que chamasse a atenção do seu público alvo e as calçadas estava cheia de circulação e mesmo de longe pude ver uma pessoa familiar. 

— Me desculpa. — Uma mulher se esbarrou acidentalmente em mim.

— Tudo bem? — Pergunto pegando suas coisas que caíram sobre o chão.

— Sim, eu só estava com presa e acabei não vendo você, sinto muito.

— Entendo, tenta ir com mais calma agora. — Disse fazendo-a rir. — Boa noite.

Afastei-me olhando em voltar sem ter sinal da pessoa que pensei ter visto. Suspirei fundo voltando a caminhar pela calçada com mais atenção dessa vez desviado das pessoas que passavam na minha frente e olhei de relance para o outro lado da rua finalmente vendo-a se inclinar para entregar um lanche para um morador de rua que agradeceu tão contente pela comida.

Vê-la efetuar aquela atitude fez o meu coração se aquecer. Assim que ela se afastou para tentar atravessar a rua me virei bruscamente de costas fingindo olhar para a vitrine de uma loja que tinha a minha frente na tentativa de evitar que ela me visse. Amélia se aproximou distraída procurando algo em sua bolsa não percebendo a minas presença e ela estava tão linda que não me contive e me aproximei dela.

— Gostei do cachecol. — Falei atraindo sua atenção para mim, suas íris azuis transmitiram surpresa.

— Por que será? — Ela sorriu fazendo meu coração acelerar. — O que faz por aqui?

— Só estava dando uma volta. — Desci meus olhos para o cachecol em volta do seu pescoço. — Eu iria cancelar o pedido do presente, mas descobri que já havia sido entregue.

— Tudo bem, eu gostei. — Tirou os fios de cabelo do seu rosto que voavam por conta do vento. — Como você está?

— Estou bem. — Respondi e ficamos nos olhando deixando que o silêncio se instaurasse entre nós. — Fico feliz que tenha gostado, esses dias estava passando por uma loja e me deparei com o cachecol e só veio você na minha mente.

— Naquela noite no festival quando descobri que você era o "Babaca" da moto senti vontade de te socar. Teve sorte do Kevin te levar embora.

— Enfim, salvo pelo long. — Rimos. — Você sempre ajuda aquele senhor?

— O Denzel? — Apontou para o homem do outro lado da rua e apenas assenti com a cabeça. — Sim, ajudo ele sempre que posso.

— Atitude admirável.

— Gosto de ajudar as pessoas. — Sorriu e desviou seu olhar, consigo notar em suas expressões um pouco de aflição.

— Quer comer algodão doce?

— Onde que tem isso aqui?

— Logo na esquina tem um homem que sempre vende. — Disse tentando aliviar o clima desconfortável que havia se instalado entre nós.

— A minha mãe está na loja e pediu para eu esperar ela aqui... — Começou a falar, mas suspirou fundo voltando a me olhar. — Quer saber, eu aceito.

— Ótimo. — Disfarcei o meu alívio e caminhamos em silêncio ao ponto do vendedor.

Assim que viramos a esquina avistei o homem com um arco colorido de algodão doce fazendo a garota abrir um largo sorriso e se sentou em um banco que havia ali próximo e eu fui comprar os doces. Peguei a minha carteira do bolso tirando o dinheiro necessário e entreguei ao rapaz que em seguida me entregou dois sacos de cores diferentes.

— Confesso que não gosto muito de algodão doce. — Digo ao me sentar do seu lado vendo-a me olhar com seus lábios entreabertos.

— Como assim? — Pegou o de cor rosa da minha mão. — Quem não gosta de algodão doce?

— Não posso fazer nada se meus gostos são diferentes demais para esse mundo cruel. — Falei fazendo-a rir.

Idiota. — Desviou seu olhar. — Bom que sobra mais para mim.

— Humrum. — Estiquei minha mão pegando um generoso pedaço do seu levando a boca fazendo-a me olhar indignada.

— Você falou que não gostava.

— Digamos que hoje resolvi abrir uma exceção. — Sorri vendo-a semicerrar os olhos e avançou fazendo o mesmo no meu.

— Ei! — Resmunguei.

— Direitos iguais meu amor. — Deu de ombros rindo, mas logo corou ao perceber o efeito que sua frase causou já que soou de forma tão confortável e natural.

Malvada. — Tentei descontrair com
um sorriso ao perceber o desconforto em suas expressões.

Vejo-a soltar uma leve risada nasal se ajeitando no banco observando as pessoas passar na nossa frente tão apressados como se tivessem correndo contra o tempo. Pude perceber seu olhar sobre mim, por no máximo uns dois segundos e depois desviou com um sorriso.

— O que foi? — Pergunto tentando segurar a minha risada.

— Ainda não consigo acreditar que você não gosta de algodão doce.

— Qual é? Que graça tem em colocar algo na boca que se desmancha sem nem apreciar o sabor? Sem contar que é puro açúcar com corante e o meu treinador me proibiu de comer isso.

— Esse é o preço que você paga para manter esse físico.

— Interessante. — Articulei ouvindo-a gargalhar.

O som de sua risada faz o meu coração disparar todas as vezes de uma forma que não consigo explicar, mas existia algo de surreal, como se ela reverberava em cada célula do meu ser e lançava arrepios de pura satisfação por todo o meu corpo. Sorri e fiquei observando-a por alguns minutos enquanto ambos nos mantínhamos quietos comendo o açúcar com corante.

— Então você saiu do time?

— Só dei um tempo, mas já estou de volta para ser a estrela que sempre fui designado a me tornar.

— O tamanho do seu ego sempre me impressiona. — Falou me fazendo rir e ficamos alguns segundos em silêncio apenas olhando um pra cara do outro.

— Preciso aprender a agir como se nada tivesse acontecido.

— Do que está falando?

— Você é uma ótima companhia, mas sempre vou querer mais do que uma simples amizade.

Aaron...

— Não se preocupe, não vou começar a te encher com essas coisas. — Abri um sorriso levando um pedaço do algodão doce na boca. — Até que o açúcar com corante não é tão ruim assim.

— Você não existe. — Riu sem jeito.

— James Arthur.

— O que?

— Parece que ele vai fazer um show privado na cidade. — Apontei para um cartaz exposto em frente a um hotel.

— Uau, que sonho. — Vejo seus olhos brilharem. — Espera, você conhece o James? — Se virou para mim surpresa.

— Quem não conhece ele?

— Conte-me mais, Aaron Miller.

— Não vou fazer isso. — Rimos e ela desviou o seu olhar do meu.

— Falou sério quando disse "Tem sido você desde o dia que te conheci"?

— Realmente não consegue entende o quanto você significa para mim?

Eu...

— Amelia! — Foi interrompida pela presença de uma mulher surgindo na esquina com as mãos carregadas de sacolas de compras.

— Droga. — Resmungou e direcionou a sua atenção para ela. — Já estou indo mãe. — Voltou a me olhar. — Sinto muito, Aaron.

— Relaxa, está tudo bem.  — Abri um sorriso apreensivo e ela se inclinou me dando um abraço.

— Obrigada pelo açúcar com corante.

— Só em você confessar isso já me deixou feliz. — Rimos e ela se afastou indo até a sua mãe saindo do meu campo de visão.

{...}

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