28 | Persiga-me
"Você sabe que eu vou lutar pelo meu espaço e que vou te ligar hoje a noite depois que meu sangue estiver se afogando em álcool."
— Ed Sheeran
—— A A R O N ——
Olhei ao meu redor e só conseguia sentir meu coração acelerado no peito, sempre fui inabalável, mas isso de fato mexeu comigo. Era como se o mundo estivesse caindo sobre meus ombros e o olhar frio e vago dela ia de encontro ao meu. Amélia permaneceu com uma descrença gritante nos olhos e eu não sabia ao certo o que aquilo significava, mas uma coisa eu tinha certeza, a minha mente entrou em desespero.
Fechei meus punhos com força ao ver Dylan se aproximar de mim com um sorriso cínico no rosto passando entre as pessoas se esbarrando propositalmente em mim na intenção de alcançar a saída que ficava logo atrás fazendo-me sentir uma vontade de acertar-lhe um soco, mas suavizei meus músculos pois consegui distinguir no meio daquele turbilhão a sua real intenção, que era causar uma briga e me ferrar ainda mais.
— Não se preocupe, me resolvo com você depois, Russell. — Disse olhando-o de relance.
— Estou esperando por isso otário. — Falou cáustico parando de andar atraindo minha atenção para o seu rosto fazendo-me arquear uma das sobrancelhas.
— O que você falou?
— Transar com a Amélia realmente mexeu com a sua cabeça.
— Acho que entendi errado, não é possível. — Soltei uma risada nasal em meio ao sarcasmo — Pode repetir o que acabou de dizer? — Dei dois passos em sua direção vendo-o se recuar me fazendo morder o inferior da minha boca inclinando a cabeça para o lado travando meu maxilar.
— Quer mesmo brigar na frente de todos inclusive da Ross? — Falou como se quisesse me subestimar.
— Só me provoque de novo para ver se me importo com a presença deles.
— Isso não vai acabar nada bem.
— Pode apostar que não! — Mantive minha postura firme enquanto a voz na minha cabeça implorava para acabar com ele. — Mas se bem que, tenho algo mais importante para resolver.
— Veremos se a "sua" inocente Amélia ainda vai querer algo com você depois de descobrir sobre sua aposta.
— Então foi você que saiu espalhando essa mentira?
— Mentira? Que isso irmão, sabemos que você fez essa aposta.
— Eu juro que vou...
— Acabar comigo? — Interrompeu-me rolando seus olhos. — Já estivemos aqui antes, cara.
— Você realmente não me conhece.
— Muito menos a Amélia, acha que ela vai acreditar em você? Logo em você?!
Meu semblante ficou sério, pude sentir meu sangue ferve e correr à velocidade da luz em minhas veias e antes que pudesse avançar e o acertar com um soco fui impedindo pelo Kevin me puxando para trás, ele claramente percebeu o clima mortal que havia se formado.
— Você vem comigo. — Me afastou para trás na tentativa de impedir qualquer forma de confusão.
— Isso não acabou! — Exclamei em tom ameaçador sentindo o braço do Kevin me afastar ainda mais.
— Sério que você pretendia começar outra briga no salão?
— Que se foda essa merda. — Empurrei suas mãos me afastando dele. — Minha paciência acabou!
— E desde quando você tinha uma? — Ironizou me fazendo rir tirando toda a minha tensão.
— Sinto como se fosse enlouquecer.
— Sorte a sua que estou aqui para te controlar. — Rimos. — Já conversou com Amélia?
— Não, e eu não sei exatamente o que Dylan falou pra ela então...
— Relaxa, o pessoal do time já começou a desmentir, vai ficar tudo bem.
— Assim espero... — Suspirei fundo olhando para o palco vendo-a força um sorriso para a Ross. — Nunca me senti assim. — Voltei a encará-lo.
— Eu sei, você está ferrado.
— Droga!
— Sobre a Maggie... — Começou a falar, mas parou para caçar alguma coisa no seu bolso da frente. — Vi ela entrando em um carro cinza.
— O que? E só me falou isso agora?
— Estava vindo para te contar, mas acabei me deparando com você e o Dylan quase se matando.
— Conseguiu ver quem era? — Ignorei seu comentário anterior.
— Não, mas peguei a placa do carro dele. — Mostrou-me uma foto no seu celular. — E você tinha razão, é rival.
— E no que essa foto ajudaria?
— Esqueceu que meu pai é policial seu idiota? — Olhou-me indignado e rolei os olhos. — Mandei o número da placa para que ele possa descobrir de quem é o carro.
— Me mantenha atualizado.
— Pode deixar. — Travou a tela do seu celular olhando para frente fechando sua expressão. — Ferrou — Sussurrou me fazendo olhar para a sua mesma direção vendo Amélia caminhar em nossa direção após o fim da palestra.
— Céus. — Permaneci imóvel vendo-a se aproximar sentindo minhas mãos suarem frio. — Amélia...
— Aqui não. — Articulou percebendo os olhares das pessoas em volta vindo de encontro a nós e saiu caminhando para o corredor.
Respirei fundo seguindo-a até entrada do corredor onde procuramos por algum lugar vazio, como todos ainda estavam concentrados no salão tivemos sorte em ter privacidade, e céus, pela primeira vez eu não sabia o que me esperava, era como se a cada passo que eu dava me deixava ainda mais nervoso.
— Preciso que saiba que eu não...
— Tudo bem, eu sei que você não fez nenhuma aposta. — Suspirou fundo finalmente me olhando. — O Dylan está com raiva por isso que não o levei a sério, e eu confio em você.
— Então essa conversa não é sobre a aposta né? — Pergunto vendo-a desviar seu olhar.
— Olha, pensei muito e...
— Por favor, não. — Implorei sabendo o rumo que essa conversa tomaria.
— Aaron...
— Não age dessa forma.
— De que forma?
— Como se só você tivesse problemas para lidar. — Suspirei fundo contendo minha angustia. — Sei que vai usar essa desculpa.
— Desde o começo eu sabia que isso não iria dar certo.
— Podemos fazer dar certo, confia em mim, só isso que te peço — Levei minha mão no seu rosto. — Só não termina a frase, por favor.
— Isso é demais para mim, sempre vai ter alguém tentando nos atrapalhar.
— Logo você se importando com as opiniões dos outros? — Questionei aflito.
— Somos muito diferentes. — Afastou minha mão do seu rosto. — Mesmo sabendo que essa aposta é uma mentira as pessoas não vão ter o mesmo pensamento, sempre vai ter aqueles que iram infernizar a minha vida me achando uma idiota por ainda estar com você.
— Que se foda essas pessoas.
— Não é tão simples assim, você pode estar acostumado com a falação, mas eu não estou preparada para fazer parte disso.
— Estávamos indo tão bem. — Deixei visível a minha aflição.
— Sinto muito, eu gosto de você e...
— Se gostasse de mim não iria desistir no primeiro obstáculo.
— Não torna isso mais difícil, Aaron.
— Você sabe que não é uma pessoa egoísta, então por que está agindo como uma? —Aproximei vendo-a evitar ter contato visual comigo. — Olha pra mim. — Pedi gentilmente fazendo-a com muito esforço me encarar nos olhos. — Tem certeza disso?
— É melhor acabar com algo que ainda nem começou do que aprofundar e nos machucarmos.
— O seu erro foi achar que não vamos sair machucados. — Soltei uma risada irônica. — Mas parece que pra você não faz diferença.
— Não é verdade.
— Você quer que eu seja alguém que eu não sou, é isso?
— Não! — Exclamou voltando a se aproximar. — Depois daquela festa eu percebi que não quero isso pra mim, sua vida é uma loucura, sempre tem mulheres caindo em cima e...
— Só pode estar de sacanagem com a minha cara. — Bufei alto e ergui meus olhos para o seu rosto. — Então tudo que deixei claro sobre meus sentimentos não importa? Acha que vou cair em cima de qualquer uma que se aproximar estando com você?
— Não foi...
— Porra Amélia, sabemos o que você quis dizer e não, eu não te trairia.
Minhas palavras saíram banhadas em indignação e ficamos em silêncio nos encarando. Dei tempo a ela para que assimilasse as minhas palavras, para que tivesse um minuto de sensatez e resolvesse mudar de ideia, mas ao vê-la olhar em volta sem saber o que dizer já deixou claro a sua decisão.
— Preciso que diga que não quer mais nada comigo, só que me olhando nos olhos e não seja ingênua.
— Aaron...
— Prometo te deixar em paz, mas caso contrário não irei desistir de nós só porque você está com medo.
— Eu sei que você não vai desistir, por isso estou pedindo. — Fitou-me com sua íris azulada. — Preciso de tempo.
Suas palavras saíram de forma tão natural da sua boca, foi como uma faca afiada perfurando sem dó o meu peito. Encarei o chão por breves segundos e voltei a erguer meus olhos para o seu rosto que estava neutro tentando não demonstrar nenhuma emoção naquele momento.
— Tudo bem.
— Sinto muito...
— Não vou mais implorar. — Dei de ombros indo em direção da saída passando pela porta batendo-a atrás de mim.
Sempre evitei me envolver por esse motivo, me permitir sentir para depois me foder. Minha cabeça parecia que iria explodir, vê-la desistir sem ao menos tentar me deixou muito mal, mas cansei de tentar sempre resolver as coisas por conta própria, dessa vez foda-se. Nada mais me importa.
Segui em direção ao gramado onde vislumbro os rapazes treinando e ao notarem a minha aproximação um tanto ameaçadora fez Kevin ficar em alerta e vir em minha direção tentando me barrar já que o Dylan estava no meio deles e achava que a minha intenção era começar uma briga.
— Não faça burrice. — Falou me fazendo abrir um sorriso zombeteiro.
— Relaxa... — Apertei seu ombro de forma amigável — Parabéns Dylan, você conseguiu. — Disse enquanto tirava a faixa do meu braço. — Agora você é o capitão. — Arremessei o símbolo em sua direção deixando todos confusos pela minha atitude inesperada.
— Você está maluco? — Max indagou revoltado.
— Estou fora do time.
— Cara, a gente tem um jogo daqui três dias você não pode estar falando sério.
— Boa sorte então. — Dei de ombros indo para o vestiário deixando-os levemente irritados. Pude ouvir Kevin me acompanhar.
— Fala que isso é brincadeira.
—Pareço estar brincando? — Retruquei tirando o meu uniforme.
— Sabe o efeito colateral que isso vai causar nas suas propostas?
— Não me importo.
— O que aconteceu, a Amélia não acreditou em você, por isso está agindo assim?
— Na verdade ela acreditou sim, que ironia não?
— Então por que do nada resolveu sair do time?
— Só estou cansado e farto, ninguém gosta da minha presença aqui mesmo. — Vesti minha camiseta. — Agora quero ver como eles se saem sem mim.
— Não ferra com tudo, Aaron.
— Preciso tirar um tempo pra mim pelo menos uma vez. — Peguei minhas coisas no armário e comecei a guardar na minha bolsa. — Chega de colocar os problemas dos outros a cima dos meus.
— Tem certeza que você está bem?
— Sim, estou. — Comecei a andar em direção a saída.
— Para onde você está indo?
— Nem fodendo vou ficar aqui para aturar o sermão do treinador. — Abri um sorriso cínico.
— Você não vale nada. — Rimos.
{...}
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