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24 | Surpresas

"Há muito espaço entre nós
Talvez nós já estamos
derrotados"

Leroy

—— A A R O N ——

Acordei e a claridade do sol já invadia o meu quarto através da janela depois de mais uma noite de chuva. Virei-me para o criado mudo e olhei no visor do meu celular, era 10:36 da manhã. Suspirei fundo encarando a enorme janela de vidro à minha frente tendo pensamentos vagos, Amélia consegue me deixar ainda mais louco já que era a primeira vez em que chego naquela pegação com uma garota e não fazemos sexo. Confesso que gostei do desafio de resistência.

Tive que levá-la embora logo depois que Kevin me ligou nos interrompendo para dizer que o baile havia sido interditado pela polícia. Levantei-me da cama e caminhei até o banheiro, fiz minha higiene pessoal e tomei um banho demorado. Saí logo em seguida vestindo uma roupa. Precisava comprar algumas coisas para a festa que planejo fazer hoje mais tarde aproveitando que meus pais só chegam amanhã.

— Quem foi dessa vez? — Pergunto assim que vejo Maggie usando uma blusa larga masculina.

— Ninguém. — Respondeu pegando uma garrafa de suco sentando-se a mesa.

— Não sou idiota, ouvi vozes e risadas de madrugada. — Puxei uma cadeira ficando de frente pra ela. — Qual dos meus amigos?

— Interrogatório a essa hora maninho?

— Sim, já que sempre falava que eu não podia ficar com suas amigas, mas com os meus você não perde tempo.

— É diferente, seus amigos não se aproximam de você interessados no seu irmão. — Revirou os olhos desfrutando de um reforçado café da manhã.

— Sem desculpas. — Rimos. — Como foi no baile?

— Foi bem até alguém começar a brigar e chamar toda a atenção dos seguranças e depois descobriram que haviam batizado as bebidas. — Falou revoltada e me encarou após eu ter ficado calado. — Ah não, era você? Que droga Aaron!

— Foi algo inevitável.

— Você sempre estragando as melhores festas. — Reclamou me fazendo rir.

— Espero que beba bastante água para tirar o efeito do seu organismo, o dia amanheceu muito bonito para ter que aturar seu mal humor. — Falei me levantando fazendo-a me olhar desconfiada.

— O que aconteceu com o meu irmão? Nunca vi você acordar de bom humor elogiando o dia.

— Pra tudo sempre existe uma primeira vez. — Pisquei pegando as chaves do carro.

— Volta aqui agora e me fala quem foi essa garota e o que ela fez com você!

— E por que acha que tem alguém?

— Os seus olhos, eles entregam tudo.

— Não viaja. — Rimos. — Falei sério sobre limpar seu organismo, hoje irei fazer uma festa. — Alertei indo para a porta. — Espero que não faça nenhum showzinho hoje. — Brinquei vendo a colher voar em minha direção, mas escapei de ser acertado passando pela porta ouvindo-a me xingar.

Ainda rindo destravei as portas do carro e segui para o supermercado mais próximo. As ruas estavam calmas e pela janela podia ver algumas pessoas se exercitando aproveitando a leve brisa da manhã de domingo. A música que tocava no meu carro era razoável, e até mesmo parado no semáforo não me estressei. Maggie tinha razão, eu realmente estava diferente. Que droga!

Vejo algumas pessoas atravessarem a rua sem se importar com uma senhora que segurava algumas sacolas e parecia ter dificuldade para atravessar. Suspirei fundo saindo de dentro do carro ouvindo alguns motoristas buzinar, provavelmente reclamando. Não dei importância e caminhei em direção a idosa.

— Deixa que eu te ajudo. — Falo de forma gentil vendo-a sorrir.

— Obrigada, meu jovem.

Peguei as sacolas que estavam em suas mãos e a conduzi calmamente para o outro lado da rua. Assim que pisamos na calçada o sinal abriu e os carros começaram a se locomoverem e os que o meu interditava a rua me gritavam para eu abrir espaço já que não podiam passar pela outra pista e acabei formado uma fila enorme de carros.

— Aqui está, espero que tenha um ótimo dia. — Entreguei suas coisas e ela me agradeceu mais uma vez.

Observei ela caminhar com um sorriso e suspirei fundo tendo meus ouvidos invadidos pelo barulho das buzinas me trazendo de volta para a realidade e fechei meus olhos me virando. Agora o meu dia acabou de começar.

— Vão se foder. — Gritei voltando para o meu carro perdendo toda a paciência que ainda me restava.

Após cinco minutos cheguei ao meu destino, estacionei o carro e entrei no supermercado pegando um carrinho de compras e comecei a encher com vodkas, whisky e cervejas. Depois peguei alguns lanches e tira gostos. A fila para pagar não estava tão grande, mas parecia não andar já que a garota não desligava o seu celular.

— Com licença, se você não percebeu temos coisas para fazer e com você no celular não está ajudando. — Reclamei atraindo sua atenção para mim.

— Olha aqui seu...

— Ele tem razão, a gente precisa sair daqui e você não colabora. — Uma mulher que estava na frente a interrompeu me dando a razão.

— Precisa ouvir seus clientes — Abri um sorriso satisfatório.

Vejo-a me fuzilar só com o olhar e desligou seu celular voltando a atender as pessoas. Assim que chegou na minha vez a garota evitou me encarar enquanto passava minhas compras, confesso que fiquei impressionado com a delicadeza em que ela arrumava minhas coisas nas sacolas. Ironia, provavelmente estava planejando me matar. Assim que perguntou a forma de pagamento a entreguei meu cartão e digitei a senha.

— Viu só como não foi tão difícil? — Provoquei fazendo-a suspirar fundo.

— Tinha que ser um Fearless! — Falou me entregando o cartão.

— Quando estava em cima de mim não reclamou. — Retruquei pegando as sacolas vendo-a revirar os olhos.

— Vai se ferrar, Aaron.

— Sem ressentimento, Sarah. — Sorri dando de ombros ouvindo-a me xingar mais uma vez. Desde que ficamos e eu não quis "namorar" com a emocionada ela infernizou minha vida por um tempo.

De volta para o meu carro abri o porta malas guardando as sacolas e entrei no veículo passando o cinto e peguei meu celular enviando uma mensagem "Festa hoje na minha casa" Sabia que em menos de vinte minutos todos da escola receberiam o aviso. Dei partida no carro e segui para a minha casa, demorei cerca de quarenta minutos por causa do péssimo trânsito.

Quando virei na rua da minha casa já pude ver de longe o carro do Kevin estacionado em frente. Assim que entrei na garagem peguei as coisas e caminhei até a cozinha, havia mais de uma voz masculina vindo da sala. Passei a mão em uma garrafa de cerveja indo para o outro cômodo me deparando com Kevin e seu primo jogados no sofá conversando com a Maggie, ela estava muito animada por sinal.

— Finalmente você chegou. — Falou assim que me vê.

— Vejo que já iniciaram a festa sem mim. — Usei o tom sarcástico vendo alguns baseados em cima da mesa.

— Espero que não se incomode.

— Claro, meus pais vão amar sentir o cheio de maconha no tecido do sofá deles. — Roubei o baseado que estava na boca de Maggie. — O que eu falei mais cedo sobre limpar seu organismo?

— Não seja estraga prazeres, Aaron.

— Sabe que se verem você chapada vão jogar a culpa toda pra cima de mim.

— Não sei como seus pais aguentam vocês dois. — Kevin revirou os olhos e se inclinou pegando de minhas mãos dando uma tragada. — Você e a Amélia estão mesmo juntos?

— O que? Então é a novata?

— Pode se dizer que sim. — Sorri me jogando na poltrona. — Por que essas caras? Não sou do tipo que gosta de alguém?

— Agora está explicado o motivo de você ter batido no Dylan, não teve nada a ver com a Scarlett e sim com a Amélia.

— Não sei do que está falando. — Virei a garrafa dando um prazeroso gole na cerveja.

— Você brigou com o Dylan por causa de uma garota? — Maggie riu subindo no meu colo. — O que ela te deu para te hipnotizar irmãozinho? — Apertou minhas bochechas.

— Aposto que foi o sexo. — O primo do Kevin comentou e apenas dei outro gole na cerveja.

— Não pode ser. — Maggie gargalhou mais uma vez. — Vocês nem transaram ainda e já se apaixonou?

— Cala boca. — Resmunguei tirando-a do meu colo vendo ambos rirem.

— Você está ferrado, cara.

— Desde quando precisa transar para gostar de alguém? Fiz sexo com varias garotas e não sinto nada por elas além de atração. — Respondi sem da muita importância.

— Nunca imaginei ver você assim, tipo, tinha a Scarlett mas aquilo não foi algo intenso e...

— Preciso comer alguma coisa. — Disse tentando me livrar dos seus interrogatórios.

— Semana que vem vamos ter um jogo decisivo e ter você e o Dylan brigados pode atrapalhar o nosso desempenho.

— Não se preocupe, sei muito bem ser racional, não se lembra do Bryce? No final agimos juntos.

— Só porque o cara morria de medo de você, sabe disso.

— E o Dylan não? — Usei o tom irônico indo para a cozinha.

Peguei alguns tacos apimentados e comecei a comer. Notei que o telefone fixo que ficava na parede estava cheio de recados da escola. Que droga! Sempre as coisas ferram para o meu lado. Me escorei no mármore da pia virando todo o líquido da minha garrafa vendo Maggie se aproximar.

— Isso é sério? Está mesmo gostando de uma garota?

— Vai me zoar por isso de novo?

— Só falei aquilo por que achei que estava brincando. — Me deu um soco de leve no braço. — Por que não me contou nada?

— E eu deveria?

— Claro, sou sua irmã e preciso ver se consigo me conectar com ela, afinal, somos gêmeos. — Falou me fazendo rir.

— Achei que já tinha se dado bem com a Amélia no jogo da garrafa.

— Nem tivemos tempo para conversar, mas ela parece ser uma pessoa legal.

— Sim, ela é incrível. — Abri um sorriso sincero.

— Só tenta não ser um babaca com ela.

— Obrigado pelo incentivo. — Ironizei

— Por nada. — Rimos — Chama ela pra vir hoje, vai ser divertido.

— E da o prazer de você interrogar a garota? Jamais.

— Prometo não fazer isso. — Beijou os dedos cruzados fazendo uma cara de inocente logo em seguida.

— Algo me diz que essa festa promete...

{...}

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