03 | Cachecol
—— A A R O N ——
O dia parecia não passar, as horas não seguiam e era como se nada ocupasse meu tempo. A melodia das cordas do meu violão ecoava pelo quarto impedindo-me de ouvir a discussão dos meus pais no andar debaixo.
Pela janela dava para ver uma chuva fina cair, respirei fundo vendo meu celular vibrar em cima da cama, olhei para o visor e havia uma mensagem de Scarlett na qual dizia. "Aaron, está acontecendo de novo."
Desci as escadas sem fazer barulho pegando o capacete e sai de casa. Subi em minha moto e coloquei a chave na ignição dando partida. Dirigi em uma velocidade exagerada em direção à casa de Scarlett. Ao chegar estacionei e saí caminhando pelo gramado girei a maçaneta e a porta estava destrancada.
— Scarlett? — Gritei indo em direção ao seu quarto.
A porta estava aberta e dava pra ouvir o barulho do chuveiro ligado, quando adentrei no cômodo a vejo de relance sentada na poltrona chorando. Seus olhos estavam inchados e suas mãos tremiam. Ela estava tendo outra crise.
— Hey — Sussurro calmo ao me aproximar. — Está tudo bem agora.
— Não consigo Aaron. — Falou aos prantos.
— Claro que consegue. — Abri um leve sorriso. — Você é a pessoa mais forte que conheço.
Vejo-a se levantar e me envolver em um abraço. Sua pele quente entrou em contado com minhas roupas frias devido os respingos de chuva.
— Obrigada por ter vindo.
— Não precisa agradecer. — Disse em tom sereno. — Seus pais estão em casa?
— Eles saíram para jantar fora e estou sozinha...
— Você não está só. — Me afastai e ergui sua cabeça para que eu possa ver seu rosto. — Estou com você agora.
— Esses dias estão sendo tão difíceis.
— Sim, por que você não deita um pouco?
Conduzi Scarlett até a cama e a deitei, depois fui ao banheiro e desliguei o chuveiro. Tirei minha jaqueta úmida e em seguida voltei a me aproximar dela tirando os meus sapatos.
— Fica até eu me sentir melhor?
— Não vou sair daqui. — Murmurei e
deitei na cama fazendo-a se aproximar de mim deitando sua cabeça em meu peito.
Comecei a acariciar levemente seus cabelos tentando fazer com que ela dormisse, mas não estava dando certo pois ela continuava inquieta e com a respiração descompassada.
— Me desculpa por ter lhe causado problemas. — Levantou a cabeça para me olhar. — Aquilo foi o motivo da sua suspensão?
— Não, e já te falei que não precisa se preocupar. — Fui sincero.
— Queria que tudo voltasse como era antes.
— Com o tempo as coisas voltaram ao normal. — Sorri de canto.
Ela me olhou por alguns segundos e se inclinou sobre mim ameaçando me beijar, mas afastei seu rosto do meu.
— Scarlett...
— Que foi? — Franziu o cenho confusa — Achei que depois do que fizemos estaríamos bem...
— Aquilo na festa não deveria ter acontecido, tive um dia péssimo e acabei me deixando levar.
— Por favor Aaron, vamos voltar, eu te amo e...
— A gente não dá mais certo, e olha que já tentamos bastante. — Suspirei fundo. — Mas não se preocupe, vou sempre está do seu lado.
Levei minha mão sobre o seu rosto e deslizei meu polegar pela sua pele macia acariciando-a. Seus olhos possuíam uma aurora pesada, mas suas expressões se suavizaram ao ver o meu sorriso.
Scarlett voltou a deitar no meu peito e ficamos ali em silêncio, escuto ela chorar baixo durante um tempo até que ficou quieta passando seus dedos sobre minha pele. As horas foram se passando e finalmente ela adormeceu em meus braços.
Escuto barulhos vindo do andar de baixo e me levantei da cama com cuidado para não a acordar. Estendi um cobertor sobre seu corpo, peguei minha jaqueta e causei meus sapatos descendo as escadas logo em seguida.
— Olá senhor e senhora Martinez. — Cumprimentei assim que me deparei com os pais da Scarlett na sala.
— Aaron, que surpresa boa. — Disse ela me abraçando. — Quanto tempo.
— Bastante. — Sorri sem jeito.
— Quer tomar alguma coisa?
— Não obrigado, já estou de saída. — Caminhei em direção da porta. — Na próxima vez fico para tomarmos alguma coisa.
A mulher assentiu sorridente e então sai indo em direção a minha moto. O céu ainda estava nublado, mas não chovia mais, as ruas só estavam claras por causa da iluminação dos prédios e faróis dos carros.
Estou parado no sinal vermelho esperando abrir, vejo uma garota passar e ter o seu cachecol arrancado pelo forte vento que se estendia naquela noite fazendo voar e cair em uma posa de lama. Ela reclamou algumas coisas que não se dava para ouvir, mas só pelas suas expressões deu de notar que estava irritada e voltou a atravessar a rua desistindo de pegar a peça.
O sinal abriu e assim que virei a rua passando por ela buzinei fazendo-a reclamar pelo susto. Soltei uma leve risada e segui em direção a minha casa. Assim que cheguei me deparei com todos à mesa, mas dessa vez suas atenções não vieram na minha direção, simplesmente ignoram a minha presença. Ótimo.
Subi para o meu quarto para tomar um banho quente, em seguida vesti minhas roupas e desci para a cozinha na tentativa de achar alguma coisa boa para comer. Só pela bagunça no cômodo deduzi que Maggie havia feito o jantar, e como não sou burro não me arriscarei em comer alguma coisa feito por ela, de novo. Já bastava a experiência da última vez em que parei no hospital.
— Tem pizza na geladeira. — Falou Maggie ao se aproximar.
— Amém senhor. — Agradeci com ironia arrancando um sorriso dela.
— Não tem como você ser meu irmão, não temos nada em comum.
— Ainda acho que nossa mãe achou você na lixeira e te adotou por pena. — Disse mordendo uma fatia de pizza encostado no balcão.
— Idiota. — Rimos.
— Você está bem? — Pergunto sério, sem tirar os olhos dela.
— Sim, obrigada por ter me ajudado e lamento pela suspensão.
— Acha que eu preferia ficar horas aturando a aula do Sr.Mendes? Odeio aula de química.
— Impossível mesmo é saber do que você gosta. — Riu e saiu me deixando sozinho. Peguei a caixa de pizza e subi de volta para o quarto.
Meu celular está cheio de mensagem do Kevin implorando pra eu ir com os caras no festival que está rolando agora no centro. Ele me mandou o endereço e não parava de encher minha galeria de fotos de mulheres gostosas que estavam presente no local.
"Otários"
Olhei para a pizza em minhas mãos e para a chave em cima da cômoda. A minha cabeça estava frustrada por causa de tanta coisa que tive que aturar hoje. Que se foda. Larguei a pizza e peguei as chaves seguindo em direção da saída. As ruas estavam lotadas e não tinha quase vaga no estacionamento sobrando, mas com muita determinação de encher a cara achei uma vaga. Só buscarei ela no outro dia, pois voltarei de Uber. Sem condições de voltar bêbado.
Naquele momento me arrependi de não ter vindo desde o começo de Uber, mas não lamento pois minha mente está um caos. Mandei uma mensagem dizendo que havia chegado e eles me mandaram um ponto de referência perto do tiro ao alvo. Andei trombando em várias pessoas no caminho até que cheguei perto do brinquedo e nenhum sinal deles.
— Com licença, você viu dois caras babacas aqui por perto? — Pergunto a uma jovem que estava jogando.
— Impossível distinguir no meio de tantos em volta. — Falou ao se virar para me olhar.
— A garota do cachecol — Disse assim que reconheci seu rosto, ela me olhou confusa por alguns segundos e logo suas expressões se abriram e me olhou indignada.
— O babaca da moto. — Deu-me um leve soco me fazendo rir.
— Finalmente te achamos cara, vem logo porque tem um grupo de mulheres gostosas nos esperando. — Disse Kevin aparecendo por trás e me puxando para mais distante da garota. Ela me olhou revirando os olhos e deu de ombros voltando a jogar.
E aquele provavelmente seria a última vez que a veria.
{...}
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro