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Vida sem ele

26 Maio 2015



Meio ano se passou desde que saí daquele local . Passei menos de uma semana lá e doeu tanto vir embora . Agora olho para esses dias e questiono-me o que tinha eu na cabeça para me ter deixado perder tanto em tanto tempo .

No dia seguinte a ter saído de lá recebi imensas mensagens de todos eles , no entanto eu acabei por desligar o telemóvel , mas apenas depois de saber qual a empresa na qual o meu pai trabalhava . O Oliver foi provavelmente o único com quem falei , até porque ele é meu irmão , e tem o direito de saber o motivo da sua irmã já lá não estar .
Dirigi-me à empresa e depois de muitos contactos feitos , eu finalmente reencontrei o meu pai , Ian Sykes .

Isso queria dizer que o meu nome agora seria Luna Sykes .

Foi uma sensação tão boa . Estar nos seus braços , a sentir os seus lábios contra a minha testa e as suas palavras carinhosas nas quais ele me chamava de filha e nas quais dizia o quanto me amava.
O resto do ano de 2014 foi óptimo . O meu pai e eu passámos o Natal juntos , e o Oliver veio ter connosco . Limitei-me a pedir-lhe que não falasse em ninguém do campus , e ele fez-me esse favor . Claro que ele falou da Hannah , mas isso não era um problema visto que ela iria acabar por estar comigo mais vezes . Quanto aos outros nada sei . O ano novo também foi bom . Foram as melhores festas desde há muito tempo atrás , e eu finalmente podia dizer que me sentia numa família boa e saudável e isso era tão satisfatório . A vida continuou normalmente . Eu desisti da escola , e agora trabalho com o meu pai na sua empresa . Fiz 18 anos no dia 2 de Janeiro , e com isso deixou de haver aquela obrigação de ir à escola , o que foi melhor do que andar depois em problemas . O meu pai fez-me uma festa , mas apenas com nós dois . Eu recusei-me a chamar novamente o meu irmão , e eu não tinha ninguém se não o meu grande cachorro - que era previamente do meu pai , mas que gosta mais de mim - Kyra * .
Era de noite , mas não demasiado tarde , talvez 19:00 da noite ? No entanto o dia já era um pouco mais longo , por isso ainda era de dia . Estava sentada no meu sofá a ler o meu livro O Beijo Dos Elfos quando olhei o telefone fixo pousado em cima da mesa , e nesse momento o mesmo começou a tocar , fazendo-me dar um salto e atirar o meu querido livro para o chão . O meu pai , que se encontrava sentado ao meu lado pois tinha tirado folga para passar o dia comigo , ria-se da minha reacção e eu apenas lhe lançava um olhar de morte . O telefone continuava a tocar , e o meu pai levantou-se pegando no mesmo e andando pela sala atendendo .

- Estou ? - a sua voz era tão tranquila e calma , e eu realmente sentia-me relaxada ao ouvi-lo - Ahn , eu creio que se enganou no número - ele olhava-me agora com uma expressão mais séria , coisa que me fez levantar e olha-lo preocupada .

- Quem é ? - sussurrei quase que apenas movendo os lábios para que a pessoa do outro lado da linha não me ouvisse .

- Um tal de Ashley - o seu tom de voz era igualmente baixo e a sua resposta fez-me arregalar os olhos . Parte de mim queria tirar-lhe o telefone e ouvir a voz do Ashley e as suas piadas , no entanto outra parte de minha tinha medo daquilo que iria ouvir . Acabei por assenti estendendo a mão e ele entregou-me o telemóvel com um sorriso positivo , ao qual eu respondi com a sorriso fraco . Ele dirigiu-se à porta , saindo da sala e dando-me dessa forma mais privacidade , coisa à qual eu agradeci mentalmente . Acabei por me sentar encostando o telefone ao meu ouvido .

- Estou ? Desculpe mas eu sei que ela está ai ! - a voz do Ashley fez-me sorrir e trouxe-me lágrimas aos olhos .

- Eu estou aqui - sussurrei baixo e de seguida ouvi uma risada do outro lado da linha , seguido de um berro que quase me ensurdecera.

- Sua idiota ! Sabes para quantas casas já liguei e quantas velhotas já me insultaram ? - podia notar o divertimento na sua voz , e agradecia por ele estar a levar as coisas de forma tranquila para comigo .

- Desculpa , para a próxima eu aviso o mundo inteiro que tu és um bom moço - soltei uma leve gargalhada encostando as costas à parte de trás do sofá e colocando os joelhos pressionados contra o meu peito .
Ouvi um longo suspiro vindo do outro lado da linha , seguido de um silêncio que me deixava desconfortável , no entanto no momento em que ia verificar se ele ainda se encontrava ali , a sua voz ecoou pelo meu ouvido .

- Ele desapareceu Luna - a sua voz preocupada deu-me logo a entender quem era a pessoa à qual ele se referia . As suas palavras deixaram o meu coração inquietado , fazendo-me questionar o que quereria ele dizer com aquilo .

- Como assim ? - acabei por sussurrar . Voz presa na garganta com medo de sair , e sabia que se me forçasse a falar alto a minha voz ia cair ainda mais .

- Ele foi embora na semana seguinte . Tem o telemóvel desligado e ninguém sabe onde ele está - notava o timbre mais baixo na sua voz . Provavelmente tentava manter o assunto discreto .

O meu coração ouvia-se quando a única coisa audível deveria ser o silêncio que agora nos envolvia a ambos . Eu não sabia o que dizer nem o que pensar .

- Quem foi o último a vê-lo e a falar com ele ? - murmurei baixo na esperança que tivesse sido alguém de confiança , no entanto o suspiro que se seguiu mostrava completamente o oposto .

- A Jenny - a voz do Ashley era fraca e notava-se a preocupação presente na mesma . Por muito que eu tivesse prometido a mim mesma que não ia voltar a abrir aquela ferida com as tatuagens e os olhos azuis , eu teria de remexer no passado , e teria de o encontrar - Luna ? Estás aí ? - a sua voz voltou a ecoar minutos depois de eu me ter perdido na minha mente .

- Uhn , estou . Dás-me a morada do Andrew ? - murmurei baixo olhando para o meu pai que agora se encontrava encostado ao portal de madeira com um sorriso no rosto .

- A morada de casa da mãe ? É que foi a última morada dele - a voz do Ashley parecia mostrar confusão, e eu não percebia porquê .

- Ele ainda mora com os pais ? - não teria já ele os seus 20 anos ? Pelo menos era aquilo que me parecia .

- Uhn , ele entrou aqui com 18 , por isso ele nunca chegou a ter a chance de morar sozinho , ele morava com a mãe - tanto tempo assim ele já tinha passado ali dentro ?

Agora que me encontrava a pensar nisso , eu nunca soubera o verdadeiro motivo para ele se encontrar ali enclausurado . Eu não sabia o motivo de nenhuma das pessoas que eu considerava próximas . Poderia eu intitular-me de amiga de alguém quando nem sequer tinha tido a decência de me interessar mais por cada um deles e pelas suas histórias ?
Isso fazia-me pensar . Eu queria saber o que o tinha colocado lá .

- Com a mãe ? E o pai ? - acabei por questionar-me também sobre isso . Teria o seu pai falecido ? Sentia-me de certa forma intrigada com isso , visto que na minha vida a figura que me faltara até agora também havia sido a paternal .

- O Andrew não te contou o motivo de estar no campus ? - ele parecia surpreso , mas a verdade é que nunca tínhamos falado sobre isso . As nossas conversas eram maioritariamente sobre mim . Mas agora que eu pensava nisso , naquele dia no hospital ele evitara completamente o tema família .

- Não - murmurei baixo e olhei o meu pai que se encontrava distraído a mexer no telemóvel , provavelmente a falar com a Carol - a mãe do Oliver - visto que eles andavam novamente muito próximos .

- Luna ... Ele espancou o pai até à morte - as suas palavras eram metódicas e a sua voz era séria .

A minha face estava provavelmente pálida . Os meus olhos mais arregalados do que era costume e a minha boca entreaberta sem saber o que dizer . O meu pai olhava-me preocupado , e acho que nesse momento eu apenas perdi a consciência da realidade , porque embora o meu nome continuasse a ser proferido do outro lado da linha , da minha boca nada saia . Embora o meu cérebro estivesse a tentar obrigar-me a falar .

Ele sabia por o que eu tinha passado . Ele conhecia o sentimento . Ele era realmente a única pessoa que me poderia compreender . E eu não ia deixar isso fugir .

Eu vou atrás do que é meu .


[ * Kyra - Eu te amo , minha cachorra linda ]

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