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Capítulo 7- Lágrimas do céu

ANNE E GILBERT 

Era um lindo dia ensolarado, daqueles convidativos que incitavam a caminhadas ao ar livre, se sentar debaixo de uma árvore imensa no parque,  e tomar sorvete de  casquinha.

Entretanto, todo esse luxo, Anne teria se ainda estivesse em Toronto, cujas facilidades eram ilimitadas. Ali em Charlotte,  o máximo que conseguiria com todo aquele sol era um passeio pelo forte mesmo, debaixo de uma sombrinha e se derretendo de calor. Sorvete que era uma de suas sobremesas favoritas era uma preciosidade que não se encontrava em qualquer lugar, e Anne jurou que quando tivesse a própria casa daria um jeito para que nunca lhe faltasse aquela sobremesa gelada.

Naquele exato momento, ela se encontrava em seu quarto ainda na casa de Ruby, se arrumando para sair com o seu noivo. Seu casamento tinha sido adiado por uma semana a seu pedido, e como desculpa ela usara a doença de sua anfitriã,  dizendo a Roy que depois de toda hospitalidade que recebera de pessoas tão boas, não seria de bom tom que saísse imediatamente de lá em um momento tão delicado. Roy não parecera muito satisfeito com seu pedido, mas cedera com a certeza de que Anne subiria com ele ao altar dali a uma semana.  

Embora Anne realmente não quisesse se afastar da família Baynard por quem nutria uma sincera afeição,  secretamente seu motivo era outro. Dentro dela o sonho por um guerreiro ainda não tinha se desvanecido.  Ela tinha esperanças de que ele mudasse de ideia, a procurasse e assim pudessem explorar um pouco mais daquele sentimento que nascera entre eles e que era forte o bastante para que Anne mudasse os planos que tinha traçado para si.

A ruivinha tinha vindo para aquelas terras, sonhando em viver um grande amor com seu noivo, mas a vida colocara em seu caminho um homem que despertara todos os seus sentidos como mulher, e era esse homem que desejava ter, e não tinha vergonha nenhuma de admitir que o seguiria para onde ele a quisesse levar, porque seu espírito era livre e seu coração também. E bastaria um único sinal dele para que jogasse para o alto qualquer plano previamente elaborado 

Conhecer Roy não lhe causou nenhum impacto como esperara a princípio. Não podia negar que seu noivo era um homem bonito, mas faltava-lhe aquele magnetismo que Gilbert tinha, aquela beleza selvagem que lhe virava a cabeça,  aqueles olhos castanhos luminosos que a fascinavam, e aquele jeito de olhá-la que parecia despi-la e acariciá-la ao mesmo tempo.

Ainda assim ela percebera que Roy era o sonho de muitas mulheres, principalmente quando lhe diziam a sorte que tinha por ter sido escolhida por um homem como ele para ser sua esposa. O que Anne  não confessava para ninguém era que a primeira vez que seus olhos pousaram nele,  ela sentiu frieza e não o calor que costumava sentir quando Gilbert estava em seu campo de visão,  que seu coração não batera diferente quando ele beijara sua mão,  e que nenhum suspiro tinha saído de seus lábios ao ver-lhe o sorriso. Tudo isso , ela tinha reservado para outro homem que se tornara o príncipe encantado de seus romances vitoriano, pois quando lia esse tipo de literatura em sua adolescência,  ela pudera apenas imaginar como seria encontrar um homem assim, mas agora tinha um rosto para todas as suas paixões imaginárias e platônicas, e com certeza nunca mais ele seria esquecido.

Por isso,  a pausa de uma semana era também para entender o que se passava em seu coração. Conhecer Roy um pouco melhor, tentar de alguma forma encontrar motivos para aquele compromisso ser mantido,  e descobrir se suas razões  para  a decisão de vir para aquela cidade e casar com aquele rapaz  eram realmente acertadas.

Ela terminou de prender o cabelo em um coque baixo, pegou sua sombrinha  e se dirigiu para a varanda da casa, onde sabia que Ruby estava naquele momento, pois o médico havia lhe dado permissão para sair do repouso mais rigoroso, e assim sua amiga aproveitava para respirar ar puro, e curtir o sossego de sua casa naquele cantinho que se tornara o seu favorito naquela semana.

-Bom dia, Anne. Vai sair?- Ruby perguntou ao observar a aparência da ruivinha naquela hora da manhã. 

-Sim, Roy virá me buscar para darmos um passeio pela cidade. - Anne respondeu e perguntou logo em seguida.- Como se sente?

-Melhor, mas ainda estou sofrendo com a perda do bebê.  Queria tanto dar esse filho ao Jerry. - Ruby disse, com os lábios tremendo de leve.

-Eu sinto muito,  Ruby. Queria saber o que te dizer agora, mas a verdade é que nenhuma palavra minha será suficiente para te consolar.- Anne disse com pena da amiga que enxugava várias lágrimas que escorriam por seu rosto.

-Pelo menos você não mente como outras pessoas que me dizem que sou jovem e que teremos outros filhos.- Ruby disse fungando alto.

-Ruby….- Anne tentou dizer,  mas a garota a interrompeu:

-Não,  Anne. Vamos ser honestas. Tanto você quanto eu sabemos que estou morrendo. Não terei tempo para dar outros filhos ao meu marido.- a dor no rosto da amiga  fez Anne sentir seu coração sofrer por ela. Era triste vê-la assim tão consciente do próprio fim. Ninguém deveria passar por isso,  principalmente uma pessoa tão doce quanto Ruby.

-Eu sei que é difícil, mas por que não tira isso da cabeça e tenta se concentrar no agora? Você está aqui, e do futuro ninguém tem certeza nenhuma. Viva o agora, Ruby,  com toda a intensidade que existe dentro de si. Você e Jerry merecem isso. - Anne disse, segurando a mão pálida da amiga entre as suas.

-Obrigada,  Anne. Sua amizade foi um grande presente que ganhei apesar de toda a tristeza que existe em minha vida agora. Você me é muito preciosa. - Ruby disse emocionada, e dessa forma emocionando também Anne que não disse nada, mas seus olhos respondiam por ela.- E então, como estão as coisas com seu noivo? - Ruby perguntou, mudando drasticamente de assunto.

-Está tudo bem, eu acho.- Anne respondeu de forma evasiva.

-Você não me parece tão animada assim pelo próprio casamento.- Ruby afirmou,observando o rosto de Anne com atenção.

-É impressão sua. - Anne disse, tentando disfarçar seu desconforto. 

-Querida, eu sou mulher, e sei dizer exatamente quando alguém está apaixonado,   e sinto dizer que você não é  esse alguém.  Pelo menos não por Roy Gardner. - Ruby lhe disse com um sorriso bondoso nos lábios.

-O que quer dizer?- Anne perguntou intrigada pela expressão da amiga.

-Você já esqueceu do Sargento Blythe?- Ruby perguntou, encarando Anne diretamente.

-Não sei do que está falando.- Anne tentou desconversar, mas Ruby não permitiu que ela escapasse tão fácil daquela conversa.

-Você sabe tão bem quanto eu do que estou falando, Anne. Não precisa fingir para mim que não se importa. Eu percebi que sente algo pelo Sargento, e não a culpo.  Ele é realmente um belo homem, acho até que já te disse isso.

-O que está dizendo, Ruby? Eu estou noiva de outro homem e prestes a me casar.- Anne disse debilmente, pois sabia que aquilo não era uma resposta muito plausível, pois ter um compromisso com Roy não invalidava seus sentimentos por Gilbert.  

-Mas não o ama. E,acho que deveria repensar esse compromisso.  Vai mesmo casar com um homem por quem não tem sentimentos verdadeiros e deixar sua felicidade ir embora?- Ruby a questionou o que fez Anne responder:

-Eu e o Sargento somos de mundos diferentes. Ele mesmo pontuou isso. 

-E quando foi que isso se tornou empecilho para o amor? O coração não conhece esse tipo de barreira, Anne, pois só sabe sentir, e se está apaixonada pelo Sargento Blythe deveria lutar por ele.- Ruby a aconselhou, e Anne sabia que ela estava certa. Ela estava apaixonada, não podia negar, pois em todos os seus momentos com ele,  a ruivinha sentira seu coração e alma completamente entregues aquele homem admirável, mas ele não a queria da mesma forma, e embora estivesse esperando secretamente que ele descobrisse que tinha sentimentos por ela  antes que no próximo sábado ela selasse sua vida com outro homem, Anne pretendia honrar a promessa que fizera a Roy por escrito quando aceitara seu pedido de casamento.

-O Sargento não me enxerga desse jeito, Ruby.  Ele tem outras coisas em mente que não incluem amor ou casamento. Isso, ele deixou bastante claro em algumas de nossas conversas casuais. - ela disse, tentando parecer indiferente àquela ideia. Ainda doía a rejeição de Gilbert, especialmente suas palavras em seu último encontro, e assim, ela queria guardar a mágoa apenas para si mesma.

-Bem, Anne . Você é  uma mulher adulta, e sabe o que é melhor para sua vida. Me desculpe se me intrometi demais em suas escolhas.  - Ruby disse, pensando consigo mesma que Anne estava cometendo um grande erro, mas não se achou no direito de dizer aquilo a ela,  pois a ruivinha poderia se aborrecer e não queria deixá-la chateada com ela.

-Não se preocupe. Eu sei que quer me ver  feliz, e te agradeço muito por isso, mas quero que saiba que estou bem. - Anne se levantou, beijou a amiga no rosto e acrescentou:- Preciso ir. Te vejo mais tarde. O Roy já deve ter chegado.

-Tenha um bom passeio.

-Obrigada. - Anne agradeceu com um sorriso e andou  em direção à sala. No caminho, ela encontrou uma das empregadas da sala que lhe disse:

-Eu estava indo avisá-la que seu noivo acabou de chegar.

-Muito obrigada. Já vou encontrá-lo. - Anne respondeu.

Quando chegou à sala,  Roy estava admirando um quadro original de um pintor muito famoso, cujo nome Anne não conseguia se lembrar naquele momento. Aparentemente seu noivo tinha apreço por coisas caras, e isso ela tinha percebido no primeiro dia que se encontraram, pelos vários anéis que ele usava em cada mão e que pelo seu pouco conhecimento sobre joias preciosas, Anne calculava que deviam valer uma fortuna. 

Ele a ouviu entrar e se virou com um sorriso nos lábios. Roy se aproximou dela e disse:

-Esta encantadora, minha querida.- a maneira como ele deslizou o olhar pelo seu corpo lhe causou um arrepio desagradável na nuca. Anne não sabia bem porque tal comportamento de Roy a tinha desagradado profundamente, mas a verdade era que quando Gilbert a olhava da mesma maneira era diferente, pois Anne conseguia identificar admiração e respeito nos olhos do Sargento, enquanto que em Roy era mais uma afirmação de posse que a deixava um tanto incomodada.

-Obrigada. - Anne disse,  e logo em seguida continuou:- Já podemos ir se quiser. 

-Sim, eu aluguei uma carruagem para nos  levar ao centro da cidade. Me desculpe por esse desconforto, mas como deve saber, carros de aluguel ainda são uma raridade por aqui.

-Eu realmente não me importo. Fiz alguns passeios a cavalo com a Sra. Baynard e gostei muito. Em Toronto temos todas as facilidades do mundo moderno, por isso eu me surpreendi com o primitivismo da região, mas isso não me desagrada em absoluto. Esse lugar tem um certo romantismo que me encanta.- Anne disse, pensando no passeio que fizera com o Sargento Blythe quando ele a beijara pela primeira vez.

-Então,  a senhorita possui romantismo nas veias?- ele perguntou de forma irônica que Anne fingiu não notar. 

-Sim, o senhor não?

-Na vida de um homem como eu não há lugar para esse tipo de besteira, Srta. Shirley.  E quando nos casarmos, a vida se encarregará de lhe mostrar que romantismo e coisas relacionadas ao amor só ficam bem nos livros.- Anne o olhou surpresa,  enquanto as palavras que ele acabara de lhe dizer lhe causavam uma sensação desagradável.

-O senhor não acredita no amor?- ela quis saber. 

-Eu acredito na boa convivência entre um casal e companheirismo, srta. Shirley.  Isso para mim é o mais importante. - seco e prático, foi isso que Anne pensou, após ouvir a resposta que ele lhe deu. No entanto,  ela não podia culpá-lo. Como ele mesmo dissera, sua vida dentro de sua profissão abria pouco espaço para sentimentalismo, e às vezes por conta disso, a pessoa acabava se tornando mais dura do que desejaria, mas quem sabe depois que se casassem,  ele não mudaria ideia?? Talvez ela pudesse ser relevante no processo de mudança do seu noivo.

Eles saíram para a luz do dia, e logo subiram na carruagem alugada por Roy que os levou até o centro da cidade. Durante o trajeto, Anne aproveitou para observar seu noivo que se manteve em silêncio,  o que deu a ela a oportunidade de pensar no passo que estava prestes a dar.

Ela não podia mentir para si mesma e dizer que não sonhara com o amor antes de chegar ali. Quando aceitara a proposta de casamento,  ela sabia que iria se unir a uma pessoa a quem não conhecia, mas por quem  tinha esperanças de vir a ter certa afeição. Assim tinha se preparado para não se decepcionar ou esperar demais. Entretanto, Gilbert Blythe surgira  em  seu caminho, e lhe mostrara mesmo que por pouco tempo tudo o que o amor e a paixão podiam ser, e era isso que seu coração desejara, mas que ela sabia que não teria, pois o homem que podia lhe dar tudo aquilo simplesmente se afastara, a isolara em seu sentimento, e o que restara daquela ilusão de amor era Roy Gardner, sem um pingo de calor nas veias.

Talvez o estivesse julgando severamente sem realmente uma base concreta. Palavras nem sempre indicavam ações verdadeiras, e provavelmente o rapaz tinha outras maneiras de demonstrar seu apreço por alguém do que com atitudes românticas.  Desde que fossem sinceras,  não necessariamente teriam que envolver atos explícitos de carinho. Bastava um olhar ou um toque para que se soubesse o que a pessoa queria dizer ou mostrar. Não era  maneira como ela agiria, mas tentava compreender a maneira como as pessoas tomavam certas decisões em determinadas situações.  Seu noivo possivelmente nunca seria um daqueles homens que a presentearia com flores, mas lhe dedicaria respeito, atenção e consideração,  o que eram também pontos importantes dentro de um relacionamento.
 
Eles chegaram a seu destino, e logo que desceram da carruagem,  Roy lhe deu o braço e disse:

-Vamos andar um pouco pela praça.  Quero que todos vejam a mulher linda que será a minha esposa.- Anne lhe deu um sorriso fraco, e assentiu, mas dentro dela havia mais uma vez um certo incômodo ao ouvir Roy falar daquela maneira. Era como se fosse um objeto a ser exibido por seu colecionador, e ela não gostou dessa ideia nem um pouco.

Enquanto caminhavam lado a lado por entre as pessoas de Charlotte tornara, Anne observou uma moça loira que se vestia de forma extravagante, apesar de ser muito bonita. Quando ela viu a ruivinha e seu noivo, um sorriso irônico se desenhou em seu rosto, e sem nenhum constrangimento,  a loira levantou a mão e acenou para Roy que retribuiu de forma comedida,  fazendo Anne lhe perguntar:

-Você a conhece?

-Sim, ela se chama Josie Pye.- Roy respondeu a contragosto.  Não esperava encontrar com aquela garota naquele dia, especialmente por estar ao lado de Anne.

-É  uma amiga então. - ela disse com curiosidade. 

-Sim, é uma amiga de longa data.- Roy respondeu novamente, louco para sair dali.

-Por que  não me apresenta então?- Anne disse cheia de animação, pois se iria casar com Roy precisava conhecer os  amigos dele também. 

-Uma outra hora.  Temos coisas mais importantes para fazer. - ele disse, a puxando em direção a uma feira de artesanatos que acontecia por ali naquele momento. Em sua ingenuidade, Anne não percebeu a intenção de Roy ali, e deixou passar aquela situação estranha, pois logo seus olhos se perderam em todos os coloridos que a feira exibia diante de seus olhos curiosos e encantados. Eles pararam perto de uma barraca onde alguns nativos indígenas vendiam bijuterias e outros objetos feitos por suas próprias mãos,  e Anne se apaixonou por uma pulseira de missangas azuis que experimentou,  e se decidiu por comprá-la.

-Deixa isso, Anne. Uma mulher como você merece esmeraldas e diamantes. Esse objeto não tem valor nenhum.- Roy disse, desgostoso por Anne querer gastar míseros centavos com peças tão vulgares. 

-Eu não me importo com o valor e sim com o trabalho, e essa pulseira foi feita com todo o capricho e dedicação. - Anne disse, observando as fibras de metais delicadamente entrelaçadas, e a imitação de cristal azul que pareciam lágrimas caídas do céu.

-Esse povo sabe o que é capricho? Olha para a maneira como se vestem e o que vendem nessa barraca. Eu posso te levar nas melhores joalheria da região ou até  mesmo do país,  e você quer jogar dinheiro fora com algo tão sem qualidade. - Roy disse, balançando a cabeça em desaprovação. 

-O povo indígena tem grande participação na história de nosso país,  e sua cultura extraordinária pode agregar muita coisa para a nossa. Eles merecem nosso respeito e consideração. - Anne disse,  indignada com o preconceito de seu noivo contra pessoas tão especiais, e sem querer ela se lembrou que Gilbert tinha em seu sangue descendência indígena, o que a fez querer defendê-los ainda mais.

-Eu não vou discutir isso com você no meio de uma praça pública. - Roy respondeu com secura. 

-Eu também nada. - Anne retrucou, e se voltando para o rapaz que parecia ser dono da barraca disse:

-Vou levar a pulseira e o par de brincos também.  - Roy levou a mão ao bolso para pagar pelos objetos que Anne comprara,  mas ela não permitiu, dizendo:- Eu mesma quero pagar por eles. - A expressão de Roy foi de desagrado,  mas ele disfarçou bem sua insatisfação com sua futura esposa. Ela era voluntariosa, mas ele domaria  esse seu lado rebelde tão logo eles estivessem vivendo na casa deles.  

O casal andou mais um pouco  pela praça, e como o dia estava excessivamente, Roy deixou Anne sozinha por alguns minutos enquanto ia buscar algo gelado para ambos se refrescarem. A ruivinha aproveitou para observar mais alguns trabalhos de artesanato, e estava completamente distraída observando um quadro pintado a mão, quando uma voz rouca e profunda alcançou os seus ouvidos:

-Então, seu noivo chegou afinal. - o coração de Anne disparou quando reconheceu imediatamente quem era. Ela esperou um instante antes de se virar, e quando o fez, a visão de Gilbert em um uniforme verde militar tirou completamente o seu fôlego. 

Ele parecia brilhar ao sol, seus olhos castanhos mais iluminados do que nunca, seus cabelos escuros e cacheados impecavelmente arrumados sem sua boina costumeira, e o rosto bonito que de tão perfeito parecia ter sido desenhado à mão.  O que ela não sabia em sua confusão mental momentânea era que os pensamentos do Sargento não diferiam muito dos dela. Seu olhar estava preso nos traços delicados daquela mulher que não saía de seu pensamento a um tempo considerável. O vestido de tecido leve lhe caía tão bem que Gilbert tinha a impressão de estar vendo uma fada.  Anne era linda  e não era só isso que mexia com ele.  Ele sabia o quão apaixonada e  quente ela podia ser, e se lembrar disso era como se afundar de novo na loucura de seus sentimentos por ela, e isso não podia acontecer,  especialmente agora.

-Bom dia, Sargento Blythe.  - Anne disse quebrando a sintonia entre seus olhares silenciosos.

-Bom dia, Srta. Shirley.

-Respondendo sua pergunta, sim, meu noivo acabou de chegar. - ela não conseguia ficar indiferente a Gilbert,  mesmo ambos estando no meio de várias outras pessoas que passavam por eles a todo momento. Ele era tão perigoso para suas emoções quanto era para seu coração. 

-Vocês parecem estar se divertindo muito juntos. - o tom seco dele revelou a Anne que ele não aprovava em absoluto sua aparição em público com Roy, e se aproveitando desse fato ela perguntou:

-Isso te incomoda?

-Não,  por que incomodaria?- ele perguntou  mascarando seus sentimentos. 

-Me diga você. - havia um certo desafio naqueles olhos azuis, como se o provocassem a lhe provar o contrário de suas ações,  mas ele não deu o braço a torcer ao responder:

-O que faz com seu noivo em suas horas vagas não é da minha conta, Srta. Shirley já que não depende de minha opinião para isso.

-É exatamente isso. Eu não dependo de sua opinião para nada, Sargento.- ela disse com certa petulância, encarando-o nos olhos.

-Mas por que eu sinto que a quer mesmo assim? - ele perguntou com um sorriso zombeteiro nos lábios que a fez responder:

-Está enganado.  Eu não quero nada que venha do senhor. 

-Tem mesmo certeza disso?- A maneira como ele disse aquilo fez o rosto de Anne queimar de vergonha. Ela sabia que ele estava se referindo ao dia da festa de Ruby quando ela deixara seu coração falar por ela, e quase se entregara de corpo e alma para aquele homem.

A mesma loira que cumprimentara  Roy,  acabara de passar perto deles, e cumprimentou Gilbert com um sorriso ousado, fazendo Anne comentar:

-Então,  ela também é  sua amiga?

-Minha amiga?- Gilbert perguntou confuso com a afirmação de Anne.

-É que Roy me disse que ela e ele são bons amigos.- Anne explicou. 

-Foi isso que ele lhe disse?- ele perguntou com um sorriso divertido nos lábios que deixou Anne desconfortável. 

-Foi sim. Tem alguma coisa errada com isso? - ela perguntou, irritada com o comportamento claramente provocador daquele homem. 

-Não,  mas o que posso lhe dizer é que Josie Pye não é propriamente amiga do sexo masculino.  Seu interesse neles é de outra categoria.

-O que quer dizer exatamente?- Anne perguntou,  o que fez Gibert constatar o quanto ela era inocente, e odiou Roy Gardner ainda mais por colocar duas mãos sujas nela.

-Vamos dizer que ela é uma rica viúva que tem como passatempo viver livremente experimentando todos os prazeres da carne que quiser.- a explicação dele foi sutil,  mas Anne entendeu exatamente o sentido delas, e muito envergonhada,  ela perguntou:

-Você quer dizer que ela e Roy foram amantes?

-Eu não colocaria isso de forma tão simplista assim, mas é  mais ou menos nisso que o relacionamento deles se encaixa ou se encaixava até você chegar. - Gilbert mais uma vez não quis se aprofundar no assunto para não profanar os ouvidos de Anne com coisas que ela desconhecia.

-Você também se encaixa nesse tipo de amizade com ela?- Anne perguntou, pois precisava saber. Ela não se importava que Roy tivesse tido um caso com aquela mulher no passado, pois ambos eram livres e desimpedidos, mas pensar em Gilbert naquela mesma posição fazia seu coração doer.

-Não, eu e Josie somos meros conhecidos.- a resposta dele a deixou tão aliviada que se atreveu a fazer outra pergunta:

-Por que?

-Porque ela não faz meu tipo. - ele respondeu sem titubear.

-Que  mulher é o seu tipo?-assim que fez a pergunta, Anne teve vontade de morder a própria língua. Nunca tivera a ousadia de fazer uma pergunta tão íntima a alguém, mas com Gilbert parecia que outra pessoa tomava conta de suas palavras e de suas ações, e ela acabava fazendo e dizendo coisas que nunca faria em seu estado normal. Aquilo provava o quanto aquele homem a deixava transtornada.

Ele a olhou de cima embaixo, sem omitir a admiração que tinha por ela, Gilbert deu a resposta menos comprometedora possível, mesmo que seu coração gritasse a plenos pulmões dentro dele que o rapaz estava mentindo.

-Nenhum tipo, senhorita. Já te disse que em minha vida  não há espaço para uma mulher. - Anne se sentiu decepcionada, pois secretamente esperava que ele mudasse de ideia a respeito dos dois. Ela sentia que havia algo especial entre eles, e tinha quase certeza que o rapaz sentia também,  mas pela forma como se posicionava dentro de uma neutralidade irritante, ele preferia ignorar, o que a seu ver era uma pena.

-Entendo. - foi tudo o que disse, mas seu coração se revoltava  com a ideia dela desistir do sonho mais bonito e importante que já tivera. Porém,  Gilbert acabava de fazer sua escolha,  e era perda de tempo continuar dando murro em ponta de faca. Ela era mais inteligente que aquilo.

-Você vai mesmo casar com Roy Gardner?- Gilbert perguntou, pegando-a de surpresa.

-Vou sim. - Anne respondeu,  porque sua decisão acabava de ser tomada.

-Tem certeza que é  isso mesmo que quer fazer?- ele tornou a perguntar. 

-Sim. - Na verdade, Anne queria outra coisa, mas Gilbert acabara de matar seu sonho de amor.

-Anne, eu…- ele queria pedir que ela não o fizesse,  porque ele tinha medo da vida que ela teria com aquele cafajeste. O problema era que ele não tinha provas para apresentar a Anne para que ela entendesse sua preocupação.  Ele também entendia que havia outros motivos que o fazia abominar aquele casamento de todas as forças, mas não podia confessar o que sentia por ela,  porque suas obrigações com seu povo vinham em primeiro lugar, e por isso,  Anne não podia fazer parte daquela história,  por mais que ele sofresse com sua decisão.  Gilbert queria ser egoísta o bastante para colocar a si mesmo como prioridade, e ter aquela mulher como queria, mas ele não fora criado daquela maneira, e por isso, sabia as consequências de suas escolhas.

-Sim?- Anne perguntou com o coração batendo forte, sentindo que Gilbert ia lhe dizer algo importante.

-Seja feliz. - ele falou, decepcionando-a totalmente. 

-Vou ser. - ela respondeu em tom altivo, mas por dentro ela chorava.

Enquanto a via se afastar com toda a sua graça e beleza,  Gilbert tentou se manter indiferente, mas uma dor aguda em seu peito o fez arfar  quando a realidade de tudo aquilo o atingiu,  e ele tomou consciência de que acabava de perder Anne para sempre. 

Olá,  pessoal. Mais um capítulo dessa fic postado, espero que após lê-la me deixem seus comentários e votos como incentivo. Muito obrigada por tudo. Beijos






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