Capítulo 5 - O despertar de uma mulher
Olá, pessoal. Aqui está maiscum capítulo da minha nova história. Espero que após lê-la me deixem seus comentários e votos para que eu possa saber o que estão achando da história. Beijos.
ANNE E GILBERT
Gilbert respirou o ar fresco da manhã, sentindo seus pulmões encherem-se de vida vigorosamente. Em cima de seu Mustang, ele cavalgava nas primeiras horas do dia, que era o momento em que ele podia exibir sua liberdade aos quatro ventos.
O rapaz amava essa conexão entre homem e natureza, aquele instante em que a alma parecia encontrar uma paz espiritual divina, onde alcançar o nirvana eterno era realmente possível. Era assim que ele sentia o chamado de seus ancestrais, como se pelo vento ele pudesse ouvir as vozes de espíritos antigos que reforçavam a importância de suas raízes, a honra pela qual ele deveria lutar, seu povo a quem ele deveria defender com a força de seus punhos e a velocidade de sua lança.
Deste modo, ele cavalgou mais rápido, enquanto a brisa desmanchava-lhe os cachos escuros e tocava-lhe o rosto em uma carícia sutil, ao mesmo tempo, que seus olhos se enchiam da beleza ao seu redor. Eram poucas pessoas que conseguiriam enxergar algum encanto em uma terra, onde pouco verde se via, e seu aspecto arenoso e rochoso tinham uma magia especial, que somente um bom observador conseguiria perceber. Porém, Gilbert que tinha os canyons no sangue, conseguia sentir o romantismo e a plenitude daquele lugar que tinha seu coração para sempre.
Cavalgando mais um pouco, ele olhou para o infinito, onde o céu perdia seu aspecto cinzento da noite, e já ganhava o seu costumeiro tom azulado, fazendo o rapaz respirar fundo e se lembrar de outro tom de azul de olhos de uma garota que vinha tirando-o do sério desde que a conhecera.
Anne Shirley tinha ganhado um significado em sua vida que não deveria ter permitido, mas como impedir que uma onda se quebrasse na praia se esse era seu ciclo contínuo desde que o mundo fora criado? Ou como impedir o sol de nascer ou a chuva de cair se já fora pré-determinado que acontecesse antes que a alma humana povoasse o planeta Terra? Ele não queria se sentir atraído por uma mulher branca como ela, ainda mais uma, que em breve se casaria com um dos homens que ele mais detestava, mas que poderia dar a ela a vida de princesa para a qual ela parecia ter sido criada.
No entanto, ela lhe despertava sentimentos adversos, entre raiva, desejo e ternura, e por mais que quisesse se afastar, a vulnerabilidade de Anne o trazia para cada vez mais perto. Aqueles lábios macios o torturavam em suas lembranças, e seu corpo doía de desejo ao se recordar de como fora ter aquela mulher suave em seus braços. Contudo, ele sabia que era inútil sonhar com Anne. Ela nunca seria sua.
Naquela vida errante que ele tinha, uma mulher como ela nunca suportaria as privações pelas quais teria que passar, e em dois meses, ele abandonaria sua identidade entre os brancos para se tornar para sempre Estrela da Manhã. Assim, sua patente e o nome Gilbert Blythe não existiriam mais, e seriam enterrados para sempre no cemitério do seu passado daquele povo que nunca soubera respeitar um indígena por suas origens.
Afastando Anne dos seus pensamentos, Gilbert se dirigiu até o forte dos Baynards para falar com Jerry. Era uma conversa que já deveriam ter tido na semana anterior, mas a esposa dele estava doente, e Jerry se afastara por alguns dias do trabalho para acompanhar a recuperação dela de perto.
Ele não sabia da gravidade da situação, mas alguns de seus subordinados haviam comentado que a situação era séria. Isso deixava Gilbert bastante chateado, pois gostava muito de Jerry, que sempre se mostrara um homem de princípios e tratado todos como iguais, fosse no trabalho ou fora dele, e de sua esposa, que também era uma moça muito distinta, que sempre se dirigira a Gilbert com respeito e consideração, e jamais maltratara quem quer que fosse.
Era triste vê-los passando por uma situação difícil, justamente em uma região onde poucos recursos tinha. Talvez se ele a levasse para Toronto, as chances dela se recuperar fossem maiores.
Entretanto, Gilbert não faria tal sugestão, pois ele não tinha tanta intimidade assim com seu coronel para entrar em um assunto tão íntimo. E como o homem inteligente e culto que Jerry era, talvez não visse com bons olhos que um mestiço como ele lhe dissesse o que achava que ele deveria fazer em prol da saúde de sua esposa.
Logo, ele estava no forte, e desmontou o seu cavalo no momento em que se viu em frente da construção onde abrigava os Baynards e seus visitantes, principalmente uma em especial, que ele tratou de tirar de sua mente. Não estava ali para vê-la, e sim discutir um assunto com seu superior que de certa forma a envolvia indiretamente. Assim, ele prendeu seu cavalo em um lugar seguro, e foi a procura de Jerry onde ele imaginava que ele estaria naquele momento.
Gilbert o encontrou em seu escritório redigindo algumas cartas , e quando Jerry o viu entrar, parou imediatamente o que estava fazendo e disse:
- Aí está você. Andei me perguntando quando viria me procurar. - Gilbert observou a expressão abatida de seu coronel e perguntou:
- Como ela está?
- Ela está melhor. Obrigado por perguntar. - Jerry disse com um sorriso triste, que fez Gilbert indagar:
- É grave? - Jerry olhou para as próprias mãos e ficou em silêncio por alguns instantes, antes de responder:
- Ela tem leucemia. - Gilbert sentiu um aperto no coração, pois sabia que para aquele mal não havia cura, nem mesmo um ritual indígena poderia curar alguém com uma doença tão terrível.
- Quando descobriram? - O jovem Sargento perguntou.
- Faz um ano. O médico não nos deu muitas esperanças - Jerry respondeu com a voz embargada.
- E o bebê que ela está esperando? - Gilbert tornou a perguntar cada vez mais triste com aquela história.
-Uma loucura da minha esposa. -Jerry respondeu com o rosto extremamente sério. -Eu sempre quis ser pai, e o imaginava que eu e Ruby iríamos encher nossa casa de filhos, mas quando descobrimos sobre a doença, eu mudei de ideia, pois não queria arriscar a vida dela. No entanto, ela insistiu nessa insensatez e acabou engravidando.
- O médico nos disse que se ela seguir suas recomendações, talvez a gravidez não a maltrate demais, então, eu estou torcendo para que ela leve isso adiante sem sofrer mais do que o necessário. - Jerry disse com a voz emocionada, mas logo recuperou sua postura de comando e disse:- Mas não foi para falar da minha vida pessoal que te pedi para vir aqui.
- Naturalmente. - Gilbert respondeu, sabendo do que se tratava, por isso esperou que ele iniciasse a conversa.
- Eu quero saber se é verdade que você mandou seguirem e vigiarem Roy Gardner? - Gilbert lhe sustentou o olhar firme e respondeu:
- É sim.
- Você sabe que isso é ilegal. - Jerry disse, continuando a encarar Gilbert.
-Não mais que os negócios ilegais que ele faz debaixo dos nossos narizes.- O rapaz disse com a voz um pouco alterada.
- Você tem provas disso que está me dizendo, Sargento?- Jerry disse com toda autoridade que lhe cabia.
- Não. Mas nós dois sabemos que ele não é flor que se cheire. - Gilbert disse, olhando com intensidade para Jerry.
- Por mais que eu me sinta tentado a concordar com você, nós dois sabemos que não posso fazer nada se não tiver provas concretas para apresentar. Roy Gardner não faz parte do nosso regimento, e para levá-lo a uma corte marcial. é necessário que eu tenha um bom motivo para isso.- Jerry explicou esperando que Gilbert entendesse sua situação.
- Eu te dei um bom motivo. Minha prima sumiu, e fontes seguras me informaram, que Roy Gardner está metido nisso. - Gilbert disse de forma feroz.
- Você só tem rumores, e nenhuma prova do que lhe foi dito. Então, eu lhe peço que deixe as autoridades agirem, Sargento. Fazer justiça com as próprias mãos não é a melhor forma de resolver isso, e enquanto estiver sob minhas ordens, sugiro que se lembre disso. - Jerry disse, e Gilbert balançou a cabeça concordando, mas, no fundo sabia que não iria seguir a risca aquela ordem, por mais que estivesse condicionado a fazê-lo.
- Sim, senhor. - Ele respondeu de forma quase petulante.
- Ótimo. Nossa conversa acabou, Sargento.- Jerry informou, dispensando Gilbert com um gesto de mão, mas enquanto caminhava para a porta, o jovem Sargento ouvi-o dizer com pesar
-Sinto muito por sua prima.
-Eu também. - Gilbert concordou e saiu dali.
Assim que montou em seu cavalo novamente, ele sentiu que algo atraiu sua atenção, e quando olhou para cima, viu Anne na janela que o observava com atenção. O coração dele acelerou as batidas, como se o tempo tivesse parado por um segundo, e só existissem os olhares de ambos fixos um no outro, mas ele se manteve firme em sua postura rígida e altiva, enquanto seu rosto exibia uma expressão impassível. Anne acenou para ele, Gilbert respondeu com um aceno de cabeça, e logo em seguida, saiu com seu cavalo, seguindo seu caminho sem olhar para trás, mesmo que se sentisse tentado a isso.
Anne o viu ir embora em uma nuvem de poeira que logo sumiu , assim como o cavaleiro e seu cavalo e suspirou alto. Fazia uma semana que não via Gilbert e ele não saíra de seus pensamentos um só segundo. Gostaria de não estar tão envolvida emocionalmente com ele daquela maneira, mas por mais que dissesse a si mesma, que deveria estar pensando na chegada de seu noivo, ao invés de sonhar de olhos abertos com um homem que nunca poderia ter, seu coração parecia não entender, e as lembranças dos poucos minutos em que estivera nos braços dele, continuavam brincando com sua cabeça até mantê-la acordada à noite.
Gilbert Blythe era sem dúvida um dos homens mais bonitos que já tinha conhecido. Sua constituição física assim como sua expressão facial perfeita eram capazes de seduzir e encantar qualquer mulher, e alguém como ela, que nunca tivera experiência com nenhuma figura masculina fora dos muros do convento, não ficaria imune a tanta beleza e virilidade.
Anne secretamente vinha desejando que seu noivo tivesse metade daquele carisma que ela podia perceber no jovem Sargento. Mas pelas conversas que tivera com as mulheres do forte que conheciam Roy, ele era um homem bonito, mas não tanto quanto Gilbert, e Anne acabou por concluir que, a dualidade dos antepassados do Sargento era que lhe garantia essa genética incrível.
Com certeza nunca conheceria outro homem como aquele, lindo, íntegro, inteligente,forte e viril. No entanto, saber disso, ao invés de fazê-la desistir de sonhar com ele e se conformar com o que tinha, só aumentava seu interesse em conhecer aquele homem um pouco mais, ainda que não fosse nada prudente.
Ela saiu da janela com a imagem de Gilbert na cabeça, e deixou o próprio quarto indo em direção ao de Ruby. Ela ainda estava convalescente, e Anne tinha feito companhia para ela todos os dias para que Diana pudesse descansar.
Às vezes, a Srta Stacy se juntava a ela, e as três juntas tinham ótimas conversas, o que ajudava bastante no humor da doente, que acabava por se esquecer de sua condição tão grave. Contudo, apesar de fingir que tudo estava perfeitamente bem, Anne não conseguia ignorar a expressão de Ruby deitada naquela cama e parecendo cada vez mais fragilizada. A ruivinha escondia sua angústia por trás de sorrisos que enganavam bem, mas ela sabia o que estava por vir.
Os outros moradores da casa não comentavam sobre a doença que lentamente estava consumindo aquela moça tão linda, mas Anne percebia em cada olhar uma tristeza semelhante à sua, pois todos tinham consciência de que o tempo de vida de Ruby Baynard estava contado, e que cada dia que passava não a aproximava de sua cura, mas sim de seu fim .
Naquele dia, como em todos os outros, Anne respirou fundo antes de bater na porta e anunciar sua presença, e naquele momento quem a abrira para ela foi Jerry. O rapaz tinha uma expressão extremamente cansada no rosto, e seu sorriso deixava implícito uma tristeza que Anne conseguia identificar toda vez que olhava para ele.
- Que bom que chegou. Ruby está à sua espera.
- Como ela está?- Anne fez a mesma pergunta que formulava todos os dias antes de entrar no quarto, e encarar sua amiga, que sempre parecia mais frágil que o dia anterior.
-Ela parece mais forte hoje. Pelo menos, se alimentou melhor.- Jerry respondeu de certa forma aliviado.
- Que boas notícias. Vou fazer companhia a ela então.- Anne disse entrando no quarto.
- Querida, a srta Shirley vai ficar com você agora. Eu volto assim que puder. - Jerry disse, beijando a esposa de leve nos lábios.
- Está bem.- Ruby disse com a voz suave, seguindo o marido com os olhos até que a porta se fechou atrás dele.
- Você o ama muito, não é? - Anne perguntou, se sentando perto de Ruby.
- Sim, Jerry é o meu mundo. Só sinto deixá-lo sozinho quando eu partir desse mundo.- Ruby disse aquilo de um jeito tão sereno, que Anne respondeu em protesto:
- Não diga isso.
- Você sabe que é verdade. Pelo menos vou dar um filho a ele. - Ruby disse com um sortido triste.
- Quanto...Quanto tempo o médico te deu?- Anne teve coragem de perguntar.
- Dois anos, no máximo três, se eu tiver sorte. - Ruby respondeu com uma naturalidade que fez Anne dizer:
- Eu sinto muito.
-Não sinta. - Ruby disse, segurando em sua mão. - Eu tive uma vida boa, não posso reclamar. Fui criada com todo o zelo por meus pais, me casei com o homem que eu amo e por quem sou amada de volta, vou dar um filho a ele , e tenho amigos verdadeiros, que torcem por mim e meu bem-estar. Por isso, não quero que fique triste, Anne. Vamos celebrar a vida e não a morte.
Anne sentiu seus olhos marejarem, olhando para a garota corajosa à sua frente. Ela parecia tão conformada com sua atual situação, que fazia a ruivinha se perguntar, se agiria da mesma maneira se estivesse no lugar dela. O normal seria ver revolta, raiva ou mesmo desespero, não aquela aceitação serena de alguém, que estava no início de sua vida e ia perdê-la de forma tão brutal.
Percebendo o estado de ânimo de Anne, Ruby mudou de assunto, perguntando de forma alegre:
-Já escolheu o vestido para a festa?
-Você ainda pretende fazer essa festa? Não seria melhor se poupar?- Anne perguntou, olhando para o rosto pálido de Ruby.
-É claro que vou fazer a festa. Já está tudo programado. Eu não perderia isso por nada no mundo. Jerry queria cancelar, mas eu não permiti. Tenho mais uma semana para me recuperar e até lá, estarei ótima novamente.- Ruby disse, cheia de animação que acabou fazendo Anne sorrir. - E então? Já escolheu o vestido?- Ruby insistiu na pergunta.
- Ainda não. - Anne respondeu. Com tanta coisa acontecendo, ela não tivera tempo sequer para pensar em um vestido apropriado para a festa da qual Ruby falava tão animadamente.
- Pois comece a pensar sobre isso, principalmente se quiser impressionar um certo Sargento.- Ruby lhe deu uma piscada.
-Mas não creio que Roy vai chegar até lá. - Anne respondeu, percebendo de imediato que não estava tão ansiosa assim pela chegada do noivo.
- Eu não estava falando de seu noivo.- Ruby respondeu, e só então Anne entendeu de quem ela falava e corou terrivelmente.
-O Sargento Blythe e eu mal nos conhecemos. - Anne respondeu, tentando aparentar uma indiferença que estava longe de sentir.
-Mas, eu notei algo diferente entre vocês.- Ruby disse, observando a expressão de Anne com atenção.
-Não creio que o Sargento Blythe me veja mais do que uma garota estúpida, que veio da cidade grande, sem saber, como se virar em um lugar como esse.
-Eu acho que ele vê muito mais que isso em você - Ruby disse, com tanta certeza, que Anne achou melhor não comentar, pois não queria dar a impressão que era uma moça volúvel, que não sabia o que queria da vida e mudava de ideia a todo momento. Ela viera para aquelas terras para se casar com Roy Gardner, e era isso que faria, mesmo que seu interesse por outro homem ultrapassasse às vezes seu bom senso.
Não desejando mais continuar aquela conversa, Anne mudou deliberadamente de assunto, e assim, ela e Ruby passaram a falar de outras coisas mais relacionadas com a vida doméstica naquela cidade.
Uma semana passou rápido, e enfim o dia da festa chegou. Como Jerry queria que Ruby poupasse suas forças, ele pediu a Anne que ajudasse Diana com a decoração e a supervisão das comidas e bebidas que seriam servidas. Por isso, Anne se manteve tão ocupada, que não tivera tempo para pensar em seus próprios problemas, o que ela considerou como sendo uma intervenção divina, afastando a tentação de seu caminho , pelo menos provisoriamente.
Felizmente, Ruby parecia completamente recuperada depois de duas semanas de repouso absoluto e estava radiante e muito bonita em seu vestido de festa, assim como Diana, que deixara de lado suas roupas habituais, para se enfeitar para aquela noite e para chamar a atenção de um homem, que a ruivinha bem sabia quem era.
Anne, por sua vez, também se arrumara com todo esmero para um homem que ela nem sabia se viria naquela noite. E para isso, ela escolheu um vestido azul royal que fazia seus olhos brilharem como duas joias. O modelo era simples, mas extremamente delicado. Ele fora copiado e costurado por Anne, que de tempos em tempos, adquiria revistas francesas e tirava de lá, ideias para seu guarda-roupa, já que não tinha dinheiro suficiente para comprar um modelo exclusivo.
Aquele em especial era todo rendado, sem mangas, de decote discreto e arredondado que valorizava seu busto pequeno. Ele tinha a cintura bem marcada, e caía rodado até os tornozelos de Anne, destacando seus quadris estreitos, e dando-lhe um aspecto extremamente atraente. Os cabelos, ela deixara solto, prendendo apenas de um lado com uma presilha cheia de pedras azuis que ganhara de uma aluna em um de seus aniversários, e se maquiara bem pouco, deixando sua pele com o aspecto mais natural possível.
- Você está linda, minha querida. - Ruby disse assim que viu Anne se juntar a ela no salão de festas à espera dos convidados.
-Você também.- Anne respondeu ao observar a amiga em um vestido rosa que combinava plenamente com ela. A única coisa que deixava Anne aflita era a palidez de Ruby, que lhe parecia extremamente excessiva.
Os convidados foram chegando aos poucos e logo alguns casais se reuniram no salão para dançar. A Srta Stacy chegou com uma amiga sua que se chamava Rachel Lynde, e logo se aproximaram das três mulheres mais jovens. Anne estava extremamente ansiosa, e a toda hora seu olhar se dirigia a porta de entrada cada vez que um novo convidado chegava, mas nenhum era quem ela estava esperando.
- Aceita dançar comigo, Srta. Shirley?- Billy Andrews a convidou, e embora não tivesse vontade de aceitar, ela pensou que não seria de bom-tom recusar aquela dança, por isso concordou e logo, estava no meio do salão, sendo conduzida pelo rapaz que era um excelente dançarino, mas não era o homem que ela queria. Billy ainda tentou iniciar uma conversa com Anne, mas logo percebeu que ela não estava interessada e assim ele desistiu. Quando a dança terminou, Anne suspirou aliviada e voltou para perto de suas amigas a tempo de ouvir a Srta. Stacy dizer:
- Meu Deus! Que homem magnífico é aquele? -Anne olhou em direção à porta e seus olhos se perderam no rapaz moreno, vestindo uma farda vermelha, que os oficiais usavam para eventos daquele tipo. O quepe da mesma cor da farda, estava charmosamente colocado entre seus cachos comportados e olhando um pouco mais para baixo, Anne pôde enxergar as medalhas que ele trazia presas em seu peito. Então, os olhos dourados encontraram os seus, e ela sentiu seu corpo inteiro vibrar enquanto ouvia Ruby responder:
-Aquele é o Sargento Gilbert Blythe.
-Então, ele é o mestiço de quem tanto falam?- Rachel perguntou:- É apropriado para alguém como ele estar em uma festa de oficiais brancos?
-Nunca ouvi um absurdo tão grande. Se ele é Sargento do regimento de Jerry, não vejo porque ele não deveria estar aqui.- a Srta. Stacy disse, aborrecida com a língua ferida de sua amiga.
-Ele é um amigo íntimo de Jerry também, e outro dia salvou minha vida e de Anne. Então, Sra. Lynde, o Sargento Blythe tem todo o direito de estar nessa festa com os outros oficiais. - Ruby disse, calando de vez a amiga da Srta. Stacy que não disse mais nada depois dessa reprimenda das duas mulheres.
Anne continuou fitando Gilbert, cujos olhos dourados encontraram os seus e esperou ansiosamente que ele a convidasse para dançar, quando o viu caminhar em direção a ela e às outras mulheres. Para seu desapontamento, ele convidou Ruby, depois Diana e quando Anne pensou que seria a próxima, o rapaz caminhou até Jerry e ficou conversando animadamente com o marido de Ruby.
Desapontada, Anne deixou a festa discretamente e foi até o lado de fora para tomar um pouco de ar, e tentar acabar com sua frustração. Assim, ela andou até o estábulo com a intenção de ver os cavalos, mas como estava escuro, ela não sabia bem por onde estava caminhando, até que esbarrou em alguém que a segurou firmemente pela cintura e lhe disse:
- Você não deveria andar aqui fora sozinha.- A voz de Gilbert tão próxima dela a fez estremecer ao mesmo tempo que ela respondia:
- O Sargento me seguiu?
-Sim, pois você não sabe os perigos que estão presentes aqui fora.- Ele respondeu, sentindo o perfume dos cabelos dela aguçar-lhe os sentidos. Anne estava linda aquela noite, quase não resistira e a convidara para dançar, mas sabendo o quanto aquela mulher enfraquecia seu raciocínio, ele preferira manter distância. No entanto, sozinho ali com ela, Gilbert sentia que não conseguiria mais ficar longe dela.
-Isso é bobagem. Eu me sinto totalmente segura com você. - O jeito que ela disse aquilo, e seus olhos azuis confiantes sobre ele, acabaram com seu autocontrole, e assim, Gilbert a puxou para si e matou sua vontade daquela mulher, afundando seus lábios nos dela e sentindo-a corresponder.
Anne deu um passo, diminuindo ainda mais a distância entre eles. Seus braços rodearam o pescoço de Gilbert, enquanto ele circulava suas mãos naquela cintura delicada , sentindo o corpo delgado se ondular ao seu toque. Ele abandonou os lábios dela e desceu para o pescoço, beijando-a tão vigorosamente naquela região, que pela primeira vez, Anne ouviu seu próprio gemido de prazer. Ela se agarrou a Gilbert, desejando mais daquela sensação, e não se importou quando as mãos dele desceram pelo seu corpo, até que encontraram o zíper do seu vestido e o abriu devagar, beijando-a cada vez mais intensamente.
Perdida nos braços daquele homem, que reduzia seu corpo a uma massa de carne trêmula e sem controle, Anne só conseguia sentir. Nenhum pensamento de alerta cruzou seus pensamentos, e nenhuma sensação de culpa a corroeu por estar trocando carícias com um homem, que não era seu noivo. A única coisa na qual conseguia pensar, era que nunca em toda a sua vida tinha sentido aquela sensação quase selvagem de se entregar a alguém, sem se importar com as consequências.
Gilbert afastou a parte de cima do vestido de Anne, e olhou maravilhado para os seios redondos e intocados, lhe dando uma extensão maior da beleza daquela mulher que o atormentava desde o dia em que colocara os olhos sobre ela, e uma necessidade urgente de acariciá-la além do permitido o fez abaixar a cabeça e tocar com os lábios aquela parte do corpo feminino que parecia implorar que o fizesse. Uma sensação inexplicável tomou conta de Anne, que jogou a cabeça para trás, curvou a espinha, aproximando mais seu corpo dos lábios de Gilbert, fazendo-a gemer tão alto que trouxe ao rapaz um lampejo de consciência e forçando-o a afastar Anne dele.
A ruivinha abriu os olhos, sentindo-se confusa com a atitude do rapaz e perguntou:
- Fiz alguma coisa errada? - Gilbert olhou para a mulher linda à sua frente que a poucos minutos estivera em seus braços e respondeu:
-É melhor entrar, senhorita. Antes que nós dois acabemos por fazer algo do qual iremos nos arrepender pelo resto da vida.
-Mas eu....
- Por favor, vá para dentro antes que alguém dê por sua falta, e resolva procurá-la. - Anne ajeitou o vestido, se sentindo magoada por ter sido rejeitada por aquele homem pela segunda vez, e sem olhá-lo no rosto por conta de seu embaraço, ela caminhou de volta para a festa.
Enquanto a observava partir, Gilbert se recriminou pelo que quase fizera. Ele poderia ter arruinado a vida daquela garota para sempre , se não tivesse recuperado o bom senso a tempo. Todavia, ao caminhar para longe dali, o rapaz em seu íntimo sabia que a lembrança daquela garota tão inteligente e linda jamais sairia de sua mente enquanto ele vivesse.
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