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Capítulo 27 - Uma pequena surpresa

Quando Anne adentrou a casa dos Baynards, um sentimento de estranheza tomou conta dela. Ficara tantos meses longe daquele ambiente que pareciam séculos de distância entre o momento em que partira e o momento de seu retorno.

Como se fosse a primeira vez, seus olhos observavam cada detalhe da casa, lembrando-se de seu curto passado dentro daquelas paredes.Naquele tempo, ela era apenas uma moça cheia de sonhos, que pensava que seu casamento seria a melhor parte de sua vida. Fizera planos, traçara um cronograma inteiro em sua mente de como seria uma boa esposa, dona de casa e professora. Mas nada do que desejara acontecera de verdade.

Roy Gardner tratara de acabar com suas ilusões na primeira noite de casados e transformara sua vida em um inferno diário. Porém ela fora salva pelo único homem que sempre a amaria, mas que a mandara embora porque simplesmente pensava que não podia protegê-la.

Estrela da Manhã não sabia que Anne viveria ao lado dele em qualquer lugar. Ela podia não ser tão resistente fisicamente como as mulheres da aldeia, mas seu espírito era resiliente, forte e indomável. Sua descendência irlandesa sempre correria em suas veias e por isso, Anne era uma lutadora, tão guerreira como qualquer nativa, porém, Estrela da Manhã parecia não acreditar nisso, condenando os dois a uma distância insuportável mais uma vez.

Seu coração doeu em seu peito quando Anne se deu conta do que tinha perdido. Ele dissera que a amava, contudo, não prometera que um dia voltaria. De repente, a solidão pareceu aterrorizante demais e seu futuro tão vazio, assim como estavam suas mãos.

Como viver com as lembranças que era maior que tudo, até mesmo maior que ela? Era impossível não sofrer ao se lembrar do único amor que conhecera de verdade, à vida de felicidade a qual se acostumara onde tudo era perfeito, apesar da simplicidade, mas principalmente por causa dela.

Anne mudara muito por dentro. Não era mais a moça elegante que viera da cidade grande para se casar com um Sargento da Cavalaria. Ela agora era uma mulher que sabia qual era o sabor do amor, da paixão e também da sobrevivência. Suas aspirações tinham mudado, sua cabeça tinha mudado, pois aprendera com Gilbert a se libertar de uma vida inteira de imposições, tentando agradar uma sociedade que cobrava demais, mas oferecia muito pouco.

Não tinha mais medo de ser quem era, pois esta mulher na qual se transformara era a essência de sua alma, era quem ela mantera escondida por anos para se encaixar em um modelo que todos respeitavam, e no fim das contas, o que aquilo lhe trouxera? Um gosto amargo de fracasso, quando percebeu que a pessoa que tentara ser depois que saíra do orfanato fora considerada menos que nada por seu marido.

Tudo o que Gilbert lhe dera naqueles poucos meses foi o melhor presente que já recebera na vida, e por mais que seu coração estivesse destroçado, ela sabia, lá no fundo, que Gilbert injetara em suas veias vitalidade, alegria, motivação, quando pensara que já estava morta e condenada ao pior dos pesadelos para sempre.

- Anne? - Ela ouviu alguém dizer e quando se virou, viu Jerry que a olhava com assombro.

Em poucos segundos, encarando-o, a ruivinha percebeu as olheiras ao redor dos olhos dele, o rosto mais magro e os vincos nos cantos da boca que denunciavam o sofrimento profundo daquele homem, o que fez Anne pensar em Ruby, deixando seu coração pesado. Assim, ela perguntou, mesmo temendo a resposta que teria:

- Ruby?

- Ela ainda está entre nós, mas não por muito tempo. - Jerry respondeu, com um olhar de dor para Anne, que fez seu peito se apertar.

- Sinto muito. - Foi tudo o que ela conseguiu dizer. Não haviam palavras para consolar Jerry, porque parecia que ele estava indo embora junto com Ruby.

- Onde esteve todo esse tempo? Seu marido a procurou por todos os lugares. Pensamos até que o pior tinha acontecido. - Jerry disse, mas tinha suas suspeitas, embora Gilbert nunca tivesse afirmado nada nas vezes em que se encontraram.

Ao ouvir aquilo, Anne apertou a pequena bagagem que trazia nas mãos com força, pois só de ouvir falar de Roy, ela sentia um nojo profundo.

- Eu fugi. - Ela mentiu. Nunca diria a ninguém que Gilbert a tinha levado para a aldeia. Iria protegê-lo como pudesse, assim como protegeria a história que construíra com ele.

- Por que? - Jerry perguntou, um pouco surpreso por aquela confissão, ao mesmo tempo em que se lembrava de tudo o que ouvira falar de Roy, mas não queria tirar conclusões apressadas.

- Meu marido é um canalha, coronel. Ele fez da minha vida um inferno no minuto em que nos casamos. Acha que isto não é motivo suficiente? - Anne perguntou para o homem que a olhava chocado.

- Por que não nos pediu ajuda? Você não tinha que passar por isso sozinha. Nunca pensei que Roy fosse capaz de agir desta maneira. - Jerry falou, notando a fragilidade de Anne, que parecia ter perdido muito peso, o que fez Jerry se perguntar se ela tinha passado por alguma privação enquanto estivera longe dali. Ela sempre fora uma moça tão educada e doce. Não merecia viver aquele tipo de situação.

- Não tinha o que fazer. Eu aceitei me casar com aquele homem horrível e passar o resto da minha vida com ele. Ninguém podia fazer nada por mim. - Anne respondeu, chegando a sentir todas as sensações terríveis que Roy impusera a ela por meses.

- Não sei por onde você andou ou se teve algum tipo de ajuda. Mas agora que está aqui, vamos protegê-la da melhor forma que pudermos. - Jerry disse, penalizado pelo olhar atormentado de Anne. Ele a teria abraçado se não fosse um ato inconveniente, pois isso era tudo o que ela parecia estar precisando no momento.

- Roy vai me encontrar. Logo saberá que estou aqui. - Anne disse, demonstrando todo o seu temor.

- Não, se depender de mim. E mesmo que ele descubra, não poderá levá-la à força daqui.- Jerry disse, tentando tranquilizá-la.

- Obrigada. - Anne disse, mas lá no fundo, ela sabia que continuava casada com Roy legalmente, por isso, ele tinha a lei ao lado dele e se valeria dela para forçá-la a voltar para casa, mas naquele instante, ela queria apenas tirar proveito do seu momento de paz. - Então, eu posso ficar aqui?

- Com toda certeza. Apesar do seu estado, Ruby vai adorar saber que está aqui. Ela sentiu muito a sua falta nos últimos meses. - Jerry respondeu, lançando-lhe um de seus sorrisos tristes.

- Prometo que vou ajudar a cuidar dela.- Anne afirmou, sentindo-se aliviada por ter um lugar para se abrigar até decidir o que faria com sua vida.

- Deve estar cansada. O quarto no qual costumava ficar está vago. Se quiser, pode descansar um pouco. Vou pedir para Diana lhe arrumar algumas roupas, caso queira tomar um banho. - Jerry ofereceu.

- Obrigada. Eu trouxe pouca coisa comigo. - Anne disse, um pouco envergonhada.

Quando saíra da casa de Roy, ela deixara todas as suas roupas, e agora que estava de volta, não tinha roupas apropriadas para usar, pois jamais poderia vestir as roupas que usava na aldeia. Sua sorte era que sabia costurar e tentaria conseguir alguns tecidos para fazer alguns vestidos nos modelos antigos, embora não sentisse mais vontade de usá-los depois de conhecer a liberdade e o conforto de roupas indígenas.

- Vou te levar até o quarto. - Jerry disse, apontando para a porta a fim de que Anne o seguisse.

Quando chegaram no quarto, o rapaz disse:

- Fiquei à vontade.

- Obrigada. Mais tarde, se eu tiver sua permissão, gostaria de ver a Ruby. - Anne pediu.

- Claro. Vou avisá-la que você está aqui. - Jerry falou, saindo do quarto logo em seguida.

Anne se sentou na cama, suspirando e pensando em quantas lembranças aquele quarto lhe trazia. Pelo menos ali, ela tinha sentimentos bons, pois fora muito bem tratada no tempo em que ficara naquela casa. Sua única preocupação era encontrar Roy de novo, pois tinha medo de como a notícia de que ela estava hospedada ali chegaria nele. Não se mantinha este tipo de notícia em segredo por muito tempo, principalmente em um lugar tão pequeno como aquele.

Ela ouviu uma batida na porta e foi atender, encontrando Diana do lado de fora, que a olhou da mesma forma que Jerry minutos antes.

- Meu Deus! É você mesma. Quando Jerry me disse, eu não acreditei. - A morena disse, colocando a mão sobre os lábios, como se estivesse tendo uma visão.

- É bom te ver de novo, Diana. - Anne disse com um sorriso triste, pois sentia que, de alguma forma, ela e a prima de Ruby compartilhavam da mesma dor: o amor por um homem que não podiam ter.

- O que aconteceu com você? Parece tão diferente.- Diana disse, observando Anne com atenção.

Apesar da ruivinha estar mais magra e não estar usando suas roupas elegantes, ela tinha uma postura altiva que chegava a impressionar. Anne sempre fora bonita, mas havia nela um brilho especial agora, que a deixava deslumbrante.

- Eu me sinto diferente também. Existem situações na vida de uma mulher que a tornam mais forte. É assim que me sinto agora. Forte por dentro e por fora. - Anne respondeu, sorrindo para Diana que jamais poderia saber que naquele instante, ela pensava no homem que lhe dera isso: esta coragem de encarar o mundo sem se sentir vítima dele, ou uma refém de valores inúteis.

- Eu sempre te admirei e também sempre senti em você esta força da qual fala. Acho que te invejei por isso muitas vezes, porque sei que nunca poderia ser assim. - Diana confessou, pensando em si mesma em todos aqueles anos.

- Você é forte, Diana. Senão teria escolhido outro caminho, ao invés de estar aqui, e tenho certeza de que sabe do que estou falando. - Anne disse com perspicácia.

- Acho que fazemos o que podemos para ficar perto daqueles que amamos. - Diana afirmou, fazendo com que a ruivinha assentisse, ao mesmo tempo em que pensava com tristeza, que aquela escolha não lhe fora dada.- Vou deixá-la descansar. Nos falamos mais tarde.

- Está bem. - Anne concordou, louca para tomar um banho. E quando Diana a deixou para que se banhasse, seu coração a levou para um certo guerreiro, que naquele momento, enfrentava um dilema.

Gilbert mantinha-se inquieto, andando pela casa, enquanto esperava por Pérola Negra. Não queria ter que resolver nada naquele dia, mas não podia deixar que aquela história se prolongasse.

Seu coração estava dolorido, assim como sua alma parecia não ter paz. O som da risada de Anne estava em cada canto daquela casa que construira para ela, e o que fora sua felicidade, agora era a razão de sua amargura.

Ele a tinha trazido para a aldeia, pensando que a estava salvando de um sádico, mas no fim, as suas boas intenções a tinham colocado perto da morte algumas vezes. Gilbert sabia que fizera o certo ao tirá-la dali, mesmo que isso significasse aquela dor que estava sentindo no lado esquerdo do seu peito.

Um ruído do lado de fora distraiu-o de seus pensamentos, e logo Gilbert viu Pérola entrar. Ela lhe lançou um de seus olhares arrogantes, encarando-o sem pestanejar. Uma coisa Gilbert tinha que admitir sobre Pérola; ela era a segurança em pessoa, o que era bom em certos casos, mas também acabaria sendo a sua ruína.

- Você queria falar comigo? - Pérola perguntou, sem baixar a cabeça.

- Queria sim. - Gilbert respondeu, indo direto ao assunto:- Quero saber onde conseguiu os cobertores contaminados, que deixou Sol de Verão doente.

- Não sei do que está falando. - Pérola Negra disse, com altivez, mas Gilbert podia perceber que ele estava nervosa, pois a veia do seu pescoço começou a saltar repentinamente.

- Você sabe exatamente do que estou falando, assim como se lembra do dia em que quase fez Anne cair do cavalo e colocou uma cobra na nossa tenda. - Gilbert disse, implacável. Ele tinha desconfiado dela no incidente da cobra, mas nunca tivera como provar. Agora entendia que tentara não enxergar o óbvio, pois ainda via Pérola como a amiga de infância, com a qual tinha tantas boas lembranças. O rapaz não vira que ela cresceu e que também mudou sua forma de ser. Por dentro, ele chorava pela amiga que Pérola fora e como a perdera, mas sabia o que tinha que fazer, mesmo que fosse uma decisão difícil.

- Está me acusando sem provas. - Pérola disse, sentindo-se acuada. Ela não pensara que Estrela da Manhã descobriria tudo o que tentara fazer para tirar Sol de Verão do seu caminho. Agora, Pérola não sabia o que fazer, pois não tinha se preparado para um confronto assim.

- Eu sei que foi você e não precisaria ir muito longe para obter as provas que preciso contra você. - Gilbert disse, olhando-a decepcionado, pois pensara que pelo menos ela teria a decência de confessar, mas Pérola não o fez.

- O que quer dizer? - Pérola perguntou, olhando-o, apreensiva.

- Tenho meios para descobrir o que quiser, Pérola, e sequer precisaria sair daqui. - O rapaz respondeu, cruzando os braços na frente do corpo.

- Você não ousaria invadir a minha tenda.- Pérola disse, quase em desespero.

- Se for para eu obter a informação que preciso, eu o farei sim, porque você não teve A capacidade de dizer a verdade.- Gibert disse, com a voz endurecida.- Eu esperava mais de você, Pérola. Nunca pensei que me decepcionaria tanto. Sempre vi você como uma irmã, te tratei com respeito e consideração. Mas você não fez o mesmo comigo. - O rapaz continuou, desta vez, com a expressão tão triste, que fez Pérola responder:

- Nada disso teria acontecido se você não trouxesse aquela ruiva com você. Eu sempre te respeitei também, mas percebi que você não se importava com meus sentimentos, mudando até mesmo sua essência por causa daquela mulher. - Sem perceber que tinha confessado o que Gilbert desejava saber, a jovem Índia permitiu que ele visse o ódio em suas feições bonitas, o que fez o rapaz sentir uma repulsa tão grande que ele quase vomitou as palavras:

- Aquela é a mulher que eu amo e sempre vou amar. Será que não entendeu ainda? Quero que você junte suas coisas e saia de nossa aldeia, pois você não é mais digna de viver nela.

- O que? Para onde eu vou? - Pérola perguntou, chocada demais para ter qualquer outra reação.

A aldeia era o único lugar que conhecia. Toda a sua vida vivera ali, e por isso, não sabia viver em outro lugar. Não esperava que Gilbert fosse expulsá-la daquela maneira.

- Você teve sua chance e a desperdiçou. Anne foi muito generosa em permitir que você ficasse na aldeia depois de tentar derrubá-la do cavalo. Ela teve compaixão por você, o que você não retribuiu em nenhum momento. As pessoas só dão aquilo que elas têm e, infelizmente, você não tem nada a oferecer, pois é vazia por dentro.- Gilbert respondeu, com a voz ainda mais dura, pois só de lembrar de todos aqueles acontecimentos, sua raiva parecia duplicar de tamanho. Pérola cruzara uma linha importante e ultrapassara todos os limites, por isso, a aldeia não tinha mais lugar para ela.

- Você não pode estar falando sério. Vou conversar com seu avô. - Pérola disse, em uma tentativa desesperada de ganhar tempo. Certamente, o líder da tribo não permitiria que uma de suas ovelhas fosse perdida daquela maneira.

- Ele vai concordar comigo, pois o que eu decidi aqui não será contestado por ele. Sou tão chefe de nossa tribo quanto meu avô. Então, eu te dou um prazo de até hoje à noite para pegar suas coisas e partir. - Gilbert determinou.

- Para onde irei? - Pérola perguntou, quase chorando, pois sentiu que aquela decisão de Gilbert era definitiva.

- Isso não é problema meu. - O rapaz respondeu, virando-se de costa para Pérola, que saiu dali, sentindo que nem mesmo o seu irmão a ajudaria, pois Olho de Águia jamais desafiaria a autoridade de Estrela da Manhã para defendê-la.

Assim que Pérola foi embora, Gilbert ficou mais um tempo sozinho, tentando entender tudo o que se passou nas últimas horas. Sua cabeça não parava de pensar em Anne, mas por mais que a amasse, não desejava que ela voltasse para sua vida naquelas condições. Eles tinham sido felizes pelo tempo em que viveram na aldeia juntos, mas a ruivinha não fora feita para aquela vida. Não mais a exporia a perigo algum.

Uma hora depois, Gilbert estava na aldeia e foi direto falar com seu avô. Ele queria explicar porque mandara Pérola embora da aldeia e o que implicava aquela decisão.

Quando ele entrou na casa do avô , o bom homem estava meditando em uma prática diária de mais de cinquenta anos. Antes que Gilbert anunciasse que estava ali, ele disse de olhos fechados:

- Pode falar, neto. Estou te ouvindo.

- Oi, vovô. Vim avisar que mandei Pérola embora da aldeia.- O rapaz disse, sem rodeios.

- Eu sei. E não vou contestar sua decisão. Nós sabemos o que ela fez e tal comportamento não é tolerado na aldeia. Você agiu bem, neto. - O índio mais velho respondeu, com toda a sua sabedoria.

- Estou triste por constatar a pessoa mesquinha que Pérola se tornou. - Gilbert disse, desabafando, quase sem pensar. Não era de falar muito, ou desabafar suas frustrações, mas naquele momento, tudo o que ele precisava era isso.

- Pérola sempre foi assim, neto. Desde criança, mas você, com seu coração nobre, falhou em ver. E Sol de Verão? Vai trazê-la de volta? - Pena Branca perguntou.

- Esta vida não é segura para ela. Foi um erro achar que eu podia protegê-la de tudo. Ela está melhor longe daqui. - Gilbert respondeu, tentando acreditar em suas próprias palavras, senão enlouqueceria.

- E você? Vai estar melhor sem ela? - Pena Branca perguntou, mas Gilbert não respondeu, pois ambos sabiam qual seria a resposta.

No forte dos Baynards, o tempo parecia correr devagar. Anne já tinha tomado banho, se alimentado e agora se preparava para ver Ruby.

Pelo que Jerry lhe contara, ela tinha piorado muito nos últimos meses e tudo indicava que o fim estava próximo, mas Anne não queria pensar nisso, pois tais notícias eram devastadoras e, ao mesmo tempo, revoltantes.

Ela bateu na porta e girou a maçaneta para entrar no quarto, percebendo que Ruby não estava sozinha. A Srta. Stacy estava sentada ao lado da cama e lia um livro em voz alta, enquanto os olhos da enferma encaravam a janela aberta, que arejava o quarto todo.

O cheiro de remédio espalhado por todos os cantos deixara Anne enjoada. Ela nunca fora muito fã de odores fortes, mas ali não era apenas isso que afetara seu estômago, mas também o cheiro da morte que parecia ter se instalado ali.

Antes de cumprimentar a Srta. Stacy, Anne observou Ruby que se mantinha em silêncio e sentiu seu coração se partir. Ela tinha emagrecido tanto, que sua camisola de algodão parecia três números maiores que o seu normalmente seria. O rosto escovado lhe dava uma aparência mais envelhecida, deixando evidente que a doença estava lhe roubando toda a sua juventude. Anne quase chorou ao pensar em tudo o que estava indo embora com Ruby, e ela só esperava que Jerry conseguisse se recuperar do baque de perdê-la após tanta luta e sofrimento.

- Bom tarde. - Anne disse para a Srta. Stacy que a cumprimentou com um sorriso.

- Anne? - Ruby falou, desviando o olhar da janela para encarar sua amiga. - Você não sabe o quanto senti sua falta.

- Eu também. - Anne respondeu, sentando-se na cama e segurando a mão de Ruby, que estava terrivelmente fria.

- Estamos felizes com sua volta. - A Srta Stacy disse, fazendo Anne responder:

- Eu estou feliz de estar de volta.- Anne respondeu, não sendo de toda sincera, porque tudo o que desejava estava em outro lugar.

- Por onde esteve? Ficamos tão preocupados. - Ruby disse, com sua voz enfraquecida, quase fazendo Anne se debulhar em lágrimas. Contudo, a ruivinha se controlou, porque o que menos Ruby precisava era de alguém se lamuriando por um relacionamento perdido.

- Isso não é importante. - Anne respondeu, engolindo em seco pelas inúmeras lágrimas e palavras presas em sua garganta. Estava sentindo dor por si mesma e por Ruby, mas aquilo era algo que não devia confessar. - Me conte sobre você. - Ela pediu, tentando desviar a atenção de Ruby do que ela queria saber. Era íntimo demais e doía demais também.

- Não há muito o que contar Tenho passado meses nesta cama. - Ruby disse, desanimada.

- Mas está melhor hoje. - A Srta. Stacy disse, olhando para Anne com tristeza, pois ambas sabiam que a realidade era outra.

- Não vou melhorar. Eu sei disso, não precisam tentar me fazer acreditar no contrário. - Ruby disse, com aquela tranquilidade que sempre surpreendia Anne.

- Acho que não tem que pensar nisso. Apenas aproveite o momento.- Anne a aconselhou.

- Foi isso que fez quando fugiu de seu marido? Não tente negar, pois Jerry me contou. - Ruby disse, fazendo Anne dizer, desconfortável com a presença da outra mulher ali

- Ruby, eu não quero falar disso.

- Não se preocupe. A Srta. Stacy é discreta. - Ruby falou, enquanto a mulher mais velha assentia.- Eu só fico triste por você não ter confiado em mim para contar o quanto o seu casamento estava ruim.

- Eu não podia contar. Me casei com Roy porque eu quis e era eu quem tinha que resolver esta situação. - Anne tentou explicar.

- Nós somos seus amigos. Se eu soubesse que ele a trataria tão mal, não teria incentivado este casamento. - Ruby disse, como se sentisse culpada pelo rumo que a vida de Anne tinha tomado. - Eu pensei que você seria feliz como eu sou completamente com o Jerry. Perdoe-me, Anne.

A ruivinha apertou a mão de Ruby com afeto, pensando que tratá-la mal foi o pecado menor de Roy. Ele quase a tinha destruído como mulher, infringindo-lhe uma penitência que a tinha feito desejar não mais viver. Mas o amor do qual Ruby falava, Anne tinha encontrado em um guerreiro corajoso, que lhe fizera conhecer um prazer e uma paixão sem igual. Era por ele que seu coração batia, e continuaria batendo até o dia em que ela deixasse este mundo de verdade.

- Você não tinha como saber disso. Mas está tudo bem, eu estou bem, de verdade.

- Jerry vai te proteger. Este homem nunca mais se aproximará de você. - Ruby disse, com convicção.

- Eu sei. Ele também me disse isso. Obrigada. - Anne respondeu, sentindo o temor se apossar dela novamente. Roy estava por perto, ela podia sentir, e se ele a encontrasse, não a deixaria escapar uma segunda vez.

- Acho que podemos prosseguir com a leitura. - A Srta. Stacy disse, e as outras duas mulheres assentiram.

Depois de alguns minutos, o enjoo que Anne estava sentindo desde que entrara ali piorou, fazendo-a dizer:

- Acho que preciso de ar puro. Eu já volto.

Sem perceber os olhares preocupados da Srta. Stacy e Ruby em sua direção, ela saiu do quarto, mas quando ela estava no meio do corredor, ela ouviu a mulher mais velha perguntar:

- Anne, você está bem?

Ela quis responder que sim, mas de repente, tudo ficou escuro e ela desmaiou.

Quando acordou, a Srta. Stacy segurava em sua mão, e disse, aliviada por vê-la abrir os olhos:

- Graças a Deus que você acordou.

- O que aconteceu? - Anne perguntou, sentando-se na cama devagar.

- Você desmaiou e ficou mais de uma hora desacordada. Jerry chamou um médico e ele saiu daqui a algum tempo.- A Srta. Stacy respondeu, olhando-a de um jeito que a ruivinha não entendeu.

- Ele não deveria ter chamado um médico só porque desmaiei. Aconteceram muitas coisas nos últimos dias e quando cheguei aqui, encontrei Ruby neste estado. Deve ter sido exaustão misturada com excesso de emoção. - Anne disse, tentando se levantar, mas a mulher mais velha a impediu, dizendo:

- O seu desmaio teve uma causa e não foi nenhuma destas que mencionou.

- O que quer dizer? - Anne perguntou, um pouco assustada por aquela afirmação.

- Você está grávida, Anne.- A Srta. Stacy disse, ainda segurando a mão dela, enquanto a olhava com certa compaixão.

- O que? - Anne perguntou, olhando instintivamente para baixo, colocando a mão sobre seu abdômen ainda liso, sentindo inúmeras emoções tomar conta dela.

- Eu acho que este bebê não é de seu marido, não é? - A Srta. Stacy disse, vendo os olhos da ruivinha se encherem de lágrimas, enquanto ela balançava a cabeça, confirmando as suspeitas dela.

- Não se preocupe. Não vou contar seu segredo para ninguém. Apenas espero que esta criança seja fruto de algo que tenha sido bonito em sua vida. - A mulher mais velha disse, preocupada com o que poderia ter acontecido com aquela garota tão doce nos últimos meses longe de casa.

- Sim. Ele foi concebido com muito amor. - Anne respondeu, acariciando sua barriga, sabendo que já amava aquela criança que estava se desenvolvendo em seu ventre.- O que farei agora? - Ela perguntou, ainda atordoada com aquela notícia.

- Agora, você vai apenas descansar. Depois falamos sobre isso. - A Srta. Stacy afirmou, levantando-se da cama, deixando um beijo no rosto da ruivinha.- Eu vou te ajudar com este bebê. Não se preocupe

Naquela noite, após ter comido uma sopa reforçada e passado as últimas horas descansando, Anne foi até a janela, tentando pensar em todas as opções que envolviam o bebê.

Ela o amava, pois ele era o fruto daquele amor que Gilbert lhe dera, por isso, a ruivinha lutaria por ele com todas as suas forças.

Não poderia esconder seu estado de outras pessoas por muito tempo, mas até lá, ela contava que já teria um plano para ter seu filho em segurança.

Anne olhou para um ponto qualquer do lado de fora, e seu coração pareceu errar as batidas, quando ela percebeu o homem em cima do cavalo, que vivia em seus pensamentos por tempo demais, causando-lhe uma saudade imensa. Mas quando ela piscou, ele não estava mais lá, levando-a a pensar que aquela tinha sido apenas uma ilusão que sua mente criara, deixando-a mais uma vez sozinha, em meio a enorme confusão que se tornara sua vida.

Olá, Mais um capítulo postado. Espero que gostem. Beijos.
















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