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Capítulo 21- De corpo e alma

Anne acordou tremendo naquela manhã cujo calor parecia pior que os outros dias. Ainda estava escuro, o que indicava que o sol ainda não havia nascido, e calculou mentalmente que deveria ser cinco da manhã.

Devagar, ela se sentou sobre o saco de dormir, e observou Gilbert ainda mergulhado em seu sono profundo.

Ele andava trabalhando demais nos últimos dias, e chegava na aldeia exausto. Mal tinham tempo de se falar e o rapaz acabava adormecendo assim que se deitava com ela.

Anne sabia que Gilbert queria terminar a casa deles o mais rápido possível, e ela achava essa atitude incrivelmente maravilhosa. Ele queria construir algo sólido para os dois,e era isso que aquela casa representava. Um lar onde ambos lutariam por seus sonhos lado a lado, e onde a vida seria para Anne tudo o que ela idealizara em um passado distante.

Uma brisa gelada passando pelas frestas da tenda a fez estremecer e se lembrar porque tinha acordado exatamente aquela hora. Ela vinha tendo o mesmo sonho todas as noites, desde que o subalterno de Roy aparecera no território indígena.

Era como se seu marido viesse assombrar sua felicidade, pois no sonho, ele surgia do nada e a arrastava para longe de Gilbert. Ela sempre acordava no mesmo ponto, quando Roy a atirava de um penhasco dentro de um abismo profundo, e quando ia atingir o fundo dele, esperando sua morte súbita, ela acordava sentindo seu coração disparado e com dificuldades para respirar.

Não contara seu sonho para Gilbert, pois não queria estragar a felicidade que estava sentindo ao lado dele. O rapaz confessara que a amava, e isso era tudo o que desejara desde o início, quando o conhecera. Anne se lembrava bem da decepção que sentira na estação de Charlottetown, quando descobrira que seu noivo não era ele.

Passara um bom tempo sonhando acordada com o Sargento Gilbert Blythe, e somente suportara seu casamento com Roy, porque mantivera em sua memória a delicadeza daquele homem que sabia beijá-la como ninguém, e que lhe provara que ainda existiam homens decentes no mundo lá fora, embora sempre fora ele que ela secretamente desejara.

Agora, ela tinha medo de perder aquela liberdade tão sofrida para conquistar, pois imaginava que se aquele homem chegara até ali, não demoraria para Roy saber onde ela estava, e por Deus, preferia morrer do que voltar para a companhia dele, que com certeza seria mil vezes cruel do que já fora com ela.

Incapaz de voltar a dormir, ela se levantou e sem fazer barulho, saiu da tenda e respirou o ar puro da manhã que ia clareando conforme as horas iam passando.

Pensando que uma caminhada pela aldeia lhe faria bem, Anne andou por alguns minutos e se sentou perto do lago onde costumava ir para pensar. A natureza rústica daquele lugar não mais a assustava. Quando chegara ali, costumava tremer com qualquer barulho desconhecido, mas depois de todo aquele tempo vivendo ali, ela conseguia dormir uma noite inteira sem se deixar afetar por nada que não fosse humano, pois descobrira que o único que sabia ser perverso de verdade e matava por prazer era o homem branco.

A calmaria da água naquela hora a deixava serena por dentro, embora sua mente fervilhasse sem parar. Ela amava aquela aldeia como se tivesse nascido ali, e a certeza de que aquele paraíso era o seu lugar, aumentava seu desespero ao pensar em deixá-lo.

Seus olhos azuis mergulharam no horizonte que se pintava de vermelho, conforme os raios de sol iam enchendo-o de vida. Anne suspirou fundo e deixou que aquele cenário lhe trouxesse a alegria que sempre sentia ao despertar de manhã.

Um barulho baixo chamou sua atenção, e ela olhou para o lado e viu um vulto vindo em sua direção, mas logo deixou que sua respiração se soltasse ao perceber que era Kak'wet que caminhava a passos hesitantes e nervosos.

Não a via desde que a visitara e a figura miúda da garota mais magra do que o normal lhe causou pena. Pelo que Gilbert lhe contara, a índia tinha sido uma garota feliz até que conhecera Roy Gardner, e toda sua juventude fora roubada pela maldade dele.

O rosto era uma máscara de tristeza, e Anne se perguntou se um dia Kak'wet conseguiria vencer o trauma de toda a situação que vivera. Era muito desolador ver alguém tão jovem perder toda a esperança, quando deveria estar fazendo planos para o futuro. Kak'wet, como ela, sofrera nas mãos de um homem sem coração, a diferença era que Anne fora resgatada a tempo, enquanto a menina não tivera a mesma sorte.

Para sua surpresa, a prima de Gilbert se sentou ao lado dela, e por alguns minutos não disse nada, apenas fixou o olhar no lago e ficou pensativa para em seguida dizer:

-Teve uma má noite?

-Pesadelos, e você?- Anne perguntou com cuidado, surpresa por Kak'wet iniciar aquela conversa.

-Pensamentos demais em minha cabeça. Me perturbam todas as noites.- ela respondeu sem olhar para a ruivinha.

-Quer falar sobre eles?- Anne a tentou incentivar.

-Você não entenderia. -a menina tornou a responder com certa secura.

-Você ficaria surpresa quanta coisa eu poderia entender. A vida não foi fácil para mim também.- Anne disse quase como se falasse aquilo para si mesma.

-O que seria difícil para uma mulher como você? branca, linda e jovem?- Kak'wet perguntou com desdém.

-Acha que as coisas foram mais simples para mim por que sou branca? - Anne disse, encarando a prima de Gilbert, que não a olhou de frente e continuou observando o lago.- Eu fui criada em um orfanato sem o amor de uma família. Quando fiz dezoito anos, tive que sair de lá e trabalhar em casas de família como empregada, para conseguir pagar meus estudos. Assim que me formei, encontrei um trabalho como professora em um internato para meninas, onde precisei trabalhar em dois períodos para conseguir juntar dinheiro para poder sobreviver. Fui prometida a um homem a quem conheci apenas por carta, e quando vim para cá, eu pensei que estaria iniciando uma nova vida. Contudo, meu casamento foi uma decepção, pois meu marido me tratava muito mal, e me fazia trabalhar em casa, mais do que eu tinha trabalhado como empregada antes. Só quando seu primo me trouxe para cá que comecei a ter uma vida de verdade. Então, isso é sorte para você?- Anne perguntou, encerrando assim a narrativa de sua vida.

-Eu já tive muita raiva e inveja de você. - Kak'wet revelou, deixando Anne de certa forma chocada.

-Por que?- a ruivinha perguntou, desejando saber mais sobre aquele sentimento que despertara na prima de Gilbert sem saber.

-Porque quando Roy me levou da aldeia e cansou de se divertir comigo, ele me jogava na cara que estava noivo de uma dama da cidade, uma mulher fina a quem ele teria prazer em apresentar à sociedade e com quem ia se casar em breve. E que eu era apenas uma índia ignorante, sem instrução ou inteligência, a quem ele nunca assumiria como sua mulher porque eu servia apenas para ser diversão de um homem como ele. Então, quando Roy me deixou para ser vendida no tráfico de mulheres, eu parei de me importar com minha vida, porque toda minha dignidade tinha sido arrastada na lama. Me senti um lixo, principalmente quando me lembrava da comparação que ele fez entre você e eu. - Kak'wet finalizou, olhando para Anne, que pôde ver ali toda a sua mágoa. Ela não merecia o que Roy lhe fizera, e podia entender todo o desprezo que a menina tinha por ela, pois ser tratada como algo dispensável e sem valor era a pior coisa que podia acontecer com alguém.

-Você não tem que acreditar no que ele te disse. Somos duas mulheres iguais, não importa onde tenhamos nascido. Você tem seus valores e eu tenho os meus, mas não nos torna melhores ou piores que ninguém. Fomos usadas e desvalorizadas pelo mesmo homem, que é incapaz de olhar para alguém que não seja ele mesmo. Espero que um dia você entenda isso, Kak'wet, e volte a ser feliz como antes.- Anne disse, cheia de compaixão pela menina que não respondeu, mas permaneceu em silêncio como se assimilasse as palavras de Anne.

-Eu ainda não gosto de você, mas tenho que lhe agradecer por ter salvo a vida de meu primo. Algumas pessoas da aldeia me contaram que você impediu-o de levar um tiro.- Kak'wet disse de repente.

-Ele também salvou a minha quando me trouxe para cá. - Anne respondeu, dando de ombro.

-De qualquer forma, obrigada. Agora vou voltar para o meu canto.- a menina disse se levantando rapidamente.

-Se precisar de alguém para conversar, estou aqui. - Anne falou, vendo Kak'wet balançar a cabeça e voltar pelo caminho de onde tinha vindo.

Se sentindo melhor que antes, Anne também resolveu voltar para a tenda. Ainda era cedo para fazer suas tarefas do dia, embora algumas mulheres da aldeia já estivessem realizando as suas.

Quando entrou na tenda, encontrou Gilbert sentado no saco de dormir, de braços cruzados e olhando para frente com o maxilar travado. Ao ver Anne entrar, seu olhar se suavizou, e seu peito subiu e desceu como se estivesse aliviando um enorme peso ali.

Preocupada, Anne se aproximou dele, se sentou ao lado do rapaz e perguntou:

-O que houve? Você parece tenso.

-Nada, eu só...- ele parou de falar, balançando a cabeça como se um pensamento irracional tivesse tomado conta de sua mente. Contudo, Anne não desistiu em saber e tornou a dizer:

-Pode me contar. O que quer que seja, vamos resolver juntos.

Gilbert a olhou por alguns instantes, tentando encontrar uma forma de dizer o que estava sentindo, sem parecer patético demais, e depois falou, abaixando o olhar:

-Quando acordei e vi que não estava aqui, pensei que tinha me deixado. - ele se sentia envergonhado por ter tido aquele pensamento, mas às vezes tinha certa insegurança em relação à Anne. Ele sabia que ela o amava, mas Gilbert ainda tinha medo que a ruivinha se cansasse daquela vida, e resolvesse voltar para Charlottetown.

-Por que pensou isso, meu amor?- Anne perguntou, segurando a mão do rapaz entre as suas. Eram ásperas pelo trabalho diário que ele tinha que realizar na aldeia, mas eram capazes das carícias mais suaves e deliciosas que ela já tivera na vida.

-Eu não sei. Às vezes tenho esse sentimento estranho dentro de mim de que posso te perder a qualquer momento. Você vem de um mundo diferente desse que te apresentei, e em alguns momentos, penso se não vai sentir falta do que deixou para trás. - Gilbert respondeu, tentando ser sincero. Era difícil mudar sua natureza reservada, sempre foi um homem que jamais deixava seus sentimentos virem à tona com facilidade, mas por Anne estava tentando mudar esse aspecto de sua personalidade.

-Eu não deixei nada para trás que realmente valesse a pena. Em Toronto, eu tinha uma vida difícil, trabalhava duro e tinha que economizar cada centavo para conseguir sobreviver. Depois, em Charlottetown, me casei com um homem que me transformou em sua empregada pessoal. Como pode pensar que sinto falta disso? Você me deu uma vida nova, e me devolveu o direito de sonhar com um futuro melhor. Essa é a única riqueza que preciso.- Anne afirmou, deitando a cabeça no ombro de Gilbert, sem soltar a mão dele que se agarrou a sua como se nunca mais fosse largá-la.

-Desculpe, acho que me deixei levar por meus pensamentos obscuros por um instante. Mas o que te fez se levantar tão cedo?- Gilbert perguntou, abraçando Anne pelo ombro.

-Eu tive um pesadelo, e senti necessidade de respirar um pouco lá fora. Já estou bem.- ela respondeu, se aconchegando melhor ao rapaz. Estar nos braços dele lhe dava uma sensação de segurança que levava embora qualquer receio. Fora assim desde a primeira vez que pusera seus olhos nele. Gilbert sempre lhe causara esse sentimento de confiança e proteção, e agora que estavam juntos, ela descobrira que estivera certo o tempo todo em confiar sua vida a ele.

-Eu percebi que anda inquieta todos esses dias. Esses pesadelos tem a ver com o que aconteceu no dia em que te levei para ver nossa casa? - Gilbert perguntou, levantando o queixo dela para que Anne o encarasse, e ela soube que não conseguiria mentir para ele.

-Tem sim. Roy tem me assombrado desde então. - ela confessou, sentindo um certo arrepio ao dizer aquele nome do qual queria esquecer para sempre.

-Ele não pode te machucar aqui.- Gilbert lhe garantiu, acariciando seu queixo com carinho.- Para isso, ele teria que passar por cima de mim primeiro.

-É disso que tenho medo. Que ele possa te ferir de verdade. - Anne respondeu, abraçando-o pelo pescoço. - Não suporto pensar nisso.

-Roy é um covarde. Não teria peito para me enfrentar cara a cara.- Gilbert disse, descendo os dedos pelos cabelos macios dela.

-Ainda assim, eu não sei o que faria se ele ferisse você. Te amo demais e não quero que nada de mal te aconteça. - Anne falou, abraçando-o com força.

-Eu também amo você, e poderia acabar com Roy somente pelo que ele te fez passar.- o rapaz disse com a voz cheia de rancor.- Queria fazer o tempo voltar e ter te roubado no dia do seu casamento. Nunca vou esquecer o quão miserável me senti naquele dia.

-E eu teria ido com você para onde quisesse me levar. Já estava tão apaixonada que não teria me importado em deixar minha vida antiga para trás. - Anne confessou. Tivera meses para amargar sua vida solitária ao lado de Roy, e pensara todos os dias em como tudo poderia ter sido se não tivesse insistido em um casamento que não tinha amor nenhum envolvido.

-Desculpe-me, fui um tolo.- Gilbert disse, a afastando um pouco de si para olhá-la nos olhos.

-Eu também fui. Devia ter sido corajosa e te dito como me sentia, mas tive medo de ser rejeitada.- Anne contou, passando a mão pelo rosto dele. Aqueles traços que ele tinha eram únicos. Nunca tinha visto um homem tão bonito. Era hipnotizante olhar para ele, principalmente quando ele a encarava como estava fazendo naquele momento.

-Meu orgulho me impediu de te dizer o quanto eu queria você, e também pensava que não tinha nada para te oferecer a não ser o meu amor.- Gilbert tornou a confessar. Era um alívio estarem conversando sobre aquele assunto, mas ao mesmo tempo o fazia perceber o quanto fora tolo por não lutar por algo que desejava tanto antes. Anne era importante demais para ele, e ainda assim a deixara se casar com outro.

-O seu amor é suficiente para mim, e sempre será. Quero que tenha isso em mente quando tiver dúvidas sobre nós dois. Eu sei que somos de mundos diferentes, mas o que dividimos em nossos corações nos torna parte um do outro. Você me deu essa pedra, dizendo que representa o que sente por mim, e justamente por isso, nunca mais vou me separar dela.- Anne respondeu sorrindo para Gilbert, que aproximou o rosto do dela e disse:

-Você é maravilhosa. - e assim, juntou os lábios dos dois em um beijo quente, mas suave, deixando que Anne ditasse o ritmo daquela vez.

Ela se sentou no colo de Gilbert para que seus corpos ficassem mais próximos, enquanto o beijo prosseguia, causando nos dois as mesmas sensações, de amor, paixão e desejo.

Gilbert suspirou várias vezes enquanto sua boca provava da de Anne sem se cansar daquele sabor único que ela tinha, pois beijá-la era sempre uma experiência nova e diferente das outras que já tivera.

Não que tivesse tido muitas mulheres na vida, pois seu foco sempre fora as obrigações que tinha com seu povo, mas as poucas garotas que tivera nos braços, nunca lhe causaram qualquer sentimento a não ser sensações momentâneas que não se comparavam com o que sentia com Anne.

Amar alguém realmente mudava tudo por dentro, e Gilbert estava começando a perceber como era agradável compartilhar esse sentimento com alguém, que também sentia o mesmo que ele.

Eles terminaram o beijo quase sem fôlego, mas Anne não se moveu de onde estava, e Gilbert gostava de tê-la próxima a si daquela maneira.

-Não importa o que aconteça, eu vou sempre cuidar de você. - ele afirmou com sua testa grudada na dela.

-Eu sei. - Anne respondeu, sorrindo. Ela estava tão feliz que tinha medo de que tudo aquilo não durasse. Contudo, nunca desistiria daquele homem que lhe dera tanto sem pedir nada em troca.

-Vou ter que sair daqui a pouco para realizar algumas tarefas na aldeia. Vai ficar bem sem mim?- Gilbert perguntou, beijando-a no queixo.

-Não se preocupe. Tenho que cuidar de algumas coisas também. - Anne disse, saindo do colo dele e se sentando no saco de dormir.

-Vou tentar não demorar tanto. Prometo voltar assim que puder. Quer que eu traga seu café da manhã?- ele perguntou, se vestindo com rapidez que adquirira em anos.

-Não. Eu gosto de tomá-lo com outras pessoas da aldeia, porque me faz sentir parte desse lugar que aprendi a amar.- Anne disse sorrindo.

-Você me deixa muito feliz quando fala coisas assim.- Gilbert disse, se aproximando de Anne e deixando um beijo suave nos lábios dela.

-Eu sou feliz aqui como nunca pensei que seria. O começo foi difícil, mas me sinto em casa agora.- Anne afirmou, segurando na mão dele.

-Isso é tudo o que eu precisava saber.- Gilbert afirmou, beijando a mão dela, e saindo logo a seguir.

Enquanto realizava seus trabalhos do dia, uma ideia começou a surgir em sua mente até se tornar uma certeza do que ele queria fazer.

Anne dissera que se sentia feliz ali, que já considerava a aldeia seu lar, então por que não tornar aquele sentimento algo permanente?

Ele sorriu, parou o que estava fazendo e foi falar com seu avô que era a pessoa que podia ajudá-lo com sua ideia.

Pena Branca estava sentado em seu banco favorito, e parecia meditar como costumeiramente fazia naquele horário. Gilbert ia pedir permissão para entrar, mas seu avô se adiantou e disse;

-Pode entrar, neto.

-Com licença, avô. Me desculpe perturbar seu descanso, mas eu preciso de um conselho.- Gilbert falou ao entrar na tenda.

-Pode me dizer do que precisa.- o velho índio respondeu de seu jeito calmo tão característico que Gilbert conhecia desde criança.

-Eu quero saber se o senhor faria a cerimônia de casamento minha e de Anne.- Gilbert falou,encarando o avô que lhe deu um de seus raros sorrisos.

-Você se decidiu afinal?- Pena Branca perguntou, olhando para o rapaz com afeição.

-Sei que o casamento em nosso povo é apenas uma cerimônia simbólica, e Anne tem sido minha mulher desde que chegou aqui, mas eu queria que ela pudesse ter algo parecido com o que acredita.- o rapaz informou ao avô, e o fato de Anne ainda ser casada com outro homem não tinha nenhuma validade ali, pois para eles uma cerimônia realizada no mundo dos brancos era nula na cultura indígena.

-Você já conversou com Sol de Verão sobre isso?- Pena Branca perguntou de forma direta.

-Ainda não. Vim primeiro saber a opinião do senhor sobre o meu pedido.- Gilbert explicou.

-Não vejo problema nenhum, pois como você mesmo disse, aqui entre nós, ela é livre, e uma cerimônia de casamento não tem nenhuma validade legal, uma vez que celebramos o amor entre duas pessoas e não um compromisso burocrático. Converse com Sol de Verão e depois organizaremos tudo.

-Obrigado,avô. - Gilbert disse sorrindo. - Vou falar com ela agora mesmo.- o rapaz prometeu antes de sair.

Ele estava nervoso, e nunca se sentira assim antes, nem mesmo quando se preparava para uma batalha sentia aquele frio no estômago absurdo. Ia pedir a Anne que se casasse com ele simbolicamente para celebrarem aquele amor que custaram a admitir, contudo estava com receio do que ela diria, e se ela não quisesse,Gilbert entenderia, mas nem por isso deixaria de ficar arrasado.

Ele a encontrou na tenda corrigindo algumas tarefas dos alunos da aldeia, e quando ele entrou, Anne levantou a cabeça graciosamente e perguntou:

-Não pensei que fosse voltar tão rápido.

-Eu queria te fazer uma pergunta. - ele disse se aproximando da ruivinha devagar.

-Sim?- ela disse, sorrindo. Ele tomou coragem,respirou fundo e se sentou ao lado dela, segurando em sua mão direita.

-Gostaria de casar comigo?- Gilbert perguntou em um só fôlego.

-O que?- Anne disse de olhos arregalados.

-Quer casar comigo?- Gilbert repetiu ainda mais ansioso.

-Eu já sou casada, Estrela da Manhã. Você se esqueceu disso? Como posso me casar com você? - Anne perguntou, se sentindo desconfortável ao pensar em Roy. Parecia que ele sempre estava rondando sua felicidade.

-Aqui você é uma de nós, e não levamos em consideração esse tipo de compromisso do mundo dos brancos. O nosso casamento seria apenas simbólico. É apenas uma celebração para mostrar a todos que nós amamos e que em nossos corações, pertencemos um ao outro. Então, você aceita?

-Você tem certeza que quer isso? Quer dizer, já estamos juntos e todos aqui sabem disso. - Anne disse, sentindo seu coração sorrir com aquela ideia, mas ao mesmo tempo não desejando impor uma responsabilidade a Gilbert da qual ele poderia se arrepender mais tarde.

-Eu nunca tive tanta certeza de algo na vida. Você é minha felicidade, Anne. Não me lembro de ter sido feliz assim em nenhum momento da minha existência. Eu quero você para sempre.- Gilbert respondeu, beijando cada dedo da mão dela carinhosamente, e a ruivinha viu naqueles olhos, assim como sentiu em cada palavra que o jovem guerreiro dissera, tudo o que realmente precisava saber para não negar o que também desejava do fundo de sua alma.

-Eu aceito porque também te quero para sempre.- Anne respondeu, encarando-o com seus olhos azuis muito brilhantes, o que fez o rapaz a puxar para ele, a abraçar forte e dizer:

-Tive tanto medo que não aceitasse.

-Por que? Sabe que eu te amo.- Anne respondeu, deslizando as mãos pelas costas musculosas de Gilbert por cima da camisa de algodão que ele usava naquele dia.

-Acho que é porque ainda custo a acreditar que você realmente está aqui comigo, e é minha. Às vezes, sinto que estou vivendo um sonho todo esse tempo.- Gilbert confessou. Nunca pensara que uma mulher como Anne pudesse retribuir seu sentimento, na verdade, ele se preparara a vida toda para ser um líder, e não para se apaixonar por alguém. E agora percebia o quão solitário tinha sido aquele caminho sem o amor que acalentava seu coração todas as noites.

-Não precisava mais pensar assim. Estamos juntos, e é assim que desejo que estejamos sempre.- Anne declarou. Naquele bravo guerreiro ela tinha encontrado o parceiro perfeito, que lhe dava tudo o que uma mulher desejava. Tinha amor, paixão, cumplicidade, e acima de tudo tinha um homem a seu lado que nunca soltaria sua mão, não importavam as circunstâncias. - Quando quer que a cerimônia seja realizada?- Ela perguntou ainda abraçada a Gilbert.

-Que tal no próximo fim de semana?- Gilbert sugeriu. Agora que ela aceitara, não queria perder mais tempo. A casa deles já estava pronta, e até mesmo mobiliada, e essa era uma das surpresas que tinha para Anne para dali a alguns dias.

-Mas eu não tenho nada para usar em uma ocasião assim. Sei que é tolice, mas não quero me casar com um dos meus vestidos usuais, contudo, em tão pouco tempo, não terei como fazer uma roupa apropriada. - Anne disse, fazendo um biquinho de amuo que Gilbert achou adorável.

-Não precisa de preocupar. Vou pedir à Nuvem de Primavera que resolva esse problema. Você vai se casar como deseja, meu amor. - O rapaz disse, a beijando no rosto.

-Não quero dar trabalho. - Anne disse, tornando a abraçá-lo.

-Não é trabalho nenhum. Quero que tenha o que deseja, e é assim que vai ser.- Gilbert sorriu, e Anne sentiu como se toda a luz do mundo invadisse seu coração.

Assim, a cerimônia foi marcada para o próximo fim de semana, e os dias antes a grande data foram de muitas tarefas e grande alegria para Anne, que se sentia quase eufórica ao pensar em sua união com Gilbert.

Era um grande contraste com o dia em que se casara com Roy. Naquela época, não se sentira nem um pouco feliz, e a única coisa que parecia prevalecer dentro dela era a tristeza por não estar com o único homem que fizera seus olhos brilharem de verdade.

Agora era diferente. Estava onde desejava estar, e tão apaixonada que sentia sua alma cantar em uma elevação profunda. Era assim que devia ter sido desde o começo, se ela não tivesse sido teimosa e jogado sua felicidade pela janela, por conta de um orgulho irlandês que não lhe servira de nada.

O sábado da cerimônia amanheceu tão ensolarado, que Anne parecia sentir as bênçãos do céu sobre ela. Ela estava tão nervosa que parecia que era a primeira vez que iria passar por esse tipo de situação.

Logo pela manhã, às mulheres da aldeia vieram buscá-la e a levaram para tomar um banho perfumado com pétalas de rosa. Lavaram o cabelo dela com cuidado, e depois o pentearam até que estivessem secos para que pudessem arrumá-los. Duas tranças foram feitas nas laterais da cabeça dela, e entrelaçadas com flores de violeta.

Quando Anne viu o vestido que Nuvem de Primavera tinha feito para ela, e pensou que nunca tinha visto algo tão bonito. Ele era branco, em um tecido que parecia renda, justo e sem mangas, com um decote que realçava seus seios pequenos.

O vestido ia até seus tornozelos, e possuía uma fenda lateral que se abria graciosamente quando ela andava, mas foi o arranjo de colocar na cabeça que mais a deixou encantada. Era um cocar de penas brancas que chegava a seu ombro, imitando o véu de noiva, e quando foi colocado em sua cabeça, Anne nunca se sentiu tão majestosa como naquele instante.


-Acho que nunca vi uma noiva tão bonita. Esse seu cabelo ruivo faz toda a diferença, Sol de Verão. Seu homem vai ficar ainda mais apaixonado.- Nuvem de Primavera disse, enquanto as outras mulheres concordavam com ela, balançando a cabeça e sorrindo.

Anne não disse nada, e apenas fitou a si mesma no espelho que as mulheres tinham trazido até ela para que verificasse sua aparência, imaginando o que Estrela da Manhã diria quando a visse vestida daquele jeito. Podia apostar que ele estaria incrível também.

Sua pergunta foi respondida quando ela caminhou em direção ao altar improvisado, e viu o jovem guerreiro sorrir largamente ao olhar para ela, ao mesmo tempo em que a observava as vestes dele que não escondiam sua beleza.

Ele usava uma camisa branca de mangas compridas, e por cima dela um colete preto com franjas na barra. A calça era também preta, combinando com o colete, e na cabeça, ele usava um cocar parecido com o dela, mas era na cor marrom. Entretanto, era o sorriso que estava no rosto dele que a fascinou, pois expressava a felicidade que ele sentia por estar vivendo aquele momento com ela, bem semelhante ao que ela sentia dentro de si.

Assim que chegou perto do rapaz, ele segurou em sua mão, a levou aos lábios e disse:

-Você parece uma deusa da floresta vestida assim.

-Obrigada. Você está maravilhoso também. - Anne respondeu, incapaz de desviar os olhos dos do rapaz que a prendiam com seu magnetismo.

Então, eles se viraram para Pena Branca, que começou a cerimônia na língua nativa dos índios, o que Gilbert traduziu para Anne palavra por palavra. Ao final da benção do velho índio, ao invés de um anel, o rapaz colocou no pulso dela um bracelete delicado, feito manualmente com uma pedra que fazia conjunto com o colar que ele tinha dado a ela antes.

-Como disse antes, nessa aldeia não celebramos o casamento de forma usual, por isso, esse bracelete representa que você é minha agora de corpo e alma.

A Anne foi dado um colar com uma pedra verde esmeralda, que ela colocou no pescoço de Gilbert e respondeu:

-Então, esse colar representa que você é meu de corpo e alma também.

-Eu sempre fui, desde o momento que te vi pela primeira vez.- Gilbert acrescentou, a puxando para um beijo, o que fez todos naquele instante aplaudirem o casal.

Menos Pérola Negra, que fora obrigada a estar ali pelo irmão, e cujo ódio fervilhava dentro de seu coração como veneno. Não se conformava de ter perdido Estrela da Manhã para aquela ruiva sem graça. Acharia um jeito de se vingar cedo ou tarde.

Alheia à garota e sua raiva por ela, Anne só tinha olhos para o belo guerreiro cujos braços se mantinham em sua cintura o tempo todo. Ela apenas conseguiu observar que Kak'wet estava na cerimônia, e conversava timidamente com uma pessoa ou outra, e desejou que a menina um dia pudesse ser feliz da mesma maneira que ela estava se sentindo naquele momento.

Assim, ela e Gilbert dançaram juntos, riram juntos, se divertiram a valer, até que ele disse em seu ouvido:

-Venha comigo. - ela o seguiu sem perguntar onde estavam indo, por intuía que seria algo bastante especial.

Logo, ela se viu diante de uma tenda colocada em um lugar discreto da aldeia, e quando entrou nela com Gilbert, ela sorriu ao ver que ali havia um colchão coberto de pétalas de rosas vermelhas que as mulheres haviam arrumado para os dois passarem a noite naquele dia tão especial para ambos.

Gilbert se ajoelhou sobre o colchão, fez Anne ficar na mesma posição que ele, uniu sua palma na dela e disse:

-Aqui eu faço minha promessa de estar com você todos os dias da minha vida, não importa o que aconteça.

-E eu vou te amar até que nenhuma estrela no céu exista.- Anne falou, seguindo o exemplo dele.

Devagar, Gilbert a despiu, beijando cada pedacinho da pele dela que surgia diante de seus olhos, e sorrindo ao vê-la se arrepiar e suspirar, conforme seus lábios iam mais uma vez revelando todos os tesouros escondidos naquele corpo gracioso de mulher.

Quando Anne estava completamente nua, ele a incentivou a despi-lo, se sentindo cada vez mais excitado ao ver como Anne olhava para o seu corpo. As mãos dela desceram vagarosamente pela musculatura trabalhada nas tarefas braçais ao ar livre, e os lábios provaram o gosto dele, tocando-o em lugares que nunca ousara antes, pois naquela noite, ela se sentia livre para amar e ser amada por aquele rapaz que lhe mostrara que fazer amor era um dos atos mais lindos entre dois seres humanos. Não havia apenas o prazer físico, mas também uma comunhão de sentimentos que tornava um parte do outro cada vez que estavam juntos daquela maneira.

Assim, ela fez uma excursão completa pelo corpo de Gilbert, descobrindo a beleza primitiva daquele homem que a levava à loucura cada vez que a tocava como se ela fosse uma escultura delicada ao tato.

Os lábios dele em seus seios a deixaram febril, assim como a língua dele desenhava suas formas com extrema exatidão, e os dedos masculinos a tocando intimamente faziam seu coração acelerar, e seu corpo explodir em incríveis sensações. Quando por fim chegaram ao limite do desejo, ele a possuiu, e juntos chegaram ao clímax como se fosse a primeira vez que estivessem se entregando assim, e no momento em que jaziam entrelaçados sobre os lençóis, Anne descobriu mais uma vez o que pertencer a alguém de corpo e alma realmente representava.

Olá, aqui está o capítulo atualizado para quem gosta dessa história. Caso desejem, me deixem suas opiniões e votos. Beijos e obrigada por lerem.


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